Evan não voltou à faculdade depois da formatura como Caleb, que encontrava os amigos depois da aula. Imaginei que ficou um tempo sem aparecer por causa dos hematomas no rosto (e, hm, no resto do corpo também). Fiz as provas de Sociologia e Filosofia da Educação na segunda-feira, e o restante das provas ao longo da semana.

Na quinta-feira, na hora do almoço, resolvi ir ao restaurante italiano na extremidade esquerda da Universidade. Nunca fui muito fã de massas, pra ser sincera, mas não sei o que deu em mim. Enquanto caminhava pelo campus com passos desapressados e arrastados, fui observando todos à minha volta. E vi tantas coisas erradas que nunca tinha me dado conta antes, que fiquei assustada. Fiquei ainda mais assustada quando pensei que, talvez, eu fosse a única a perceber.

Distraída, olhando para os lados, acabei esbarrando em alguém com força. Virei-me e vi uma garota de intensos olhos castanhos por detrás dos óculos.

Os livros e cadernos caíram no chão.

– Ai meu Deus, me desculpe. – lamentei, abaixando-me e juntando os papéis.

– Não, tudo bem.

Quando ela se agachou, algo escorregou para fora da blusa e pendeu de seu pescoço. Um colar parecidíssimo com o que Evan me “presenteou”. Um arrepio correu pelo meu corpo.

– Desculpa mesmo. Eu estava distraída.

– Tudo bem. – respondeu. Sua voz era doce e tímida. – Eu costumo ser mais desastrada.

Fingi um riso.

– É porque não me viu bancando a garçonete. Ah. – exclamei. – bonito colar.

A morena tocou-o e sorriu. Pelo visto as lembranças eram boas, ao contrário das minhas.

Seus cabelos caíam em cachos pelos ombros. A boca era cheia e perfeitamente contornada, que todas as mulheres matavam para ter. Usava um casaco de moletom azul e calças compridas.

– Obrigada. Ganhei de presente. Seu cabelo é lindo. – retribuiu o elogio.

Fiquei tentada a sair correndo, mas algo em minha cabeça gritava “que droga, Meri! Faça alguma coisa! Conte a ela, não seja como todo o resto!”.

– Obrigada. Ahn. Você faz qual faculdade?

– Psicologia. – respondeu. – entrei esse ano.

– Pedagogia. – ri. – também entrei esse ano.

– Quase a mesma área! – respondeu, empolgada. Tive a impressão de que ela não tinha muitos amigos.

– Engraçado eu nunca ter te visto por aqui. Qual seu nome?

– Candance – respondeu – e o seu?

– America.

– Que diferente... – comentou, mas pensando que talvez poderia ter me ofendido, completou: - Mas é lindo!

Dei de ombros, rindo.

– Todos dizem. E aí? Já foi almoçar?

– Não... – respondeu, um pouco sem graça. – Na verdade eu estava indo agora mesmo.

– Ótimo. – sorri, passando o braço sobre seus ombros. – Gosta de comida italiana?