Bella pov’s

Laurent caminhou casualmente até mim, os lábios abertos em um sorriso deixando um pouco expostos os dentes cheios de veneno. Eu fiquei paralisada enquanto o via se aproximar, seus olhos rubros fixos em mim. Eu iria morrer, certamente iria. Não era forte o suficiente para lutar contra ele, não havia ninguém que pudesse me proteger. Doía pensar em Edward e no restante dos Cullen, a dor de um buraco imaginário em meu peito me consumia quando isso ocorria. Então eu caí em reflexão. Que me importa se eu fosse morta por Laurent? Eu já havia morrido mesmo! Desde que Edward partira com sua família eu era apenas uma casca vazia tentando agradar aos outros fingindo ser Bella. Não seria melhor se Laurent acabasse comigo? Pelo menos a dor passaria, a dor de perder Edward, de perder um futuro que planejei estupidamente ao seu lado. Nada mais importava.

-Não importa. –Laurent estacou ao ouvir o meu murmurar.

-O que disse?

-Estará fazendo um favor para mim acabando com tudo. Já estou cansada mesmo de viver nessa cidadezinha medíocre com pessoas medíocres fingindo que sou mais uma patética cidadã medíocre. –Laurent pareceu se divertir com minhas palavras. Soltou uma curta gargalhada.

-Fico feliz em saber que você percebe o quanto meu ato é generoso. Se os Cullen descobrirem que a matei e ficarem irritados com meu ato...

-Diga a eles o que estou lhe dizendo. Diga que eu quis, que praticamente implorei para que me matasse. –Meu sorriso era sarcástico. Isso deixou Laurent confuso. Ele certamente pensou que estava blefando com minhas palavras, mas deve ter ficado desnorteado ao ver que falava sério.

-Então... Vamos logo com isso. Estou com sede. –Ele caminhou um pouco mais rapidamente até mim.

-Ah! Laurent?

-O que foi?

-Diga a Victoria que o pior que pode fazer a Edward não é me matar. O pior seria, sem dúvidas, me transformar em uma vampira. –Ele pareceu tentar interpretar minhas palavras.

-Sim, eu direi isso. Não hoje. Não agora. –E então eu o vi. Ele viria me matar. Por alguns segundos pensei em todas as pessoas que deixaria para trás, todos os amigos, familiares, Edward... Edward. E então algo me ocorreu. Algo que eu não queria lembrar.

“-Mas gostaria de lhe pedir um favor, se não for demais...

-O que quiser.

-Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. Entende o que estou dizendo? Estou pensando em Charlie, é claro. Ele precisa de você. Cuide-se... Por ele.

-Vou me cuidar.”.

Eu havia prometido ao Edward que me cuidaria. Bem... E daí? Eu não estava fazendo algo imprudente. Um passeio em uma campina não era um ato imprudente, mas... Ser morta e simplesmente ficar parada, sorrindo, para o inimigo era.

Eu pensei em Charlie. Ele morreria com isso. Eu nem pude ajeitar as coisas com Jake e minha mãe... Ah! Ela ficaria arrasada!

Inconscientemente movi meu pé para trás. Laurent captou o movimento e simplesmente pulou em minha direção. Eu milagrosamente me esquivei e sai em disparada pela floresta atrás de mim.

Correr! Correr! Eu tinha que correr! Mesmo sabendo que meu esforço seria em vão. Eu tinha que lutar! Mesmo não sabendo por que ou por quem faria isso. Talvez finalmente eu tenha despertado o senso de auto-preservação que Edward alegava que eu não tinha.

O impacto veio com tal violência que demorei muito para perceber que eu não corria mais. Laurent jogou-me violentamente contra o tronco grosso de uma árvore a minha frente. Eu fiquei desorientada enquanto ele me erguia e me prensava no tronco, apenas uma mão em meu pescoço, meus pés não tocavam mais o chão.

-Pensei que havia aceitado a morte, Bella. O que foi isso agora a pouco? –Eu tentava respirar, tinha que me livrar do aperto de aço de sua mão em meu pescoço.

-Solte... Solte-me... Cretino! –Eu me debati. Laurent apenas sorria.

-Ora Bella não deveria me provocar! Eu disse que iria lhe dar uma morte rápida, mas se agir como uma patética humana teimosa eu farei com que sua morte seja bem lenta e dolorosa. É isso o que quer?

