Todo mundo ficou ali, feliz, ouvindo ela cantar, embora pra ele fosse mais difícil. Então Kiba pediu mais um musica. Sakura sorriu, fazendo menção de atender ao pedido, mas Tia Tsunade interferiu.

-Ah, não! De jeito nenhum! Kiba, você não tem vergonha nessa cara? Ainda está de pijamas! E vocês também Shikamaru, Lee e Hinata!! Por acaso já arrumaram suas camas?

Saíram todos correndo quando o assunto foi iniciado, gritando “Não! Nós vamos agora!!”

A sala ficou vazia, só com Sasuke, Sakura, Tsunade e Tenten.

-Tenten, você pode me ajudar a arrumar a mesa com as coisas para o café de manha? – perguntou Tia Tsunade.

-Claro, Tia Tsunade. – e foi pra cozinha.

-Ah, Sakura, eu vou até a dispensa pegar as chaves de seu quarto. – Tia Tsunade sorriu – ele ficou trancado todo esse tempo.

-Ah, certo Tia Tsunade. Eu espero.

-Com certeza você vai querer tomar um banho para relaxar, não é? Sasuke!

Ele já estava saindo da sala, mas foi chamado. Era difícil ficar ali com Sakura.

-Sim? – virou-se.

-Pode ajudar Sakura a subir com essas malas?? É muito para ela.

-Ah, Tia, não precisa! Deixa o Sasuke ir fazer o que ele quer.

-Não! – retrucou Tia Tsunade. – é muito pra você, já disse. Quer se machucar?

-Pode deixar Sakura, eu te ajudo sim.

Tentou forçar um sorriso. Era mais difícil do que ele imaginara.

-Certo, vou procurar as chaves. Esperem aqui.

E saiu.

Sakura percebeu que Sasuke queria sair dali, então se ofereceu pra fazer tudo sozinha, mas ele negou. Pelo menos, ele não levaria as mais pesadas, Ela fazia questão.

-Eu levo essas aqui, Sasuke.

-Não, essas são mais pesadas. Eu levo.

Olhou duro pra ele, ele ainda era o mesmo arrogante orgulhoso.

-Por quê? Não precisa fazer isso.

-Preciso sim. Foi o que Tia Tsunade me pediu, e eu disse que faria.

-Não precisa fazer só porque Tia Tsunade pediu. – ela começava a ficar irritada. – se é assim, me deixe levar as pesadas.

Foi inclinando a mão em direção as malas maiores, mas Sasuke segurou seu pulso a centímetros de distancia delas. Ela o olhou sem entender nada. Um sorriso apareceu nos lábios dele.

-Continua a mesma teimosa de antes. Não adianta insistir, eu levo as maiores. Agora antes de pegar as suas malas menores, ainda era melhor que você tirasse essas sandálias, não era? Sabe como são as escadas de madeira daqui. São traiçoeiras. – e soltou o pulso dela.

Que raiva ela tinha quando tinha que admitir que ele era mais forte, mesmo que fisicamente isso fosse obvio, ainda assim ela não gostava.

-Humpf,... ta bom. – tirou as sandálias do pé. Por que ele se lembrara do detalhe das sandálias? Estaria preocupado? Problema dele.

Ele percebeu que ela ainda era teimosa para admitir que era fraca. Isso fez surgir algo como um raio de felicidade em seu coração. Era pouco, mas era.

Tia Tsunade chegou com as chaves e os dois subiram as escadas devagar. Lá em cima, o quarto de Sakura era do lado do dele.

Ela parou e abriu a porta. Parecia feliz. Entrou saltitante, observando tudo.

-Sasuke, está tudo exatamente como eu deixei!!

Ele observou o quarto, mas também ela. Ele freqüentara, escondido, aquele quarto várias vezes, quando queria se lembrar dela. Achava tudo bonito ali, mas também doloroso. Agora, com a dona do quarto de volta, parecia que tudo tinha tomado vida de novo.

-Sasuke, alguém freqüentou esse quarto enquanto eu não estava aqui?

Ele desviou o olhar para o chão.  Será que ela percebeu? Não podia dizer que andara ali varias vezes. Mentiu.

-Não. – a voz não saira confiante. Droga.

Ela o encarou por um tempo, depois sorriu e disse:

-bem, agora eu vou arrumar tudo de novo. Tenho um longo trabalho pra colocar em prática, mas antes quero tomar um bom banho.

-Ah, tudo, bem – ele disse, olhando-a de novo. – vou te deixar sozinha. – e saiu, sem esperar resposta, fechando a porta atrás de si.

