Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 5
"provocações"


Notas iniciais do capítulo

POV - Narrador



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CAPÍTULO 4

O Rio de Janeiro estava totalmente diferente do que Isabella podia lembrar. Não era para menos, ela havia ficado na Europa por oito anos. Porém, é claro, comparado à Europa, apesar de ter mudado, ainda estava longe de ser o lugar civilizado que ela vivera no primeiro mundo.

Ainda se via estabelecimentos arcaicos, sujeira pelas ruas, e escravos. Muitos escravos. Não que na Europa já tivesse sido abolida de vez a escravatura, alguns senhores teimosos, mantinham escravos, mas eram poucos e era algo ilegal. No Brasil, o quadro que se via, com relação à escravidão, era intacto. Talvez já houvesse alguns jovens revolucionários tentando acabar com isso, mas para quem vivia e dependia da mão escrava, era quase impossível acreditar que um dia o Brasil conseguisse ser um pais de homens e mulheres livres.

Isabella franziu o cenho ao observar um garotinho de mais ou menos onze anos de idade sendo puxado com uma corda presa a correntes que prendiam seus pulsos. Este menino não deveria ser livre de acordo com a Lei do Ventre Livre? – pensou.

¾ Senhorita? – Isabella foi desperta de seus pensamentos quando o cocheiro chamou. – Já podemos ir?

¾ Certamente.

¾ Queres ajuda com bagagens?

¾ Não será preciso. Obrigada.

Isabella ainda carregava a mesma mala de tamanho médio. Era de cor clara e arredondada nas pontas. Sentou-se na carruagem e colocou sua mala ao seu lado. Esticou as costas, a viagem de trem havia sido sacrificante e agora ainda levaria mais quase dois dias de charrete até a chácara de sua família.

Depois de algumas horas, apesar do sacolejo da carruagem, Isabella caiu num sono profundo. Por sorte, sem sonhos ruins. Não fazia noção de quanto tempo havia dormido quando foi acordada com o barulho incessante da chuva sobre o teto da carruagem. Levantou a espessa cortininha que a separava do cocheiro.

¾ Ainda estamos longe?

¾ Não, senhorita! Chegaremos na chácara antes do almoço!

Isabella agradeceu e fechou a cortina. Bebeu um pouco de água do cântaro que comprara no centro e comeu uma maçã. Sabia que ainda levaria mais algumas horas para chegar. Como não conseguia pegar no sono, acendeu a pequena lamparina dentro da carruagem e puxou de dentro da mala seu livro preferido no momento: A Moreninha.

Um sacolejo brusco fez com que Isabella caísse de joelhos dentro da carruagem. Já tinha amanhecido e a chuva estava tão fininha que nem se sentia.

¾ Mas o que houve, afinal? – perguntou ao cocheiro pela janelinha.

¾ Perdão, senhorita. A carruagem atolou e os cavalos não conseguem puxá-la. Estão cansados. – o cocheiro parecia envergonhado ou com medo, ou os dois.

Isabella viu que o cocheiro descia e fez o mesmo.

¾ Oras! Como dois cavalos não conseguem desatolar uma carruagem tão pequena? – Isabella estava cansada e acabou se exaltando um pouco.

O cocheiro apenas abaixou a cabeça e tentou puxar a roda do meio da lama. Isabella bufou. Ele era baixinho e atarracado, além de já estar numa idade avançada. Olhando bem para ele agora, ela podia jurar que ele era um índio. A pele enrugada e os olhos levemente puxados.

¾ Eia! – um homem que vinha com seu cavalo à toda, gritava tentando fazer seu cavalo parar a tempo.

Isabella, que estava de braços cruzados encostada à porta da carruagem, apenas olhou com o canto dos olhos para ele. Ainda estava enfezada.

¾ Bom dia. O que houve aqui? – o homem perguntou sem sair de cima do cavalo. Um belo cavalo todo negro com o pelo lindamente brilhante.

Por algum motivo Isabella estava irritada, muito irritada. Uma mistura de cansaço físico e mental, fome, ansiedade e estava quase certa que estava para lhe descer a regra.

O homem se abismou quando ela tirou o chapéu da cabeça, que de onde ele estava, o chapéu cobria quase todo o rosto da jovem e ela era linda. Com as mãos na cintura, num vestido que não se via muito por aquelas redondezas, era um vestido com um modelo avançado, as moças dali ainda não tinham se habituado, a saia não era tão rodada e larga, havia apenas um volume na parte de trás que dava uma postura elegante.

¾ Se o senhor resolvesse sair de cima de seu cavalo de um conto de réis, não precisaria fazer tão ignorante questionamento! – ela o encarava, sentia que seu rosto ardia de raiva.

O homem manteve sua expressão inalterada, mas parecia se divertir com a situação. Virou o cavalo para o cocheiro que estava agachado e de boca aberta. Nunca vira uma sinhazinha tão atrevida.

