Arrumamos o que pudemos no apartamento, varremos os cacos de vidro e agora havíamos sentado para pesquisar todo o histórico das câmeras de segurança – eu sugeri que começássemos pelos andares de pesquisa.

Após ter trocado o meu pijama-só-que-não por um shorts jeans e uma camiseta do Agonist, sentei-me ao lado do meu tio no sofá, vendo pela internet os materiais para consertar os estragos causados por Loki. Ele podia ser um bebê agora, mas ainda mostrava-se apto a me ajudar nem que apenas por apontar com o dedo os itens essenciais na tela.

– Nada aqui, nada aqui... – dizia Erik, enquanto olhava vídeo por vídeo na telona da sala. – A-há! Deêm uma olhada nisso!

Tirei os olhos da tela do laptop e vi o que Erik havia descoberto: uma caixa guardada numa sala restrita do penúltimo andar de pesquisa explodia em diversos ângulos de câmera, liberando uma intensa luz que esbranquiçou completamente os visores da telona.

– Passe para os andares superiores – disse, interessando-me.

Prontamente, através do comando de voz, os visores mostraram imagens do último andar da torre – onde eu havia encontrado Loki na cela de vidro. Notei que, antes da luz inundar a sala, ele ainda estava em sua forma original, muito alto e magro. Logo depois, a imagem mudou para a sala de estar da cobertura, acontecendo a mesma coisa.

– O que havia naquela caixa? – perguntou Jane, sentada numa poltrona ao lado de Erik com o pequeno Thor no colo.

– Alguma coisa química, pelo visto – ele respondeu.

– J.A.R.V.I.S., sabe nos dizer o que era? – perguntei ao Sistema Inteligente.

– Perfeitamente. Há algumas semanas, o Dr. Stark recebeu uma encomenda de bombas-G para análise. Foram muito bem protegidas na sala que acabaram de ver no visor, porém houve um imprevisto e acabaram por explodir e espalhar sua radiação pelos três últimos andares da torre.

Pude notar que Erik e Jane deram um pequeno pulo das poltronas ao ouvirem a palavra radiação, o que também me deixou preocupada. Quer dizer que o apartamento INTEIRO estava empestado de radiação gama e nós não sabíamos? Olhei assustada para Tio Stark, que me olhou como se dissesse Era isso o que tentei avisar!

– H-Há quanto tempo a explosão ocorreu? – gaguejou Jane.

– Há exatas dez horas. Ao chegarem ao apartamento, os níveis de radiação já estavam inofensivos, ou seja, muito baixos ou quase nulos – todos nós suspiramos em alívio. Eram nove horas em ponto agora e já se passaram quinze minutos desde a chegada de Darcy e os outros.

Mas então, eu me toquei:

– Mas raios gama não atravessam concreto, como chegaram aos andares superiores?

– Podem ter encontrado um caminho pela ventilação – respondeu J.A.R.V.I.S. – Agora, sugiro que, mesmo assim, examinem o nível de radioatividade em seus corpos para verificar se tudo se encontra em ordem. Principalmente você, Srta. Hop.

Eu era a única pessoa além dos Vingadores presente no apartamento no momento da explosão. Quem garante que eu não fui contaminada como eles? E se fui, porque ainda continuo adolescente? Isso só seria esclarecido com análises.

– O Stark guarda um aparelho próprio para isso no último andar da torre, acho que já é seguro irmos até lá – falei, lembrando desse detalhe.

De repente, notei que alguma coisa estava faltando na sala. Alguma coisa não,alguém. Vejamos, à minha frente estavam Tio Stark, Steve, Bruce, Loki, Thor, Clint, Jane, Erik...

– Onde está Darcy? – indagou Jane, lendo meus pensamentos.

Olhamos ao redor e nada dela. E nada de Natasha, também.

Logo, ela apareceu no corredor segurando a pequena Vingadora nos braços.

– Aonde foi? – perguntou Erik.

– Trocar a Viúva Negra – respondeu, num tom óbvio.

Trocar... pode ser entendido literalmente ou ser usado como uma figura de expressão. Mas, se trocamos algo, trocamos esse algo por outra coisa – o que não parecia ser o caso. Após essa breve reflexão gramatical, e tomando ciência do real significado da palavra em questão, um pensamento repugnante tomou conta da minha mente:

– TROCAR?! Não, não, não, sem chance que eu vou tocar neles! – protestei. O tal pensamento de minha mente não mais inocente foi o de minhas mãos virginais tocando... acho que nem preciso concluir a frase, né?

Natasha levou suas mãozinhas de bebê à boca para conter um risinho – pelo visto, eu não era a única com mente suja por aqui. Os outros bebês entreolharam-se com uma expressão não sei se desconfiada ou apreensiva.

– Não é tão tenso assim! E também podemos dividir nossas tarefas: eu cuido de Natasha, Clint e Steve; você cuida de Tony, Bruce e Loki. Já a Jane... – um sorriso maroto formou-se no rosto de Darcy.

Entendi automaticamente o que ela quis dizer e lutei para conter um riso malicioso. Jane nos olhou duvidosa e, notando tal sinal de inocência, eu e Darcy caímos no riso – até Erik não se aguentou!

– O quê? – perguntou ela. Coitada...

– Você pode trocar o Thor – disse, após recuperar meu ar, mas ainda assim rindo.

As bochechas de Jane coraram quando finalmente se tocou da realidade. Ela não havia se apaixonado por ele? Agora teria que cuidar do deus-bebê como se fosse seu filho – e mães são íntimas com suas crias. Thor levantou sua cabecinha loira para olhar sua nova babá com um ar inocente salpicado de vergonha. Ao encontrarem seus olhos, o rosto de Jane parecia mais um pimentão de tão vermelho!

– Erik também podia ser um babá reserva, não acham? – perguntei, fazendo cara de perversa.

– Babá, eu? Eu não nasci para isso!

– Nasceu sim! – dissemos Darcy e eu, em uníssono.

Seria uma ajuda mútua, ninguém sairia ileso.

***

Fizemos as análises e tudo estava OK com nossos corpos.

Para os leigos, radiação gama são ondas eletromagnéticas liberadas em forma de energia por certos elementos radioativos. Elas conseguem penetrar o corpo humano – ao contrário das radiações alfa e beta – ,podendo causar má formação nas células. Foi isso que deu origem ao Hulk e, agora, aos Bebês Vingadores.