Visita Inesperada escrita por Diamond


Capítulo 2
Parte 02




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No palácio das fadas, o alvoroço e correria faziam parte da rotina das pequenas criaturas que ali viviam. Desde que Breu ousou roubar os dentes de todas as crianças, privando-lhes de suas memórias, a Fada do Dente manteve-se mais ocupada do que nunca. Organizar todas aqueles dentes demoraria bastante, mas ela realizava tal serviço com o maior prazer.

Devido a quantidade de crianças que tinha de cuidar e ainda a responsabilidade de orientar corretamente as fadinhas, demorou algum tempo até que notasse que havia algo errado. Inicialmente, achou que pudesse ser apenas um descuido, mas depois de uma minuciosa revista em seu palácio, constatou o que havia acontecido.

Não hesitou em reunir os Guardiões. Sabia que juntos, poderiam resolver o problema. Mas internamente, estava desolada. Não imaginava que teria de lidar com Breu tão cedo.

 

 

Desde que se tornara um Guardião, diferente do que imaginava, a rotina de Jack não mudou muito. Desde que pudesse proporcionar "dias de neve" e espalhar a felicidade entre as crianças, não teria muito com o que se preocupar. Ser visto e reconhecido causavam-lhe um prazer indescritível. Poder brincar junto das crianças, isso preenchia seus dias de uma felicidade pura. Mas algo o deixava confuso em relação a este sentimento. Não era de todo algo novo para ele. E essa sensação nostálgica por vezes lhe tirava o sono.

Já tinha comentado aquilo com a Fada do Dente, mas a mesma se mostrou incapaz de ajudá-lo. Por ser uma memória registrada na sua identidade de "Jack Frost", ela não possuía quaisquer registros.

Certa noite, preso em seus devaneios, ele acabou deixando-se levar pelo vento. Quando deu por si, estava em uma montanha gelada. "Acho que não existe lugar melhor para pensar um pouco". Caminhando sem rumo, Jack acabou subindo a montanha à passos lentos. O vento estava forte e a camada de neve estava bastante espessa. Achou aquilo bastante estranho, já que estavam em pleno verão. Claro que em certas montanhas existe o que se chama de 'gelo eterno', mas não era o caso. A quantidade de neve era muito superior e a localização só fazia aumentar suas desconfianças.

Instigado pela curiosidade, ele começou a subir a montanha mais rapidamente, até chegar a uma mata levemente fechada. As árvores, com galhos meio caídos, retorcidos sobre o tronco, estavam completamente congeladas. O gelo formava uma espécie de cortina brilhante. Novamente, a sensação de nostalgia voltou a mente de Jack, aborrecendo-o levemente.

Continuou caminhando, até perceber que não estava sozinho. Subiu um pinheiro congelado com destreza, enquanto ouvia um assobio alegre se aproximando. Quase não pôde acreditar em seus olhos quando viu um pequeno boneco de neve caminhando. Esfregou os olhos, para ter certeza de que não via coisas, mas o boneco caminhava e assobiava de modo tão realista... Observou o pequeno até que o mesmo sumisse de seu campo de vista. Mesmo com seus poderes, dar vida a um boneco de neve sempre lhe foi um feito impossível.

Agora mais do que nunca tinha curiosidade de saber o que havia no topo da montanha. E seria bem mais rápido se o fizesse voando. Ergueu o cajado de madeira e logo o vento o impulsionava montanha acima. As árvores que antes bloqueavam sua visão foram tornando-se escassas até ficarem completamente para trás. Não permaneceu por muito tempo no ar, pois quando percebeu o que havia em sua frente, o espanto o fez descer até o chão novamente.

Jack já havia criado diversas com coisas com gelo. Da última vez, construiu pequenas fortificações de gelo, tornando as guerras na neve um pouco mais competitivas. Mas nunca, nem mesmo em seu sonho mais utópico imaginaria criar um castelo de gelo, principalmente naquelas dimensões.

Aproximou-se lentamente, admirado e espantado ao mesmo tempo com o tamanho da construção. Esplêndido seria o adjetivo mais próximo. Quando chegou ao pé da escadaria, perfeitamente ornamentada, ele hesitou um momento antes de tocar na balaustrada. Assim que o fez, uma memória voltou rapidamente, atingindo-o como um forte tapa. Imediatamente, ele soltou o corrimão e deu um passo para trás.

