– Acho que posso ajudar nisso - uma voz masculina surgiu atrás de Alicia e Tessa, que rapidamente se viraram, deparando-se com um homem alto, musculoso e muito bonito, com cabelos castanhos e olhos claros.

– Quem é você? - Tessa perguntou rapidamente.

– Desculpe assustá-las. Sou Aiden. Eu sem querer ouvi um pouco da conversa de vocês. E se estiverem atrás das Sirenas eu posso ajudá-las.

– Como é que você sabe sobre elas? - perguntou Tessa, um pouco desconfiada.

– Ah, eu sou filho de uma sereia.

As duas trocaram um olhar surpreso.

– Nossa. É muito raro sereias terem filho homem.

– É eu sei. Então, não vão me dizer seus nomes?

– Ah, sou Alicia Von Kramm.

– Tessa Rinald.

– Dos hotéis Rinald?

– Exatamente.

– Seu pai tem um belo hotél aqui em Capri. Estão hospedadas lá?

– Sim. - respondeu Tessa. - Você disse que iria nos ajudar?

– Sim. Venham, vou mostrar onde boa parte das Sirenas ficam.

– Por acaso há uma Sirena chamada Arianna Motinelli?

– Mas é claro, é a minha tia.

– Sua tia? - Alicia e Tessa perguntaram juntas.

– É. Vocês a conhecem?

– Não. Mas viemos aqui conhece-la.

– Será que poderia nos contar sobre ela?

– Claro. Ela é filha da minha avó Ayra, que é uma espécie de rainha entre as Sirenas. Ela teve quatro filhas, a mais velha Aurora, Alessa, minha mãe Astrid, e Arianna a caçula. As histórias que eu ouvi sobre ela é que ela era rebelde e não queria ficar presa na ilha, então ela fugiu para os Estados Unidos. Mas depois de anos acabaram descobrindo onde ela estava e ela voltou.

– Por que ela voltou?

– Para defender a família.

– Defender de que?

– Bom, nós os chamamos de pescadores. São caçadores de sereias, e estavam ameaçando essa área, mas como tem muitas sereias aqui é mais difícil deles tentarem algo.

Tessa e Alicia trocaram um olhar que confirmou que ambas pensavam a mesma coisa, que talvez aqueles homens fossem "pescadores".

– Chegamos.

Aiden parou em frente a um restaurante simples, cercado por uma mureta de pedras, com uma típica arquitetura italiana. Em cima da porta tinha uma placa de madeira com as palavras "Stella del mare" entalhadas.

Uma mulher loira, muito bonita, arrumava as mesas do lado de fora do restaurante, e ao perceber a presença deles se aproximando começou a falar italiano com Aiden. Tessa olhou para Alicia, que parecia tão confusa quanto ela.

– Tia, essas são Alicia e Tessa. São sereias e estão aqui para falar com você. Meninas, essa é minha tia Ariana.

A reação das duas foi igual. Arregalaram os olhos embasbacadas. A mulher era igualzinha a Alexis, só um pouco mais madura. Parecia ter uns trinta anos, mas isso era pelo fato de que as sereias demoram a envelhecer.

– Comigo?

– Ah, sim... Eu, ah... - Alicia não conseguia dizer nada. Aquela era a mãe de Alexis.

– Sim? - Ariana olhou confusa para as meninas, que não paravam de fita-la de um modo um tanto incomodo.

– Será que poderíamos falar em particular? - Tessa finalmente perguntou, olhando de esguelha para Aiden.

– Já entendi, vou entrar para ajudar na cozinha - Aiden disse, indo para o restaurante.

– Ah, quem são vocês?

– Somos amigas da sua filha.

Tessa e Alicia logo notaram Arianna ficar tensa. Ela engoliu o seco e passou as mãos nervosamente pelos cabelos.

– Filha? - ela perguntou com um tom vacilante. - Eu não tenho - ela tentou negar, mas Alicia e Tessa lançaram um olhar que dizia "não tente negar, pois nós sabemos a verdade" -, como me encontraram?

– Não fomos nós, foi a Alexis. - O corpo de Ariana estremeceu ao ouvir o nome dela, e sentiu suas pernas ficarem moles.

– Ela... ela está aqui? - sua pergunta saiu em tom de surpresa e preocupação.

– Não - disse Alicia.

– Mas ela vai chegar aqui em alguns dias - completou Tessa.

– Não! Ela não pode! - Ariana quase gritou, e parecia estar mais desesperada, o que assustou um pouco as meninas.

– Por quê?

– Escutem, vocês não podem deixá-la vir, é muito perigoso. Não quero que ela passe o mesmo que eu.

– Acho melhor você explicar essa história direito, por que eu não estou entendendo nadinha - falou Tessa.

– Se eu contar, vocês me prometem que não vão deixá-la vir?

– Sendo sincera, mesmo que você me convença que ela não pode vir, vai ser bem difícil impedi-la. Você tem uma filha bem teimosa. - disse Alicia.

– Igual ao Kevin - ela disse, ficando emocionada. - Ela não pode vir, senão não vai poder voltar.

– Como é que é?

– Não sei se vocês já ouviram falar de um grupo chamado os pescadores.

– Sim. Eles matam sereias.

– Não. Eles matam Sirenas. Mas não é só isso. Eles nos usam, eles estupram, vendem nossas jóias.

