Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 82
Morte e Ressurreição




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Jade sabia que as armas de madeira eram as únicas capazes de feri-la. Era a bênção de seu pai adotivo, Baldur. Ela poderia ser fulminada por um relâmpago de Zeus, mas não aconteceria nada com ela. Mas bastava um espinho de madeira para que ela fosse seriamente feria ou quem sabe, até morta. Apolo de alguma forma também sabia disso. Quando ele materializou àquela lança foi como se escrevesse o nome de Jade num cartucho calibre 45 e disparasse à queima-roupa no peito da semideusa.

Quando ela abriu os olhos ver o rosto de Dezan assim tão perto era tudo que ela não esperava. Ele estava agarrado nela, encerrando-a num abraço protetor. Nas costas do menino o cabo da lança estava firmemente enfiado.

— Oi... – disse ele tossindo um pouco de sangue na cara de Jade.  – Quero que você se lembre de mim guerreira. Lembre-se para sempre desse meu sacrifício. Ele não é nada perto da dor que eu causei quando rasguei seu coração e desrespeitei o seu amor. Lembre-se também de que eu hoje derrotei o meu próprio ego. Ao salvar você eu quito minha dívida. Minha vida não mais te pertence. Peça desculpas à Nathalia... acho que não vou viver até lá.

— Dezan! – gritou Jade enquanto os olhos do lanceiro se fechavam. A sua expressão era serena. Ele partira com dor, mas a sua alma estava em paz, como ele nunca tinha sentido em toda a sua vida. Naquele momento Jade soube, com uma intimidade única, que a alma de Dezan era tão atormentada pelos seus atos quanto às almas das pessoas cujo amor ele destruía.

— Maldito filho de Afrodite. Se sacrificando por amor a uma donzela em perigo. Que coisa mais piegas – Apolo fez surgir em sua mão outra lança – Mas agora acho que não seremos mais interrompidos e o sacrifício do seu “herói” será em vão.

O deus sol ergueu a lança com a postura de um atleta olímpico, com o braço esquerdo erguido à frente do corpo. Ele se preparou para arremessar a lança quando algo deu errado. Ele perdeu o equilíbrio por um instante e depois precisou segurar a lança com as duas mãos. Apolo firmou os pés novamente, agora fazendo força para suportar o peso da lança que agora paria pesar incontáveis toneladas. O deus sol pensou em virar para o lado quando de repente foi arremetido para cima, como um foguete espacial.

— A velocidade de escape da órbita terrestre é de onze quilômetros por segundo. É o que uma nave espacial precisa fazer para escapar da gravidade da terra. A sua velocidade agora é quatro vezes maior que esta. Espero que goste da lua. – disse Oliver se aproximando, com sua espada na mão esquerda. Ele ainda estava sentindo muita dor no coto da mão decepada, mas não poderia deixar as coisas como estavam.

— Irmão! – gritou Artêmis incrédula. Ela tinha acabo de destruir, literalmente, a horda de mortos-viso que antes detinha seus movimentos quando viu o irmão decolar como um foguete.  – Malditos mortais eu... Ai!

Ela olhou para o ombro. Uma das flechas que ela tinha disparado contra a dra. Cassandra tinha sido disparada contra ela. O disparo e a flecha conseguiram romper a armadura da deusa caçadora, fazendo o projétil penetrar nem ombro, causando-lhe uma dor que ela não conhecia desde os tempos das guerras com os titãs.

— Tem muito mais de onde veio essa! – bravateou o professor Roberto, saindo de um filete de sombra ali perto. Na verdade havia apenas mais três flechas de Artêmis voando através da sub-dimensão das trevas, um espaço que os filhos de Hades podem controlar para entrar e sair do submundo.

Mesmo ferida Artêmis foi tomada pela fúria inebriante do combate. Ela correu com os dedos convertidos em garras afiadas como navalhas na direção do filho de Hades. O professor gesticulou e as outras três flechas pularam da sub-dimensão das trevas. Duas acertaram Artêmis: uma n olho direito e outra na coxa. A terceira foi destruída pelas garras em pleno ar. Ela saltou sobre o professor, mirando as garras mortais em seu peito, quando foi detida por um escudo de bronze. O escudo da armadura de Ares.

