A Sombra do Norte escrita por Remmirath


Capítulo 6
O Início de Uma Nova Jornada




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A sombra e o elfo galoparam trocando poucas palavras e logo se viram livres das águas lodosas e do terreno lamacento, permitindo às montarias aumentarem a velocidade enquanto passavam pelas Terras Castanhas. Parando apenas o necessário para os cavalos durante vários dias, em que ambos estavam absortos nos próprios pensamentos na maior parte do tempo. Até que, em uma noite estrelada, a Floresta das Folhas Verdes, que há muito era só uma faixa no horizonte, começou a revelar sua magnitude.

— Sombra – chamou Legolas, atraindo a atenção na terceira vez que a chamou.

— Tudo bem, elfo, você já está testando minha paciência – reclamou ela, diminuindo um pouco a velocidade para emparelhar com o cavalo branco.

— De que forma devo então lhe chamar? – pediu o louro, ouvindo ela suspirar antes de olhar para o céu. Ele acompanhou o seu olhar, não encontrando nada além de milhares de estrelas brilhantes, até vislumbrar as sete jovens estrelas azuis conectadas por trilhas de material nebuloso.

— Remmirath(1) – murmurou a Sombra, o nome soando estranho em seus lábios já que há tanto tempo não o pronunciava. E então aumentou a voz, virando-se para ele. – Me chame de Remmirath.

— É um bom nome – Legolas olhou para o céu estrelado, deliciando-se com o brilho das estrelas que os elfos da floresta tanto amavam. – Não teria imaginado um melhor, minha Lady.

— Concordo. Se fosse depender de seu povo, quem sabe do que me chamariam – zombou a de orbes dourados, atraindo um olhar entre irritado e confuso do elfo. – Legolas, o Folha Verde, não é muito criativo.

— Felizmente essa Folha ainda perdura durante muitos outonos – declarou o príncipe da Floresta das Folhas Verdes, a cabeça erguida imponente observando a noite coroada pelas estrelas brancas que refletiam em seus olhos azuis.

Legolas Verdefolha – falou Remmirath, após um longo momento, e o elfo a olhou pensando que ela estava lhe chamando. - o bosque é teu lar. Alegre viveste. cuidado com o Mar. Se na praia gaivotas gritarem por ti, descanso jamais acharás por aqui.(2)

— Onde... como você sabe disto? – inquiriu o louro, aturdido. Aquelas eram as palavras que viviam ecoando por sua mente, podia até mesmo sentir a brisa do mar e as ondas que quebravam em praias longínquas quando estava perdido em pensamentos.

— Eu sei de muitas coisas da Terra-Média. Até mesmo as mais simples palavras transmitidas por um mago na narrativa de uma história podem ser úteis algum dia – respondeu finalmente ela, após vários minutos de silêncio, apenas com as patas ritmadas dos cavalos ecoando em seus ouvidos.

— Conhecia Mithrandir – aquela era uma afirmação do elfo, ao que ela acenou positivamente com a cabeça, esboçando um leve sorriso fechado. 

Legolas sorriu também, saudoso de seus dias com o mago cinzento que se tornou branco. Já havia lhe ocorrido que talvez a cor que ela usava teria alguma relação com o mago, também. Apesar de ela lhe lembrar mais um Nazgûl, um Espectro do Anel, do que um mago.

— Mais do que você imagina – acrescentou Remmirath, só fazendo borbulhar ainda mais os pensamentos do elfo. Bem, ele tivera muitos dias para confabular consigo mesmo. – Suponho que sua cota de perguntas tenha se esvaído, elfo, logo chegaremos em sua Floresta.

— Eu não lhe farei mais nenhuma hoje, se parar de me chamar de elfo – reclamou Legolas, balançando a cabeça. Por Eru, aquela cópia de Gimli já estava começando a perturbar.

— Combinado, Legolas – concordou a Sombra, divertida com a situação do elfo. – Mostre-se útil e encontre um atalho para o meu destino, há alguém me esperando.

— Outro que vai ser perturbado com agouros de um destino distante? – provocou o louro, voltando o olhar para frente com um leve sorriso sarcástico pairando nos lábios, provocado pelo olhar irritado que ela lhe lançou.

— Faça seu trabalho, elfo, quanto antes eu chegar, mais cedo vamos nos livrar de nossas companhias – avisou em tom frio a sombra, dando como encerrado o assunto.

— Certamente – assentiu o príncipe da Floresta Verde, observando a paisagem arborizada à sua frente.

