Pov. Jack.

3 de outubro, 3:15am

Acordo com um salto, Soluço... Quer dizer, Hiccup (que besteira) estava com uma de suas mãos no meu ombro tentando me acalmar.

–Calma Jack, você está bem?

–Hum? Sim, sim, estou. - digo tentando recobrar os sentidos e fazer com que os batimentos cardíacos se acalmem.

–Não... - ele estende o "não" como que pensando. - você não está bem, os mesmos pesadelos de sempre?

Suspiro e olho para a lua grande, redonda e branca que se encontra logo acima de nós.

–Eu não posso mais ficar aqui, Soluço.

–Não é soluç...

–Hiccup. - jogo as mãos sem paciência para cima.

Ele sorri.

–Pode ir Jack, a gente aguenta aqui, somos Vikings não é? Mas, por favor, tente descobrir o que está acontecendo.

–Eu irei descobrir, tenho quase certeza de que meus pesadelos estão ligados a isso. - franzo o cenho - Não sei o por quê.

–Tudo bem, mas se você não descobrir, volte.

–Eu volto.

–E se descobrir também volte, enfim, me mantém informado?

–Mantenho. - digo me levantando e pegando meu cajado do chão.

–Pretende ir agora?

–Se possível - suspiro fundo - acho que alguns de meus pesadelos acontecem em tempo real, ou perto de ser tempo real.

–Eu queria poder ajudar.

–Você já ajuda muito ficando aqui e fazendo de tudo para a ilha não pegar fogo, vai por mim, é uma grande ajuda. - sorrio.

Ele ri um pouco.

–Vai lá, e volte!

–Eu volto cara, eu prometo! - rio, me lançando na corrente de vento e me dirigindo a floresta, não a de Berk.

Outra.

Uma ilha devastada e reconstruída pelo tempo, segundo meus pesadelos, com uma floresta que emana magia.

A mesma floresta onde estava a garota e o cavalo.

E a voz sombria.

E eu não faço a mínima idéia de onde ela fica.

~•~

Pov. Rapunzel.

3 de outubro, 10am.

Sozinha, apenas com minha frigideira e com o Pascal.

Meus cabelos de 20 metros de comprimento enroscam-se em tudo, cada galho, cada canto daquela floresta.

Mas estou tão animada por estar vivendo isso.

Eu dormi encostada em uma árvore, nunca pensei que isso aconteceria.

Ontem foi a véspera do meu aniversário, hoje é exatamente o dia do meu aniversário de 18 anos.

Minha aventura é algo estranho, tem um porquê estranho, sabe, aquela mesma sombra que ficava na minha janela me observando e eu fingia que não via, sempre ia embora quando a primeira coisa brilhante no céu aparecia.

Não era uma estrela, não.

Eu mapeei as estrelas, e aquelas coisas brilhantes apareciam no meu aniversário, e só no meu aniversário.

Por isso eu queria tanto sair, preciso vê-las de perto, preciso entendê-las.

É o meu sonho.

E eu não vou deixar que o medo me impeça.

Não dessa vez.

~•~

Encontro um lugar bonito, com um lago na frente de uma casinha, um restaurante chamado, como diz na placa, o patinho fofo.

Ótimo, estou mesmo com fome.

Abro a porta e me assusto com a cena.

Muitos homens reunidos, grandes, valentões, e uns até com sangue no bigode.

Todos viram-se para mim na mesma hora e eu aponto a minha frigideira para eles, enquanto dou alguns passos para sair de lá, mas alguém fecha a saída atrás de mim, me viro rapidamente para quem fechou a porta.

Um homem, mais ou menos da minha idade eu acho, alto e com olhos e cabelo castanho.

Ele é bonito.

Mas a situação em que estamos não ajuda em nada.

–Eai loirinha, o que faz em um lugar como esse? - ele toca no meu cabelo e eu rapidamente recolho ele todo e o seguro em minhas mãos.

–Nada, já estava de saída. - digo tentando não demonstrar fraqueza.

–Já? - ele indaga - Não vá, meu nome é Flynn Rider, como é o seu?

Os homens começam a se levantar e a fazer um círculo ao meu redor.

–R-Rapunzel. - respondo olhando para todos os lados.

–Nome interessante. - O tal Flynn responde. - o que acham rapazes?

Alguns concordam.

–Deveríamos tê-la como prisioneira, deve valer uma pequena fortuna, olhem para seus cabelos. - um sugere segurando um fio de cabelo meu que estava solto pendendo dos meus braços.

Recolho esse fio também.

–Me deixem em paz - peço - por favor, eu estou seguindo um sonho meu.

Muitos começam a rir.

Flynn fica apenas parado me olhando, sua face fica indescritível por um momento.

–Qual é? Vocês nunca tiveram um sonho na vida?

Alguns voltam a rir.

–Deixem ela ir. - Flynn diz do nada, fazendo todos pararem de rir.

–O que? - alguns falam ao mesmo tempo.

–Deixem ela ir. - ele repete.

–Desde quando você é o líder? - um pergunta.

–É, desde quando? - outro indaga.

–Alguém aqui o nomeou chefe? - outro.

Começam a ir para cima de Flynn.

Ele em um movimento rápido sussurra no meu ouvido.

–Corra.

Ele corre abrindo uma passagem e consegue passar por todos ali, apenas esqueceu que eu não sou tão rápida.

E ele vai embora, me deixando ali.

Há muitos homens com armas atrás de mim e bloqueando a porta, e eu não acredito que eu vou acabar como prisioneira.

Não acredito que não vou seguir meu sonho.

Mas as coisas raramente são o que aparentam.

E por um momento eu peço por alguém que me salve.

~•~