A filha de Afrodite escrita por Cachos de Anjo


Capítulo 4
Capítulo 4: O amor é cruel.




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Assim que Afrodite vai embora, eu tiro minhas roupas e entro no lago totalmente nua. Não estou nem aí que alguém possa me ver, preciso relaxar, esquecer por alguns segundos que sou uma semideusa indo de encontro para a morte. Como minha mãe se atreve a pedir que eu me abra com Emily? E, se ela passou pela mesma dor de perder o amor de sua vida, assim como eu, porque foi tão dura comigo depois da morte de Lee?

Eu ainda me lembro. Um dia depois da batalha do labirinto, eu estava deitada na minha cama, acabada, minhas lágrimas haviam secado de tanto que eu chorei, minhas irmãs tentavam me consolar, me falando que um dia eu veria ele de novo, mas eu não ligava para elas, e só não havia me matado ainda porque alguém havia escondido Calamitatis, com a desculpa de que a espada não me faria bem naquele momento. Lembro-me de quando Emily entrou no chalé, o rosto sem expressão, o olhar frio, e eu achei que ela estava ali para tentar me acalmar, dizendo que tudo iria ficar bem, mas ela se limitou a me olhar e dizer: “Vamos, levante nessa cama, você não pode demonstrar fraqueza por uma coisa tão banal, amanhã você se apaixona de novo e esquece esse filho de Apolo”. Eu a agarrei pelo pescoço e a joguei no chão, fiquei em cima dela e a enchi de tapas, socos e cotoveladas, xingando-a de todos os nomes, amaldiçoando-a e mandando-a para o tártaro a todo momento, nossas irmãs ficaram desesperadas, gritando igual donzelas em apuros, mas ninguém se atreveu a tentar nos separar, sabiam muito bem que quem se mete-se iria apanhar junto. Emily tentava se desvencilhar de mim, mas, mesmo ela não querendo admitir, eu sempre fui mais forte. Depois de eu ter quebrado seu nariz, dois dentes, e aberto um grande corte em seu supercílio, a porta do chalé abriu com tudo e eu fui jogada para traz, Nico me segurava enquanto Quíron e alguns irmãos de Lee se certificavam de que Emily estava bem, eu tentava me soltar dos braços de Nico, mas ele era muito forte, o que me obrigou a desistir e ficar mais calma. Emily ficou dois dias na enfermaria, e nós não nos falamos pelo resto do ano, até eu compreender que ela não queria ser tão dura, apenas estava tentando me consolar a seu modo.

Mas, agora que eu sei que ela passou pelo mesmo, minha raiva voltou a crescer. Se sabia como eu me sentia, pra que me provocar? Pensar nisso só me fez ter ainda mais vontade de bater nela, eu preferia conversar com uma árvore a me abrir com ela, e dane-se o que Afrodite pensa disso. Ainda não sei ao certo porque estou nessa missão com ela, mas agora não é hora de pensar nisso.

Saio do lago e me visto com uma simples regata azul, um shorts jeans, um all-star preto e meu sinto de prata. Já estou fechando a mochila quando a vejo: uma rosa branca, que está bem próxima da alça de minha mochila. Olho ao redor, certa de que essa rosa não estava aqui antes, e que não pertence a essa floresta. A rosa branca era o símbolo do meu namoro com Lee. Era o símbolo do nosso amor. Imediatamente sei que ele esteve aqui, mas quando tento pegar a rosa, ela começa a pegar fogo, e eu fico olhando imóvel, completamente atordoada, quando vejo que a rosa é agora negra. Uma rosa negra igual a que Nico me deu quando fiz quinze anos. Só então entendo o recado: Lee está me mandando seguir em frente e esquece-lo.

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Assim que volto para a clareira, Emily me enche de perguntas, as quais respondo com um simples aceno de cabeça e um dar de ombros. Estou atordoada demais para falar.


–Vamos andando, hoje iremos virar a noite procurando o exército dos monstros de Gaia.-----Ela diz, claramente desconfiada.


Apenas confirmo com a cabeça e começamos a andar. Logo avistamos um grupo de mais ou menos vinte dracaenaes, elas estão discutindo entre si, o que me dá dor de cabeça.


–Já podemos transforma-las em pó?-----Sussurro para Emily, que está tentando formar um plano.

–Ainda não, elas são muitas, iriamos acabar mortas.-----Ela sussurra de volta.