Seu lar. Partira há tantos anos para criar uma colônia de elfos em Ithilien, com permissão de seu pai, para fazer com que as florestas e os jardins florissem novamente, que não fazia ideia de quantas saudades tinha de seu lar. Mesmo que fosse breve, gostaria de estar no salão do rei novamente, desfrutando da companhia de seu amado pai, descansar sob as copas das árvores que ele vira crescer desde bolotas, desfrutar da paz que agora o seu Reino alcançara. E desejava que a Sombra... Remmirath, também pudesse compartilhar dessa paz. Independente de sua raça, só o pensamento de quantas mortes ela sustentava já deixava o seu coração pesaroso. Era visível que ela havia sido presenteada com um destino negro. Não era a toa que a chamavam de sombra e sua presença trazia maus presságios. Ela precisava de algum descanso.

Mesmo que houvesse um perigo desconhecido despontando nos lugares esquecidos, que Legolas não mais desejava com tanto fervor saber o que era. Durante esses dias de reflexão, havia decidido não pressioná-la por respostas complexas, deixaria que ela mesma lhe falasse quando tivesse conquistado sua confiança. No momento, só conseguia pensar que deveria estar ao lado dela, como um amigo pronto para ampará-la quando precisasse, do contrario, talvez não conseguisse viver sabendo de tal condição que fora imposta pelos Valar a alguém tão... peculiar. Aragorn e Gimli, até Gandalf, teriam aprovado sua decisão. Afinal, sem seus amigos não teriam completado a missão da Sociedade e destruído Sauron, o inimigo dos povos livres.

Com o objetivo renovado, Legolas sorriu fechado, incitando Aerlinn a correr mais rápido, percebendo que acabara ficando para trás novamente. Passou o corcel negro, então, fazendo um desvio na rota em direção a um dos pórticos do caminho que seu povo traçara na floresta. Não demorou muito a chegar e ser obrigado a desmontar, para adentrar a trilha, a Sombra surgindo logo em seguida e o imitando. Era perceptível que aquele caminho não era usado há um bom tempo, então tiveram que andar, guiando os cavalos e dando-os palmadinhas de vez em quando, já que ficavam nervosos com o ar da floresta escura que ainda estava sendo recuperada.

Aquela era a Floresta Verde, com as copas das árvores enormes tão juntas que bloqueavam o sol e deixavam a trilha em quase um breu total, sons de insetos e das antigas árvores reverberando a sua volta, felizmente Legolas conseguia as entender e descobrir se havia algum perigo à frente. Ele esperava encontrar logo uma patrulha de elfos silvestres, ou mesmo os elfos de Lórien que agora habitavam daqueles lados, mas à medida que o terreno ficava mais íngreme, começou a ficar inquieto pela falta de vida – além das árvores – à sua volta.

— Então, quem vai encontrá-la, Remmirath? – o elfo quebrou o silencio com uma pergunta sussurrada, olhando para trás e só vislumbrando os olhos dourados entre as sombras, que se estreitaram.

— Um velho amigo – a sombra disse, e vendo que a trilha se alargara e reconhecia novamente o caminho, montou Rauthar. – E eu vou fazer um pequeno desvio de rota. Nossos caminhos se separam aqui, Legolas – fez uma breve reverencia com a cabeça para o elfo que a olhava desacreditado.

A sombra esporeou o corcel que passou galopando pelo príncipe, obrigando-o a pular para trás para não ser atropelado. Legolas observou sem reação enquanto o cavalo entrava em uma bifurcação à direita na trilha. Remmirath não olhou para trás.

 

 


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Notas finais do capítulo

[1] Remmirath , grupo de jóias capturadas em uma rede, uma constelação nos céus de Arda . É a constelação conhecido no mundo real como Plêiades ou Sete Marias.

[2] Aviso que Legolas recebeu de Galadriel por meio de Gandalf - que retornara da morte. Encontrado no livro.

Aviso-os que após vários anos aqui no site, deixarei o começo desta antiga fanfic apenas em degustação, já que utilizei algumas ideias e cenas dela para um livro original que venho trabalhando e reescrevendo desde 2016. Preferi trabalhar com personagens originais um universo que venho desenvolvendo há alguns anos, de forma que terei mais liberdade do que os padrões do universo do mestre Tolkien.
Para quem quer ler a fanfic completa, procure pelo mesmo na plataforma WATTPAD, estará disponível lá até segunda ordem.



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