Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 52
Capítulo 52




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Para São Paulo...

O poder da névoa era mesmo muito grande naquela área do mundo. Tudo o que os mortais ficaram sabendo é que um meteorito desconhecido e não mapeado caiu do céu naquele pedaço do parque, criando uma reação em cadeia com o gás acumulado pela matéria em decomposição no mangue. Some isso a pressão atmosférica e ao clima de Fortaleza, alentada por ventos oceânicos úmidos e você teve um espetáculo único. Passariam muitos dias antes que cientistas influenciados pela névoa parassem de dar explicações cada vez mais complexas e confusas.

De volta à casa da praia os meninos aguardavam apenas o retorno do tio Eduardo para rumarem para São Paulo. Quanto mais cedo melhor, afinal já sabiam que Apolo queria ascender ao trono do Olimpo e, como um deus, ele faria qualquer coisa para conseguir.

– Eu jamais pensei que veria um semideus de categoria “A”. – disse causalmente Nathália enquanto arrumava sua mochila de viagens, cada vez mais leve.

– Categoria “A”? – perguntou Eric. – Mais ou menos como os monstros de Magic: the Gathering?

– Não sei nada de monstros deste jogo mortal – começou Nathália, amaldiçoando em silêncio a sua boca grande – mas os filhos da casa de Ares fizeram uma classificação com o poder dos monstros e semideuses. É chamada escala Toguro, em homenagem a Ototo Toguro, um famoso guerreiro, filho de Ares que morreu em batalha contra as forças de Gaia, entre 1990 e 1994. Os semideuses e monstros do Olimpo possuem o que é chamado por ele de centelha mítica e são classificados como as classes E, D, C, B, A e S. Existem ainda categorias intermediárias como C inferior, C ou C superior e assim por diante. – a menina parou ao perceber que todos à sua volta ouviam com indisfarçável atenção. Ela limpou a garganta com um pigarrear falso como uma nota de três reais e continuou – Os da classe “E” são os mais fracos. A maioria dos humanos puro sangue está nessa classificação. Os monstros olimpianos desse nível são raros, pois não duram muito tempo no Olimpo. Costumam ser fracos e burros, mas muito violentos. O tártaro está cheio deles se contorcendo pela eternidade em agonia.

– Katómeros? – perguntou Oliver.

– Temo que não. Katómeros são outra categoria. Mas deixa-me continuar. Os da classe “D” são a segunda classe mais fraca. Ainda não são grande coisa, mas os monstros dessa classe são mais fortes e resistentes que os humanos comuns. Humanos mais fortes que possuem conhecimento sobre o mundo dos deuses, sobre a névoa e coisas assim também estão nessa classe. Segundo os registros do livro de Toguro, Jasão era um classe D superior quando enfrentou o campo dos touros que cospem fogo, em Cólquida. Eu diria que um Katómero é um classe D inferior, mas posso estar enganada.

Lucas trouxe da cozinha um grosso caldo de legumes. O sabor era agradável, agridoce e refrescante. Antes que ele pudesse dizer da sua receita, Nathália continuou.

– A seguir temos os seres de classe “C”. Aqui, encontramos a maior parte dos semideuses e monstros. 90% das pessoas do santuário são Classe C e classe C superior. Esses caras são poderosos, mas comparados as classes B, A e S, não são nada. Monstros como a Medusa, as Hárpias, e gente como o Dezan estão nessa categoria, com certeza.

Isabel gemeu num canto, sendo prontamente amparada por Eric. A menção das hárpias que tanto a atormentaram enquanto era prisioneira de Marmo despertou memórias muito ruins. Ela se aninhou no colo de Eric em busca de calor, conforto e segurança.

– Os de classe “B”... Nessa classe, o nível de poder sobe assustadoramente. Um semideus de classe C não chega aos pés de um classe B. Também é uma das classes mais raras nas fileiras dos deuses. Acho que somos classe B, mas não tenho certeza. – neste momento a menina olhou para as mãos e depois para o resto do grupo, com o pensamento voando longe.

– Aposto que o tio Edu é um classe B, assim como aquele ex-aliado emo dele! E aposto uma tubaína como o professor Roberto e sua esposa também são. – Oliver levantou os olhos do tablet-torradeira por um segundo. A sua interrupção trouxe Nathália de volta à discussão.