–Já enfrentamos um exército maior na batalha contra Cronos.-----Insisto, ávida por calar a boca daqueles monstros.

–Aquilo foi diferente, tínhamos ajuda.-----Ela se recusa a dar o braço a torcer.

–Sério? E que tipo de ajuda? Um bando de garotas do nosso chalé espirrando perfume francês nos monstros?


Ela me olha com um sorriso no rosto, e eu sorrio também. Tiro Calamitatis do cabelo e a giro nos dedos, vendo a lâmina vermelho-sangue brilhar. Emily faz uma careta quando a vê e pega seu batom/espada, e logo está empunhando Rebellion. Avançamos em silêncio, aproveitando a distração dos monstros. Cortei o ar com minha espada e transformei em pó duas delas, Emily matou mais três, e assim começamos a lutar de verdade.

Estou completamente cega. Não vejo nada a minha frente, só sei que estou girando e atacando, bloqueando e cortando. Nasci para isso. Adoro lutar. Ainda me pergunto se não sou filha de Ares. Mas tenho quase certeza que não. Não com uma vida amorosa como a minha.

Quando tenho certeza de que não resta mais nenhum monstro, olho para Emily e vejo que seu braço está sangrando. Vou até ela e examino o corte, é muito profundo. Tiro algumas bandagens da mochila e estanco o sangramento, faço ela comer um pouco de ambrósia e tomar um gole de néctar. Ela diz que está tudo bem, mas eu não acredito. Ela começa a ficar pálida, os olhos se enchem de lágrimas, murmura algo que eu não ouço e depois cai de joelhos no chão, chorando. Fico completamente perdida, então percebo que sem querer arranhei sua pele com minha espada quando tentava cuidar do corte em seu braço. Imediatamente guardo Calamitatis, e vejo que a cor está voltando ao seu rosto, e o choro parou. Tenho que tomar mais cuidado com minha espada.


–Consegue continuar?-----Pergunto

–Consigo, o corte já está cicatrizando.

–Então vamos logo, não temos tempo a perder.


Caminhamos pelo que eu deduzi serem oito horas, já se passava das sete da noite, disso eu tinha certeza. Avistamos um grupo de ciclopes ao norte, mas, antes que pudéssemos sequer ter a chance de atacar, dois deles vieram por trás e nos agarraram. Eu me debatia, tentava soltar meu braço para pegar minha faca, Emily gritava igual uma louca, pois o ciclope apertava o ferimento em seu braço, que já sangrava de novo. Uma flecha de prata atingiu o ciclope que a segurava no olho, ele urrou de dor e se dissolveu em cinzas, mais uma flecha, dessa vez no ciclope que me prendia. Logo todos os ciclopes do grupo não passavam de pó. Um bando de garotas em roupas prateadas saiu do meio das árvores, na frente haviam duas garotas, uma eu reconheci, era Thalia Grace, e a outra, era Ártemis, a deusa da caça.


–Muito obrigada, Lady Ártemis.-----Eu me ajoelhei diante dela e Emily fez o mesmo.


Ela assentiu e foi na direção de Emily, o corte em seu braço estava muito pior agora, já que o ciclope enterrou as unhas nele. A deusa pediu para uma de suas caçadoras cuidar do ferimento, enquanto as outras montavam acampamento.


–Eu fico com o primeiro turno.-----Thalia anunciou.

–Eu também.-----Me apressei a falar.


Elas concordaram. Queria falar com Thalia, ela iria conseguir me entender, afinal, sua vida amorosa foi três vezes pior que a minha. Fomos para um lugar um tanto afastado do acampamento, sentamos em uma rocha e ficamos em silêncio por um tempo.


–Eu te entendo.

–O que?-----Ela perguntou confusa.

–Meu namorado morreu na batalha do labirinto, três anos atrás, eu te entendo.

–O amor da minha vida passou para o lado do mal, cedeu o próprio corpo para Cronos poder voltar e morreu tentando concertar o que fez.-----Seus olhos já estavam marejados.

–Passei os últimos anos chorando pelos cantos, amaldiçoando todos os deuses por terem deixado ele morrer, e ontem o meu melhor amigo disse estar apaixonado por mim, foi embora para o mundo inferior me dando um prado de duas semanas para decidir se gosto dele ou não.

–Afrodite acha que somos brinquedos.

–O amor é cruel.


Naquele momento, eu tive certeza que fiz uma boa amiga.



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