A Guardian's Diary 3 - Seasons of love escrita por Lino Linadoon


Capítulo 2
Capítulo 2 - Decisões formadas em união


Notas iniciais do capítulo

Ola! Mai um cap para vocês!
Um momento fluffly entre Jack e Coelhão! X3

EDIT: 14/01/2023 - CAPÍTULO REESCRITO!



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Jack não estava planejando contar a ninguém tão cedo, assim como Coelhão, ambos tinham decidido que não tinham porque fazer tal coisa. Coelhão também tinha dito que Jack não precisava usar o anel, mas ele se recusava a tirar o pequeno presente feito de ramos. O problema pelo qual eles não esperavam, porém, era a mão em que ele tinha decidido usar o anel.

   Jack estava visitando Dentiana – se bem que ele estava lá mais para ver Emma, mas era sempre bom ver a Fada dos Dentes de qualquer modo – e depois de alguns minutos conversando com as fadas, Emma notou o novo acessório de seu irmão.

   Ela trinou baixinho, chamando a atenção do garoto, apontando para o anel com interesse.

   “Ah, o Coelhão fez pra mim.” Jack disse sem pensar, sorrindo ao se lembrar daquele momento, uma semana atrás. “É simples, mas é bonito, não é?” Emma guinchou mais alguma coisa, mas o garoto não chegou a atender.

   Ouvindo aquilo, a atenção da Fada dos Dentes se desviou de seu trabalho, e Jack notou como seus olhos ametista brilharam quando se focaram no anel verde.

   “Jack!” Ela exclamou, agarrando a mão do rapaz e examinando o anel bem de perto, assim como ela as vezes fazia com os dentes dele. Ela piscou uma e duas vezes, antes de levantar os olhos para o garoto. “Espere um pouco... Vocês se casaram?”

   “O que? Não, não!” Jack disse rapidamente, mas então parou para pensar. Aquele momento no “templo” tinha sido tão... Solene, por falta de palavra melhor, que era como se os dois tivessem tido sua própria cerimônia privada. Mas ele não queria exagerar nada. “O Coelhão só me pediu em casamento, é só isso.”

   “Então porque você está usando um anel na mão esquerda?” Dentiana pressionou, sorrindo gentilmente.

   “Eu sei lá, a gente só foi com a primeira mão que eu ofereci.” Jack deu de ombros.

   Dentiana o lançou um olhar incrédulo, mas deixou aquilo de lado. Ainda assim, durante todo o tempo que o Guardião da Diversão se encontrou no palácio das fadas, ele pôde notar que os olhos brilhantes de sua amiga continuavam retornando para o anel em seu dedo. Ele não voltou a falar sobre aquilo.

—G-

   As orelhas de Coelhão vibraram e seus bigodes tremeram, ele podia sentir algo mudando no ar.

   E de repente um portal abriu ao seu lado e uma forma enorme pulou para fora dele.

   “Coelhão!”

   “Ack!” Coelhão tentou pular para longe, mas foi pego por dois largos e poderosos braços humanos e apertado em um abraço de urso. “Norte! Norte! Cuidado com os meus ovos!” Ele exclamou.

   “Ah, sim! Sim! Me desculpe!” Norte riu, soltando o Pooka e dando alguns passos cuidadosos para longe dele, tentando evitar os incontáveis ovos de Páscoa à seus pés.

   “O que está acontecendo agora, Norte?” Coelhão perguntou, afastando os ovos de perto do Guardião das Maravilhas só por segurança.

   “A Fada me contou sobre você e Jack!” Norte exclamou em tom jubilante, batendo com força nas costas do Pooka, quase o jogando de cara no chão. “Meus parabéns!”

   “O que?” Coelhão perguntou, confuso. Norte já sabia sobre o bebê, ele estava lá quando eles notaram as similaridades entre a situação de Dentiana e Jack, o que queria dizer que não era isso. “Parabéns pelo que? Do que você está falando?”

   “Ora, do que eu estou falando?” Norte riu alto, erguendo uma sobrancelha escura. “Estou falando de você pedindo Jack em casamento!”

   “Ah.”

   As orelhas de Coelhão se curvaram levemente. Ele se perguntou se Jack tinha dito alguma coisa, ou então... Ah, o anel. É claro. Ele devia saber que aquilo iria originar perguntas, principalmente entre os Guardiões – e se tinha uma coisa que se passava rápido entre os cinco, era fofoca.