– Os de classe “A”... Bem, agora a parada ficou séria. Criaturas de classe A são fortes que nem o diabo. Eles são tão poderosos que ... – ela fez uma pausa como se buscasse as palavras – bem, eu não sei. É possível que um semideus atinja esse nível, embora seja muito difícil. Tenho certeza que aquela moça, a Bárbara, que a mãe do Oliver mandou nos ajudar é dessa categoria. Seu poder é assustador com relação aos níveis inferiores, mas com relação a um classe “S”, eles não são nada. Todos os titãs, os gigantes e outros monstros olímpicos, seguidores diretos de Gaia, como Aracne, a senhora das aranhas, são todos classe “A”. – Nathália tomou fôlego e continuou – Agora as criaturas de classe “S”... como diz Toguro em seu livro, e eu o cito textualmente, “seres de classe S são extremamente raros e poderosos. É possível que um classe S derrote um exercito de soldados classe A com facilidade”. São as criaturas mais poderosas do mundo, com a exceção dos deuses.

– É tipo o “homem mais próximo dos deuses”...? – comentou Eric – tipo o Shaka de virgem?

– Ah, qual é? Shaka é um bobão. Perdeu para o Ikki ainda na casa de Virgem e quase tomou um pau de Balder em Saint Seiya: soul of god – interrompeu Oliver, deixando o tablet-celular-torradeira de lado.

– Como é? Existem outras sagas dos cavaleiros do zodíaco além da saga do anel de Nibelungos? – Lucas parecia desconcertado, como uma criança que depois de anos, descobre que o Papai Noel não existe. – Cara eu assisti a todos os desenhos dessa saga. Não pode ser! A armadura de Odin é a mais linda de todas!

– Ah nem vem! As cloth myths da saga de Hades dão de pau nela! – interveio Oliver.

– Só se for em seus sonhos mais dourados! – disse com desdém Eric – Aposto que você também acha que a Marin é a irmã perdida de Seiya!

– Pelo menos ele não tem uma armadura cor-de-rosa!

A discussão continuou acalourada enquanto as meninas se afastavam. Nathália sentiu o rosto corar de vergonha alheia enquanto ia arrumar o resto de suas coisas em outro quarto. Isabel foi para a beira da piscina e logo Jade juntou-se a ela.

Ao perceber a presença da colega de grupo Isabel abriu um largo sorriso e tentou puxar assunto:

– Meu pai dizia que a diferença entre meninos e homens é o custo de seus brinquedos e as consequências de suas ações.

– Seu pai era um sujeito espero. Mas aqueles três ali – Jade virou o pescoço para olhar de soslaio para ver os colegas que continuavam discutindo – estão longe de serem meninos e mais longe ainda de serem homens.

– Ah não ligue. Meus irmãos mais velhos pareciam muito com eles.

– Irmãos? – De repente Jade mostrou-se interessada. Ela mesma nunca tivera uma família muito grande. Ansiava por saber o que era ter uma casa cheia de irmãos e irmãs, desde que não precisassem lutar contra os inimigos dos deuses a cada fim de semana.

– Sim – disse Isabel batendo os pés de leve na água fria da piscina. – Tenho dois. Ou tinha, não sei. Não são filhos da minha mãe, Hécate. São filhos do meu pai com outras mulheres. Minha mãe disse a meu pai que o daria riqueza e poder e UMA filha. Mas nenhum filho homem. Meu pai precisava de um filho homem. Neste caso conseguiu dois: Garcia e Ordonho. Precisava tê-los conhecido, Jade. Eram pequenos demônios na terra! Corriam por todos os lados do castelo, importunando as aias e dando trabalho aos cavaleiros. Todos gostavam muito deles.

– Uau... Jamais imaginei que a sociedade do século X fosse tão aberta a filhos bastardos... – Ao perceber a besteira que tinha falado Jade levou as mãos à boca e corou de vergonha. Isabel por sua vez pareceu desconfortável, tentando esconder o rosto sob os cabelos soltos. – Desculpe – Emendou Jade em seguida – eu não queria parecer mal educada.

– Não foi. É como eu venho aprendendo. As moças desta época falam rápido demais. Minha mãe concordou que meu pai tivesse amantes às escondidas. Para todos os efeitos eram filhos dela. Não era algo que se comentava abertamente. Os livros de história dizem que ele teve mais três filhos que jamais conheci: Fruela, Gonçalo e Ramiro. Mas o meu nome não é citado em parte alguma. Logo eu que sou a primogênita, a mais velha.