Eu não pensei muito no que faria para me livrar de Laurent, foi puramente instintivo. Quando dei por mim eu lhe soquei com o meu punho esquerdo e, como eu deveria ter imaginado, minha mão quebrou no seu rosto.

-Ahhhhhh! –Eu arfei com a dor, mas não tive tempo de senti-la. Laurent cravou seus caninos impiedosamente contra a jugular do meu pescoço, suas mãos seguravam minha cintura. Eu tentei lutar, mas o torpor me dominou. Senti algo me paralisar, me incapacitar.

Ouvi um ruído alto enquanto Laurent bebia de meu sangue, um uivo. Laurent afastou-se velozmente, eu caí sentada com as costas encostadas no tronco da árvore. Laurent olhava apavorado para algo que provavelmente vinha em nossa direção. Então eu o vi. Ele era enorme, tinha uma pelagem cinza, olhos negros, dentes grandes e afiados. O urso que todos pareciam temer, era ele! Não, ele não era um urso. Tinham coisas caninas nele. Estava mais para um lobo, um lobo grande. Como lobos podem ter esse tamanho? Por que Laurent estava tão assustado? Era só um animal, ele poderia matá-lo facilmente. O lobo se aproximou, feroz. Eu desejei torcer para que Laurent acabasse com ele, eu preferiria morrer vitima de Laurent a de um lobo daquele tamanho.

Eu queria correr, mas não me movia. Eu queria gritar, mas não tinha potencia na voz. Laurent abruptamente passou a correr como se estivesse fugindo de algo assustador, outros lobos apareceram. Tinham pelo menos cinco deles. O líder passou a correr e uivou como que chamando os de seu bando. Todos correram em direção a que Laurent estava. Apenas um lobo, grande de pêlos castanho-avermelhados, ficou. Ele me olhou profundamente com seus olhos negros. Havia algo em seu olhar de familiar. Eu tremi. Outro uivo quebrou o silencio da mata e então ele se foi com os demais.

Eu demorei alguns minutos para me recompor do pavor e para fazer meu corpo se mexer. Então eu estava correndo. Nem sei como agüentei correr tanto e tão rapidamente. Em nenhum momento eu tropecei enquanto corria. Eu deveria estar me sentindo cansada pela corrida, deveria perder o fôlego, mas estava tão desesperada para sair dali e voltar para casa que nada senti. Então eu vi a estrada e minha picape estacionada no meio fio. Eu sorri enquanto corria. Peguei as chaves do bolso do casaco rapidamente e abri a porta. Liguei o carro, o ronco do motor nunca for tão reconfortante como agora, e sai em disparada seguindo para casa.

-Estou segura. –Murmurei enquanto olhava para o espelho retrovisor e via um lobo, o lobo de pele castanho-avermelhada, parado atrás do carro fitando-me. Será que ele ira me perseguir? Matar-me? Ele voltou para o interior da floresta. Suspirei aliviada... E vi a mordida de Laurent em meu pescoço.

A dor veio tão intensamente que fiquei parada sem respirar. Quando ela voltou a me atingir eu gritei.

-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! –Puxei o volante para o lado, o movimento fez o carro capotar violentamente pela estrada. Tudo girava ao meu redor. Eu estava sem cinto por isso só pude sentir a dor que meu corpo recebia pelas batidas, o vidro cortando as partes em que passava rapidamente, as ferragens arrebentando-se e me perfurando. Quando o carro parou de capotar eu pude senti o cheiro da gasolina fluindo para fora. Senti uma queimação tomar conta lentamente de meu corpo, talvez o carro estivesse pegando fogo e as chamas tivessem me alcançado. Eu saí lentamente pela abertura da janela, meu corpo ia sendo cortado enquanto chocava-se com os restos de vidro. Eu estava muito ferida. Quantos ossos havia quebrado? Quantos cortes eu tinha? Quanto do meu corpo foi queimado pelas chamas que eu não via? Eu saí arrastando-me e me virei para olhar o céu. A dor me tomava, a qualquer momento eu iria desvanecer. Eu poderia morrer ou não. Não importava. O torpor me dominando. Com os lábios trêmulos e com gosto de sangue eu pronunciei sem esperar um ouvinte, quem sabe pela ultima vez...

-Edward... Eu amo voc...