– Como? Eles são só homens.

– Homens espertos e maus que estudaram nossas habilidades e descobriram nossos pontos fracos. E eles conhecem quase todas nós, cada uma. Então se uma sirena sair sozinha eles nos acham, por isso ficamos juntas, pois homens contra um bando de sereias não tem a menor chance.

– E o que isso tem a ver com Alexis? - perguntou Tessa.

– Quando tinha quinze anos eu decidi fugir da ilha, pois eu queria conhecer outros lugares, não queria passar minha vida presa. Mas eu era jovem e imatura, e acabei tomando decisões imprudentes sem saber o risco que estava correndo - ela fez uma pausa para olhar ao redor, para ver se tinha alguém por perto, mas tudo estava calmo, então ela continuou - Passei por diversos lugares até parar nos Estados Unidos. Me encantei por Hollywood e decidi ficar por um tempo. Lá conheci duas sereias que me deram abrigo, e resolveram que eu tinha que me matricular em uma escola. Foi onde conheci o Kevin, e me apaixonei. Encontrei o amor, algo que eu achava que nunca iria encontrar por ser uma sereia.

Ariana encarou o nada com um olhar sonhador e triste.

– Um pouco depois da Alexis nascer, não sei como, descobriram minha localização, e não demorou muito para que os pescadores também descobrissem. Então eu voltei para Capri sozinha para ajudar minha família a se proteger. Deixei Alexis com o Kevin para que eles não soubessem de sua existência, para que ela tivesse uma vida livre e feliz. Também não contei nada a minha família.

– Por quê?

– Porque minha mãe nunca deixaria o Kevin criá-la, iria trazê-la para cá. Mas eu não queria essa vida para minha filha. Queria que ela tivesse liberdade para sair para onde quisesse.

– Então se Alexis vier, ela vai ter que ficar aqui para sempre?

– Infelizmente, sim. Por mais que eu a queira perto de mim, vê-la, abraçá-la, tenho que zelar pela segurança dela. Uma mãe sempre quer o melhor para os filhos, vão entender isso quando tiverem os seus.

Alicia e Tessa se olharam, e na cabeça das duas passava as mesmas coisas. A dor de Ariana por ter que deixar a filha e o amor da sua vida, e o fato de que Alexis não poderia encontrar sua mãe, que sonhara tanto em saber quem é, e crescera acreditando que ela tinha a abandonado.

De repente, Ariana começou a chorar.

– Passei tão pouco tempo com ela, mesmo assim eu a amo tanto. Só de saber que ela está bem eu já fico feliz.

Alicia a abraçou, não aguentando vê-la chorar dessa maneira.

– Aqui tem uma foto dela, quer ver? - Tessa falou, entregando o celular para ela, que pegou com as mãos um pouco tremulas.

Ariana teve outra crise de choro diante da foto, e Alicia ajudou-a a se sentar em uma das cadeiras do restaurante.

– Ela está tão bonita - ela dizia entre soluços. - Malditos pescadores, me fizeram perder a coisa mais preciosa da minha vida. Perdi ela crescer e se tornar uma mulher.

Alicia sentiu seu coração apertar.

– Ela se tornou uma mulher forte. É muito inteligente, astuta e uma grande amiga. - Alicia dizia calmamente enquanto a consolava. - Ela tem seus momentos de teimosia e às vezes é um pouco infantil.

– E curiosa de mais da conta.

Ariana riu do comentário de Tessa.

– Ela puxou ao pai dela, ela era teimoso e curioso, eu o chamava de xereta.

– Nossa. Não consigo imaginar o Sr. Bender assim. Ele é tão sério e só faz trabalhar.

– Não foi o homem que eu conheci - ela suspirou tristemente. - E Marissa? Eles se casaram?

– Sim, como sabe? - Tessa perguntou curiosa.

– Eu pedi para ele que se casasse com alguém para que Alexis tivesse uma figura feminina quando ela crescesse, e eu sugeri Marissa pois ela era minha melhor amiga e eu confio nela. Ah, e por falar em amigos, como está o Dim e a Jena? Eu me lembro que eles tiveram um filho um ano antes de mim. Luke o nome dele.

– Ah, eles estão ótimos. Ele e o Sr. Bender continuam amigos.

– Eles eram inseparáveis. E o Luke, como ele é?

– Ele é uma ótima pessoa - respondeu Tessa. - Ele e Alexis se dão super bem.

– São bem amigáveis um com o outro, parecem irmãos.

Alicia e Tessa se seguraram para não rir do absurdo que estavam falando.

– Meninas, por favor, não deixem Alexis vir.

– Vamos tentar de tudo.

– É como avisamos, não vai ser uma tarefa fácil.

– Eu só não quero que ela corra perigo. - Ariana suspirou tristemente segurando o choro. - Eu tenho que trabalhar. Logo o restaurante vai abrir.

– Esse restaurante...

– É de familia. Minha mãe, minhas irmãs e meus sobrinhos trabalham aqui. É de frutos do mar, o melhor da ilha. A noite é bem movimentado.

– Que tal se viermos jantar aqui hoje? - Alicia perguntou a Tessa. - Assim podemos lhe informar sobre Alexis.

– Claro, seria ótimo.

Elas se despediram, e quando as duas saíram Tessa virou-se para Alicia.

– Acha que vamos conseguir impedir Alexis de vir?

– Não mesmo.