– Sua mãe deve ter protegido você. Quem pode sondar os desígnios dos deuses? - Jade disse colocando os pés na água. Mas ela percebia que o assunto dos pais causava desconforto para todos. Todos os deuses são pais ausentes. Com jade não era diferente, a não ser pelo fato de Apolo ser mais manipulador que a maioria. Ela sentia inveja de outros pais-desues menos pomposos. Como seria ser filha de Hermes? Eric não parecia reclamar. Como seria ser filha de Astréia? Ela parecia ser tão amorosa...

As duas conversaram até que Nathália, de malas prontas, veio juntar-se a elas. De malas prontas era modo de dizer. Nathália tinha apenas uma mochila de estudante, cheia pela metade de tudo o que precisava. Como não sabia costurar, usava roupas até que se rasgassem pelo uso. E roupas inteiras eram quase um luxo para aquela filha de Ares. Ela sentou-se sem cerimônia, deixando os pés descansarem na água.

– Minha relação com Ares é meio tempestuosa. Ele não é exatamente um pai amoroso, mas está longe de ser o maníaco homicida que todos pensam. Eu o vejo mais como um velho soldado que de tempos em tempos se cansa de lutar, mas luta se precisar. É o deus guerreiro mais próximo da sua nova linhagem Jade.

– Minha linhagem? – questionou Jade, tentando perceber as implicações daquele comentário.

– É, quer dizer, dos deuses gregos apenas Ares tem um pezinho no campo dos nórdicos. Deus guerreiro, lutador. Gosta de desafios. –completou Nathália.

– Eu entendo. Vi meu pai combatendo os vikings. São guerreiros poderosos. Destemidos e orgulhosos. É diferente de tudo. – Completou Isabel – Veja bem Jade...

A menina fez a água da piscina virar um espelho, como a tela plana de uma TV de plasma. Ela mostrava o passado. Era noite, no meio do oceano. Uma terrível tempestade acossava um drakkar, um antigo barco de guerra viking. No seu interior os homens se encolhiam temendo o pior. Todos menos um guerreiro. Ele trazia uma rocha negra presa num cordame de couro cru no pescoço. Sue cabelo era longo, dourado escuro e sua barba era densa. Seus olhos ardiam, enfrentando as rajadas congelantes de água salgada que assolavam o seu rosto. Um relâmpago cortou o céu, iluminando o negrume tempestuoso da noite por um momento. Ele olhou para a proa do barco e andou até lá. Subiu ao alto da proa e começou a xingar. Muitos dos seus xingamentos eram tão escabrosos que a magia os manteve no idioma escandinavo original. Os homens olhavam incrédulos.

– É o melhor que você tem a nos oferecer Thor de Odinson? Isso não é nada. Sua tempestade urra e nos balança faz horas e ainda estamos aqui. Eu rio do seu trovão e mostro minhas nádegas para seu raio!

Os homens do barco iam se contagiando a cada impropério pronunciado pelo guerreiro. Um deles subiu na popa e começou a urinar sobre a amurada do barco.

– Tome Aegir, beba um pouco dessa minha água aqui!

Os homens riram e cantaram. A imagem foi aos poucos sumindo.

– O que isso quer dizer? – perguntou Jade.

– Não é claro? – Interrompeu Nathália. – Se fosse um trirreme grego todos estariam rezando para Posseidon para que ele os poupasse. Não os nórdicos. Eles zombam dos desafios dos deuses porque sabem que se está difícil estão indo na direção certa. Os desuses gregos querem seus filhos dependentes e até meio submissos. Eu acho que um deus nórdico morreria feliz se um de seus filhos tomasse o seu lugar.

– Uau e como você sabe de tudo isso?

– Eu sou filha de Ares. A guerra corre no meu sangue.

Da casa ainda ouviam os meninos discutindo quem venceria um hipotético duelo entre Goku e Ruffy D. Monkey. Era típico deles: só faltavam discutir qual o melhor pokemon para que a discussão varasse a noite.

Jade sentiu algo vibrar em seu bolso. Era o celular-torradeira de Oliver. Ela olhou espantada para o objeto já que ela tinha certeza que não tinha pego a peça e muito menos tinha a colocado no bolso. A tela piscava.

Ela bateu duas vezes e a tela se abriu com uma mensagem de vídeo do Tio Edu. Ele dizia que tinha assuntos pendentes a resolver e que assim que pudesse acompanharia a todos. Ele recomendava que fossem pela manhã bem cedo para São Paulo. Já tinha reservado um hotel no centro, o Poleposition, próximo do metrô Santa Cruz.

Todos foram dormir. Menos Jade, que ficou olhando para o céu, pensando que desafios Balder reservara para ela.


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