   E não era como se ele não quisesse que os outros soubessem, mas Coelhão era alguém mais reservado do que qualquer outra coisa.

   “Precisamos preparar as celebrações!” Norte continuou falando, sem se importar com a reação do outro. Ele sorriu, envolvendo os ombros de Coelhão com um braço e se inclinando contra ele. “O que você tem em mente, velho amigo?”

   Coelhão piscou, sendo retirado de seus pensamentos e suas orelhas se abaixaram um pouco.

   “Opa, celebração? Não vai ter celebração nenhuma!” Ele disse rapidamente, se afastando das mãos do outro. “Nós já estamos casados da maneira Pookana e assim está bom.”

   Norte fez uma careta.

   “Sim, sim...” Ele revirou os olhos, colocando as mãos na cintura e se inclinando na direção do Pooka. “E Jack é um humano.” Ele mencionou, erguendo uma sobrancelha, notando quando o porte de Coelhão mudou ao ouvir aquilo. “Vocês já fizeram as coisas de acordo com a tradição Pookana, mas e as tradições humanas?”

   Coelhão parou para pensar.

   Bem, ele tinha que admitir que Norte tinha razão. Coelhão tinha pedido Jack em casamento de um modo mais familiar para o rapaz, mas de acordo com as tradições Pookanas os dois já estavam casados diante da natureza. Coelhão já tinha levado em conta o modo humano de fazer as coisas, mas talvez ele devesse mesmo permitir à Jack ter algo mais do que só aquilo.

   “Bem... Tudo depende do Jack.” Coelhão murmurou. “Se ele tiver interesse, então--”

   “Sim, tem toda a razão! Mas...!” Norte exclamou, seus olhos brilhando como os de uma criança ao entrar numa loja de brinquedos. “Com ou sem celebração matrimonial, pelo menos temos que ter uma festa!”

   “Não precisamos ter uma festa.” Coelhão revirou os olhos, suas orelhas encolhendo contra a cabeça, tanto por causa do tom alto da voz do Guardião das Maravilhas quanto pela própria irritação do Pooka com aquelas ideias.

   “É claro que precisamos!” Norte exclamou, como se estivesse tentando arrebentar os tímpanos do coelho.

   Mas então ele parou, seus olhos azuis se tornaram mais suaves e quando aquela mãozorra pousou no ombro do Pooka mais uma vez, o toque era bem mais gentil do que antes. Coelhão ergueu os olhos para o homem.

   “Meu amigo...” Norte disse, seu sorriso quase escondido pelos bigodes brancos. A voz de Norte era tão gentil quanto seus olhos dessa vez. “Você encontrou alguém. Alguém com quem está feliz. Isso é algo que deve ser celebrado.”

   Coelhão sentiu seu corpo relaxar ao ouvir aquelas palavras, como se elas fossem, de algum modo, palavras mágicas.

   Era fácil se esquecer do lado gentil e doce do grande cossaco diante de sua energia, a voz alta e os maneirismos pesados e quase violentos. Mas tinha um porque dele ser conhecido como “o bom velhinho.”

   Muitas vezes, Norte lhe dava nos nervos, e não era incomum encontrar os dois Guardiões discutindo; mas Norte era um bom amigo, Coelhão ousaria dizer que Norte era o melhor amigo que ele tinha. Ele sabia que, mesmo que seus métodos fossem um tanto invasivos a maior parte do tempo, o russo sempre tinha boas intensões.

   E, de fato, o único motivo pelo qual Coelhão havia feito o anel e pedido Jack em casamento como um humano faria era para levar em conta aquele lado da relação. E de qualquer modo, embora celebrações matrimoniais não fossem muito comum entre Pookas, celebrar uniões ainda fazia parte de sua cultura. Então, talvez, ele devesse levar aquilo em conta.

   “Está certo...” Coelhão assentiu e ergueu um dedo antes que Norte pudesse falar alguma coisa. “Mas de novo: só vamos fazer isso se Jack estiver interessado!”

