Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 10
Capítulo 9: Beijo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46140/chapter/10

A chuva deixou a terra fofa, estava difícil caminhar. Adentrei a mata por onde Edward e James desapareceram sem me preocupar em como encontraria o caminho de volta para o parque. Tentava me guiar pelos ruídos dos dois sem saber se seguia a direção correta. Mas o que eu iria fazer afinal?

Corri mais do que minhas pernas poderiam suportar, mas ainda sim me sentia com forças para continuar correndo. E então, após uns vinte minutos de corrida mata adentro, eu os encontrei em uma clareira. James ria, ele tinha um ferimento no braço e no ombro e Edward tinha dois buracos imensos no peito e abdômen. Eu caí de joelhos ante a cena. Edward parecia cansado, uma das mãos nos ferimentos feitos por James enquanto estava de joelhos no chão.

-Ora parece que eu vou ganhar a disputa... –Ele disse e seus olhos rubros voltaram-se para mim. –E meu premio está bem ali. –Ele deu um passo para frente, Edward levantou-se, o corpo levemente inclinado. Rosnava.

-AFASTE-SE DELA! ELA É MINHA! –Edward grasnou pronto a atacar. Ele parou, sorriu. James o olhou, confuso.

-O que há? Por que está rindo? –James disse dando mais um passo.

-Você está sendo caçado pelos Volturi... –Enquanto Edward sorria mais e mais, James fechava a cara. –E eu dei a pista do seu rastro a eles. Se eu fosse você começava a correr. –James num átimo atacou Edward jogando-o para longe. Edward foi arremessado contra uma árvore. Eu ainda estava de joelhos olhando a cena mortificada. James parecia vacilar sobre o que faria, por fim deu as costas mostrando claramente que iria embora.

-Ah! Minha menina? –Ele disse e eu o olhei. –Vamos acertar as contas em outra hora. Sabe onde estarei. -E desapareceu. Edward levantou-se devagar. Eu o olhei, aterrorizada pelos ferimentos, dois furos do tamanho de um punho no peito e abdômen, ferimentos que não sangravam. Ele parecia calmo, como se a tempestade tivesse passado. Olhou para mim e sorriu levemente, caminhou cambaleante até mim e caiu diante de meus pés.

Não estava inconsciente, mas a fraqueza certamente o manteria ali, se eu não estivesse por perto. Eu me ajoelhei e coloquei sua cabeça em meu colo. Ele fechou os olhos, um meio sorriso nos lábios e calou-se.

Usando o pouco de força que tinha eu o levantei apoiando-o em minhas costas e caminhei para a direção que julguei ser a do parque.

...

O deitei em sua cama, fui ao closet pegar roupas secas para vesti-lo. Edward ainda estava com os olhos fechados, imóvel. Quando estava pegando algumas peças...

-Estou com sede. –Ele murmurou. Virei-me para olhá-lo. Seus olhos estavam negros e seu queixo travado. Parecia que a qualquer momento ele saltaria daquela cama king direto para o meu pescoço, no entanto não me vi capaz de correr e deixá-lo ali sabendo que Edward estava ferido por minha causa.

-Onde posso conseguir sangue pra você? Espero que não tenha que caçar algum animal e arrastá-lo para cá. Eu não tenho habilidade nenhuma com isso. –Edward riu fracamente.

-Adoraria vê-la tentar caçar, mas não há necessidade. Vá até a geladeira, tem sangue humano estocado para alguma emergência. –Eu o olhei, apavorada. Como assim sangue humano? Ele matou alguém para ter sangue estocado? Edward pareceu notar minha reação.

-Não matei ninguém. Não mato pessoas para me alimentar. Eu comprei bolsas de sangue no mercado negro, ta legal? –Ele falou emburrado. Eu suspirei aliviada.

-Vou pegar. –Disse seguindo para a cozinha.

Confesso ter ficado em choque com todas aquelas bolsas de sangue conservadas na geladeira, mas procurei ignorar isso e servi-lo. Tive de prender a respiração, eu não gostava do cheiro de sangue, me dava enjôo. Peguei três bolsas de sangue e as levei para o quarto. Não olhei para Edward quando adentrei o quarto, mantive meus olhos no chão enquanto caminhava até a cama e colocava em uma mesinha próxima a mesma as três bolsas.

-Sai daqui. –Foi tudo o que ouvi de Edward. Poxa o que aconteceu com o “obrigado”? O olhei com raiva, mas ao fitá-lo entendi sua urgência em me mandar sair. Os olhos negros olhavam fixamente para o sangue como um louco. Meu corpo estremeceu ante a imagem. Sai às pressas e fechei a porta. Decidi esperar na sala, sentada no sofá.