Vestindo a armadura estava Nathalia, mas ao invés de sua tradicional espada romana ela usava duas adagas japonesas, tipo sai. Feitas especialmente para pegar o movimento das espadas. Era certo que Nathalia não tinha chances contra uma guerreira do porte de Artêmis. Mas agora ela estava armada com a armadura e as armas de Ares. Estava em plena força enquanto que  Artêmis estava ferida e com um olho cego. As duas se digladiavam sem reservas, fazendo chover faíscas em todas as direções.

Lá em cima Apolo já tinha retornado e lutava com Sav e com Eric que tentavam mantê-lo afastado. Lucas e Bárbara tentavam manter-se perto do combate também, mas era quase certo que Enquanto isso Jade e Oliver estavam ao lado de Isabel. A menina estava abatida e cansada, como se tivesse passado o dia inteiro fazendo uma atividade cansativa e estressante. Sempre que Apolo usava os poderes de Zeus, Isabel gemia de dor.

— Como podemos libertar você? – inquiriu Jade. A menina estava encarcerada com um tipo de campo de força. Jade sabia que qualquer pessoa que tocasse esse campo de força sofreria terríveis danos. Mas a sua invulnerabilidade lhe protegia, transformando a descarga mortal de energia em cócegas.

— Eu não sei... magia... eu preciso de magia para me libertar... mas ela precisa ser alimentada com sangue. – disse a menina, tomando fôlego a cada frase, como se falar fosse um sofrimento maior do que ela poderia suportar.

Foi quando Jade e Oliver viram no chão um círculo de inscrições arcanas. Quase invisível, o círculo pintado em volta da cadeira tinha símbolos arcanos que dançavam dentro de sua órbita. Três deles eram bem familiares: as ondas do mar de Posseidon, o relâmpago de Zeus e o elmo de ferro que era o símbolo de Hades.

— Se é sangue que precisamos deixa comigo! – disse Oliver fazendo sua espada virar uma adaga fina e comprida. Ele já se preparava para cortar o dedo e deixar o sangue verter quando foi impedido pelo aviso de Isabel.

— Não... O seu sangue não serve... Tem que ser o sangue de um filho de Apolo, já que foi ele que me encarcerou.

Os três olharam para trás onde Cassandra, Roberto e Nathalia estavam tendo problemas para manter Artêmis sob controle. A deusa da caça já tinha se curado e invocara sobre si suas armas mais poderosas. O sangue não viria da Dra. Cassandra, com certeza.

— Eu posso. – disse Jade sem muita convicção ou certeza – eu ainda sou filha do deus sol, mesmo que este deus sol seja Baldur. Eu já fui filha de Apolo. O meu sangue tem de servir. – Ela se abaixou e pegou uma lasquinha de madeira do chão. – É só dizer quando.

 Lá em cima Apolo tinha capturado num raio de energia dourado todos os seus amigos. Na sua outra mão Sav se debatia.

— É a minha deixa – disse Oliver, ajustando a espada com a mão esquerda da melhor maneira que conseguia. – vou tentar ganhar mais uns segundos para nós. - Antes de sair ele tirou do bolso o frank e entregou na mão de Jade. – Cuida bem dessa torradeira maluca.

Jade segurou o frank e viu Oliver disparar em direção a Apolo. Ele se foi antes que ela conseguisse dizer alguma coisa. As palavras morriam em sua garganta e sufocavam o seu coração. Como ela queria estar com ele, mas ao mesmo tempo, pensar em estar com ele doía tanto quanto uma faca enfiada entre as costelas. Oliver subiu em direção de Apolo e começou a lutar com o deus. Seja lá o que sentissem um pelo outro teria de esperar.

