Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 58
Capítulo 58




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Para o Mausoléu.

Foi complicado convencer o motorista do Uber a deixar os meninos na Praça Roosevelt àquela hora da noite. Mas Eric tinha mesmo o dom do convencimento para essas situações. O convencimento de Eric e a gorda gorjeta de Oliver fizeram com que as preocupações do motorista se dissipassem como névoa numa manhã quente de verão.

Construída para ser um grande conjunto arquitetônico por Faria Lima, na década de 60, a praça passou por uma série de modificações e sobreviveu á especulação imobiliária e aos ataques constantes de publicações marrons, como a Revista Veja. Após recente reforma, a Praça Roosevelt reabriu em outubro de 2012 com um espaço totalmente reestruturado e revitalizado ao público. Atrações jovens como o parque de skate dividem lugar com diversos palcos, teatros, espaços culturais e restaurantes. Alguns deles tão antigos e tradicionais na vida cultural paulistana quanto a própria praça.

Mas àquela hora da noite, sob a premissa de uma tempestade e com ventos uivando forte pela Rua Augusta, ela parecia melancólica e assustadora. A última sessão no “Parlapatões” tinha terminado faziam alguns minutos e apenas o pessoal da limpeza e manutenção ainda estava no prédio, voando baixo como se diz por aí, para terminar logo o trabalho e pegar a condução para casa. Lucas sentiu o vento uivar frio, como se estivesse desafiando as árvores centenárias que ali sobreviveram. Os meninos chegaram pela lateral da Rua Augusta e estavam perto do posto policial.

– O que estamos procurando? – perguntou Jade.

– O relâmpago caiu aqui perto na praça. Temos de achar o seu ponto de impacto. Lá deve apontar para o lugar que devemos ir. – decretou Oliver, que parecia estranhamente seguro do caminho a seguir. – Procurem por alguma marca de queimado na parede, no chão ou em alguma estrutura.

Mas falar era mais fácil do que fazer. Com uma área de mais de 2 mil metros quadrados de praça os meninos tiveram que se separar, mantendo contato por seus smartphones. Jade e Oliver foram em direção à Rua Consolação, Eric e Isabel resolveram pegar no sentido do skate park e a Lucas e Nathalia sobrou dar a volta pelo perímetro externo. A ideia era de se encontrarem do outro lado do parque, a não ser que alguém encontrasse alguma pista antes.

– Ou que alguma coisa nos encontrasse... – falou Eric, temendo pelo pior.

Os casais se separaram andando por suas rotas pré-estabelecidas até que perderam-se de vista uns dos outros.

Jade vinha de braço dado com Oliver. Andavam juntos, como um verdadeiro casal de namorados em fim de noite. O menino já tinha desfeito o nó da gravata borboleta e desabotoado os três primeiros botões de sua camisa. Jade por sua vez vinha coberta pelo terno, como se ela realmente precisasse se proteger de qualquer coisa com o seu tecido de microfibras. Apesar do clima de namoro os dois andavam bem atentos. Afinal de contas ainda era uma missão para salvar Zeus e não apenas um passeio na praça. O tempo parecia ter estabilizado, apesar dos ventos não darem trégua. Um rodamoinho de folhas secas se ergueu no ar e parou, fazendo chover fragmentos de folhas secas sobre os dois. Jade riu quando uma folhinha meio verde pousou nos cabelos de Oliver, fazendo com que ele parecesse um indiozinho. Jade achou fofo e levantou a mão para tirar a folhinha de lá. Oliver interceptou sua mão com toque firme e gentil. Ele levou a mão da moça à sua boca e a beijou com suavidade. Foi quando ele ouviu o uivo. Não, não era o vento. Era um uivo de lobo mesmo. Um uivo longo, comprido, um chamado e um desafio ao mesmo tempo.

Jade largou da mão e Oliver e se pôs em posição de luta, amaldiçoando o fato de terem deixado suas roupas e armas no salão das harpias. Instintivamente Oliver sacou de sua espada. O brilho azulado lançou sombras bruxuleantes por toda a extensão de seu alcance, como um círculo protetor na escuridão da noite. Para além da iluminação promovida pela espada mágica Jade viu o primeiro par de olhos lupinos e amarelos cobalto surgindo. Depois mais um e mais outro. Estavam cercados.