Agora sim parecia que eu entraria em parafuso enquanto absorvia tudo o que houve. Descobrir a verdade foi doloroso, mas ao mesmo tempo me senti aliviada por ter descoberto antes do meu fim. Agora só havia uma coisa que eu queria mais do que morrer, era vingança. Queria a morte de James mais do que ar nos meus pulmões. Mas como eu conseguiria isso? Eu não era forte, morreria antes de encostar um dedo nele. Uma idéia me ocorreu. As lendas sobre transformações de vampiros eram verídicas? Se Edward me mordesse eu me tornaria uma vampira? Eu seria capaz de pedir a Edward esse favor apenas para equiparar minha força e velocidade como a dele? Tantas perguntas! Eu estava longe de conseguir minhas respostas. Tornar-me uma vampira, se é que isso era possível, poderia resultar em outra coisa: imortalidade. Embora eu quisesse vingança, eu não queria viver tanto assim. Mas ao ver Edward, devidamente vestido com roupas secas e limpas e certamente alimentado, eu comecei a pensar que talvez eu quisesse viver um pouco mais só para decifrá-lo ou quem sabe...

-Fico feliz que não esteja seriamente machucada. –Ele falou.

-Não. Graças a você. Obrigada pelo que fez. Você faz tanto por mim e eu nada fiz para compensá-lo.

-Não preciso ser compensado. –Ele disse sentando-se em uma poltrona um pouco afastado de mim.

-Então eu só posso oferecer minha gratidão, Edward. Não somente por hoje, mas pelo primeiro dia em que vi James e... Por ter cuidado de mim durante esse tempo. –Eu olhei encabulada para o chão. Edward olhou-me, pude notar pela minha visão periférica.

-Sabia que eu estava seguindo você?

-Sim. Um dos amigos do Jake, Sam, reconheceu seu carro. –Eu o olhei, Edward estava com os olhos fechados e sorria.

-Acho que não consegui ser muito discreto afinal.

-Por que fez isso? Não acho que temos um vinculo muito grande assim para você sempre estar por perto tentando me manter viva. E você gritou para o James: “Ela é minha!”. Por quê? –Eu queria saber o que se passava com aquele rapaz, o olhei tentando desvendar seus pensamentos através dos seus olhos... RUBROS? –Seus olhos... O que aconteceu?

-Ah, isso é uma reação a sangue humano. Quando nos alimentamos deste sangue nossos olhos ficam rubros.

Agora entendia o porquê dos olhos do vampiro James ser daquele jeito.

-Mas seus olhos eram de outra cor.

-Isso por que não me alimento de sangue humano, apenas em emergências, como hoje.

-Edward, você está bem? Como está seu ferimento?

-Desapareceu. Temos um grande poder regenerativo que se torna ainda maior ao sovemos sangue.

-Que bom. –Nós ficamos ali, nos olhando sem nada falar. Meu coração acelerou enquanto via aqueles olhos rubros sobre mim, não com temor, mas com fascínio. Eu não tinha palavras para descrever o que eu sentia após ter sido salva inúmeras vezes por Edward. Eu queria dar muito mais do que um simples “Obrigado”. Eu queria...

Meu corpo levantou-se guiado sabe-se lá por qual motivo. Edward se sobressaltou com minha aproximação e levantou-se do lugar onde estava sentado. Ele parecia confuso com o que eu iria fazer, mas eu não estava me sentindo assim. Eu coloquei minha mão esquerda em sua face sentindo a macies e frieza da pele. Edward respirava de forma ofegante enquanto eu me aproximei mais e mais com os meus olhos fixos nos dele.

Eu o beijei sem ser correspondida. Bom, eu não havia pedido para ter um beijo correspondido. Apenas um simples toque dos meus lábios nos dele, nada mais. Eu me afastei e não ousei olhá-lo, sai pela sua porta. Eu não me arrependi, quando se tem o tempo limitado não há arrependimentos, ainda mais um desse tipo. E daí que ele poderia nunca mais olhar a minha cara? Eu não tinha esquecido a minha vingança só por que James sumiu, ou por que eu não iria conseguir feri-lo por ser uma estúpida humana fraca. Ele estava em algum lugar me esperando. Eu não sabia onde, mas o modo como disse que eu saberia deixou claro que eu iria descobrir onde ele estava e que iria até ele. James estava certo. Eu não iria desistir. Cheguei quase à noite em casa, meu pudim tinha queimado. Jacob não soube vigiar. Ele me perguntou o que tinha acontecido, eu falei que tive de pegar uma encomenda no correio, mas que a mesma extraviou. Não precisei dar mais explicações.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!