More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 27
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

(narrado por Caleb)



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Fazia cerca de uma semana e meia desde que America tinha estado em minha casa. Neste intervalo, não tínhamos nos encontrado com tanta frequência. Ela, com inúmeros trabalhos a resolver e eu, enviando currículos a diversas empresas, centros de pesquisa e hospitais, cheio de expectativa em ser chamado para alguma entrevista. Eu tinha a ansiosa impressão de que minha vida, de fato, começaria.

Quando America me mandou uma mensagem, tirando-me de meus devaneios, lembrei-me de que não tinha feito nada de real significância para ela. E, poxa, eu vacilei com força. Então, numa terça-feira à tarde, enquanto eu estava imerso ao notebook, revirando páginas e páginas sobre concursos e empresas, decidi me dar ao luxo de um dia de folga. Devo satisfação a alguém? Não? Ok.

Entrei no carro e comecei a dirigir, primeiramente sem rumo. Mas acabei descobrindo uma pequena e afável floricultura, à esquina, recôndita e discreta. Me deparei com dezenas de opções diferentes e escolhi um buquê de tulipas arroxeadas, com a cara da Meri. Comprei e voltei ao carro, colocando as flores no banco de trás. Aumentei o som do rádio, “Hey Jude” encheu meus ouvidos e pulmões enquanto eu deslizava pelas ruas em busca do supermercado mais próximo. Meri adorava chocolates. Que tipo de ser humano não gosta, afinal?

Distraído, não percebi o sinal fechado, o semáforo vermelho em alerta. E quando notei, já estava em cima da faixa de pedestre. Freei com força e ouvi algo caindo no chão. Meu coração foi à boca. MEU SANTO DEUS, EU MATEI ALGUÉM? Voei do banco, abrindo a porta num solavanco e indo até o farol do carro, temendo o que eu veria.

– Meu Deus, você está bem? Se machucou? Precisa de um médico?

A mulher, caída de joelhos despidos, levantou toda olhos e sorrisos, mesmo com os arranhões que cobriam suas pernas.

– Ora, ora, ora. Quer me matar é?

Quando reconheci aqueles cabelos negros e a clavícula ressaltada, minha respiração ficou suspensa. E, à tona, dezenas de lembranças ruins.

– Caroline.

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Sentada no banco do passageiro, Caroline me observava descaradamente, o sorriso à mostra, junto às pernas machucadas.

– Você não costumava ouvir Beatles. – comentou, a sensualidade se esvaindo dos lábios.

– As coisas mudaram. – respondi, dentes semicerrados, me obrigando mentalmente a não olhar para o lado.

– Não seja grosseiro.

– Impressão sua.

Ela olhou para trás, checando o carro.

– Tulipas? Você nunca me deu tulipas.

– Você não gostava delas. Você gostava das begônias. Begônias vermelhas.

– Uau. Você se lembra.

– É.

– Era um excelente namorado...

Era. – respondi, a prontidão para mudar de assunto explícita. – São para Meri.

– Presumi.

– Precisa ir ao hospital?

– Não. Não, foram só arranhões. Mas eu gostaria de um café.

– Tem cinco dólares na minha carteira, em cima do...

– Com café, quis dizer a sua companhia ao tomar café.

Engasguei. Ou tossi, não sei dizer.

– Não acho que seja uma boa ideia.

– É o mínimo que se pode fazer depois de quase ter me matado.

– Certo. – concordei, ríspido e seco.

– Sem negociações ou trocas.

– Por que você não vai tomar um café com o cara que você transou, ein? – soltei, o peito inflando num súbito acesso de raiva. Fulminei-a com os olhos.

– Está sendo grosseiro.

– Quer saber de uma coisa? Estou sim. E tenho o eterno e completo direito de ser grosseiro com você.

– Eu sei que eu errei, mas...

– Sabe mesmo?

– Sei.

– E você tirou essa conclusão sozinha ou precisou de ajuda?

– Ca, você tem que entender que...

– Tenho que entender DROGA NENHUMA. E não me chame assim, não temos merda de intimidade nenhuma ou espaço para apelidos. E já conversamos sobre isso, não há necessidade de mais NADA... Eu te machuquei e não deveria ter avançado o sinal, e eu te peço perdão, mas não precisa ser brecha pra outros tipos de conversa.

Caroline fez menção de chorar e meu coração se apertou. Mas, pelo orgulho, mantive-me inalterável, os músculos tencionados e o queixo erguido.

– Eu só quero um café. – reafirmou, a voz embargada.

Respirei fundo.

– Dez minutos. – e voltei a dirigir.

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– Vai querer o que? – perguntei, dando a ela o cardápio.

– Cappuccino expresso. E você?

– Não quero nada. – respondi, tamborilando os dedos na mesa de madeira.

– Qual é, não faz doce. Eu pago.

– Tampouco quero isso.

– E então, meninos? – Perguntou a garçonete.

– Traz dois cappuccinos expressos pra gente. – ela resolveu, e eu suspirei, impaciente.

– E então? – disse, por fim. – o que tem a dizer?

– Quero pedir desculpas, por...

– Desculpas aceitas. – interrompi. – mais alguma coisa?

– Eu sei que o que eu fiz não tem perdão, Caleb. – ela disse, os olhos negros encarando os meus com uma intensidade impressionante. – E eu sei que você está bem agora, mas é que eu não consigo esquecer você.

– Caroline. Primeiro, é muito injusto, da sua parte, dizer que eu “estou bem”. Acha que ainda não dói? Acha que não sinto nada? Pois não é assim não. Mas eu perdoei sim. Esquecer, nunca, mas que perdoei, perdoei. E achei uma pessoa que me faz e me ama tão melhor que você. Não é justo você aparecer agora e...

– Mas eu não apareci. – ela riu. – você é que me atropelou.

– Você entendeu. – Falei, na defensiva.

– Tudo bem, Caleb. – respondeu, torcendo a barra da jaqueta com as mãos. – Tudo bem. É só que...

– É só que o que?

Caroline me olhou por longos e intermináveis segundos, até que se jogou nos meus lábios. Por cerca de míseros instantes, milhares de lembranças e sensações vieram à cabeça, a indecisão alagando meu ser. Mas então, pensei na Meri. E ela fez com que toda a situação tomasse outro rumo.

Empurrei-a para longe de mim.

– Qual é o seu problema??

– Caleb... – murmurou, mas eu já tinha me levantado e dado as costas, convicto a sair dali o mais rápido possível.

Foi quando vi uma sombra bisbilhotando pela porta lateral do estabelecimento. Assim que me viu, saiu correndo, não me dando oportunidade para descobrir quem era.


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Notas finais do capítulo

É isso aí, gente (: se gostaram, deixem reviews, que eu responderei prontamente!



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