Por um minuto, ele se concentrou, tentando assimilar todas aquelas memorias que lhe voltavam. Quanto tempo havia se passado desde que aquilo havia acontecido? Não sabia dizer ao certo. Por um momento, ele se odiou e se pudesse, teria socado seu próprio rosto. Não podia acreditar que havia desistido daquela menina com tanta facilidade. Sem falar no tempo em que ela deveria ter permanecido sozinha. Só de pensar na infelicidade daquela garota, imediatamente sentiu-se indigno de seu cargo como Guardião.

Com certo desespero, subiu a escadaria de gelo correndo. Os pensamentos borbulhavam em sua mente, de modo que momentaneamente até se esqueceu de que poderia voar. Ao chegar nos portões, os empurrou sem hesitar, entrando no salão principal. De dentro, o castelo era ainda mais bonito que do lado de fora, ainda que estivesse vazio. "Provavelmente, tão vazio quanto o coração daquela menina".

— Quem está aí? - a voz autoritária ecoou por todo o castelo.

Somente de ouvir aquela voz, o coração de Jack saltou uma batida. Vê-la descendo as escadas então, fez com que sua mente se tornasse vazia. Já não era mais a menina de suas memórias, mas sim uma bela mulher. Linda, ainda que rígida, tal qual um diamante.

— Elsa? É você mesmo? - ele perguntou, incrédulo. Assim que fez menção de subir outro lance de escada, ela ordenou que ele permanecesse onde estava.

— Vá embora, eu não quero ninguém aqui!

— Como assim, Elsa? Sou eu, Jack! Jack Frost! - mesmo apresentando seu nome, a expressão dura no rosto da jovem não se alterou. Pelo visto, ele não havia sido o único a se esquecer do tempo em que passaram juntos. - Tente se lembrar, nós brincávamos juntos quando você era criança.

Mesmo a contragosto, Elsa forçou a memória, ainda que tenha se arrependido profundamente. Só lhe voltavam todas as lembranças que ela gostaria de esquecer. A vez que machucou Anna acidentalmente, o fechamento dos portões, a morte de seus pais...

— Isso é impossível, sempre estive sozinha.

— Não, isso é mentira! Nós saíamos a noite para brincar na neve. Fizemos isso várias vezes, até... Até o dia que você atingiu sua irmã.

Os olhos azuis de Elsa se arregalaram e nesse momento ela se sentiu ainda mais exposta do que no momento em que fugiu de Arendelle. Como aquele desconhecido podia saber de seu segredo mais oculto. Nem mesmo Anna sabia daquele incidente. Os Troll garantiam que ela não se lembraria do que aconteceu naquela noite e a menina acreditava fervorosamente que a mecha branca em seu cabelo ruivo não passava de uma marca de nascença.

— Como sabe disso? Responda!

— Eu estava lá, Elsa. Eu vi o que aconteceu. - ele admitiu com franqueza. No dia do acidente, ele observava a duas irmãs brincando juntas pela janela.

A rainha de gelo levou as duas mãos a cabeça. Como não se lembrava da presença daquele rapaz? Não, era impossível que estivesse lá. Tinha certeza de que estavam sozinhas. Mas, se ele não estivesse lá, como poderia saber?

— Eu não acredito em você! - ela proferiu, ainda cheia de desconfianças.

— Se não acredita, então como você me vê?

Ambos permaneceram um momento em silêncio. Jack ainda não tinha parado para pensar naquilo. Antes mesmo de virar Guardião, Elsa já era capaz de vê-lo. Mas como?

Sem hesitar, Jack alçou voo e só parou quando estava de pé em frente a ela. Em seguida, esticou a mão para que a mesma segurasse. Passado o susto inicial de ver uma pessoa flutuando, Elsa encarou a mão pálida do rapaz. Por mais que não se lembrasse dele, não podia negar que se conheciam. Subiu o olhar até os olhos de Jack, e sentiu, no fundo de seu coração, que podia confiar naquela pessoa.

