Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 62
A revanche as cobras.




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Visto de cima era possível perceber toda a extensão do dano causado pelos sucessivos ataques das forças invasoras. Diversas manchas negras maculavam os campos verdinhos de grama bem cuidada: queimadas, árvores partidas e grupos de monstros como se saídos de uma aventura de RPG patrulhando áreas devastadas. Enquanto estava no ar Eric percebeu que o Santuário era muito maior do que ele conhecia. Haviam outros prédios, cabanas, casas e salões espalhados pelo terreno enorme. Alguns semidestruídos, outros completamente arrasados.

Não demorou para que divisassem o que seria o campo sul. Era um campo aberto, do tamanho de dois ou três campos de futebol, onde os campistas se reuniam para jogar futebol americano, rúgbi e rouba-bandeira. Não demorou também para que os dois vissem onde os prisioneiros estavam. Eram um grupo de mais ou menos 20 semideuses acorrentados, presos em gaiolas de metal, muitos deles bastante feridos. Caminhando de um lado para outro do acampamento estava uma criatura que Eric jamais pensou que veria novamente: Arsenika, um dos monstruosos filhos de Medusa. Um grupo de seis homens cobra, vestidos como motoqueiros, acompanhavam Arsenika em sua vigília. Eric se lembrava do combate com ele e com seus “fidiandros” e de como o professor Roberto salvou-lhe à pele. Vendo Arseika andando no meio do campo como se fosse um rei inspecionando o salão de um castelo fez o sangue de Eric esquentar. Ele sentia seu brio ferido. Dessa vez ele ia acabar com Arsenika sem a ajuda de Roberto. “É pessoal”, disse a imagem de Clint Eastwood no papel do policial Harry Callahan evocada pela memória do rapaz.

– Vamos pousar – avisou ele descendo num pequeno bosque de oliveiras baixas, crescido sobre uma pequena elevação do terreno, algumas centenas de metros distante do campo. Parecia o melhor lugar para descer e divisar um plano. Enquanto observavam o movimento do campo de concentração Eric contou a Isabel sobre Arsenika e sua luta com ele.

– Oh Eric, ele parece ser bem perigoso. Como vamos dar conta dele? Você já tem um plano? – Isabel perguntou enquanto tentava divisar na figura distante do motoqueiro meio homem, meio cobra a figura perigosa que Eric avisara.

– Para falar a verdade eu tenho. – disse ele sacando do bolso um celular e abrindo um vídeo com um desenho animado – Dá uma olhada em como esses soldados de branco são eliminados no desenho. Seus poderes podem fazer o mesmo, não podem?

Isabel tomou o celular das mãos do menino e inspecionou as imagens mais uma vez. Era um dos episódios do desenho animado das guerras clônicas, de uma saga que os meninos idolatravam, chamada Star Wars. No desenho cada soldado era eliminado silenciosamente, um de cada vez, até que apenas seu líder, um rapaz jovem de mão metálica dourada e capuz escuro se viu frente a frente com o seu algoz. Ou sua algoz, como o desenho deixou bem claro.

– Tem certeza que vai funcionar? No desenho das Guerras Biônicas é Anakin que vence no final do episódio... – disse Isabel ainda sem sentir a mesma firmeza do seu amado quanto a estratégia a seguir.

– Relaxa principeza! Eles não são jedis e nós não somos sith. Vamos apenas usar a estratégia – disse o menino num tom apaziguador. Era óbvio que ele tentava vendar a ideia do ataque para Isabel, mas não chegava a contar a parte mais importante. Ele queria que Isabel se livrasse dos fidiandros para que ele, sozinho, desse conta de eliminar Arsenika. – E, ah sim, antes que eu me esqueça, é guerras clônicas e não biônicas, oks? Tem diferença.

– Eu entendo... – mentiu ela. Ela entendia pouco dessas coisas de seriados e filmes. Ficou com vontade de perguntar se o senhor Spock ajudaria o Anakin, mas achou melhor guardar suas dúvidas para si mesma.

