More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 32
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

(narrado por America)



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Acordei com a luz das janelas refletindo diretamente no meu rosto e com certa pressão na minha barriga. Baixei os olhos e vi o braço de Caleb por cima de mim, sua cabeça apoiada em meu ombro. O sofá nunca me pareceu tão pequeno.

Fiquei por algum tempo observando-o dormir e lembrando-me da noite anterior. Juro que pensei, quando ele apareceu à minha casa com aquela cara e com aqueles hematomas, que alguém tinha morrido. Dessa vez, Evan ficou num estado deplorável, não tenho dúvidas. E quando nós começamos a nos beijar, meu estômago deu loopings violentos, gritando “é agora, é agora, é agora”. Nós nunca tínhamos ido até o final e eu esperava que Caleb entendesse. Quer dizer, sexo não é o mais importante. E não é que ele não fosse a pessoa certa, porque era. Mas há um tempo certo pra tudo.

Ele despertou gradativamente e me olhou com aqueles olhinhos de japonês que faziam companhia às covinhas.

– Bom dia – a voz de sono inundando meus ouvidos e me dando vontade de voltar a beijá-lo.

– Bom dia, bela adormecida.

– Quantas horas?

– Tarde.

– Fiz você perder aula? – ele perguntou, preocupado. Ri.

– As férias estão deixando você perdidinho, ein? Hoje é sábado.

– Ah. – ele riu e abraçou minha cintura. – Nesse caso, podemos voltar a dormir.

– Não mesmo. Ainda preciso ir pra casa dos meus pais.

– Fica mais um pouquinho que eu te deixo lá mais tarde. – ele ofereceu e não pude recusar. Pegar ônibus todo fim de semana já estava me cansando.

– Caleb – levantei seu rosto até nossos olhos se encararem – o que exatamente aconteceu ontem?

Ele se espreguiçou e ergueu as sobrancelhas.

– Você quer mesmo conversar sobre isso?

– Aham.

Caleb revirou os olhos.

– Tudo bem. Eu estava vindo pra sua casa ontem à tarde e um idiota me fechou num cruzamento, quase estraçalhando meu carro. Então saí do carro pra tirar satisfação e quando vi quem era, perdi a cabeça. E você sabe como o Evan é, ele faz de tudo pra provocar.

Fiquei pensando no que Evan disse para ele a ponto de fazer Caleb enlouquecer. Apesar da minha curiosidade, não ousei perguntar.

– Estou preocupada agora. – murmurei.

– Acha que ele vem atrás de mim?

– Acho não, tenho certeza.

– Vai ficar tudo bem, Meri. Os mocinhos sempre ganham no final.

Solto uma gargalhada.

– Só nos filmes de Hollywood, meu bem. Na vida real, os mocinhos são mortos em alguma vala.

Apoio minha cabeça com as mãos enquanto sou observada por Caleb. Ele inclina seu tronco pra frente até alcançar meu pescoço e começa a me beijar, descendo da orelha até o ombro. Seus dedos descrevem círculos na altura da minha cintura, por baixo da blusa.

– Tenho uma coisa pra te contar. – ele diz.

Meu estômago revira. Caleb quase nunca avisa que vai me “contar alguma coisa”. Ele sempre diz logo de uma vez. Esse mistério todo me fez acreditar que era realmente importante. Ou muito sério.

Olho pra ele e ele está sorrindo, o que me acalma.

– O que foi?

– Ontem eu recebi um email do Instituto de Cancerologia de Manhattan – ele disse – e eles me chamaram para uma entrevista.

Seus olhos estavam brilhando de empolgação e os meus os acompanharam.

– Não. Acredito. É sério?

Ele balançou a cabeça para cima e para baixo, reafirmando.

– Ai meu Deus, Caleb, isso é maravilhoso! – eu o abracei e seus braços apertaram minha cintura – Eu estou tão feliz por você! Quer dizer, meu Deus... Manhattan! Não estou acreditando...

– E eu? – ele riu, se animando. – Bom, eu posso não ser admitido. Mas eu posso ser admitido também. Tô muito animado. Acho que hoje mesmo vou reservar minha passagem pra lá.

– E quando é a entrevista?

– Daqui a três semanas. Mas eu quero me organizar o quanto antes pra que nada dê errado.

– Nada vai dar errado, Caleb – eu disse, acariciando seu rosto com o dorso das mãos – você vai arrasar na entrevista, eles vão ver que você é um médico maravilhoso e vão te contratar. Sem sombra de dúvidas.

Ele sorriu.

– Meri.

– Sim?

– Eu te amo.

Aquelas palavras, tão inéditas aos meus ouvidos, soaram como música. E me dei conta de que seria minha música preferida dali em diante.

Sorrio de volta.

– Eu também te amo.

Caleb me beija até que meus lábios fiquem adormecidos e permanecemos ali, emaranhados no sofá, por mais alguns minutos. Quando meu pescoço reclama da dormência, me levanto e digo que vou trocar de roupa pra sair.

– Devo avisar meus pais que você vai almoçar com a gente?

Ele sorri.

– Com certeza.