—G-

   Coelhão continuou trabalhando em seus ovos de Páscoa, mas sua mente não estava totalmente focada em seu trabalho. As palavras de Norte ainda estavam em sua cabeça. Nem Coelhão nem Jack eram do tipo que gostava de ficar cercado de muita gente por muito tempo, mas ambos admitiam que gostavam de festas, principalmente das festas organizadas pelo Guardião das Maravilhas.

   Coelhão se lembrava bem da primeira festa em que Jack tinha participado como um Guardião. O garoto mal conseguia ficar parado e vez ou outra os outros Guardiões o encontraram chorando em um canto, mas tudo o que Jack fazia quando tal coisa era mencionada era sorrir e afastar as lágrimas, continuando a aproveitar a festa como se nada tivesse acontecido. Coelhão entendia e não culpava o garoto de chorar, afinal, aquela era a primeira festa da qual ele participava em cerca de trezentos anos.

   O Pooka se perguntou o que Jack pensaria sobre um casamento e uma festa para acompanhar. Ele sentia que o rapaz não iria reclamar, não muito, pelo menos. Jack gostava de ser o centro das atenções muitas vezes, e Coelhão sabia que ele iria fazer de tudo para o rapaz estar exatamente naquela posição durante algo tão importante quanto um casamento.

   Coelhão tremeu quando dois braços gelados envolveram seu pescoço.

   “Adivinha quem é~?” Jack cantarolou perto da orelha grande, que tremeu com o ar gelado.

   “Bem vindo de volta, Snowflake.” Coelhão sorriu, deixando o ovo que pintava de lado e agarrando os pulsos do rapaz, o puxando de modo que Jack pudesse deslizar para seu colo.

   “Eu te surpreendi?” Jack perguntou, olhando para o Pooka com uma expressão surpresa. “Puxa, isso devia entrar pra história.”

   Coelhão revirou os olhos, tomando os lábios do rapaz nos seus para fazê-lo calar a boca. A risada de Jack foi abafada enquanto esse correspondia ao beijo, agarrando um tufo de pelo da bochecha do Pooka para mantê-lo no lugar. Coelhão respondeu com seu próprio toque, deixando sua pata deslizar do ombro de Jack, até seu pulso fino.

   Os dois se separaram e Coelhão desviou os olhos para o dedo do rapaz, sorrindo ao ver o anel de ramos ainda ali. Ele puxou a mão pálida e delicada para perto, beijando-a gentilmente.

   “A Denti me perguntou sobre isso...” Jack mencionou, flexionando o dedo com o anel.

   “Ah, é?”

   “Mais precisamente ela me perguntou ‘como eu pode ter casado e não ter contado para ela’.” Ele ergueu uma sobrancelha. “Pelo jeito casais casados usam o anel na mão esquerda.”

   Coelhão piscou.

   “Ah. É verdade... Muitas pessoas seguem essa tradição...” Ele assentiu, encarando o anel de modo vago.

   “E você não sabia disso quando colocou o anel nessa mão?” Jack perguntou em tom brincalhão.

   “Eu me esqueci. Como se eu fosse pensar nessas coisas.” Coelhão disse rapidamente. “Você é o humano aqui.”

   “Eu não ando muito com adultos, falou?” Jack retrucou em resposta.

   Coelhão balançou a cabeça, acalentando a mão do rapaz na sua pata, vendo o quão diferente ambas eram em tamanho e forma.

   “Mas o fato é que... Nós estamos casados, Jack. Eu pensei que era óbvio...” Ele disse, suas orelhas se abaixando levemente. “Desculpa se eu não...”

   “Ei, tá tudo bem.” Jack disse antes que o Pooka pudesse continuar falando e sorriu. “Casados. Eu gosto disso.” Coelhão correspondeu ao sorriso, seus olhos se tornando gentis ao verem o sorriso do garoto.

   “Ótimo, porque Norte chegou aqui falando sobre como devíamos celebrar esse casamento.”

   “Celebrar?” Jack ergueu os olhos do anel e o Pooka notou o leve tom de nervoso que brilhou dentro deles. “Tipo, que nem as outras pessoas fazem?”

   “Eu não sei. Simplesmente celebrar.” Coelhão disse, dando de ombros e tentando acalmar o espírito invernal com um tom de voz calmo e desinteressado. “Incluindo uma festa em seguida.”

   “E... O que você disse?” Jack inclinou a cabeça para o lado para poder ver melhor o Pooka.

   “Eu disse que depende de você.” Coelhão disse, sério. “O que você quiser vai.”

