Ladrões de Almas escrita por Fleur


Capítulo 15
A Herdeira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/461893/chapter/15

Melissa nos olhou por rabo de olho e permaneceu quieta. Aparentemente, assim como Frederick, ela não sabia o que dizer. Senti meu rosto queimar em um sentimento que eu não sabia descrever.
– Mãe, fala! - Levantei-me inquieta. - Mãe!
– Eu não sei, Annie! - Ela admitiu, virou-se pra mim.

Então pude perceber que não era a única que estava com medo naquele momento, seus olhos a entregaram.
– Eu não sei... Seu pai e eu passamos a vida inteira nos perguntando e não conseguimos obter a resposta. Seu pai tentou descobrir, mas eu não sei em que fim deu as pesquisas dele. - Ela cruzou os braços, frustrada. - Pra mim, você é bem humana.
– E é melhor que continue assim. - Frederick sussurrou.
– Porque? - Virei-me rapidamente pra ele.

Ele permaneceu quieto, seu silêncio me encheu de fúria.
– Porque?! - Repeti a pergunta pra ele, dessa vez gritando.
– Se seu pai realmente era um híbrido... - Ele abaixou a cabeça. - Você esta bem ferrada, Annie.
– Frederick... - Melissa ia interrompê-lo.
– Ele vai falar! - Disse com raiva e me virei novamente pra ele. - Continua, Frederick.
– Entre demônios e humanos, surgem os híbridos. - Ele começou a explicar. - Entre híbridos e humanos... Bem, é quase impossível que haja vida.
– Mas eu estou viva. - Estalei os dedos com uma expressão cínica.
– Esse é o problema. - Frederick falou com certa acidez e suspirou.
– Já chega... É informação demais pra um dia. - Melissa avançou em minha direção e puxou-me pelo braço.

Retruquei e soltei-me de suas mãos.
– Frederick, desembucha logo! - Pedi quase em lágrimas.

Ele hesitou antes de continuar. Sacudiu a cabeça algumas vezes e por fim suspirou fundo, dizendo em jato.
– Seu avô foi morto porque escolheu não seguir as regras e, acima disso, porque mantinha um relacionamento com uma humana, sua avó. O nosso governo é bastante rígido quanto isso, na verdade, eles não ligam muito se você prefere não matar, porque de qualquer forma você é banido, infelizmente, temos grupos extremistas que não aceitam e acabam nos caçando. Mas para o governo não é aceito nenhum tipo de envolvimento amoroso com humanos. Pode ser apenas sexo, mas sem laços afetivos.
– Tá, mas e daí? - Insisti.
– Alguém dedurou o relacionamento do seu avô com uma humana, então o governo se adiantou em matá-lo para que não houvessem filhos. Mas ele sabia o que ia acontecer, ele viu. E então, escondeu seu pai. Dan me falou que foi criado por um tio. - Frederick sentou-se, parecia angustiado. - Ele era um bom homem, não merecia passar por isso.
– Ele viu? - Perguntei confusa.
– Alguns de nós tem esses poderes. Seu avô conseguia ver o que iria acontecer. - Ele explicou.
– Você o conheceu?
– Na verdade, sim. - Ele assentiu. - Eu ainda era ativo... E ele me caçou. - Frederick olhou fixamente para o chão, relembrando. - Quando ele estava prestes a me matar, eu disse que não suportava mais viver daquela maneira, que queria uma vida normal. Eu queria a minha vida de volta. - Suspirou. - Então, ele me falou que haviam grupos que se negavam a matar e me falou onde eu os deveria procurar. Mas me perdi por décadas, e nunca os achei. Eles se escondiam muito bem... Mudavam de lugar sempre.
– E então, o Dan te encontrou. - Melissa sussurrou.