E vou até o banheiro. Escovo os dentes, penteio o cabelo, pego o primeiro vestido de alcinha que avisto e mando uma mensagem pra minha mãe. Quando retorno à sala, Caleb já está me esperando em pé ao lado da porta. Descemos juntos as escadas e atravessamos a rua até seu carro, mas, assim que chegamos perto, deparo-me com a porta da frente coberta por arranhões horizontais. A pintura foi descascada barbaramente em diversos pontos. Giro meu rosto até ele e posso vê-lo mudar de cor.

– Meu Deus...

Ele respira fundo algumas vezes e troca o peso de perna.

– Meu Deus – repete – tudo bem. Tá tudo bem, eu resolvo isso depois. – me oferece um sorriso forçado e sua mão direita me impulsiona as costas.

Dou a volta e me sento no banco do passageiro, mas Caleb ainda demora algum tempo até entrar no carro, analisando o estrago. Quando ele se senta e coloca o cinto, posso senti-lo prestes a explodir, o que me preocupa. Caleb tem um rico histórico em perder a cabeça.

–Ei – coloco a mão no seu joelho e o aperto de leve. Sua expressão suaviza. – Tá tudo bem. A gente pode consertar isso depois, ok? – eu digo, e minha mão ainda está acariciando sua perna. – não é nada demais, Evan só quer irritar você. Não deixe isso estragar seu dia.

– Por que com você tudo é mais fácil?

Eu rio.

– Deve ser porque você me ama.

– Quem disse?

– Você mesmo.

– Opa. É verdade – ele sorri – mas não deixe isso subir à cabeça.

– Já subiu – e ele dá a partida.

Durante o trajeto, eu e Caleb ficamos conversando, rindo e cantando as músicas aleatórias que tocavam no rádio. E ele até se esqueceu da provocação de Walker. Depois de algumas horas e algumas ruas erradas, entramos no bairro em que meus pais moravam e pude avistar minha casa. Caleb ia estacionar numa rua perto dali, mas eu sugeri que ele guardasse o carro na própria garagem.

– Há duas vagas sobrando – expliquei – só por precaução.

– Que droga. Tinha até me esquecido disso.

– É, eu sei.

– Só tem um problema – Caleb declarou quando colocou o carro em ponto morto e eu perguntei qual era – não vou poder te beijar lá.

Eu sorri e cheguei mais perto.

– Você pode fazer isso agora – sussurrei, fechando os olhos.

Caleb soltou seu cinto e logo depois o meu, enquanto me beijava. Seus lábios deslizaram por meu rosto e desceram gradativamente. Meus dedos acariciavam seu cabelo quando ele mordeu minha orelha. Suas mãos corriam por minha barriga e sua boca por meu pescoço, e Caleb mesclava os beijos com sons abafados de “Ai. Meu. Deus. Como. Eu. Amo. Você”.

Ouço uma batidinha no vidro da janela. Abro os olhos e vejo minha mãe do outro lado. Caleb se vira e ela acena animadamente para ele. Posso ver suas bochechas ficarem da cor de sangue. Seu rosto gira novamente na minha direção e ele me lança um olhar desesperado.

– Acho melhor sairmos.

Concordo e descemos, e, ainda com as bochechas rubras, ele aperta a mão de minha mãe.

– Vocês jovens são uns danadinhos, ein? – ela diz e dirige seu olhar para mim.

– Desculpe, Sra. Dawson. A culpa foi... – Caleb começou, mas foi cortado por minha mãe.

– Poupe seus galanteios, Caleb. Eu não troquei suas fraldas pra você me chamar de senhora. É Alexandra ou nada pra você – ela sorri e o faz rir.

– Desculpe, Alê. Não queria que você pegasse a gente desse jeito. Foi um descuido daqueles, não vai acontecer de novo.

– Ah, mas eu já suspeitava... – ela me abraçou e riu – vamos, entrem. O almoço já está pronto.

Enquanto Caleb guardava o carro, Sammy correu até o quintal e pulou no meu colo. Entramos juntos, rindo, minha sandália repercutindo no chão coberto por tacos de madeira. Passamos pela sala, pelo corredor e fomos até a sala de jantar, onde meu pai já esperava sentado. Beijei-lhe a bochecha e ele me recebeu com aquele-sempre-sorriso seguido de “filha, como você está?”. Depois, se levantou e foi cumprimentar Caleb com um aperto de mãos. Almoçamos como uma família feliz e eu fiquei pensando que, finalmente, as coisas estavam se ajeitando.

Depois de comermos, meu pais começaram a relatar episódios épicos de quando éramos crianças e Caleb aproveitou o clima de união para dar a notícia de que estávamos namorando.

– Ora, ora, eu bem que esperava isso. Mais cedo ou mais tarde, eu esperava isso... – meu pai confessou, as mãos cruzadas por cima dos guardanapos. A perna de Caleb me empurrava sutilmente por debaixo da mesa.

– Acho que nós também. – Caleb sorriu pra mim.

– Que bom que estão felizes! – ele continua, com ar divertido – mas se, por acaso, o senhor machucar minha filha, juro que arranco sua genitália com um alicate.

– Pai!

– Derek! – minha mãe protesta, horrorizada – Isso são modos?

Mas Caleb apenas ri e olha para o próprio prato.

– Não, senhor. Isso não vai acontecer.

– Ótimo! Nesse caso, você pode até repetir a sobremesa.


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