Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 7
Surpresas em casa


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador



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A entrada do casarão continuava a mesma. Isabella parecia ter voltado no tempo vendo aquelas portas e janelas azuis. As roseiras na entrada. Olhou para os degraus e podia se ver com 10 anos novamente, chorando por que não queria ir para o exterior. Ela estremeceu. Parece até que eu sabia o que aconteceria. – pensou.

Mandá-la para um colégio interno na Europa fora ideia de seu pai que sua mãe, como toda boa esposa submissa da época, acatou sem dizer uma só palavra contrária. Mas ela também tinha boas recordações dali. Ela vivera muito mais nesta chácara do que no Engenho e lembrava de brincar com uma mucama de sua idade.

Olhou para seu vestido. O que sua mãe diria ou pensaria ao vê-la naquele estado? Tentou limpar mais um pouco da lama inutilmente, já estava manchado. Pelo menos o rosto estava limpo e o cabelo novamente arrumado. Respirou fundo para tomar coragem e o estomago roncou. O cheiro maravilhoso que obviamente vinha das chaminés da cozinha, penetraram suas narinas e atacaram direto sua barriga. Ela sorriu. Olhou para o céu. Havia nuvens mas a chuva tinha cessado. Estava em casa. Nada de mal poderia lhe acontecer. O passado ficava para trás a cada degrau que ela subia.

Ao chegar no topo, como esperava, as portas estavam escancaradas. E de costas para ela, o dorso de uma mulher que já apresentava alguns cabelos brancos em seu coque. A mulher murmurava uma cantiga. Isabella sentiu os olhos marejarem. Ela ouvira muitas e muitas vezes esta canção. Era Berceuse de J. Brahms.

¾ Espero que Renée tenha feito meu purê favorito, estou faminta! – Isabella falou com a voz embargada, tentando mostrar-se o mais alegre possível.

Sua mãe, parou o bordado e baixou as mãos no colo. Seria real o que estava ouvindo? Ela se virou lentamente, com medo de estar ficando louca. A saudade seria capaz de uma loucura dessas.

¾ Não vai me dar um abraço, minha mãe? – Isabella abriu os braços e deixou que as lagrimas rolassem.

Dona Esme deu um suspiro e levou as mãos à boca. Parecia ensaiado, as duas correram uma em direção a outra exatamente no mesmo momento.

¾ Minha filha! Minha filha! – Dona Esme não sabia se beijava, abraçava ou segurava o rosto de Isabella. Então fazia tudo isso junto. E chorava e ria. – Não consigo acreditar!

¾ Nem eu, mamãe. Nem eu.

¾ Esperávamos você para o fim do ano. O que acontecera para vir mais cedo? – sua voz esbanjava preocupação.

¾ Não recebera minha carta? – Isabella não havia enviado carta alguma.

¾ Não! Quando enviastes?

¾ Não importa, mãezinha. Já estou aqui! O curso acabou mais cedo e então... resolvi fazer-lhes essa surpresa. – disse sorridente.

¾ Deixe-me olhar para você! – Dona Esme esticou os braços da filha e franziu o cenho ao reparar toda a sujeira. – Meu Deus, Isabella!! O que acontecera a você?

¾ Nada de mais. A carruagem atolou e tive de ajudar, mas...

¾ Madrinha a senhora...

Dona Esme se virou e sorriu ao ver Edward que entrava distraído. Quando Dona Esme chegou para o lado e saiu do campo de visão deles, duas pessoas ficaram feito estatua e sem fala no meio da sala.

¾ Edward! Que bom! Olhe quem voltou! Isabella, Edward! Minha Isabella! – Dona Esme colocara um braço em volta do ombro da filha, a abraçando de lado.

Edward continuava estático. Isabella de boca aberta.

¾ Lembra-se de Edward, não se lembra Isabella?

¾ Como mamãe? – perguntou atordoada.

¾ Edward!

¾ Sim, Madrinha. – Edward lembrou-se como se falava.

¾ O que está havendo? Parecem até que viram fantasmas!