   Jack desviou os olhos por um momento, pensando em silêncio e brincando com o anel em seu dedo. Coelhão esperou pacientemente.

   “E o que você quer?” Jack perguntou por fim, erguendo os olhos para seu namorado mais uma vez.

   “Eu não sei.” Coelhão rolou os ombros. “Pra falar a verdade, Norte sempre faz ótimas festas, então eu não teria problema com isso.” Ele parou por um momento, lançando um olhar sério para Jack. “Não conte para ele que eu disse isso!”

   Jack riu.

   “Pode deixar, não vou não.” Ele deu de ombros como o Pooka havia feito, um tom brincalhão em sua voz.

   Coelhão o encarou por um momento, os olhos do rapaz brilhando com um ar de inocência falsa, algo que o outro já estava bem acostumado a ver e reconhecer. Ele balançou a cabeça, decidindo ignorar aquilo no momento, mas ainda assim sendo incapaz de sorrir levemente.

   “Mas o casamento...” Ele disse, notando quando o tom brincalhão no ar sumiu, a seriedade da conversa retornando. “Eu acho que você merece algo assim, Jack. Uma celebração mais... Humana...”

   Jack ficou calado mais uma vez, suas sobrancelhas se unindo e seus olhos encarando o peito felpudo de Coelhão sem vê-lo.

   “Coelhão, eu não sou exatamente humano...” O rapaz murmurou e então suspirou, deitando a cabeça no ombro de seu namorado. Coelhão decidiu não comentar sobre aquilo ao sentir o rapaz dar de ombros. “E eu também não sei muito sobre casamentos. Só que tem vários tipos diferentes deles... Eu sei lá que tipo de casamento poderia fazer sentido pra mim. Eu não sou religioso e a gente não precisa fazer aquelas uniões em papel por causa de leis e blá, blá, blá...”

   “Sim, mas podemos fazer algo mais... Especial.” Coelhão disse, apertando o focinho contra o cabelo branco de Jack. “Como um casamento de Papoff Noelen.”

   “Papoff Noelen...?” Jack repetiu a palavra, rindo quando a respiração do Pooka fez cócegas em sua cabeça. “Papai Noel...? O Norte pode oficializar, é isso...?”

   “Não. Você nunca viu nada sobre Papoff Noelen?” Coelhão perguntou, erguendo uma sobrancelha. Jack se inclinou para o lado para ver melhor o outro e sua expressão já dizia tudo. “O antigo lar de Ombric, o Pai do Tempo?”

   “Hum... Talvez eu já tenha ouvido em algum lugar, mas eu sei lá.” Jack pensou um pouco, deitando a cabeça novamente. “O que tem de tão especial nos casamentos desse lugar?”

   “É mais pela origem deles, honestamente, ao invés de qualquer tradição. Papoff Noelen era um lugar maravilhoso, no nível dos humanos.” Coelhão adicionou ouvindo Jack bufar. “Um paraíso para sonhadores, onde a imaginação podia ser usada sem limites ou medo.” Ele foi incapaz de sorrir ao se lembrar daquele lugar e das histórias que Norte ainda contava de lá. Os humanos de lá eram tão diferentes dos humanos de fora e principalmente dos humanos atuais, tanto que o Pooka tinha que admitir que ele os apreciava mais. “Um dos últimos lugares nesse planeta que permitia que humanos experimentassem tal coisa, antes... Bem, antes das coisas mudarem.”

   “Antes de Breu?” Jack adivinhou.

   “É.” Coelhão assentiu e dessa vez ele se inclinou para ver melhor o garoto de gelo. “Então?”

   Jack ergueu os olhos, esses bem azuis e brilhando mais do que o normal. Ele sorriu, um sorriso calmo, do tipo que o rapaz raramente mostrava, exceto em alguns momentos em especial.

   “Ah, talvez fosse legal...” Admitiu. “Só uma coisa simples, entre a gente e os Guardiões e alguns outros amigos, sei lá...”

   “Sim.” Coelhão assentiu, feliz em saber que ambos estavam na mesma página quanto àquilo.

   “Mas e a Páscoa?”

   “Depois da Páscoa é claro.” Coelhão bufou. Mas que pergunta!