¾ Se me permite dizer, meu senhor, seus cavalos parecem cansados. Troquemos um deles pelo meu e assim veremos se é possível desatolar esta carruagem.

O cocheiro concordou e se levantou rapidamente indo em direção aos cavalos.

¾ Isso... – Isabella sabia que tinha agido mal e buscava palavras para se retalhar.

¾ Isso, não tem nada a ver com a senhorita. Tenho apenas pena pelos cavalos. – falou saltando de seu cavalo e já puxando a rédea. – Já a senhorita, tão... – ele a olhou de cima a baixo – jovem, ajudaria mais ficando calada já que obviamente não quer sujar as delicadas mãos. – o homem passou por Isabella e foi se encontrar com o cocheiro.

Isabella agora estava indignada.

¾ Como ousas falar comigo desta forma se nem ao menos conhece-me? – ela foi até onde ele estava fazendo a troca de um dos cavalos.

¾ Atitudes falam mais sobre uma pessoa do que a senhorita pode supor. – ele nem a olhou nos olhos.

¾ Não se deve julgar as pessoas...

¾ Julgar? – ele chegou tão perto que Isabella podia sentir sua respiração. – A senhorita julgou-me precipitadamente, mal pude dar bom dia! – ele a olhava de cima.

Ninguém, nem os piores homens que ela conhecera, nem os melhores, haviam falado com ela daquela forma. Isso foi um desafio.

O homem voltou-se para os cavalos e junto com o cocheiro, puxava a corda do outro cavalo. Isabella retirou as luvas de crochê e de passos firmes foi até eles. Olhou petulante para o homem que levantou uma sobrancelha, e segurou a corda com as duas mãos.

¾ Irei empurrar a charrete por trás! – o cocheiro falou já soltando a corda e indo para detrás da carruagem.

E num único impulso, a roda saíra de dentro da lama. Mas o cavalo do homem dera um salto fazendo com que tanto Isabella quanto o homem, que ainda seguravam a corda, caíssem no chão. Neste mesmo instante a chuva ficou um pouco mais forte.

¾ A senhorita está bem? – perguntou com a voz rouca.

Isabella cuspiu um pouco de lama. Seu vestido que era numa totalidade branco com amarelo, estava todo sujo e seu rosto agora também.

¾ Creio que... – ela enfim encontrou os olhos dele. Olhos que pareciam duas pedras ônix. Ele esticou a mão e limpou algo em seu rosto. Ela ruborizou. – ficarei melhor quando retirar seu peso de sobre mim. – falou ainda tentando irritá-lo.

Ele sorriu. O rosto do homem estava perfeitamente barbeado. Covinhas se formavam quando ele sorria. Dentes perfeitos e branquíssimos. Isabella tinha de admitir, aquele homem arrogante e petulante, era lindo. Principalmente com esse sorriso.

¾ Não seja por isso. – ele se levantou e com movimentos elegantes se pôs de pé.

Isabella se apoiou nos cotovelos e esperou que ele a ajudasse a se levantar. O homem ajeitou seu cabelo, suas vestes, pegou a rédea de seu cavalo que o cocheiro já tinha retirado e subiu num só salto.

¾ Senhor, muitíssimo obrigado pela ajuda! – o cocheiro se apressou em agradecer.

¾ Não foi nada – falou se ajeitando em cima do cavalo – E a senhorita, nem precisa me agradecer...

¾ Agradecer? – falou furiosa. O cocheiro se dando conta que ela ainda estava no chão, ergueu a mão para ajuda-la. Ela segurou a mão dele e ficou de pé. – Agradecer pelo quê? Por ter me feito me sujar toda e cair na lama? Por eu ter que praticamente implorar por sua ajuda? O senhor não passa de um... de um... – o homem ergueu as sobrancelhas e apertava os lábios para não rir. Ela estava muito engraçada, com o rosto sujo de lama e o cabelo despenteado. – Pulha!

Agora ele gargalhava.

¾ Senhorita, não sabes nada sobre o ato de implorar. – falou se recompondo – Quem sabe um dia verei esse nariz arrebitado perder a soberba. O mundo dá voltas...

¾ Nem em mil anos!

¾ Passar bem. – falou depois de balançar a cabeça. – E para o senhor, boa sorte com essa madamezinha amimada.

¾ Mas que presunçoso! – disse em voz alta mas já o homem havia partido com seu cavalo galopante.

¾ Quando quiseres ir... – o cocheiro falou com timidez.

¾ Vamos logo! – disse entrando na carruagem – E que Deus nos livre de encontrarmos pelo caminho esse senhor arrogante novamente.

Isabella sentou-se extremamente irritada, mas passou o resto do caminho olhando para a estrada. Estaria esperando ver o tal homem? Ela era muito orgulhosa para dar o braço a torcer. “Óh! Jacob, por que não existem mais cavalheiros como tu neste mundo?” – lamentava olhando para o teto da carruagem.


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