Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 22
Capitulo 21: E o tempo recomeça




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46140/chapter/22

Versão de Jacob Black

Havia se passado um mês desde que o mundo desabou em nossas cabeças, na minha e na de meu pai. Bella doente, muito doente. Era doloroso vê-la definhar quando eu tinha sentimentos para com ela. Ainda lembrava-me como a encontrei. Estava desacordada, ensangüentada, nas proximidades da antiga casa do Cullen. E o pior surgiu após eu levá-la ao hospital. Bella tinha um tumor cerebral e os médicos nada poderiam fazer.

Eu estive bem próximo dela durante o mês em que estava internada, falei com Bella apenas uma vez e então ela estava imersa em morfina, incapaz de falar.

As noticias nunca eram boas, mas também não eram tão ruins. Bella estava em um quadro estável e não saia do mesmo. Então eu estranhei quando, após um mês de internação, o medico decidiu ligar para a oficina naquela tarde de domingo.

Meu pai havia deixado nossos telefones para ele, o da oficina e o de casa. Como tínhamos muito trabalho com os carros fomos no domingo para a oficina. Quem atendeu o telefone foi meu pai, eu estava trocando o óleo de um carro de segunda mão. Eu ouvi o telefone tocar, mas dei de ombros. Só mais um cliente. Eu deveria imaginar, pela cara que meu pai fazia enquanto conversava, que não era isso.

...

Corri frenético até o corredor que levava ao quarto de Bella, o quarto que entrei uma única vez. Meu pai me seguia e tinha uma expressão terrível. Quando ele recebeu a ligação do medico que pedia para irmos ao hospital, eu não perguntei por mais detalhes. Tínhamos que ir para o hospital? Então iríamos! Eu não queria saber por que ele estava com aquela cara terrível. A mesma cara que vi quando minha mãe...

-Olá senhor Billy, jovem Jake. –O medico disse, estava sério. Aquilo não era bom. Eu me antecipei em perguntar, estava explodindo de ansiedade.

-Doutor, como ela está? Ela piorou? Por isso nos ligou, não é? Ou ela está melhor e foi transferida para um apartamento? –Perguntei frenético. O medico lançou um olhar de duvida para meu pai. Provavelmente ele esperava que meu pai dissesse o que ele disse na conversa ao telefone.

-Infelizmente o quadro de Isabella piorou. Ela entrou em coma e creio que não voltará a ficar consciente. Devemos nos preparar para o pior. Isabella deve ter apenas dias de vida, por mais que tentemos manter sua vida, não acho que seja o suficiente.

Suas palavras foram como açoites em meu peito. Ao invés de chorar, de desmaiar, eu fiquei apenas parado contemplando o caos de suas palavras. Como era possível? Como uma garota tão jovem e bonita, simplesmente, estava definhando? O chão saiu de meus pés enquanto eu processava a situação. Implorava internamente por palavras positivas que eu sabia que não viriam.

E elas não vieram.

...

Era surreal. Eu a vi em um dia sorrindo, com seus segredos refletidos nos orbes castanhos, mas agora...

Lívida, fria, branca, trajava um vestido que meu pai comprou para ela. Seus pertences, todos, deixados para nós. Isso não importava. Era estranho, tão estranho! E eu sabia que só iria chorar após o enterro, quando tudo realmente estivesse terminado.

Bella estava morta e agora seu corpo imóvel estava dentro de um caixão diante de mim. Muitos amigos vieram: amigos de Forks e amigos de sua antiga cidade. Todos choravam sua morte. Eu não vi realmente ninguém lá, incapaz de desviar meus olhos dela até que por fim alguém fechasse o caixão.

Branco.

Aquele branco realmente conseguiu chamar a atenção. Ninguém pareceu notá-lo, mas eu notei. Ele veio, caminhava lentamente, uma rosa branca nas mãos brancas. Passou incólume por todos que se espremiam em nossa pequena sala para acompanhar o velório de Bella. Eu o conhecia de vista, era Edward Cullen, o visinho misterioso que quase nunca saia de sua mansão e que, após vivendo um tempo por aqui, simplesmente desapareceu. Ninguém fez caso disso, ele era como um fantasma para nossa comunidade. Subitamente me lembrei que, quando encontrei Bella desacordada, foi diante de sua casa. Jamais entendi por que Bella rumou para lá e agora que ela estava morta eu jamais entenderia. Eu poderia perguntar a ele, claro, mas quando pensei nessa possibilidade Edward já não estava mais lá. Nas mãos brancas de Bella repousava a rosa branca trazida por ele.

Versão de Isabella Swan

Meu corpo flutuava, a dor havia cedido quase que completamente. Eu sabia que ainda estava presa ao mundo terreno, mas que logo iria me desprender e por fim deixar minha vida como Isabella Swan. Havia algo que me prendia a Terra, eu sabia, mas o que poderia ser?

Edward Cullen.

