Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 7
Respostas serão dadas… para quem sobreviver o bastante para recebê-las.




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A viagem de moto transcorreu sem problemas. Oliver mal percebeu que eles cruzaram os quase duzentos quilômetros que os separavam de Brasília em pouco mais de três horas. Fizeram uma pequena pausa para se reequiparem: abasteceram a moto e Eric pediu o cartão de débito de Oliver emprestado para “comprar umas coisas”. Camisas novas, uma faca, comida (a maioria biscoitos e outras guloseimas), cantis (cheios de água mineral), fósforos e fita isolante. Ele comentou algo sobre estar preparado é meio caminho andado.

Era começo de noite quando chegaram a uma pequena cidade nos arredores de Brasília. A placa enferrujada dizia “Bem vindo ao Setor Sul do Gama – quadras ímpares”. Rodaram por mais alguns minutos até que acabaram chegando no setor central do Gama – engraçado que a cidade era dividida em setores e não em bairros, pensou Oliver. Lá avistaram um Subway e se prepararam para jantar.

– E ae? Notícias do tal contato? – disse Eric enquanto afundava os dentes num sanduíche de 30 centímetros de cream cheese com tanto molho chipotle e cebolas que Oliver pensou que o amigo fosse cuspir fogo. E o mais estranho é que Oliver não se espantaria se isso acontecesse.

– Bom, eu só recebo respostas automáticas de e-mail. Pelo que sondei, o cara é um professor de universidade, como o meu tio. Dá aulas na UnB, num campus perto daqui. – Oliver sorveu uma boa golada de seu chá mate com limão e muito gelo, olhou meio sem vontade para seu “frango teriaki no pão de três queijos com bacon extra e molho parmesão”. Estranho. Era seu sanduíche favorito. Eric tentou decifrar a expressão do amigo, mas ainda tinha 14 centímetros de cream cheese e cebolas o desafiando a cada mordida. – Não consegui o endereço dele mas sei que ele dá aulas amanhã.

– Mas amanhã é sábado – disse Eric incrédulo, metade da boca preenchida por cream cheese – não sabia que as universidades davam aulas aos sábados.

– Elas não dão – respondeu Oliver, arrancando finalmente uma mordida de seu sanduíche – é por isso que temos de tomar cuidado. A universidade fica na frente de uma via de acesso muito movimentada, como é mesmo o nome? Ah sim, DF-480. A aula dele começa as nove da manhã.

– E o que ele leciona? – perguntou Eric lambendo os dedos cobertos de molho.

– Mitologia greco-romana.

O clima ficou um pouco tenso, uma vez que dois dos últimos inimigos que eles tinham enfrentado pareciam ter fugido de um livro de mitologia grega. Eric puxou uma da das adagas que tinha conseguido com os caras de jaqueta vermelha. Era impressionante. Leve, compacta, feita de bronze – ou algo bem parecido com o bronze – e com tantos detalhes intrincados. Era linda realmente. Ele a colocou na mesa para pegar a outra e por um instante a adaga perdeu seu brilho. Parecia, na melhor das hipóteses, uma faquinha de plástico dessas que vem em festinhas infantis. Dessas, tão fracas, que se você olhar para ela com cara feia, ela se quebra.

Os amigos ficaram intrigados com aquilo e pelo resto do jantar fizeram experiências com as adagas. Juntas, separadas, com um segurando, com outro segurando… até mesmo filmaram algumas tomadas com o frank. Em vídeo, a adaga tinha sempre cara de “faquinha cinzenta inofensiva e frágil”.

– Bom precisamos de um lugar para dormir. Não podemos ficar perambulando até amanha esperando a tal aula de mitologia. Tem algum hotel aqui perto?

– De acordo com o foursquare tem um aqui do lado. O Syros Hotel. A diária não é cara e pelos comentários que eu li o atendimento é bom. Acho que vale à pena dar uma olhada.

O hotel era tudo o que o site dizia e muito mais. Tinha jeito de ter sido reformado recentemente, com paredes bem pintadas, iluminação indireta da última moda, piso de porcelanato de primeira. Os quartos também eram espaçosos e confortáveis. Não fizeram muitas perguntas e com a diária paga, Oliver e Eric foram encaminhados para uma suíte perto da cobertura.

– Sei que estão um pouco cansados da viagem – disse a menina morena da recepção, enfiada num casaquinho cor de vinho e com um brilhante crachá que reluzia o nome Nausícaa. Quem diabos daria um nome desses a filha, pensou Eric– mas a nossa cobertura é muito bonita à noite. Dá para ver a cidade toda e muito mais. Vale à pena a visita.

Já instalados no quarto Oliver enfiou-se de novo com o frank. O fato de não achar nada sobre o contato do tio o deixava exasperado. A pergunta coçava na sua cabeça. Oliver achou o controle da TV e descobriu que num dos canais passava um programa sobre videogames. Tudo e mais alguma coisa sobre os jogos de luta da E3 deste ano.

Por fim, Oliver resolveu subir ao terraço. Eric preferiu ficar no quarto, curtindo a cama macia e quentinha. “A primeira vez em semanas cara, tem que aproveitar” disse ele antes de espichar-se na cama.

O terraço era tudo o que Nausícaa havia prometido e muito mais. Apesar das luzes da cidade, Oliver conseguia ver muito bem as estrelas do céu. Isso era uma coisa que o acalmava. O céu noturno, como um véu negro, sapecado de pequenos e brilhantes diamantes. Era o tipo de visão que o acalmava e ao mesmo tempo o deprimia. Sentia uma saudade estranha. “É ruim ter saudade de algo que você não sabe o que é”, pensou ele em voz alta.

