As minhas sete ex-melhores amigas. escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 11
Parte II - O universo manípula nossas vidas.




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Não há muitas coisas para dizer nesse exato momento, exceto pelo fato de que meu pai estava à beira da morte. Agora estou chorando e batendo a cabeça na porta, esmurrando as paredes de concreto, numa tentativa inútil de despejar minha raiva. Aquilo não poderia ser verdade, pelo menos não por enquanto.

“Calma amor, vai tudo ficar bem, foi um acidente! Isso acontece, pelo amor de deus Dante, fica lúcido!” Gritou Noelle, abraçando-me fortemente na ponta dos pés. Depositei meu rosto em seus ombros, o choro de meus olhos molhando seu casaco.

Todo esse inferno começou com uma ligação de Alice, sob a qual ela suava desesperada e sem palavras para descrever o ocorrido. Depois de respirar fundo, a menina ruiva enfim tomou coragem para dizer que meu pai havia sido internado no hospital, por conta de um acidente no trânsito. Ele foi socorrido à beira da morte pelo irmão mais velho dela, Cauã, que estava fazendo turno na ambulância. Segundo ele, suas últimas palavras conscientes foram: ‘Eu amo meu filho. Desculpa por ter falhado.’

Desde então, estou em completo estado de pânico. Minhas pernas tremem e minha pele despeja suor frio, enquanto Noelle me abraça forte e tenta acalmar meu choro.

“O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço?????” Perguntei à minha namorada, a voz impaciente e repetida ecoando de minhas cordas vocais.

“Nada. Precisamos esperar o irmão da Alice vir nos buscar de carro, aliás, ele já deve tá chegando...”

Quando ia completando a frase, ouvimos o interfone do apartamento tocar. Sem pensar duas vezes, abri a porta lançando-me como um foguete ao descer as escadas.

“Cuidado para não cair” Advertiu Noelle.

Eu só pude ignorar sua advertência, e assim que abri rapidamente a porta do prédio, encontrei Alice chorando a beira da porta enquanto seu irmão fumava um cigarro ao fundo. Ele estava encostado no capô de seu carro preto, enquanto eu só podia abraçar a menina ruiva, afogando minhas lágrimas em seus ombros.

“Por favor... Não chora Dante Collins.” Pediu-me Alice, embora ela também estivesse se lamentando.

“Farei o possível para não ficar chateado.”

“Hey, vamos logo gente. Entrem todos no carro, apertem os cintos, e fiquem com deus.” Comentou Cauã ao fundo.

Sentei-me no banco de trás com Noelle, enquanto Alice foi com seu irmão na frente. Ficamos abraçados por todo o trajeto, o rosto apoiado em seu ombro magro, as mãos suadas e geladas se tocando num gesto de afeto. O caminho até o hospital durou por volta de dez minutos, e depois de resolvermos algumas burocracias com o diretor da unidade de saúde, eu pude enfim entrar na sala de meu pai.

Abri a porta sorrateiramente, numa delicadeza extrema, me preparando para tudo que eu devesse ver. O quarto era pequeno, possuindo somente uma cama sob a qual meu pai estava deitado, uma televisão, duas cadeiras e uma mesinha. Sentei-me na cadeira do lado esquerdo, segurando sua mão gélida que brigava para viver ou morrer. Deixei pequenas lágrimas de choro caírem encima dele, e por mais que ele não pudesse me ouvir por estar incubado, sussurrei algumas palavras.

“Me desculpa pai. Você não falhou, é tudo culpa minha, mas você vai conseguir! Por favor não me deixe nesse mundo... Você é a única flor que havia restado em meu jardim. Por favor, eu suplico pai! Eu não vou desistir de você, porque você não desistiu de mim quando eu cai do telhado e quebrei o joelho. Ou quando os garotos haviam batido em mim na escola, e o senhor simplesmente estava lá para me proteger. Por mais que não houvesse resposta, desde a morte de mamãe, o seu abraço era a única coisa que acalmava meu pequeno coração infantil. Eu não irei desistir pai! Pois o céu já tem uma estrela chamada mamãe, e ele não precisa de outa chamada papai. Porque se a estrela chamada papai brilhar no céu, ela terá a companhia de uma terceira estrela, chamada Dante Collins. Eu lhe amo, e peço todos os supliques a deus para que o senhor permaneça em meu mundo.”

Durante longos minutos, fique chorando sob seus braços, até que o horário de visita acabasse.