   Jack ficou quieto por um momento antes de se mover, se virando até se sentar no colo de Coelhão, suas pernas envolvendo a cintura desse. Nessa posição, ambos podiam finalmente se fitar nos olhos.

   “Você tem certeza disso...?” Jack perguntou.

   Coelhão quase riu. Em pensar que ele tinha uma vez achado que Jack era um grande arrogante, egoísta; sendo que a verdade era completamente o contrário, o rapaz só tinha passado tanto tempo sozinho que ele tinha esquecido como interagir com outras pessoas.

   Ele se lembrava das várias vezes em que Jack tinha acordado de um pesadelo em que ele tinha novamente se tornado invisível, pesadelos em que ele se encontrava completamente sozinho. E também das vezes em que o rapaz mencionava aquilo, quando ele se lembrava de seu tempo solitário, muitas vezes em tom de piada, sempre com um tom melancólico, mas ainda assim nostálgico em suas palavras.

   “Eu...” Coelhão disse finalmente. “Eu acho que você merece algo do tipo, Jack.”

   “Você também merece.” Jack disse rapidamente, recebendo toda a atenção de Coelhão. Jack sorriu, inclinando a cabeça para o lado, suas bochechas levemente azuladas. “Ter todo mundo que a gente ama compartilhando isso com a gente... É pra isso que servem essas celebrações, não é mesmo?”

   “É sim...” Coelhão assentiu, erguendo uma sobrancelha. Ele afagou as bochechas azuladas do rapaz, sentindo um pouco do gelo derreter em seu pelo. “Quando você se tornou tão sábio?”

   “Pfft, definitivamente não aprendi com você.” Jack riu vendo seu namorado revirar os olhos.

—G-

   Jack e Coelhão bateram na porta e entraram no escritório, encontrando o Guardião das Maravilhas e a Guardiã das Memórias conversando animadamente. Os olhos de Norte brilharam e ele sorriu ao ver os dois. Emma, sempre acompanhando a Fada dos Dentes, guinchou, voando até seu irmão.

   “Ah, olá, vocês dois!” Ele se levantou, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha, sem deixar de sorrir um só segundo. “E então, Coelhão? Repassou tudo para o Jack? O que você tem a dizer, meu rapaz?”

   “Seria legal.” Jack deu se ombros como se não fosse nada de importante, sorrindo, se sentindo contagiado pela energia do outro Guardião.

   “Sim, mas--”

   “Ah! Que alegria!” Dentiana exclamou, interrompendo o Pooka, para a surpresa desse. A Fada apenas sorriu enquanto batia palminhas com suas mãos delicadas. “Eu estou tão feliz por vocês dois! Vocês merecem o melhor casamento de todos!”

   “Exatamente! Temos que começar os preparativos agora--” Norte começou a falar rápido e alto, daquele modo tão típico dele.

   “Opa, opa! Calma aí!” Coelhão exclamou e Jack quase riu com tudo o que estava acontecendo, recebendo um olhar sério do outro, que dizia que ele não estava ajudando. “Antes de qualquer coisa, vocês precisam parar e escutar!” Só aí, os outros Guardiões se calaram, se voltando para o Pooka. “Ótimo... Jack está de acordo com uma celebração. Uma celebração simples, pequena, no estilo de Papoff Noelen.”

   Houve uma pausa. O sorriso de Dentiana se tornou mais gentil.

   “Mas é seu grande dia!” Norte exclamou, aparentemente sem ouvir o que o Pooka tinha dito, voltando a falar sobre como deviam fazer uma grande celebração.

   “Norte!” Coelhão sibilou, se perguntando se ele sequer devia ter aceito aquilo.

   Uma mão pequenina pousou no ombro do russo, o calando.

   “Norte, você tem razão, é o grande dia deles e eles deveriam decidir o que querem que aconteça nele.” Dentiana disse calmamente, seus olhos cor de joia brilhando. “Além disso, uma celebração ao estilo de Papoff Noelen... Que nostálgico...”

   Norte parou para pensar, seu bigode movendo levemente. Coelhão e Jack se entreolharam. Norte já conhecia as tradições de Papoff Noelen, o Pooka genuinamente esperava que o cossaco fosse a primeira pessoa a aceitar aquela escolha.

