~POV de Loki

Estou num ponto isolado da galáxia, ao meu redor só há escuridão. Sinto-me novamente em minha forma original e a ausência de gravidade deixa meu corpo suspenso no espaço... Não sei como vim parar aqui, mas isso pouco importa agora. Não há ar contra minha pele, não há gravidade, não há nada além do... nada.

Sinto como se alguém quisesse falar comigo, alguém com quem eu tive um envolvimento num assunto que tínhamos em comum – um interesse, uma obsessão. Também não me vem à mente quem poderia ser.

Uma silhueta começa a se materializar à minha frente, um corpo cinza de forma muito distante de ser humana ou qualquer criatura da qual eu tenha conhecimento. Aos poucos eu a reconheço e lembro-me do que temos em comum:

– Other – digo, assim que a forma se materializa por completo.

– Por que a demora com nosso plano, Laufeyson?

– Digamos que houve um pequeno imprevisto...

– Imprevisto – diz Other, com desdém. – Imprevistos só servem para atrapalhar o andamento do que fora planejado.

– Creio que isso não atrapalhará tanto o nosso plano. Posso esquivar-me da atenção dos Vingadores para recuperar o Tesseract e-

– Tolo! Aquela agência secreta fez o favor de reparti-lo ao meio!

O quê?! Então foi por isso que me trancaram naquela torre, não queriam que eu escapasse enquanto resolviam o problema que haviam causado. Sem o Tesseract completo, não é possível abrir o portal.

– E você ainda me faz o favor de regressar à sua forma mais infantil – Other dá uma gargalhada após dito isso.

Enraiveço-me com seu comentário – como ousa zombar de mim, aquele a quem confiou o poder do cetro e a por em prática a invasão de sua raça à Terra? Minha nova forma seria motivo de zombação até entre os Chitauri?

Respiro fundo, tentando me acalmar, e prossigo com o assunto:

– Isso pouco importa. Minha situação agora pode não ser das melhores, mas em breve retornarei ao normal. Quando isso acontecer, imediatamente iniciarei a invasão.

– Você fala como se tudo fosse simples. Os Chitauri não esperarão por muito tempo seu retorno à forma original – e, aproximando-se dramaticamente de mim, conclui: - Pare de enrolar e ache um jeito de abrir logo esse portal!

Sua forma desaparece num piscar de olhos. A escuridão à minha volta parece mais intensa e, de repente, sinto meus pés pesarem – então minhas pernas, meus braços, meu tronco. A gravidade parece ter se instalado novamente e meu corpo é puxado bruscamente para baixo.

Acordei assustado e ofegante. Parecia que estava caindo num abismo sem fim, assim como da vez em que fui exilado após a destruição da Bifrost.

Olhei ao meu redor: estava na sala de estar rodeado pelos Vingadores, que dormiam profundamente. Thor dormia como uma pedra ao meu lado – roncando com a boca aberta e de barriga para cima. Tudo não passara de um sonho...

Mas tinha algo muito real naquele sonho. Talvez fosse realmente Other tentando comunicar-se comigo, alertando-me de nosso trato. Se eu não desse um jeito de pegar o Tesseract para abrir o portal logo eu não sei o que será de mim. Porém, se ele foi partido ao meio, como saberei quando a S.H.I.E.L.D. o terá concertado?

O céu ainda está escuro lá fora, com uma fina e tênue linha amarelo alaranjada no horizonte por detrás dos prédios. Acho que mais algumas horas de sono me darão mais força para pensar no que fazer.

Deitei-me ao lado de Thor – só então notei que dormíamos em cima de almofadas espalhadas pelo chão, provavelmente trabalho de Selvig e das outras garotas. Fechei os olhos e pus-me a relaxar – ou pelo menos tentar fazê-lo.

Com os roncos de Thor, este seria um longo fim de noite.

***

De manhã na mesa do café, Erik nos deu as boas novas:

– Eu falei com seu pai ontem depois do jantar, ele disse que há um jeito para resolver a situação dos Vingadores.

– Mesmo? E qual é? – perguntei.

– Você sabe que a S.H.I.E.L.D. tem recursos e potencial para desenvolver qualquer coisa, certo? Bem, existe a possibilidade de eles desenvolverem uma espécie de soro para restaurar as células do corpo a fim de fazer com que voltem a... enfim, voltem a idade adulta, se assim fica mais fácil de entender.

Um soro? Tudo seria resolvido com o desenvolvimento de um soro? Com tantas armas, equipamentos de espionagem e de pesquisa eu esperava que fosse algo maior – mais épico, se isso traduz melhor meus pensamentos.

– Sério? E quando ficaria pronto isso?

Erik deu um gole no seu café antes de responder:

– Segundo o Thuomas... Um mês.

Quase engoli errado a colherada de cereal que havia colocado na boca. Jane e Darcy pareciam ter se impressionado com o prazo a ser cumprido.

– Uou, dá-lhe S.H.I.E.L.D.! – disse Darcy, levantando as sobrancelhas.

– Teremos então que ficar cuidando deles por um mês inteiro... – disse Jane, olhando na direção do centro da sala de estar.

Pelo visto, ontem eles deram o jeito de fazer um bem-bolado para nossos hóspedes – uma espécie de cercadinho com o chão forrado por cobertores e almofadas, mas sem nada para cercá-los. A ideia de tratá-los realmente como bebês sabendo que na verdade eles não são soa-me tão estranha quanto servir carne a alguém sabendo que ele não come carne. No momento, eles ainda estão dormindo - tão fofos que dá até vontade de apertá-los.

Meu pai é um excelente técnico de laboratório, é por isso que ele trabalha para a S.H.E.I.L.D. Já vi alguns dos trabalhos que ele desenvolveu por lá, todos funcionaram perfeitamente e foram usados nas missões mais importantes da agência. Se ele diz que é possível desenvolver tal soro em apenas um mês, é porque ele consegue de verdade.

Acho que valeria a pena bancar uma de babá enquanto ele põe a mão na massa.

– Desafio aceito! – disse, propondo um brinde entre nós.