Acabou por segurar sua mão e não tardou até que ambos tirassem os pés do chão. Obviamente, ela gritou assim que olhou para baixo e viu a altura que já estavam em poucos segundos, fazendo com que Jack risse longamente.

— Me ponha no chão, me ponha no chão!

— Então tá, irei soltá-la. - ele brincou e ameaçou abrir a mão que segurava o pulso de Elsa. Imediatamente, a menina agarrou seu braço inteiro, sem deixar de olhar para baixo. Aquele gesto medroso fez com que Jack risse ainda mais, mas se dirigisse ao solo novamente.

Elsa se afastou imediatamente assim que pisaram no chão. Ela estava tonta e sem ar, não acreditando que tinha realmente voado. Aquilo parecia um sonho. Eles estavam do lado de fora do castelo. Quando se virou para Jack, pôde ver o mesmo criando uma bola de neve com uma das mãos.

— Você também tem esse dom? - ela perguntou, bastante surpresa. O rapaz apenas assentiu positivamente, enquanto atirava o projetil contra ela. Ela desviou, mas não tardou a criar sua própria bola de neve, errando completamente o alvo.

Não tardou até que uma pseudo-guerra começasse. Jack desviava da maioria dos tiros flutuando no ar, enquanto Elsa se protegia criando barreira de gelo enquanto corria para se aproximar e finalmente conseguir acertá-lo. Depois de ser atingida várias vezes, ela já estava ofegante de tanto correr. Ele, por outro lado, não havia sido atingido uma única vez sequer. Finalmente as brincadeiras com as crianças do bairro serviam para algo além de entretê-las.

— Você está muito enferrujada, sabia? Melhor vestir um casaco ou vai acabar doente.

— Acho que ainda não percebeu. - ela afirmou enquanto criava mais um projetil de neve - O frio nunca me incomodou.

Passaram horas brincando daquela maneira, como duas crianças. Quando ambos caíram na neve, exaustos e ofegantes, olharam para o rosto um do outro e imediatamente desataram o riso. O placar era o mais desleal possível. Ela acabara por atingi-lo várias vezes, mas nada comparado às vezes que em fora alvo certeiro.

— Será que você finalmente se lembrou? - ele perguntou após o riso de ambos morrerem. Elsa abaixou os olhos, levemente envergonhada.

— Não. - ao responder, não pode deixar de notar a decepção estampada no rosto do rapaz. - Mas acho que nunca me diverti tanto na vida.

Nem mesmo o último comentário fora capaz de animá-lo. Ambos permaneceram em silêncio por um tempo, até que Jack levantou-se subitamente. Foi até o local onde Elsa estava deitada.

— Já sei o que pode trazer suas memórias de volta. - ele chegou tão repentinamente onde ela estava que a mesma se assustou levemente. -A resposta está nos seus dentes.

— O quê? - ela perguntou, confusa.

— A Fada do Dente pode te ajudar!

— Fada do Dente? Jack, isso é apenas um conto de fadas.

— Não, não é. Ela existe mesmo!

— Isso é impossível. É só um ser místico que vive na imaginação das crianças.

— Não é impossível. Eu e você existimos. Por que ela não existiria? - aquele era um bom argumento. Olhou para Jack meio desconfiada.

— Está falando a verdade?

— Claro, Elsa. Nunca mentiria pra você.

— E como ela poderia me ajudar a recuperar minhas memórias?

— É simples. A medida que uma criança cresce, a Fada do Dente recolhe seus dentes, pois eles guardam a memórias da pessoa quando ela era criança.

Elsa levantou do chão e ambos seguiram juntos até o castelo de gelo. Jack explicou que iria até o Palácio das Fadas e que traria as memórias dela de volta. Quando estava preste a partir, sentiu um puxão leve em seu casaco azul. Ela o segurava, enquanto olhava para baixo, mordendo levemente o lábio inferior.

— Você promete que vai voltar? - por algum motivo, aquela simples pergunta havia enchido o peito de Jack com um sentimento que lhe era alheio, mas quente, de certa forma.

— Claro que eu prometo. - ao dizer, segurou com força a mão de Elsa por um momento, antes de soltá-la e finalmente partir.