   “É... Tem razão...” Norte assentiu, aos poucos voltando a sorrir. Coelhão notou o brilho nostálgico nos olhos do maior. Ele pigarreou, gesticulando com as mãozorras antes de cruzar os braços. “Então, quais são os planos?”

   “Não temos nada definido ainda.” Jack disse, rindo ao sentir as penas de Emma enquanto essa se aninhava em seu pescoço. “Mas só algo simples, sabe? Entre a gente e alguns amigos.”

   “Você vai querer convidar os demais espíritos das estações?” Dentiana perguntou.

   Jack parou para pensar por um momento, apertando os dedos em volta do cajado.

   “Talvez. Se eles quiserem vir.” Ele disse com um rolar de ombros.

   “Coelhão?”

   “Eu não tenho ninguém para convidar.” Coelhão disse simplesmente.

   “Certo...” Norte murmurou.

   Um ar estranho tomou o escritório. Os dedos de Jack seguraram o cajado com ainda mais força.

   “E a Sophie?” Jack disse rapidamente, sorrindo para o Pooka, feliz ao ver a expressão desse se iluminar com a lembrança da garotinha. O ar desconfortável sumiu tão rápido quanto tinha aparecido. “E o Jamie também.” Jack continuou, inclinando a cabeça para os lados. “De novo, só se eles quiserem. E se puderem vir, já que ambos têm escola e tudo o mais...”

   Com um tintilar suave, a Fada dos Dentes voou até o Espírito do Inverno, pousando uma mão em seu ombro e erguendo seu queixo com a outra.

   “Jack. Pare de falar como se ninguém fosse querer vir em seu casamento.” Ela disse, sorrindo gentilmente para o garoto. As bochechas de Jack ficaram consideravelmente mais frias e ele desviou o olhar com um sorrisinho melancólico. Emma trinou. “Falando nisso...” Dentiana riu levemente, de um jeito pouco inocente, o que chamou a atenção do rapaz. “Eu não quero soar arrogante de qualquer modo, mas eu gostaria de saber se eu poderia sua dama de honra?”

   Jack piscou, surpreso.

   “É claro, fada. Quem melhor?” Ele disse sem pensar duas vezes. Emma trinou mais uma vez, saindo de seu ninho no pescoço do irmão para cruzar os braços na frente do nariz desse. “Ah, Emma, você...  Hum... A garotinha que carrega os anéis?”

   “Não há anéis na tradição de Noelen.” Norte riu.

   “Awn... Tá, daminha de honra de qualquer modo.” Emma fez uma careta guinchando baixinho. Jack revirou os olhos. “Sim, sim, eu sei que você já foi adulta e já viveu tanto quanto eu, mas você ainda é a minha ‘irmãzinha’.” Ele ergueu um dedo, afagando as penas na cabeça da irmã, que revirou os olhos, mas riu. “E Norte será o seu padrinho de casamento, Coelhão?” Jack sorriu para o Pooka.

   Coelhão parou por um momento, se virando para Norte. O Guardião das Maravilhas sorriu para o amigo.

   “Uh...” O Pooka pensou por um momento, mas então deu de ombros. “Tá, porque não...?”

   “Ha! Ótimo!” Norte exclamou, dando um tapa nas costas do Pooka, quase o lançando ao chão. “Se for assim, eu já tenho algumas ideias! Eu preparo o salão para...”

   “Ah-ah-ah!” Foi Jack quem interrompeu dessa vez, erguendo um dedo. “Se vai ser nosso casamento, tem que ser na Toca.” Ele disse de modo decisivo, sorrindo para seu namorado. “É onde o Coelhão fez o pedido.”

   “Jack...” As orelhas de Coelhão tremeram levemente e, se ele fosse humano, sabia que estaria corando.

   “Ah, bem, claro, porque não? Em Papoff Noelen a maior parte dos casamentos eram feitos ao ar livre, às raízes da grande árvore Troncuda...” Norte assentiu, se perdendo em devaneios e memórias do que tinha visto e ouvido falar na antiga cidade.

   “Tem outras tradições que eu precise saber?” Jack perguntou.

   “Não muito, honestamente. E seria bom se Ombric estivesse aqui para explicar algumas cosias...” Norte começou.

   “Há algo sim! As roupas!” Dentiana exclamou.

   “Roupas?”