Isabel pôs o plano em prática. Usando sua magia teleportou-se para o outro lado do acampamento. Então começou a usar de sua magia. Usar a magia daquela forma exigia uma concentração maior para fazer o efeito eficaz, visualmente sutil e especialmente silencioso. Um galho estalou arás de uma sentinela. Ele resolveu ir averiguar. Outro galho foi quebrado e o soldado deu mais alguns passos afastando-se da segurança do acampamento, cutucando o mato dos arbustos e volta com a sua lança. Então aconteceu: ele foi jogado de cara contra o grosso tronco de uma mangueira centenária. A sua lança veio voando logo atrás, empalando-o contra a árvore. Isabel ainda manteve o rosto do monstro fixamente colado ao tronco da mangueira, para evitar que ele gritasse por ajuda. Em segundos a terrível fera estava morta. Faltavam os outros. Quatro outros. Um deles sentou-se na sombra de uma das celas e mostrou para os meninos nela presos uma grossa coxa e sobrecoxa de frango assado. Ele divertiu-se um minuto com a expressão de fome dos campistas e depois devorou a carne com ossos. Que pena que um dos ossos cresceu misteriosamente dentro de sua goela, fazendo com que ele engasgasse até sufocar no próprio vômito. Faltavam três. Dois deles jogavam cartas numa mesa e o terceiro deu por falta dos dois colegas. Ele se levantou e com muita má vontade foi checar o ponto de vigilância onde um deles deveria estar. Ao passar por trás de uma árvore ele sentiu um repuxar e uma fisgada no pescoço. Quando ele percebeu que estava sendo atacado já era tarde demais. Ele tentou gritar, mas sua língua longa e bifurcada saltou-lhe para fora da boca, retesando-se em terrível nó. O pescoço quebrou-se em seguida. Restavam dois. E não havia por que ser discreta neste caso. A explosão resultante do efeito da magia espalhou pedaços de homens cobra por todos os lados. Alertado pela explosão Arsenika saiu de sua confortável tenda, espadas em punho.

– Mas em nome dos cabelos de Medusa, o que está acontecendo aqui? – disse ele apressando-se para fora de sua tenda. Foi quando seus olhos divisaram Eric a uma centena de metros dele. O menino sorria, carregando na mão os restos de uma cabeça de homem-cobra.

– Oi coisa feia. Lembra-se de mim? – disse Eric jogando a cabeça no meio do fogo aceso de uma fogueira. – Eu sou o cara que você quase matou. Eu vim para certar as contas.

Arsenika sorriu. Ele caminhou lentamente até ficar de frente ao jovem filho de Hermes. Parecia muito confiante.

– Dessa vez estou preparando para você e seu coleguinha cria zumbis. Fidiandros, ataquem! – Nada aconteceu. Arsenika gritou de novo e depois outra vez. Ele olhou em volta e viu Isabel abrindo uma das jaulas.

– Maldita! Fique longe dos meus bichos de estimação! – gritou o monstro virando-se para Isabel. A menina limitou-se a fazer uma careta, puxando a pálpebra esquerda do olho para baixo com o dedo médio em riste e mostrando a língua. Arsenika correu na direção dela com a espadas em posição de ataque, quando ouviu-se o clangor do metal de suas espadas se chocando e sendo violentamente arrancadas de suas mãos. Ele olhou de novo e viu Eric com suas adagas em posição de luta e as espadas de Arsenika jogadas na terra, desplicentemente.

O homem fera enlouqueceu de raiva e correu sobre o menino, armado apenas com suas garras e presas, dando cusparadas de veneno a esmo. Eric simplesmente esquivava dos ataques sem dificuldade, como se estivesse apenas testando o inimigo. E para provar que este era um teste difícil tratou de atingir Arsenika quatro vezes no rosto com suas adagas.

– É uma lembrança – disse o jovem afastando-se para apreciar a sua obra de arte. – para que você não se esqueça nunca de mim. Não que você vá viver o bastante para ter tempo de me esquecer.

Arsenika passou a mão sentindo as feridas. Formavam uma letra “E”. Os semideuses libertos e não libertos exultavam de alegria a cada passo do combate. A batalha dos dois foi fenomenal. Arsenika lutava bem, mas Eric tinha uma esquiva impecável. Entre uma esquiva e outra o garoto dava tapas na cabeça careca de Arsenika, com o nítido intuito de deixa-lo cada vez mais irritado. O monstro urrava e xingava cada vez que seus golpes acertavam o vazio. Por fim Eric borrou-se no ar, igualzinho tinha visto o Tio Edu fazer na luta com Luciano. Ele apareceu como um flash ao lado de Arsenika e o chutou com força na lateral. Arsenika saiu rolando pela grama, como um ursinho de pelúcia chutado por um jogador de futebol profissional. O górgona se estatelou numa árvore e levantou-se com dificuldade. Arsenika urrava e gritava, tanto de dor como de ódio e frustração. Então ele viu a sua oportunidade: uma de suas espadas estava jogada ali perto. Se estivesse com ela talvez tivesse uma chance contra o veloz semideus. Arsenika correu desesperado e quase exultou de alegria quando os dedos machucados enrolaram-se em torno do cabo da arma. Ele se virou na direção que achava que estava Eric apenas para levar uma pedrada no meio da testa. Olhando adiante ele viu todos os prisioneiros soltos. Muitos deles portando armas, ferramentas diversas e outros apenas com pedaços de paus e pedras. Todos feridos, mas cheios de determinação e vontade. Uma determinação que Arsenika tinha trabalhado duro para roubar de seus rostos jovens. Arsenika olhou assustado, deixando transparecer medo pela primeira vez. Ele tentou correr, mas sentiu o golpe atingir seus calcanhares, cortando seus tendões.