Este nome ardia em meus pensamentos. Era estranho. Como pude me ligar tanto a uma simples pessoa? Talvez por que ele não era exatamente uma pessoa. Não importa. Não importa se Edward era um vampiro, ele sempre seria para mim apenas o Edward. Ele que me ensinou o que é estar amando, ele que me deu forças para continuar vivendo, forças e alternativas. Era bem verdade que me abandonou, mas parando para pensar nas razões apresentadas, ele não foi o culpado de tudo. Apenas um mal entendido... Que iria custar minha vida. Eu não queria deixá-lo. Edward sempre esteve só e eu fui a única a me aproximar, a não temer sua natureza, a me entregar a ele. Eu queria, eu precisava viver e ficar com ele deixando de lado as mágoas, tudo! Então entendi que era Edward que me prendia tanto a minha vida como a humana frágil e doente. Mas eu não tinha mais forças, meu tempo tinha terminado.

Eu fui arrastada contra a vontade par a escuridão, agradecida por ao menos tê-lo conhecido.

...

Dor.

Uma dor no pescoço e pulsos. Uma dor nauseante, como se aqueles pontos estivessem sendo queimados. A princípio foi algo suportável, mas a intensidade era crescente. O que estava acontecendo? Eu estava sendo queimada viva? O fogo tomava conta de meu corpo mais e mais e eu me vi incapaz de me mexer, gritar, mostrar que eu estava viva. O que estava acontecendo? Eu estava sendo cremada e não notaram que ainda vivia?

Eu queria morrer! Queria morrer! Por que eu não morria? Quanto da minha carne queimaria? Quanto eu iria sofrer para morrer por fim? Nada valia essa dor, nada!

Eu não sei por quanto tempo eu estive queimando, mas pouco a pouco eu fui percebendo o ambiente ao meu redor, já podia mexer meu corpo, mas não o mexi. Vozes vinham vez ou outra, lamentando algo.

“Pobre jovem, tão nova!”.

“Ela me parecia muito saudável.”.

“Não fica assim Jake. Isso vai passar.”.

E mais vozes, mais sons, eu pude ouvir num turbilhão angustiante de sensações. Como estar de olhos fechados, mas não precisar abri-los para saber o que se passava. Eu sabia pela minha audição apurada.

As dores foram deixando lentamente meu corpo após o consumirem. Meus pecados foram pagos nessa tortura. E eu sabia que tão logo iria me libertar. Ainda sem saber ao certo o que houve, mas agradecida pelo simples fato de não sentir mais dor, eu abri meus olhos, olhos novos, mais capazes, e me deparei com o que devia ser escuridão. Eu podia ver e cheirar tudo, eram tantas coisas que percebia que era difícil catalogar. Mas o mais importante era... Eu estava dentro de um caixão e pelos cheiros que percebia, eu havia sido enterrada.

Eu devia estar desesperada, mas naquele momento eu só me perguntava: como? Como posso estar viva? Eu deveria ter morrido. Eu fui queimada, eu senti. Então a agonia me tomou e eu comecei a socar o caixão sabendo que isso poderia apenas apressar minha morte, fazer esforço e consumir todo o meu oxigênio.

Eu não estava sentindo necessidade de respirar.

Era estranho, eu sei, mas percebi. Desde que despertei eu não senti necessidade de puxar ar para meus pulmões. Eu poderia ficar parada e refletir sobre as coisas estranhas que eu podia sentir, mas eu me senti ansiosa para sair daquela prisão de madeira. Soquei uma única vez e vi com assombro o grande rombo que se formou. A terra invadiu o espaço e com rapidez monstruosa eu me desvencilhei de minha prisão.

Eu estava tão mais forte, tão mais veloz e minha sepultura nada significou a não ser um aborrecimento de que logo me livrei. E então eu estava livre, a brisa gelada não me incomodou nenhum pouco. Trajava um vestido antes branco, os pés descalços. Uma dor me golpeou a garganta e me vi sedenta de imediato. Olhei então para o que antes era meu tumulo, de fato eu havia sido sepultada viva, mas como? Como ninguém notou que eu ainda estava viva?

-Bella...

O som veio atrás de mim e virei-me tão rapidamente que me assustei com o meu próprio movimento. Ele estava lá, de pé, trajava branco, um terno branco, como um anjo. E então rapidamente eu entendi tudo. Edward havia decidido por nós, agora eu sabia por que tudo parecia estranho. Eu não era a mesma. Isabella Marie Swan havia morrido de fato. Eu era uma Nova criatura renascida pelas mãos daquele homem apenas para estar ao seu lado. Minhas conclusões me encheram se satisfação.

Ele se aproximou a passos humanos enquanto eu o olhava, bestificada. Com meus novos olhos eu pude verdadeiramente vê-lo, um arcanjo que vivia entre mortais. A voz era ainda mais bela e seu cheiro era viciante. Ele era um Edward todo novo, melhor do que o anterior, e existia só para mim.

Edward ficou a apenas um metro de mim, um sorriso lindo na face como um servo reverenciando seu amado Deus.

-Enfim... Foi uma espera longa. Agora será eternamente minha. –Falou com firmeza e quando dei por mim eu estava em seus braços sendo abraçada fortemente, mas seu abraço não me incomodou. Eu enterrei meu rosto em seu pescoço enquanto minhas mãos envolviam a cintura masculina e sorri.

Finalmente toda a dor havia acabado. A corrente que prendia apenas ao sofrimento, minha corrente e a dele, havia sido rompida por ambos.

Pela primeira vez tive esperanças de que as coisas só iriam melhorar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!