Ladrões de Almas escrita por Fleur


Capítulo 4
A Certeza




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Eram cinco horas da manhã, eu ainda não havia dormido. A madrugada me proporcionou noventa e oito páginas do diário, praticamente a metade dele. Tudo estava documentado: As noites de caças, pesquisas, velhos amigos e até descendentes das Bruxas de Salém. As experiências sangrentas, como meu avô mencionava em suas escrituras, levavam dias para serem completadas. Meses de investigações e de preparação para que tudo ocorresse como esperado, sem falhas nas armadilhas. Meses jogados ao fogo. Estava parcialmente convencida da existência desses seres. Faltava uma pitada especial: A certeza.

Fechei enfim o diário, guardando-o em meu closet, escondido entre as roupas na gaveta. Melissa não poderia saber que eu o possuía, talvez ela não soubesse de fato o que meu pai estava pesquisando e assim como eu, iria achar uma baita de uma viagem. Por outro lado, caso ela soubesse ou acreditasse no que estava escrito naquele diário, não me deixaria executar o plano em que eu estava pensando no momento. No que eu pensara a noite inteira. Hoje eu buscaria a certeza.

Depois de um demorado banho quente, vesti um jeans e um suéter, pela janela a única coisa que eu podia ver era uma neblina densa, então imaginei o quão lá fora estaria frio. Hoje, definitivamente, eu iria descobrir a respeito de Frederick, com ou sem ajuda de Tony, que não atendia o maldito celular.

O café da manhã com Melissa, como de costume, foi silencioso. Ela me passou a lista de coisas que eu deveria fazer hoje: nenhuma. Graças ao meu bom serviço no jardim, eu estaria dispensada do serviço escravo-doméstico até o fim desta semana e isso com certeza ajudaria muito para que o meu plano fosse executado. Melissa saiu para o hospital e retornaria a noite para casa. Encostei-me na parede, olhando pela janela o carro sumir pela rua. Tudo parecia normal na vizinhança, principalmente a casa de Frederick.

Quase infartei quando senti meu celular vibrar no bolso da calça. Era Tony. Respirei bem fundo e atendi a ligação.
– Espero que seja algo importante. - Ele resmungou do outro lado da linha. A voz rouca indicava que havia acordado nesse instante. - Annie?
– Eu acredito em você e nesse diário idiota. - Falei em jato, soltando o ar - Mas eu preciso de uma prova.
– Qual tipo de prova?
– Você vai saber em breve. - Sussurrei enquanto observava a casa dos supostos demônios. - Eu estou te esperando.

Tony chegou algumas horas depois. A corrente de ar, que circulou por meus cabelos quando abri a porta, tornou aparente o frio congelante que estava lá fora. Ele entrou e jogou o casaco no sofá, vestindo apenas um jeans que ameaçava cair e uma camisa de mangas compridas, uma touca preta disfarçava o cabelo rebelde.
– Deixei meu carro próximo a sua garagem, espero que não se importe. - Avisou-me.
– Tudo bem. - Fechei a porta rapidamente. - Quero tirar a dúvida sobre Frederick ser ou não um... Ladrão de Almas.
– Demônio. - Ele enfatizou a palavra. - Não use rótulos. - Ele revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito. - O que vamos fazer?
– Trazê-lo até aqui e puxá-lo a força para dentro. - Sussurrei, tentando não parecer idiota. - E se ele queimar... Bem, você já sabe.
– Ele não vai vir até aqui comigo por perto. - Tony balançou a cabeça. - Você vai sozinha até lá e eu vou ficar escondido, então quando vocês chegarem perto da porta, eu o empurro pra dentro.
– Tony, ele vai queimar se realmente for...
– Eles mataram nossos pais, Annie! - Gritou. - Estou pouco me lixando para ele. Eu quero apenas matar um por um. - Tony segurou meus ombros com força, enquanto olhava em meus olhos. - E se você não estiver do meu lado, estará do lado deles. Eu não vou poupar meus inimigos.
– Isso é uma ameaça? - Fitei-o com os olhos semicerrados e despi-me de suas mãos.
– Entenda como quiser. - Ele permaneceu sério por alguns segundos, mas em seguida sua boca se curvou em um sorriso fraco.
– O que foi? - Perguntei confusa.
– Eu estou nervoso. - Tony baixou cabeça à medida que diminuía o sorriso. - Nós não podemos brigar, Annie. - Ele sussurrou. - Não sou eu seu inimigo.
– Basta ter foco. - Falei enquanto soltava um suspiro pesado. - Você não poderá empurrá-lo. Ele não poderia nem sonhar que sabemos sobre o que ele, hipoteticamente, é.
– Tem razão. Ele vai inventar alguma coisa. - Ele assentiu. - Dê seu jeito. Eu vou ficar escondido.

