Edward pov’s

As pernas não estavam sendo tão rápidas quanto eu desejava. O pior foi ter que cessar meus passos quanto me aproximei de Seattle. Jasper chegou minutos depois, tive de entrar no carro. Alice estava no banco da frente ao lado de Jasper.

-Acalme-se Edward. –Disse Jasper. Pude sentir algo tranqüilizador agindo em mim.

-Não perca seu tempo Jasper. Isso não vai ajudar em nada! –Falei exasperado. Olhei para Alice, ela estava com a cabeça baixa, os olhos comprimidos e as mãos em suas têmporas. Um turbilhão de cenas em sua cabeça.

-O que é isso Alice?

-Não sei Edward. Estou tendo muitas visões com Bella e todas ocorrendo ao mesmo tempo! É demais pra mim! –Alice estava desesperada, isso não era bom. Jasper colocou uma de suas mãos no ombro de Alice. –Obrigada Jasper. –Ela disse. Ele utilizava seu dom de tranqüilizar nela e em mim. O desespero não estava sendo aliviado pelo poder de Jasper. Algo muito ruim estava acontecendo a Bella, eu nem precisei das visões borradas de Alice para ter essa certeza. Meu corpo inteiro tremia. O sol ainda estava evidente, não poderíamos andar enquanto não se pusesse. Pouco me importava com o código estipulado pelos Volturi agora, o que eu mais queria era encontrar Bella.

A cidade estava como sempre esteve: movimentada. Minha impaciência atingindo níveis catastróficos.

-Acalme-se Edward. –Jasper disse enquanto estacionava em um local protegido pela sombra. –O que iremos fazer? –Ele perguntou olhando rapidamente para mim e Alice.

-Alice? –Perguntei. Ela, com suas visões, poderia saber onde Bella estava. Alice parecia exausta, sua cabeça ainda estava cheia de imagens sobre Bella difíceis de definir.

-Jasper, abra um pouco o vidro. Vamos seguir pelas ruas e tentar sentir seu cheiro. É o único meio. –Alice falou. Jasper fez o que ela pediu. Eu abri uma pequena fresta na janela ao meu lado. Seguimos lentamente pelas ruas. Por algum motivo meu desespero não se aplacava. Algo iria acontecer, eu poderia sentir. E então eu estaquei. Senti um cheiro de vampiro, mas não era de Bella.

-Jasper... Está sentindo? –Eu falei atordoado.

-Todos nós estamos, Edward. –Ele falou pesadamente.

“Há muitos vampiros aqui. Isso poderá confundir o cheiro de Bella.” - Jasper pensou.

-Não se preocupe. O cheiro de Bella é inconfundível. Apenas continue seguindo. –Eu disse. Havia muitos vampiros em Seattle, isso explicava a onda de homicídios que a imprensa noticiou. Bella era uma de nós agora, os vampiros não atacariam sem motivos. Ainda sim eu fiquei tenso, como se por obra de um destino cruel, Bella fosse se colocar no perigo. Eu queria ser positivo, eu precisava ser positivo para manter a calma, mas calma era algo similar a um fio de cabelo, em mim se partiria ao menor sinal. A quantidade de rastros de outros vampiros era alarmante. O Sol finalmente se punha, iríamos caminhar.

-Será que deveríamos nos dividir? –Jasper perguntou.

-Acho melhor ficarmos juntos por alguma razão. –Alice falou, parecia abatida, mas em sua mente não havia nada ligado a Bella. Ao menos não era uma visão. Quando saí do carro eu quase me esqueci que deveria caminhar como um humano, foi Jasper que me reteve segurando-me pelo braço.

“Edward acalme-se!”.

-Não me peça para me acalmar. Se Alice estivesse passando pela mesma situação você não iria querer encontrá-la rapidamente? –Falei entredentes. Jasper soltou meu braço. Tentei seguir a passos humanos pelas ruas farejando, Jasper e Alice estavam bem atrás de mim. Como Jasper previu, o cheiro de todos aqueles vampiros estava me distraindo. E então eu senti algo, um cheiro forte. Era ela!

Próxima a uma loja de departamentos eu senti seu cheiro, a cada passo que eu dava seu cheiro ficava mais e mais forte. Foi um esforço hercúleo para mim simplesmente caminhar a passos humanos. O cheiro, para minha profunda irritação, vinha de uma lixeira. Ela não estava lá. Abri a lixeira e encontrei a bolsa que Bella usava. Nela havia algumas mudas de roupa e fotos. Ela havia jogado tudo no lixo. Aquilo estranhamente doeu. Por que jogar as fotos de família? Estupidamente eu pensei o que Bella faria se tivesse algo meu com ela, como uma foto. Certamente rasgaria antes de jogá-la no lixo.  

-Nada bom... –Ouvi Alice murmurar. Do outro lado algumas viaturas e o carro do necrotério da cidade. Ela olhou para mim e repassou a imagem de Bella coberta de sangue humano.

“Foi ela, Edward. O cheiro de Bella vai naquela direção.” –Ela falou com pesar. Meu peito se encheu de dor. Eu fugi de Bella temendo que um dia, tomado por um egoísmo indesculpável, eu a condenasse a imortalidade. Temia que Bella se tornasse uma vampira sedenta. Meu pesadelo havia se materializado e eu estava entorpecido demais para pensar em uma solução em meio ao caos.