***

Eu já estava um pouco mais calmo quando o médico deu a informação de que a vida de meu pai não corria tanto risco assim, o que fez com que eu fosse até a cafeteria da esquina tomar um café com Alice. Cauã estava indo trabalhar em seu novo turno na ambulância, e Noelle possuía fobia de hospitais, logo eu a liberei para ir pra casa.

Nós já havíamos sentado à mesa da cafeteria para comer sanduíches de queijo com presunto, enquanto dávamos pequenas goladas numa xícara com café. A noite já estava ganhando seu formato obscuro, enquanto uma pequena garoa parecia engrossar.

“Hum... E aí, já tá melhor?” Perguntou-me Alice. Demorei alguns segundos para responder, pois estava distraído olhando a rua pela janela, até me tocar que ela estava falando comigo.

“Tô sim... Mas, eu estou muito triste. A culpa é toda minha né Alice? Eu poderia ter feito diferente, ele vai me odiar agora, e nunca mais olhar na minha cara!”

“É lógico que não, seu bobo. Ele é seu pai, e depois de ver como você ficou preocupado pelo acidente dele, sem dúvida ficará orgulhoso de ter um filho como você, e tal.”

“Talvez sim, talvez não. Mas enfim, você sabe o motivo do acidente, ou coisa do tipo?”

Alice deu uma mordida em seu sanduíche, e depois de mastiga-la por completo, retornou a falar.

“Bom, segundo meu irmão ele foi encontrado com o carro da sua tia, né? Ele provavelmente tinha ido buscar um presente para você no shopping, já que ele aparentava estar seguindo aquele caminho. Infelizmente acabou batendo levemente atrás de outro veículo, o que fez com que o impacto da batida prejudicasse seu estado físico. Mas em si, não foi um acidente de carro muito grave.”

“Estou me sentindo um inútil agora Alice. Mas obrigado por me ajudar e ser legal comigo, eu estava sentindo sua falta” Comentei, lançando um sorriso para ela. A garota ruiva retribuiu o sorriso, abrindo diálogo logo depois.

“Preciso lhe falar uma coisa Dante, mas é muito sério. Pode ser?”

“Hum... Pode sim.”

Nesse exato momento eu estou preocupado, pois Alice é uma pessoa fria, e geralmente ela não fica nervosa como está sem suas crises. Depois de respirar fundo algumas vezes, ela enfim reuniu coragem para dizer o que queria.

“Eu tô apaixonada, Dante!” Gritou a menina, logo depois de me soltar uma grande risada. O lado ruim de tudo é que isso não é um drama, já que Alice é uma menina muito bonita e pode ficar com qualquer cara do mundo. Ela sempre seria a garota da festa, enquanto eu só era o babaca do fundão que ficava excluído.

“E quem é o sortudo?”

“Ah, é um cara muito maneiro. Só que ele tem namorada, e acho difícil que ele fique comigo, ou coisa do tipo.” Nesse exato momento, Alice me lançou um olhar triste.

“Aposto que você é melhor que a namorada dele. Vai lá, você consegue!” Estimulei.

“Bom, é lógico que eu sou bem melhor que a namorada dele. Eu sei disso, seu idiota.”

“Ah, tá bom então. Porém, quem é esse cara? Preciso saber, e tal. Eu conheço?”

“É lógico que conhece. Ele é alto, magro, cabelos cacheados, fãs de super heróis, tem dezesseis anos e se chama Dante Collins. Dizem que ele é muito amigo seu né?”

“Não... Alice. Você sabe que eu tenho namorada, mas... Eu nunca imaginei que...” Gaguejei, pois tudo aquilo era muito irônico. Quando eu era solteiro nenhuma menina gostaria de ficar comigo, e agora que enfim arrumei uma namorada à garota mais gostosa que eu vi na vida fica apaixonada por um palerma como eu. Isso soava tão irônico, a ponto de eu achar que o universo estava chapado de LSD controlando minha vida.

“Cala a boca.” Foi tudo o que ela respondeu.

E naquele momento, Alice fez uma coisa que eu não imaginava que faria: ela me beijou. Depois se levantou de sua cadeira, soltou-me um sorriso irônico, e caminhou até a porta, onde seus cabelos avermelhados ficariam invisíveis na escuridão.

Isso é uma coisa meio ruim, eu acho, pois terei de pegar a conta sozinho.


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