O vento o levou embora rapidamente. Assim que esteve fora de são campo de visão, Elsa se recolheu dentro do castelo. Tinha sua mão unida ao peito. A mesma mão que Jack havia segurado momentos antes. Ela estava quente.

 

 

Jack não perdeu um minuto sequer, seguiu imediatamente para o Palácio das Fadas. Quando chegou, ficou bastante surpreso ao perceber a presença de Norte, Sandman e do Coelhão também.

— Ora ora, parece que está tendo uma reunião familiar e eu não fui convidado. - ele zombou enquanto se aproximava dos outros Guardiões.

— Podemos saber aonde você estava? - pelo tom furioso e o modo como o empurrou, o Coelhão não estava muito feliz com ele. Normalmente não estava.

— Por que quer saber? Não devo satisfações a ninguém. - ele disse enquanto afastava a pata deste com o cajado.

— Na verdade Jack, você deve sim. É um Guardião agora. - a represália veio de Norte. Para ele usar um tom de voz tão sério, é porque certamente estavam com problemas. - Enviei um chamado para reunir todos Guardiões e você foi o único que não apareceu.

— Digamos que onde eu estava não tinha sinal. - ele respondeu dando os ombros. O Coelho fez menção de avançar para iniciar uma briga, mas fora impedido por Norte. - Mas eu estou aqui agora? Qual é a grande novidade?

— Eu estava terminando de organizar as palhetas com os dentes das crianças, quando notei a falta de uma delas. Procurei em todo lugar, mas não encontrei. Só pode estar com o Breu.

— Fazem quatro meses desde derrotamos o Breu e você notou que faltava uma palheta agora? - ele perguntou, incrédulo.

— Querido, você tem noção de quantos dentes eu tenho que tomar de conta?

— Certo, já entendi. Temos que recuperá-los. O que você sugere?

— Norte não poderá ir conosco, estamos bem próximos do Natal. Mas pensando bem... Você é o único que pode lidar com ele.

— Não, eu discordo completamente. - o Coelho se manisfestou na primeira oportunidade que teve. - Se esse cara for sozinho, vai acabar estragando tudo, exatamente como da última vez.

— Ele não faria isso! - replicou a Fada do Dente.

— Tudo bem. Eu deixo você me acompanhar e até dar uns tapinhas no Breu se quiser, canguru.

— Já disse pra não me chamar assim! - ele avançou sobre o rapaz novamente, mas fora detido novamente por Norte.

— Afinal, de quem essa palheta de dentes que iremos buscar?

— De uma garota chamada Elsa de Arandelle.

Jack não pôde acreditar no que ouvia. Por que, de todas as pessoas do mundo, Breu tinha de estar justamente com as memórias de Elsa? Não era de se esperar que ela não se lembrasse dela. Mas não permitiria que aquilo continuasse por muito tempo.

— Então, será que podemos ir? - o Coelhão estava já impaciente para terminar com aquilo.

— Não, eu vou sozinho. - Jack respondeu seriamente.

— O quê? De jeito nenhum! - quando estava prestes a protestar, foi impedido, desta vez não por Norte, mas pelo pequeno Sandman. Ao ver Jack tão sério, ele sabia que poderia confiar nas palavras do mesmo. Não sabia dizer exatamente porque, mas era algo que somente o rapaz poderia fazer. E deveria fazê-lo sozinho.

Ele estava prestes a levantar voo quando foi impedido pela Fada do Dente.

— Jack, por favor, tome cuidado. Sabe como Breu é perigoso.

Ele nada disse, apenas assentiu positivamente com a cabeça. E partiu em direção ao covil do Bicho Papão. Não deixaria que ele maculasse as memórias de uma pessoa tão importante quanto Elsa.

— Tem certeza de que foi uma boa ideia deixá-lo ir sozinho? - o Coelho da Páscoa perguntou incerto.

— Claro que tenho. - Norte respondeu, confiante. - Eu sinto isso na minha barriga.


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Notas finais do capítulo

Enfim, a segunda parte! Fiquei extremamente feliz de ver quantas pessoas leram a história. Deixem seus comentários, para eu saber o que estão achando, o que pode melhorar, etc... Não se esqueçam que é meu primeiro Cross-Over.



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