– É mesmo, meu jovem, é mesmo.

Oliver deu um pulo para trás. Achava que estava sozinho no terraço, mas pelo visto não. Sentado perto dele estava um senhor negro. Alto, forte, de boa compleição física e bem vestido. Ele estava sentado numa mesa, com dois pratos à sua frente, como se estivesse esperando alguém para o jantar, ou ceia, a julgar pelo avançado da hora. Oliver concordou sem jeito com o homem intrometido e se preparou para voltar ao quarto. Alguma coisa no nome do hotel o incomodava e ele não sabia exatamente o que. E aquele homem, definitivamente, não lhe causara boa impressão.

Antes que pudesse ir, viu Nausícaa trazendo nas mãos uma bandeja coberta com uma antiquada cúpula de prata. Ela depositou a bandeja na mesa e tirou a tampa. O perfume saboroso encheu o ar. Costelinhas de porco com molho barbecue, cercadas por uma farta guarnição de cebolas empanadas, acompanhadas de douradas fritas cobertas com queijo derretido e purê de batatas. Oliver tinha acabado de jantar, mas involuntariamente seu estômago roncou. Ele corou de vergonha na mesma hora que Nausícaa deu um risinho na sua direção.

– Mais alguma coisa, majestade? – falou ela em tom solene, como se estivesse mesmo diante de um monarca ou coisa parecida.

– Não minha pequena. Está tudo maravilhoso, como sempre, aliás. Pode ir. Ei rapaz, por que não se junta ao jantar comigo? É comida demais para um homem só. Não se preocupe. Eu não tenho nenhum interesse amoroso em você: sou o dono deste Hotel. Este e mais 125 espalhados pelo mundo. Sinto apenas falta de companhia extraordinária para o jantar, e acho que você é de uma safra especial, rara demais para deixar passar.

Oliver pensou em ir, mas quando se deu conta estava sentado à mesa com o expansivo senhor Eumeu Feácio. Após alguns minutos Oliver não sabia o que era melhor, ouvir a conversa do homem ou saborear a comida. Estava tudo delicioso demais. Cada garfada era um sabor diferente, pungente, inebriante. Oliver sentiu-se um pouco tonto e Eumeu garantiu que era por causa do molho, feito também com um pouco de vinho. Logo pediu que Nausícaa trouxesse um pouco de água com gás e café para o convidado. “A água limpa a boca e o café ajuda a despertar”, disse seu anfitrião.

Após o café Oliver sentiu a cabeça desanuviar e só então percebeu que tinha contado toda a sua aventura para Eumeu. Tudo, desde a fuga de São Paulo, a queda do avião, o encontro com o amigo e agora companheiro de viagens Eric. Tudo. Oliver sentiu-se envergonhado.

– Ora, não se preocupe semideus. Um rei como eu adora ouvir histórias como a sua. Não escuto nada tão divertido desde que um filho de Poseidon, ou seria Netuno? – Eumeu estalou os dedos – passou por aqui com sua namorada filha de Ares. Casalzinho explosivo aquele! Mas não são nada comparados a você! A sua história é mais que única. Um filho de um dos três grandes é algo raro. Algo a ver com alguma profecia idiota, uma pena. Mas o filho de um deus exilado é algo ainda mais raro. A senhora sua Mãe não é vista na terra dos mortais desde a Guerra com os Titãs.

Logo Eumeu foi interrompido por Nausícaa. Ela trazia outra bandeja, mas em cima dela um copo. O cheiro era doce e forte e o líquido espumava como um refrigerante. Ele o tomou nas mãos o verteu imediatamente. Em poucos segundos explodiu num sonoro arroto, enchendo o ar com o aroma do porco, agora carregado com o cheiro de abacaxi.

– Ah – gemeu ele de prazer – nada com um bom copo de Jaó para dar o arroto de fim de noite. Coisas de grego, espero que me perdoe. Eu daria um copo a você, mas não sei se a senhora sua Mãe aprovaria. A última coisa que eu quero é encrenca com os deuses. Não que eu não tive a minha cota, ajudei os argonautas e Odisseu. Vou dizer, Zeus sabe assustar quando está furioso! Eu não me meteria com ele se fosse você.

A cabeça de Oliver estava a mil por hora. As informações surgiam como se ele estivesse conectado a uma central de dados. Ele sabia quem era Eumeu, o rei de Siros, onde Odisseu foi ajudado pela jovem Nausícaa. Tudo se encaixava numa velocidade estranha.

– O senhor, quer dizer, majestade, conhece minha mãe? – Oliver titubeou, o porco ao molho barbecue dançando com o frango teriaki.

– Não posso dizer que não conheço, embora jamais a tenha visto frente a frente, filho dos deuses. Pelo menos, não vi jamais sua forma humana. A forma que deve ter seduzido o senhor seu Pai para que você nascesse. Eu vejo o semblante de sua mãe todas as noites quando venho comer porco e olhar as estrelas. Por que sua mãe, caso não saiba, é a…

Eumeu não teve tempo de completar a frase. Oliver estava de pé, olhando as estrelas. O nome surgiu na sua mente, como sempre surgiam as coisas:

– Astréia… – o mundo ficou escuro, e tudo o que Oliver viu antes de cair foi o rosto de preocupação de Nausícaa, como se pedisse que ele não morresse.


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