Frederick deu um sorriso fraco, assentindo.
– Seu pai foi a luz no fim do túnel para mim, Annie. Eu estava prestes a desistir... Na noite em que ele me achou, eu estava caído em um beco escuro, haviam me machucado bastante e falaram que se eu não voltasse à ativa iriam me matar. - Ele ficou um pouco mais sério. - Mas então, Dan me ajudou a encontrar a Lauren e o Simon. Ele nos pediu proteção pra você em troca da ajuda, e nós aceitamos.
– Pra mim? - Sussurrei com os olhos marejados.
– Nós nos preocupamos com você, Annie. - Melissa estava emocionada. Abracei-a.
– Você ainda não disse qual é o problema. - Lembrei-o.
– Você é a herdeira. - Ele falou tão baixo que quase não pude ouvir.

Assim como eu, Melissa encarou Frederick sem entender. Sacudi a cabeça levemente em sinal de confusão. Percebendo nossas expressões, Frederick adiantou-se em esclarecer.
– Annie, você faz parte da linhagem. - Ele respirou fundo, parecendo tão incrédulo quanto eu. - Você é a herdeira do Diabo.

Considerando todas as descobertas feitas naquela tarde, eu teria de ser louca para não estar assustada. Eu não consegui acreditar. Na verdade, eu estava perplexa e confusa. O que aconteceria a partir daquele dia? Caramba, herdeira do capiroto, pensei. Tive que sorrir com aquele pensamento idiota, pra não chorar.
– Você esta bem? - Frederick franziu o cenho ao ver o sorriso em meus lábios.
– Ela esta nervosa. - Melissa cruzou os braços me observando. - Ela vai desabar mais tarde...

Ela tinha razão, eu iria, de fato, desabar. Senti minhas pernas novamente mais fracas e por um segundo não consegui sustentar o peso do meu próprio corpo, cambaleei para trás, tonta. As mãos rápidas de Frederick já me embalavam e me seguravam junto ao seu corpo. Ouvi sua voz distante, tentando me acalmar, falando-me que iria cuidar de mim.

Com dificuldade, pude ver Melissa se aproximar. Senti seus dedos tocarem meu pulso, verificando-o. E ouvi sua voz em sussurro pedindo à Frederick que me levasse para um quarto, que eu precisava descansar. Ele me ergueu em seus braços, apertando-me contra seu peito, e me levou de lá. Pisquei tentando continuar acordada, mas minhas pálpebras estavam pesadas. Frederick caminhou comigo pelo corredor e Melissa abriu a porta de um quarto, para que ele pudesse entrar. Pude sentir algo macio sob mim, ele havia me deitado em sua cama cuidadosamente.

Em segundos, tudo no quarto pareceu mais escuro. Ele havia fechado as cortinas, cobrindo toda a luminosidade que penetrava o cômodo através das janelas de vidro. Juntou-se novamente à mim na cama, onde se sentou e segurou delicadamente minha mão, depositando-lhe um beijo suave.
– Eu não vou sair de perto de você por nenhum segundo. - Ele me assegurou. - Pode dormir, eu vou cuidar de você.

Percebi, no tom de sua voz, que aquelas palavras eram verdadeiras. Frederick realmente me amava, e eu estava cada vez mais apaixonada por ele. Naquele fim de tarde, adormeci em seus braços, embalada pelo perfume exalado por sua pele, pelo seu hálito fresco enquanto ele cantarolava uma música qualquer e pelos seus carinhos. Naquele momento, eu me senti verdadeiramente amada e eu adorei aquela sensação. Eu sabia que não era suficiente para mim, eu iria querer mais. Queria aprofundar aquilo e esse desejo me fez estremecer ao lembrar de suas palavras em relação à ficarmos juntos: Meu dever é te proteger, não te sentenciar. Eu não era totalmente humana, certo? Mas isso mudaria algo?
– Eu te amo, Annie. - Ele sussurrou em meu ouvido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, Frederick explicará melhor à Annie algumas coisas.
Espero que vocês tenham gostado. Na verdade, acho que vocês vão ficar confusos, ou eu que estou... Sei lá rsrs Não planejo a história, eu nem sei quando ou como vai acabar. Penso em algo interessante e BUM, escrevo. Bom, aos que estão acompanhando e comentando, obrigada. É uma forma muito bacana de me comunicar com vocês e saber de suas preferências, afinal meu objetivo é entreter meus leitores.
E peço mil desculpas caso a história não esteja, de alguma forma, agradando. Estou dando o melhor de mim. Até mais!