-Demorará mais se tentarmos seguir seu rastro. De qualquer forma não acho uma boa idéia nos aproximarmos do beco. Deve haver sangue. –Jasper falou e pude notar que ele mantinha sua respiração quase rarefeita como forma de se precaver. Mantive minhas narinas infladas para sentir o cheiro de Bella, um cheiro diferente estava impregnado em suas coisas. Era o cheiro de sua nova vida. Um cheiro ainda mais doce, como se o cheiro característico de Bella estivesse concentrado. Jasper e Alice sentiram o cheiro e seguimos a pé pelas ruas de Seattle. Meu nervosismo impedia-me de rastrear devidamente Bella. Contava com Alice e Jasper para que conseguissem algo. Enquanto seguíamos caminhando, farejando, eu pensava. Pensava em como seria encontrá-la, apenas para conter o surto de pânico que sentia. Quando a visse, não importando em que condições estaria, se estaria coberta pelo sangue de suas vitimas ou não, eu iria abraçá-la, sem me importar em controlar minha força sobre humana desta vez. Eu iria realmente tocá-la pela primeira vez, beijá-la pela primeira vez. Eu diria a ela tudo o que tenho a lhe dizer. Eu iria lhe dizer o quanto a amo. Uma voz quebrou meu momento de felicidade.

“Ela não vai querer ouvi-lo. Você a deixou se transformar em um monstro.”.  

“Não! Eu não fiz isso!”.

“Você fez sim! Sua negligencia causou a ruína de Bella! Você a tornou impura!”.

Enquanto minha mente travava uma batalha sobre minha culpa pelo ocorrido ouvi Alice ofegar ao meu lado.

-O que foi Alice? –Jasper perguntou perturbado pela expressão facial de Alice. Alice caiu de joelhos na calçada e parecia estar sendo vitima de alguma dor. Sua mente estava confusa, ela via Bella correr freneticamente, corpos de vampiros despedaçados, vultos cobertos por mantos. Era atordoador. Alice sofria, como se pudessem sentir tudo o que Bella estava sentindo no momento.

“Já está acontecendo! Edward! Corra! Ela está na floresta ao sul. Edward... Eu não quero perde-la! Se você não conseguir recuperá-la... Ela...” - Eu conhecia aquela expressão no rosto de Alice, um choro sem lágrimas. Quando dei por mim já estava correndo assim que toquei a margem da floresta.

“CORRA EDWARD! CORRA! VOCE TEM QUE CORRER! PELO SEU BEM E PELO BEM DELA! SÃO DUAS VIDAS QUE CORREM RISCO, A DE BELLA E A SUA, EMBORA A VIDA DELA TENHA REALMENTE VALOR! CORRA!” - Meu subconsciente gritava a plenos pulmões enquanto eu era apenas um projétil, Alice e Jasper me seguiam, mas eu estava à frente, eu sempre fui o mais rápido. Eu não queria pensar nas imagens borradas de Alice, eu não queria pensar em nada. Apenas queria pensar que logo Bella estaria comigo e tudo ficaria bem.

Havia muitos na floresta, um silencio sepulcral no local. Não era bom. Eu rosnei maldizendo meus pés por não correr ainda mais.

“Edward... São muitos!” - Jasper pensou alarmado.

-Eu sei. Procurem por ajuda, de Calisle e os outros.

-NEM PENSAR! Não podemos deixá-lo sozinhos! –Alice rosnou. Senti algo me atingir, uma dor. Não, eu não estava sendo atacado. Era a dor de Bella que estava se tornando minha dor. Bella estava em algum lugar e estava sofrendo, eu sabia, eu sentia. Quase não podíamos ouvir nada.

-Está vindo! –Alice disse e todos nós paramos em um solavanco. Ele era rápido e, como na visão de Alice, usava um manto negro.

-Saudações, cavalheiros e dama. Lamento, mas não poderão passar. –Ele disse com um leve sotaque. Eu escaneei sua mente, visões de restos de vampiros recém nascidos em pedaços, coletados e queimados em pequenas fogueiras. Eu podia sentir agora o cheiro de fumaça.

-Estamos à procura de uma pessoa. –Alice disse. –Pode nos dar passagem?

-Eu lamento senhorita, mas isso não será possível. –Agora eu sabia seu nome. Alec. Eu sabia também qual era seu talento, ele conseguia fazer qualquer vampiro adormecer graças a uma estranha névoa que era produzida pelo mesmo. Ele era um membro dos Volturi, eu sabia sobre essa família através de Carlisle e o quão perigosa é. Eu sempre fui o mais diplomático dos irmãos Cullen, eu precisava ser, mas a diplomacia me fugia agora. Certamente Alice sabia quem ele era, parecia estar tão cautelosa quanto eu. A realidade invadia Jasper pouco a pouco.

-Procuramos uma vampira, Isabella. Sentimos seu cheiro. –Eu falei.

-Lamento, mas todos os vampiros foram mortos e seus restos estão sendo consumidos pelas chamas agora. –Mas Alec vacilou. Uma vampira havia sido preservada, um rosto belo de acordo com sua opinião. Era ela. A imagem que ele carregava do semblante de Bella era a imagem que eu jurava ser do inferno. Bella caída após se duramente ferida. Um rosto comprimido pelo desespero. Antes que eu pudesse esboçar alguma reação Alec agiu. A estranha névoa emergiu e nos atingiu como um golpe. Jasper se interpôs entre a nevoa e Alice, foi o primeiro a ser atingido, Alice o abraçou quando este caiu inconsciente, ela desmaiou. Eu corri e passei por Alec. Bella estava próxima e viva, era como se eu pudesse ouvir as batidas de seu coração, seu perfume, seu calor... Eu não consegui. Alec corria ao meu lado e me envolveu em sua névoa. Enquanto caia eu chamei por Bella. Ela poderia me ouvir, eu queria que me ouvisse. Por que eu não a alcancei. Como Romeu enquanto tentava ficar com Julieta, um erro após o ouro. E era eu que errava, eu tinha errado desde que eu fui suficientemente egoísta e decidi permanecer ao lado de Bella sabendo que não poderia. A escuridão me tomou.