No salão a poucas dezenas de metros dali a situação do trio de lutadores não era dos melhores. Artêmis, mesmo tomada pela fúria, estava brincando com eles, como um gato brinca com um canário antes de devorá-lo. Mas mesmo o gato mais brincalhão cedo ou tarde se cansa de brincar com sua comida. Seu punho se iluminou, preparando-se para incinerar os três semideuses a sua frente.

— Amor, acho que está na hora do “pacote”. – disse Roberto, temeroso por sua vida.

— Tínhamos combinado de guardar isso para Apolo. Você sabe que só pode ser usado uma vez.- respondeu baixinha a filha de Apolo, como se suas palavras pudessem revelar um segredo sombrio.

— Sim, eu sei... mas se morrermos aqui lutando com ela não vamos ter qualquer serventia para ele.

— Ok. – disse ela finamente num suspiro – Segurem ela enquanto eu preparo o arremesso.

Cassandra era uma filha de Apolo. Boa com armas de arremesso como toda boa filha de Apolo, mas infelizmente especializada em cura. Hoje tinha sido a primeira vez em anos que tinha manuseado novamente um arco e ainda estava enferrujada. Ela tinha apenas uma chance e com um alvo tão elusivo quanto a própria Artêmis as chances estavam contra ela. Mas o seu esposo precisava dela. Precisava que ela acertasse. Não era mesmo a hora de ter dúvidas de si mesma.

Finalmente ela viu uma brecha na defesa de Artêmis. Ela agarrou a peça forjada dentro de sua bolsa e a arremessou. Um cubo feito de cobre do tamanho de uma bola de boliche, mas coberto de engrenagens e peças móveis. Enquanto voava em direção ao alvo a peça foi girando em torno de si mesma e se abrindo revelando-se uma espécie se teia mecânica. Roberto saiu do meio um milésimo de segundo antes da peça atingir Artêmis. Assim como a armadura de Ares a peça de bronze se dobrou até enrolar Artêmis. A deusa chocada e completamente imóvel caiu no chão. Ela tentou se soltar, mas era inútil. Aquele material tinha sido feito para deter a fuga de Apolo. Seria o bastante para deter sua irmã gêmea.

— Das profundezas do inferno, em silêncio. Suas magias, violência explosiva! Pilotas russas voam perfeitas. Anjos invisíveis da noite nunca erram seus alvos. – disse Isabel, recitando a magia que todos conheciam tão bem. O circulo arcano brilhou forte. Jade pegou a farpa de madeira e rasgou a palma da mão com ela. O sangue veio rubro e forte quando ela fechou o punho, deixando que as gotas caíssem sobre o símbolo de Apolo. Todo o circulo então mudou de cor, passando de branco para o rubro. Isabel gritou quando sentiu a energia passar por ela de novo.

Isabel gritou mais uma vez e desvaneceu no ar deixando em seu lugar apenas a cadeira vazia. O circulo arcano subiu aos céus e se abriu como um portal. O hálito quente do Tártaro escapou por sua abertura e o grito dos torturados encheu o ar de terror. Mas, dessa vez, ao contrário do som dos aviões havia o som de cascos de cavalos. Quando a primeira delas saiu pelo portal todos ficaram sem fôlego: não eram mais pilotas mortas-vivas da segunda guerra mundial e sim Valquírias. E liderando-as estava Isabel. As valquírias cavalgaram pelo céu atacando Apolo em todas as direções. Por fim o deus do sol se viu acuado e deisparou uma onda de energia para todos os lados, jogando todos ao chão.

Isabel levantou-se junto com seus colegas de batalha enquanto Apolo descia devagar dos céus, olhando para todos eles.

— Tolos! Eu tenho os poderes de Zeus além dos meus. Acham mesmo que podem me derrotar? Eu vou simplesmente reescrever esta realidade de modo que nenhum de vocês jamais exista.

Todos ficaram em silêncio quando a grande sombra apareceu nas costas de Apolo. Olhando soslaio o deus do sol virou-se e golpeou com força. Mas seu ataque foi detido pelo braço poderoso de Zeus. Apolo mal pode recolher seu braço. As energias acomodadas em seu corpo foram em direção ao seu dono verdadeiro. Toda a força e o poder de Zeus que ele tinha absorvido antes agora vazavam por seus olhos, boca, e nariz. O grito de Apolo era de dor absoluta.