Foi para o quarto. O que o deixara tão perturbado? Sentou na cama e refletiu. Descobriu que vê-la de volta no quarto dela o fez descobrir que...  gostava dela demais. Demais para suportar caso ele não significasse nada pra ela. Mas, precisava dela.

Ela achara estranho o modo como ele respondera sua pergunta. Era uma mentira? Ou não? Se não, então por que ele estava perturbado?

Desistiu de pensar naquilo e foi curtir seu quarto, do qual se lembrava tão bem.

 Foi tomar um banho cantando:

Well all I need is the air I breathe
And a place to rest my head

(bem, tudo o que eu preciso é o ar que eu respiro

E um lugar para descansar a minha cabeça)

Depois de tomar um banho, colocou uma roupa bem suave para o lindo dia de verão que se estendia pra fora da janela. Pensou em adiantar o trabalho de arrumar as roupas no guarda-roupa e na cômoda, mas ouviu batidas na porta. Foi até lá para abrir.

Era Sasuke.

-Ah,... oi Sakura. – ele estava sem jeito.

-O que foi Sasuke? – ele estava tão estranho, não costumava ser daquele jeito, era mais confiante antigamente.

-Tia Tsunade está chamando pra descer e tomar café.

-Ah, sim! – ela tinha se esquecido completamente de comer. Só agora sentia o estomago vazio. – eu já desço, me espere.

Foi até o banheiro e soltou os cabelos. Voltou à porta, Sasuke ainda a esperava. Ele estava distraído, encostado na parede do corredor, pesando em algo muito distante dali, ela pode perceber isso. Não sabia que ele podia ter um lado tão pensativo. E sabia menos ainda porque isso a perturbava.

Sasuke tinha ficado em seu quarto, pensando sobre como as coisas tinham mudado. Sakura tinha mudado, ele tinha mudado, não queria que tudo terminasse daquele jeito.

Ela estava muito animada, ele podia ver. Talvez, não, era quase certeza, que o que o estava magoando era sentir que a animação dela não provinha de vê-lo novamente. Isso era angustiante.

Pôde ouvi-la cantando do banheiro ao lado. E ainda mais aquilo: como se já não tivesse que aturá-la em seu pensamento quase toda hora, ainda teria que saber que ela estava o tempo todo a pouca distancia de seu quarto.

Um trecho singular da musica o fez despertar para a realidade de novo:

Do you know what your fate is
And are you trying to shake it
You're doing your best and
You're best look
You're praying that you'll make it

(Você sabe qual é o seu destino?
E você esta tentando se livrar dele?
Você está dando o seu melhor
No seu melhor visual
Você está rezando para superar isso)

Teria ela percebido suas mudanças? Não seria de se admirar. Sakura sempre foi do tipo que podia entender as pessoas rapidamente. Pior: ela sempre pode entendê-lo, antes mesmo que ele desconfiasse. Teria ela o entendido? Entendido seus olhares e movimentos, sua reação, seus pensamentos e conclusões ocultas? Ele podia ler a própria situação naquelas frases aparentemente inocentes. Podia sentir o próprio futuro chegando: Sakura arrumaria outra pessoa a quem se apegar. E ele não podia ser egoísta, não podia negar que era o melhor pra ela se ele não significasse nada. Mas, estaria sendo egoísta com ele mesmo!! Estaria dando adeus à única chance que teria de conquistá-la.

Mas um pensamento rápido apareceu em sua mente e o apavorou: talvez ele não tivesse chance alguma desde o inicio.

Ouviu-a cantar de novo:

Well all I need is the air I breathe
And a place to rest my head

(bem, tudo o que eu preciso é o ar que eu respiro

E um lugar para descansar a minha cabeça)

Era irônico, não? Talvez uma resposta inconsciente dela. Talvez ele não devesse tocar naquilo, para não machucá-la. Talvez ele estivesse confundindo as coisas.

Decidiu reprimir tudo o que havia de errado dentro dele. Seria melhor.

                                               -*-

 Estava lembrando-se daquele momento quando Sakura voltou à porta.

-Vamos, Sasuke? – ela o olhava, analisando-o. Sem duvida tirando as próprias conclusões sobre o comportamento diferente dele. 

-Vamos. – tratou de não dar ouvidos as próprias conclusões.

Lá embaixo a cozinha estava movimentada. Tia Tsunade devia ter feito alguns bolinhos de chuva para comemorar a volta de Sakura. Ele teve que parar por que Lee se plantou na frente da escada.

-Sasuke, com licença. Sakura hoje é uma estrela.

Tenten vendo a situação da cozinha, que tinha uma porta pra sala, gritou:

-Lee, seu estúpido! Sakura já é uma estrela todos os dias, não é só hoje não!! – todos riram.