Um rosnado chamou a atenção dos dois para o flanco direito. Uma cabeça de lobo enorme, monstruosa, avançou para dentro da luz. Montada sobre a temível fera, uma menina. Oliver a reconheceu de pronto. Era uma das caçadoras de Artêmis. Mas não qualquer caçadora de Artêmis. A filha de Zeus: Kleynna.

– Olá menino das estrelas – disse ela se aproximando cautelosamente sem tirar os olhos da espada de Oliver – parece que nos encontramos de novo.

– Kleynna, certo? Olha, não queremos confusão. Estamos numa missão em nome dos deuses. – disse Oliver, sabendo que tinha pouca ou nenhuma chance de evitar o embate. Os olhos da menina deixavam claro que ela não queria conversar.

– Eu adoraria, mas tenho contas a acertar com você. Você se lembra da minha amiga? Aquela que você cortou fora o braço? Ela mandou lembranças quando eu disse que ia caçar você. Diabos, mesmo sem a recompensa que Apolo ofereceu pela sua cabeça eu ainda tenho motivos o bastante para caçá-lo. Você e essa sua namoradinha. – Kleynna ergueu o arpão que carregava e o céu crepitou de energia.

Jade adiantou-se e pegou uma latinha de alumínio jogada ali perto. Num movimento rápido ela amassou a latinha com as mãos e a jogou, com a mesma facilidade que um aluno peralta amassa uma folha de papel e ato contínuo a joga num coleguinha desavisado. Mesmo sem pesar muito a bolinha de alumínio certou Kleynna bem no nariz. A menina amaldiçoou em susto enquanto largava o arpão e protegia o rosto com as duas mãos.

Oliver por sua vez não desperdiçou a brecha na defesa da caçadora e disparou uma rajada de energia que a arrancou da sela de sua moto-lobo. Da escuridão outros lobos monstruosos, mas bem menores que a moto-lobo, surgiram voando sobre os dois. Jade foi derrubada por um deles, o vestido rasgando ao ser arrastado no piso da praça. A menina pegou o terno de Oliver que usava como capa nos ombros e num movimento rápido envolveu a cabeça do lobo. Usando as mangas do terno como cordas ela deu um nó vigoroso deixando a fera tentando arrancar o terno da cabeça com as patas.

Outro deles se arremeteu sobre Oliver, mirando seu pescoço. Ele foi abatido em pleno ar, com o que parecia uma lança feita de um longo espinho intumescido. De relance Oliver viu Lucas e Nathalia correndo para ajuda-los. Nathalia vestia a famosa armadura de Ares por cima do vestido longo que tinha um corte na sua lateral, permitindo assim que a guerreira corresse.

Um relâmpago dardejou dos céus, atingindo Nathalia em cheio. Não fosse a armadura estaria morta com certeza. Kleynna estava de volta á ação. Oliver amaldiçoou seu julgamento em atingi-la com um ataque mais fraco. “Enquanto minhas armas estavam marcadas para atordoar, as armas dos inimigos estavam marcadas para matar”, pensou com tristeza o rapaz. A moto-lobo da caçadora filha de Zeus uivou novamente e mais olhos brilhantes surgiram na escuridão da noite. Pelo menos meia dúzia de lobos correu de um canto escuro do parque num furioso ataque de carga. Oliver disparou uma vez, acertando um dos bichos, mas ainda haviam pelo menos cinco deles vindo certeiramente em sua direção. Ele seria destroçado por todos aqueles atacantes.

No entanto o que aconteceu foi diferente de tudo o que ele esperava. Ao cruzarem a luz azulada de um poste os lobos explodiram em nuvens de fumaça, deixando em seu lugar pequenos e inofensivos filhotes de cores variadas. Um malhado mais corajoso passou a morder o sapato de Oliver como se ainda restasse nela a coragem e a determinação de outrora.

Vendo que sua emboscada tinha falhado Kleynna montou em sua moto-lobo e deu meia volta. Lucas fez menção de segui-la, mas Oliver comandou que não. Precisavam de todos juntos. O ataque de Kleynna naquele momento significava apenas uma coisa: estavam perto.

Jade não demorou a voltar depois que o lobo a soltou. O vestido estava sujo e rasgado, mas como sempre ela não tinha nenhum ferimento para mostrar.

– Vamos procurar a indicação do relâmpago – ordenou Oliver, assumindo o posto de líder naquele momento.