Isabella abaixou a cabeça. Seu rosto estava em chamas. Edward puxou o ar. Seu coração estava disparado.

¾ Ô dona Esme, a senhora... – Renée que entrara afobada na sala parou quando viu Isabella. – Ai meu Deus do céu! É sinhazinhabele! – exclamou e abrindo os braços foi até Isabella que sorria sem jeito.

Edward passou a mão no cabelo e deu alguns passos para trás. Isso era inacreditável. Quando Isabella conseguira olhar por cima de Renée, Edward não estava mais lá. Edward. Então esse era o nome do homem da estrada.

Isabella se banhava na banheira em seu antigo quarto e tentava puxar pela memoria quem era Edward. Afilhado de sua mãe. Não conseguia se lembrar. No almoço, sua mãe lhe dissera que seu pai havia ido pela manhã para o Engenho e voltaria dentro de alguns dias. Isabella falou superficialmente sobre a Europa e se ateve mais na viagem de volta e em falar sobre o gentil senhor Jacob. O nome de Edward não foi citado. E graças, nem o nome do tal primo prometido.

¾ Isabella? – Dona Esme chamou timidamente, batendo na porta.

¾ Entre mamãe!

¾ Desculpe se a incomodo...

¾ De jeito algum! Sente-se aqui. – Isabella estava penteando seus cabelos.

¾ Só vim lhe dar boa noite. – Isabella franziu o cenho, tinha acabado de anoitecer, ainda era muito cedo para se deitar. Bom, pelo menos para ela.

¾ A senhora está se sentindo bem?

¾ Claro! Só estou com sono mesmo. Habituei-me a dormir cedo e levantar junto com a alvorada. – ela sorriu.

Isabella segurou as mãos de sua mãe. Já não eram mais lisinhas como se lembrava.

¾ Então, uma boa noite minha mãe. Sua benção.

¾ Deus a abençoe, minha filha. – beijou a testa de Isabella e sorriu. – Saibas que hoje deste-me uma das maiores alegrias de minha vida. Está em casa. Não esqueça que sempre tem um leite morno na cozinha e biscoitos. Boa noite.

¾ Boa noite, mamãe.

Dona Esme já estava fechando a porta do quarto quando Isabella a chamou.

¾ Sim? – falou segurando a porta.

¾ O... senhor Edward. – queria parecer a mais despretensiosa possível. – Não consigo me lembrar...

Dona Esme sorriu.

¾ Se estás vivas, é graças a Edward que a salvou de se afogar no lago no Engenho, não te recordas? Depois que fostes para a Europa, reconheci vários talentos em Edward e o trouxe para viver comigo na chácara. Dei-lhe estudo e ele se tornou minha maior companhia durante todos estes anos. Ele fala inglês, francês e arranha muito bem o espanhol e o italiano. Toca piano divinamente bem e é um tremendo pé de valsa. – ela sorriu – Lê em voz alta para mim e é o salvador de Renée traduzindo receitas francesas. Áh! E é um artista, precisa ver um de seus desenhos. – sua expressão ficou triste de repente – Infelizmente nunca consegui convence-lo a pintar um quadro para mim, quem sabe um dia...

¾ A senhora fala com muito orgulho dele, mamãe. Mas... – Isabella começou a recordar de algumas partes dessa historia de afogamento – o menino que me salvara no Engenho era um...

¾ Escravo. Sim. Edward é filho de minha mucama Beth que morrera no parto. – a voz de dona Esme estava carregada de dor. – Meu maior sonho é convencer a seu pai que assine sua carta de alforria. Será meu maior presente a Edward. Ser um homem livre.

Isabella se despediu de sua mãe e a palavra martelava em sua cabeça. Escravo. Nunca imaginaria, ele era branco! Porém, outra coisa a incomodava mais ainda, esse escravo, agira de forma petulante e desafiadora com ela na estrada. Como seria de agora em diante?


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Notas finais do capítulo

Diário da história: Esse capítulo se passa no dia 09/06/1883, Sábado.