Atravessei a rua quase vazia, com os braços cruzados na tentativa de me aquecer. Olhei para trás, Tony estava entrando na garagem. Subi alguns degraus e toquei a campainha, meu corpo estava tremendo de frio e de medo. O barulhinho irritante soou e em seguida uma voz no interfone.
– Residência dos Grayson. - Era doce e feminina. - Bom dia. Posso lhe ajudar?
– Ah, bom dia. - Cumprimentei. - Gostaria de falar com o Frederick.

Alguns segundos se passaram e então a porta foi aberta. Frederick estava bonito como sempre, seu casaco de couro preto estava destacando seus olhos verdes, deixando-o ainda mais irresistível. Como uma idiota, fiquei parada a sua frente, observando a beleza daquele jovem e imaginando se aquele rosto angelical seria capaz de esconder sombras.
– Achei que não iria me procurar nunca. - Brincou, mas em seguida franziu o cenho enquanto ainda me olhava. - Sua boca está ficando roxa. - Disse Frederick, ele tocou meus lábios com as pontas dos dedos. - Você deve estar com muito frio. - Ele tirou rapidamente o casaco e o colocou sobre meus ombros, passando suas mãos ao meu redor. - Podemos ficar em sua casa? Uns parentes vieram nos visitar... Tios. - Ele fez uma careta, a mais linda que já vi.

Agradeci enquanto ele me guiava de volta para minha casa. Imaginei o que diabos eu diria para fazê-lo se aproximar da porta sem ser convidado. Fechei os olhos por um momento.
– Você está se sentindo bem? - Frederick estava me fitando. - Esta muito frio aqui fora, acho melhor você entrar. - Aconselhou, ajudando-me a subir os degraus.
– É, eu acho que sim. - Sorri para ele e girei a maçaneta da porta, abrindo-a. - Você não quer...

Tropecei no tapete de entrada, caindo para dentro da casa. Em rompante, Frederick esticou seus braços por impulso e acabou passando uma de suas mãos pela soleira da porta. Ouvi o chiar de sua pele queimando. Eu estava em um misto de medo e surpresa. Por um momento, achei que quem iria queimar seria eu. Havia uma dor lacerante em minha boca, mas não consegui desviar minha atenção para isso. Frederick se recompôs, ainda do lado de fora, cerrou o punho que havia ultrapassado a soleira e o colocou no bolso do jeans, disfarçando. Continuei caída no chão, olhando-o bestificada.
– Sua boca esta sangrando, Annie. - Frederick falou, seus olhos me observavam preocupados e frustrados. - Você consegue se levantar?
– Pode me ajudar? - Balbuciei, sentindo o sabor de sangue em minha boca.
– O que esta acontecendo aqui? - Tony estava atrás de Frederick, seus olhos se arregalaram ao me ver no chão e sangrando. - O que você fez com ela?!
– Ela tropeçou e caiu... - Frederick tentou se explicar.
– E você ficou parado aí? - Tony passou por ele furiosamente, passou a mão por minha cintura e me ergueu com cuidado.
– Ela precisa ir à um hospital. - Frederick apontou para meu rosto, o sangue descia pela linha do meu queixo. - Eu vou levá-la.
– Não. - Murmurei. - Tony não vai me deixar no chão caso eu caia novamente.
– Annie, eu sinto muito. - Ele juntou as mãos como se estivesse em oração. A mão direita estava avermelhada.
– Sua mão... - Tony semicerrou os olhos.
– Eu... Lauren derrubou o café em mim por acidente. - Frederick hesitou, mas logo suas mentiras fluíram com facilidade. - Minha mãe se chama Lauren. - Explicou-me ao notar minha expressão confusa.
– Deveria tomar mais cuidado. - Tony falou, seu timbre era ameaçador.

Frederick assentiu e pediu desculpas mais uma vez antes de dar as costas e voltar para casa rapidamente. Tony me levara ao hospital mais próximo, e claro, o mais distante de Melissa. Não havia sido nada demais, apenas um corte no lábio inferior quando fui de encontro ao chão.
– Annie. - Tony sussurrou. - Eu sinto muito.
– Por quê? - Olhei para ele meio grogue. Cruzei meus braços, ainda usando o casaco de Frederick.
– Você e o Frederick... - Ele balançou a cabeça. - Eu vi como ele te tocou hoje e como ficou louco por não poder passar pela porta e te ajudar.
– Ele não... - Gaguejei tentando explicar.
– Annie, você vai precisar descobrir mais coisas. - Tony suspirou. - Vai se infiltrar naquilo que ele chama de família e vai fazer o que for necessário. Não tenha medo. - Segurou minha mão enquanto dirigia e a beijou. - Eu vou estar sempre perto quando você precisar.


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Notas finais do capítulo

Hey, obrigada por ter lido. Espero que tenha gostado!



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