O grupo começou a procurar. Não demorou para que Isabel localizasse uma porta metálica e chamasse os outros. A porta tinha um formato familiar e inscrições muito parecidas com as da porta que dava acesso à Igreja dos cavaleiros templários em Fortaleza. Era como se as duas tivessem sido feitas pelo mesmo artífice. Logo acima da porta era possível ver uma marca de queimado. Limpando a fuligem com um pedaço do vestido Nathalia identificou perfeitamente o desenho estilizado de um relâmpago.

– É... essa deve ser a tal porta que nos levará ao mausoléu da profecia. – disse Lucas, recolhendo algumas folhas e colocando-as nos bolsos de seu terno. – Eric, pode abrir?

Eric saiu do lado de Isabel alongando os dedos, como os maestros de música clássica fazem nos desenhos animados. Ele passeou a palma da mão sobre a porta e sentiu nela uma energia protetiva e gentil. Ele passava a mão sobre a superfície lisa, tal como um cego lê uma folha em braile. Por fim ele apertou algumas partes que se revelaram botões, numa sequencia que lembrava um batuque rápido. Quando terminou de tamborilar a melodia a porta destravou.

Eles puxaram a pesada estrutura da porta, que revelava uma escada muito velha, escavada em pedra de granito, que parecia levar para os confins da terra. Oliver tirou o frank do bolso e usando a sua lanterna foi descendo na frente. Jade vinha dois passos atrás, sendo seguida por Nathalia, Isabel e por fim Lucas. Desceram lances e mais lances até que chegaram num grande corredor. Ele era espaçoso como um túnel do metrô e se estendia igualmente nas duas direções.

– Para que lado? – questionou laconicamente Nathalia, ainda um pouco chateada por ter sido nocauteada com tata facilidade na luta que tinha acabado de passar.

Isabel pegou o pingente, que estava amarrado em seu pulso como se fosse uma pulseira e o deixou cair em direção ao solo. Ele apontou primeiro para o chão e depois para o lado do túnel que se direcionava para o que parecia ser a direita.

Os meninos não souberam dizer por quanto tempo caminharam. Alguns deles julgavam que já cainhavam a horas e outros poderiam jurar que mal tinham começado a andar.

– É efeito da névoa. Ela é muito poderosa em São Paulo. É como se fosse uma entidade viva. – explicou Isabel. Caminharam mais um pouco até que o túnel desembocou num enorme salão, do tamanho de dois campos de futebol. O lugar parecia um campo de batalha muito antigo. Esqueletos armados com armaduras de couro e armas clássicas jaziam por todos os lados. Parece que dois exércitos lutaram ali. Uma investigação mais de perto permitiu diferenciar bem os dois exércitos: alguns deles usavam trapos de camisetas roxas e usavam equipamento nitidamente romano; os outros usavam camisetas alaranjadas com o símbolo de um Pégaso e portavam equipamento grego.

– Que desperdício. – Nathalia fez uma careta imediatamente depois de comentar. Semideuses, quase uma centena deles, se mataram aqui em baixo. e o motivo não parecia mais fútil aos olhos da guerreira: decidir que forma tinham os deuses, se gregos ou romanos. Ela parou num canto, observando um esqueleto que só poderia ter pertencido a uma criança muito jovem. Dez anos no máximo. Ela tinha sido morta por um golpe que lhe esmagou as costelas. Uma delas deve ter perfurado o seu pulmão e ela morreu ali, sufocada no próprio sangue, longe de tudo que provavelmente amou na vida.

– Estamos no lugar certo! – procurou parecer animado Eric – Esse trecho está na profecia também. Aqui é onde a chave vai encontrar a fechadura. – nesse trecho inevitavelmente os olhos se voltaram para Isabel.

Além do campo de batalha encontraram uma escada de mármore clarinho. Ela morria numa espécie de altar, ladeado por dois grandes espelhos de prata. Os meninos subiram os degraus cautelosos, esperando que a cada passo alguma armadilha mortal aparecesse ou que algum inimigo poderoso os atacasse. Mas nada disso aconteceu.

Chegando ao topo da escada os meninos viram o que parecia o prêmio que vieram buscar: um pergaminho feito de folhas de ouro, dentro de uma caixa de vidro. Acima de caixa haviam entalhes que pareciam indicar o tamanho de uma mão humana.

– A chave encontra a fechadura... – suspirou Oliver, como se contasse com aquele momento para que a sua vida voltasse ao normal.

– Não é assim tão fácil. – a voz familiar ecoou pela sala, revelando a figura de Mormo. Ela estava guarnecida por três surfistas monstruosos. – ainda existe um desafio que vocês têm que vencer se quiserem o seu prêmio.


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