   “É claro.” A fada disse, colocando as mãos na cintura. “Você não pode se casar vestindo suas roupas de cada dia, Jack. E eu tenho certeza de que Coelhão também vai vestir alguma coisa.”

   “Eu não vou vestir um terno nem nenhuma roupa humana, muito obrigado.” Coelhão foi rápido em dizer.

   “Nada humano, seu bobo. Algo Pookano.” Dentiana revirou os olhos.

   “Eu vi em algumas das imagens nas paredes, sabe, Pookas usando roupas.” Jack interveio, ele já tinha visitado o ‘templo’ algumas vezes desde o dia em que Coelhão o levou até lá. “Você tem alguma coisa para usar, canguru?” E ele notou quanto as orelhas do Pooka se abaixaram consideravelmente.

   “Ah, se tem...” Norte falou baixinho, rindo.

   “Shiu!” Coelhão sibilou, mas foi incapaz de fazer o russo parar de rir. Jack se inclinou para frente com interesse, sorrindo para Coelhão. O Pooka desviou o olhar. “Uh, sim. Eu tenho algo sim.”

   Ele já conhecia bem Jack, já sabia que o rapaz iria pressionar para saber mais sobre aquilo e porque o Pooka tinha agido daquele jeito.

   “Ótimo! Então o que eu tenho que usar?” O garoto perguntou.

   “É sobre isso que temos que falar!” Dentiana disse.

   “Hum... Tá bem...?” Jack não gostou muito do brilho no olhar da Fada dos Dentes.

   “Terno ou vestido?” Dentiana disse e Emma guinchou, batendo palminhas.

   “O que?!” Jack quase engasgou com a palavra e deu uma cotovelada em Coelhão quando esse riu. “Terno! É claro que terno!” Ele disse, sentindo o gelo retornar para suas bochechas.

   “Awn, tem certeza?” Dentiana fez um biquinho. “Aposto que você ficaria lindo de vestido Jack.”

   “Ele ficaria.”

   “A conversa não chegou aí.” Jack lançou um olhar duro para Coelhão, mas esse apenas sorriu. “Não, nada de vestido. Terno.”

   “Eu acho que um vestido seria mais apropriado...” Coelhão falou novamente, se desviando do cajado do rapaz quando esse foi movido em sua direção. Ele sorriu ainda mais com a imagem da face azulada do outro.

   “Sim, sim, mais de acordo com a tradição de Papoff Noelen, não é, Norte?” Dentiana se voltou para o russo.

   “É? Eu não sei, não me lembro bem...” Norte piscou uma ou duas vezes, sem notar o que os outros Guardiões estavam tentando fazer.

   Coelhão revirou os olhos.

   “Um compromisso então. Eu uso o roupão Pookano e Jack usa um vestido, que tal?”

   “Roupão?” Jack perguntou.

   “Eu tenho algumas peças diferentes.” Coelhão deu de ombros. “Se você tem medo de aparecer demais por causa do vestido eu posso usar algo chamativo também.”

   Jack parou por um momento, processando aquilo. Seus olhos desceram pela forma de seu namorado, seu cérebro criando uma imagem mental do Pooka usando uma das roupas que ele tinha visto desenhado nas paredes. Coelhão notou e sorriu torto, inclinando-se de lado, daquele modo que ele sabia mexia com o rapaz.

   Jack balançou a cabeça, lançando um olhar de irritação envergonhada para o outro.

   “Não, não, eu não quero.” Ele disse rapidamente. “Olha, eu sei que eu não vou ficar bem num vestido todo flutuante e cheio e babados como aqueles de casamento, então chega, tá?” Dentiana e Emma soltaram sons desapontados. “No máximo eu aceito um véu e é só.”

   “Bem, podemos trabalhar com isso...” A Fada dos Dentes disse, a fadinha concordando.

   “Sim e, de qualquer modo, temos tempo.” Coelhão sorriu, envolvendo os ombros do rapaz com um braço.

   Jack se voltou para o Pooka, notando como esse estava o examinando com os olhos. Ele se perguntou se Coelhão estava fazendo o mesmo que ele tinha feito antes, dessa vez o imaginando usando um vestido... Jack balançou a cabeça, tentando afastar aquele pensamento.

   “Canguru idiota...” Ele reclamou contra o peito felpudo de seu namorado.


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Notas finais do capítulo

Desculpe, essa fic é +13 então nada de lemon! X3