Eric parou perto dele e comentou:

– Sabe, eu poderia matar você agora. Seria indolor. Ou quase. Mas os meninos ali estão com muita raiva de você. Eu posso deixar você nas mãos deles e você seria destruído com certeza. Mas seria uma morte lenta e bruta. O grande Arsenika, morto por uma dezena de crianças semideuses armadas com paus e pedras. Acho que a humilhação no Tártaro seria bem maior.

Arsenika virou os olhos em direção à turba que marchava resoluta em sua direção, capitaneada por Isabel. Ela mesma carregava nas mãos um martelo.

– Eu até imagino você, na fila da ressurreição do Tártaro. “Como foi que você foi destruído?” – perguntou Eric imitando a voz de um monstro de desenho animado. – Vão te perguntar, com certeza. E o que você vai dizer? Que foi morto por um bando de moleques que mal saíram das fraldas?

– O que você quer? – perguntou Arsenika, corroído pelo medo.

– Você tem poucos minutos para me dizer quem está no comando dessa operação e quais são os planos de você vocês. Se for convincente o bastante eu mato você aqui e agora. Você vai poder dizer no Tártaro que foi derrotado pelo grande Eric, o maior dos filhos de Hermes.

Arsenika cantou como um canário. Estava tão nervoso que misturava o português com o inglês e o grego antigo. Não que Eric se importasse. Ele estava contando tudo. Por três minutos inteiros Arsenika detalhou os planos do seu empregador, as posições de suas tropas, quantos monstros havia no acampamento naquele momento e por onde eles estavam chegando.

Ao fim de seu relato Arsenika viu-se cercado pelos semideuses que torturou. Muitos deles assistiram impotentes Arsenika torturar e matar seus amigos e irmãos. Eric ficou de pé, limpando a poeira de suas roupas. Uma menina saiu do meio da turba de garotos. Parecia ter dezesseis anos ou menos. Eric demorou a reconhecer Amanda, a chefe do chalé de Deméter. Amanda estava mais madura e bem mais magra do que ela se lembrava. Estava suja, com uma expressão cruel nos olhos. Faltavam-lhe dois dedos na mão esquerda.

– Este monstro – começou ela, sentindo a voz embargar – este demônio, ele...

– Eu sei – comentou tristemente Eric. Os olhos da menina se encheram de lágrimas e em seguida ela os limpou violentamente com a palma das mãos, engolindo o choro com vontade e esforço. – Ele é todo de vocês. Façam com ele o que quiserem. Mas eu sugiro que comecem com martelos e pregos.

– Semideus! – gritou Arsenika em pânico, deixando de lado qualquer orgulho ou postura – tínhamos um acordo!

– Sim – disse Eric com pesar na voz – se você fosse convincente o bastante. Mas a dor desses meninos, a dor dos meus irmãos é nem mais.

Eric deu de contas e afastou, buscando a poio nos braços de Isabel enquanto a pequena multidão de semideuses destruía Arsenika. Os gritos do górgona foram substituídos pelo som seco das pancadas de paus e pedras, acertando sucessivamente. Quando terminaram, Arsenika era apenas uma mancha no chão e uma dolorosa lembrança em seus corpos e almas.

– E agora? – perguntou Amanda.

– Temos de ir ao prédio central, com urgência. Temos um meteoro para deter. – ele olhou para o horizonte distante e começou a dar ordens como tinha visto Nathalia fazer isso tantas vezes. Partiriam em breve, nas melhores condições possíveis, para a missão de suas vidas. Isabel pousou as mãos no ombro do amado e comentou:

– Espere Oliver. Estamos indo para ajudar você.


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