Então Lee estendeu as mãos para Sakura, para que ela descesse as escadas segurando nele.

-Bem – disse ele – se ela quiser, posso fazer isso todos os dias então.

Sakura retribuiu com um sorriso. Houve gritos de brincadeiras na cozinha. Sasuke se sentiu ferver de raiva.

Sakura se sentiu um pouco constrangida com a atitude de Lee. Ela realmente o adorava, mas se ele começasse a confundir as coisas...

Ela não tinha planejado voltar para começar algo com ninguém, Seus planos era que sua licença para poder sair do orfanato fosse renovada, então ela pudesse voltar a trabalhar em seus projetos de carreira.

O café-da-manhã foi ótimo. Tia Tsunade tinha feito bolinhos de chuva para comemorar sua volta, e ela ficara muito agradecida que todos a estivessem recebendo tão bem. Ela esperava que tudo também, ocorresse muito bem enquanto ela estava ali. Se por acaso ela arrumasse algum problema que pudesse revelar algo como um mal-comportamento, seu contrato não seria renovado. Ela teria de ficar ali por seis meses, como uma experiência.

Depois do café, ela tentou ajudar na cozinha, mas Tia Tsunade disse que naquele dia ela deveria apenas relaxar. Foi assistir TV com Hinata, perguntou algumas coisas pra ela, e percebeu que ela continuava a mesma tímida de sempre.

-Hinata-san, você gosta da nova escola?? – perguntou ela durante o intervalo de um programa.

-Gosto, sim. Ela tem... é... umas pessoas bem legais. – respondeu ela meio que hesitante.

-Tem muitas amigas lá?

-Não... – ela parecia um pouco abatida com aquilo.

-Então... quem é legal... especificamente? – perguntou ela, levando Hinata ao ponto principal.

Hinata corou.

-Ah! É... é... não tem ninguém em especial, Sakura-san. – abaixou os olhos. Então o programa voltou e ela desviou o assunto. – olhe! O programa voltou... – mas tinha ficado claramente envergonhada com algo.

“É óbvio que há alguém legal, em especial.” Pensou Sakura.

                                               -*-

Mais tarde, ela estava em seu quarto, conversando com Tenten. Arrumava suas roupas.

-Sakura-chan, ficamos todos muito contentes com a sua volta. Contentes mesmo!! – ela falava sorrindo.

-Eu também estou feliz em voltar Tenten. Muito feliz.

-Sabe, você vai se dar bem na escola e aqui no bairro. – disser Tenten, um tanto distante.

-Por que acha isso? – perguntou Sakura, com interesse.

-Bem... – Tenten hesitava – você é famosa Sakura, Naquele colégio só tem gente rica. Acho que vão gostar de você.

-Acho que vão pegar no meu pé... – respondeu Sakura, irônica. As duas riram.

-Sakura-chan, você ainda não conversou muito com Sasuke, né? – Tenten perguntou, subitamente.

Sakura não entendeu a pergunta.

-Não, Tenten... por que? Ele tem alguma coisa? – ela já começava a achar que havia algo grave por trás daquele comportamento estranho dele.

-Bem... agora já estamos acostumados, mas... já faz um tempo que ele anda meio...

-Meio o que, Tenten?

-Bom, meio.... animado demais.

Animado demais? Não era bem aquilo que ela esperava ouvir. Ele parecia é estranho e desconfiado demais.

-Bem... eu não o achei TÃO animado assim, Tenten....

-Ah, mas ele deve estar com algum problema, deve estar passando mal. Você precisava ver, Sakura-chan! Hoje ele levantou cantando, às seis da manhã!!

Sasuke... cantando.., às seis da manhã? Tenten devia estar ouvindo coisas. Sakura simplesmente não conseguia imaginá-lo cantando, muito menos àquela hora!!

A conversa seguiu meio apática, principalmente para Sakura. Ela não conseguia entender o comportamento de Sasuke. Na verdade, era como se todos estivessem meio diferentes ali. Talvez fosse só a imaginação dela, afinal ela tinha passado muito tempo longe deles.

Seguiu-se o almoço, a janta, e ela conseguiu de divertir. Reparou em como Kiba se oferecia para ajudar Hinata a se servir:

-Você aceita um macarrão, Hinata-chan? Se preferir, eu posso pegar um bife pra você...

E no modo como ela reagia:

-Não, Kiba-kun. Eu posso pegar, vá comer, sua comida está esfriando...

-Ah, claro...

Lee também tentava ser gentil demais com Sakura, mas ela resolveu adotar a mesma atitude de Hinata. Parecia ser bem eficaz. Sasuke estava sentado e quieto do outro lado da mesa, concentrado só em seu prato. Apoiava a cabeça com a mão fechada, tendo o braço em cima da mesa. Ele remexia a comida sem comer quase nada. Sakura se preocupou se a idéia de Tenten de que ele estivesse mesmo passando mal.