— Apolo! – a voz de Zeus ecoou como uma saraivada de trovões – Por tempo demais eu venho ignorando teus malfeitos em nome do que chamas de inconsequências da juventude. Mas isso aqui é muito mais do que simples inconsequências. Isso é... – a pausa foi longa e grave, como se doesse para Zeus dizer as palavras que viriam a seguir – Isso é maligno. Eu te dei tudo. És uma das divindades mais amadas e teus filhos estão entre os mais belos. Tu és o mais belo dos astros e ilumina o mundo com tua luz e teu calor.  E é assim que pagas a minha bondade?

— Você merece mil vezes mais, “pai”. De que adianta todo esse poder que temos se os humanos não nos servem mais? Vá em frente! Puna-me segundo a sua vontade. Mas questione-se: no que meus atos foram diferentes dos teus quando destronaste Cronos e assumiste o trono do Olimpo? É da natureza dos deuses trair, assim como a dos humanos morrer.

Zeus ergueu a mão e Apolo foi contido por grossas correntes de bronze reluzente. Mesmo assim o deus sol não desviou o olhar, carregado de mágoa e ressentimento.

— Se achas que o Tártaro é um lugar ruim, espere para ver o que tenho planejado para ti. – Então Zeus começou a brilhar. Um brilho forte que cegou a todos.

Quando os olhos voltaram a funcionar a sala do trono estava como sempre fora nos últimos milênios. Os outros deuses estavam livres. Não demorou muito para que abraçassem seus filhos: Astréia tomou Oliver em mãos, assim como Lucas ficou ao lado de Deméter.  Verônica e Nathalia estavam junto de Ares, que mais parecia um velho bobo mimando suas filhas. Verônica estava envelhecendo em minutos o que não envelheceu em anos. Afinal a bênção de Artêmis estava desfeita e ela não era mais uma caçadora. Roberto e Hades estavam juntos um do outro, fazendo sombra a Dra. Cassandra e Bárbara. Mas nem todo eram afagos e sorrisos. Uma triste Afrodite colheu do chão seu filho herói e o carregou como um bebê antes de se sentar, seus longos cabelos escondendo suas lágrimas.

— Agora, temos assuntos pendentes a tratar. – disse solenemente Zeus. – Astréia, filha desobediente, deves voltar a teu exílio...

— Não! – a voz de Oliver era puro desespero quando ele largou-se dos braços da mãe e se pôs entre ela e Zeus. Espada em punho. Zeus olhou curiosamente para o menino ferido e sem a mão direita. Mais curiosidade encheu seus olhos quando todos os outros semideuses correram ao seu encontro, todos em posição de luta.

— Mas o que é isso? – perguntou Zeus como se não acreditasse em seus olhos.

— Escuta-me pai. – adiantou-se Hermes. – Não se deve pagar lealdade com traição. Astréia poderia ter se aliado à Apolo. Ela não tem motivos para ver o senhor livre, pois ela sabe o que aconteceria quando se encontrassem. Mesmo assim ela o ajudou, ajudou o seu próprio filho nesta missão de liberta-lo.

— E veja a lealdade que todos os heróis do Olimpo têm um pelo outro. Estão dispostos a enfrentar você, irmão. Heróis assim não são vistos desde muito tempo. – a voz de Hades saiu carregada de sabedoria.  

Por fim a mão de Hera tocou o peito do esposo. Ela olhou fundo nos olhos do marido. Por um segundo houve algum choque, mas logo Zeus baixou os olhos.

— Como quiser minha senhora! – disse ele sentando-se no trono. – Astréia, está livre de seu castigo e de seu exílio, desde que ensine seu filho... meu neto... a ter boas maneiras.

Da sala de transmissão de TV Aeolous revisava as fitas da gravação da cerimônia. O que ele tinha nas mãos era ouro puro. A grande pergunta agora era: pay-per-view ou direto para DVD?


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