Shikamaru conservava o mesmo espírito brincalhão de antes, e Kiba continuava sendo seu parceiro para piadinhas.

                                               -*-

Depois do jantar ela subiu e tomou um banho. Tinha muitos problemas para pensar e percebeu que mais um se formava em sua cabeça quando foi até a pequena varanda que dava para o pequeno pomar dos fundos da casa grande do orfanato. Seu quarto, o de Sasuke, o da Tia Tsunade e o de Tenten davam para o jardim dos fundos. Ela costumava ficar ali sentada em um cantinho olhando para a grama que se estendia por uns metros até alcançar as pequenas árvores que formavam o bosque não muito grande.

Lá embaixo, sentado nos declives da grama estava Sasuke.

Ela resolveu descer e ir falar com ele.

Sasuke tinha passado um dia horrível. O que ele planejara ser um grande dia, estava sendo um dos piores de toda a sua vida. Sentia-se infeliz, como há muito tempo não sentia. Sentia-se incompleto, tinha um vazio dentro de si.

Queria se livrar da maldita ilusão que Sakura o curaria daquilo, mas simplesmente não conseguia.

Sentiu uma mão tocar de leve seu ombro. Ele se virou pra trás, assustado. Era Sakura.

Ela abriu um sorriso. Aquele mesmo de muito tempo atrás. Ele tinha certeza, não era só uma ilusão. Ela se sentou na grama ao seu lado. Ele não entendia porque ela estava ali.

-Sasuke, o que foi? – a voz era suave como antes. Ele queria ser beliscado, seria mentira? Não parecia ser.

-Não foi nada. – ele queria ser suave com ela, mas sua voz saiu assim sem que ele tivesse que forçá-la. A força que aquela pergunta tinha era enorme. Era a mesma de anos atrás,

-Claro que houve alguma coisa. – ela pôs a mão em seu ombro. Ele não sabia o que fazer. Um toque físico era algo que ele não esperava.

Pôs a mão sobre a dela e a retirou delicadamente.

-Não foi nada, Sakura... só que... – hesitou. Ele lhe contaria o real motivo de estar abatido? Era um risco que corria. –... nada.

Ela o encarava.

Sakura sentia algo de errado. Tenten, Hinata, Sasuke, Lee... estavam todos um tanto... abatidos. Por que aquela tristeza coletiva? Ela queria ajudá-los, queria ajudá-lo. Sasuke podia ter perdido o cargo de garoto perfeito pra ela, mas ainda era especial, porque era seu amigo.

Teve que perguntar, era o que ela temia:

-Sasuke.. você ... é... feliz?

A pergunta caiu como uma bomba no colo dele. Se ele era feliz? Estaria ela interessada naquilo? Iria ela querer fazê-lo feliz? Não, então por que ela perguntava aquilo??

-Eu... – não conseguiu responder de imediato – claro.. claro que sou... estou feliz por que... – ”por que você está aqui. De volta, Sakura.” – porque gosto daqui....

Ele desviou o olhar ao pronunciar o resto da frase. Não teve coragem de dizer a verdade, afinal, ele tinha resolvido guardar o que tinha para si, não era mesmo??  

-Tem certeza que é por isso mesmo, Sasuke?? – ela perguntou. Mas, o quê? Por que ela queria saber? Faria diferença?

-C-claro....

Ela queria saber se ele realmente tinha pegado gosto daquele lugar. Ela se lembrava muito bem que ele detestava aquele orfanato.

-Bem... tudo bem então. Eu fiquei preocupada porque... bem... você está meio... diferente.

-Você também está. - A resposta veio num tiro.

-Eu não estou diferente, Sasuke. Continuo a mesma pessoa, É claro que... eu perdi minha vergonha.. estou mais desinibida, mas isso não é nada.

-Hum...

-Sabe que se precisar de mim eu vou ajudá-lo, não é? – ela queria protegê-lo de qualquer coisa que o atingisse.

Ele a encarava, os olhos perdidos.

-Eu... sei.

Então ela levantou e se foi.

-Boa noite, Sasuke. Até amanhã.

E ela se fora. Mas deixara duvidas: por que ela se oferecera para ajudá-lo? Ela voltaria a ser próxima dele? Ou nunca tinha deixado de ser?

“Até amanhã” o fez ver que ela estaria ali de novo, mais um dia, não iria embora tão cedo. Amanhã teria outra chance.

Então tomou uma decisão definitiva. Ele definitivamente a conquistaria, custasse o que custasse.