Eu estava sentindo um estranho frio na barriga.

Minhas roupas estavam todas espalhadas pelo junto com alguns pares de sapato. Eu estava com meia maquiagem pronta e alguns bobs no cabelo. Resumindo, uma bela de uma bagunça. A pior parte de um primeiro encontro é essa: a ansiedade de parecer o seu melhor para aquela outra pessoa. É horrível. Todavia, minhas amigas achavam essa cena muito engraçada e rolavam de rir.

— Deixem de rir de mim! – exclamei com um bufo irritado. – Isso não é engraçado.

— Claro que é!

Rolei os olhos.

Finalmente escolhi o visual, que era bem simples. Como estávamos em um período ameno, pus um vestido branco curto, sem mangas, meias-calças igualmente brancas e um salto pequeno; nada que fosse muito exagerado ou extremamente comum. Estava na medida certa. Quanto a maquiagem, terminei de passar o rímel e, graças ao bom Merlin, sentia-me pronta. Respirei fundo, esperando que o encontro desse certo.

— Que horas são?

— Uma e quinze da tarde, por quê?

— O quê? - arregalei os olhos. - Isso significa que eu estou atrasada!

— Pelo amor de Deus, Leth. - Dorcas rolou os olhos. - Relaxe!

— Dorc, deixe eu explicar a situação. - murmurei lentamente. - Eu esperei meses, meses, para que o pateta do Arthur me chamasse em um encontro. Não posso simplesmente o deixar esperando e desperdiçar minha chance. Além disso, nós somos ingleses, for God's sake!

Tanto Lily quanto Dorcas balançaram a cabeça, reprovando meu discurso. Engoli garganta a baixo a vontade de estrangulá-las, já que eu não tinha tempo para aquilo. Rapidamente eu retirei os bobs do meu cabelo, deixando os bem delineados cachos caírem nas minhas costas. Não havia mais nada a se fazer em minha aparência.

Desci os dois lances de escadas devagar, já que machucada eu não chegaria a lugar nenhum. Quando cheguei ao salão comunal, avistei um trio de meninos rindo alto e conversando entre si. Não duvidava que os tópicos não passavam de quadribol e mulheres, já que para eles eram os assuntos mais interessantes da face da terra. Gritei um oi para os marotos e corri para não perder ainda mais a hora.

Os cabelos loiros do meu encontro brilhavam ao Sol.

— Sinto muito pela demora, Arthur. - Expressei com um ar culpado. - Simplesmente perdi a hora.

— Sem problemas! - piscou. - O importante é que você está aqui.

Sentei-me sobre a toalha quadriculada que estava estirada no chão e ele me acompanhou logo depois. Com assuntos banais, finalmente entramos em uma conversa saudável. Contou-me sobre sua família, tradições e soube de cara que ele era um rapaz doce. Garotas são mesmo estúpidas, não? A medida que ficava mais íntima dele, não entendia como todas as garotas de Hogwarts não estavam lambendo seus pés. É claro que boa parte era maluca por ele, mas o garoto não chegava nem ao dedinho do pé do James ou do Sirius. Eles possuiam um poder magnetizante incrível.

Bando de sedutores baratos.

Principalmente Sirius.

Ok, por que exatamente estou pensando sobre o traste do Sirius no momento de ápice do meu encontro? Era loucura mesmo.

Soltei um pequeno suspiro, balançando a cabeça e pedindo para que Arthur repetisse o que havia dito.

Pressenti que uma boa tarde estava vindo.

~~

Eu não estava nada feliz de saber que Lethícia estava saindo com o Arthur. Quero dizer, ele não serve para ela! Ele era mais falso que uma nota de três libras. Seu jeitinho educado e polido de falar com todo mundo e as ajudar me fazia querer socá-lo. Claro que é certo tratar bem as pessoas, mas aquilo era exagero! E aqueles olhos pidões azuis e os estúpidos cabelos louros? Droga, ele era um grande filho da puta!

Eu estava indignado com aquela situação.

Vamos admitir: quem escolheria o Arthur quando podia me escolher?

— Sirius!

— Que foi, James?

— Posso saber que planeta você habita?

— O planeta que está muito puto porque a Lely saiu com o Arthur.

James gargalhou alto, jogando uma almofada em mim, desdenhando:

— Parece que alguém está com ciúmes.

— Estou indignado!

— E com ciúmes.

— Por que diabo ela escolheu ele?

— Bem...

— Ah, cala a boca, James!

— Mas...

Impedi que ele concluísse a frase, já que isso só nos faria brigar. Nunca que eu admitiria que aquele babaca é melhor para ela. Deixei o dormitório irritado, precisava respirar um ar puro e tentar esquecer o fato de que o novo casal estava junto. Porém, assim que cheguei ao fim dos degraus da escada, vi uma cena que fez meu estômago revirar e uma súbita ânsia me atingir: Lethícia e Arthur. Ele estava com as mãos nojentas na cintura da morena, que por sua vez acariciava seu pescoço. Não acredito que eu desci justamente quando esses dois resolveram se beijar.

Subi aos tropeços de volta ao dormitório, ou não responderia por mim e acabaria matando alguém. E sim, estou agindo como uma menininha de onze anos em relação a isso. Não conseguia evitar. Lethícia simplesmente... Ela me causava isso, essas sensações estranhas. Ficava suado, confuso e nervoso sempre que se aproximava de mim.

Eu a amava.

E isso me corroía por dentro.

~~

Alguns minutos depois, Arthur entrou com um sorriso de ponta a ponta na boca. É óbvio que ele estaria assim, já que conseguiu um encontro com ela e beijou aquela boca rosa.

Damn!

Eu estou cansado disso! De agir como uma maldita garotinha de quatorze anos que acha que está perdidamente apaixonada pelo capitão do time de Quadribol. Não vou me deixar ser tão ridículo a ponto de me humilhar dessa maneira. Não mesmo.

Isso não é do feitio de Sirius Black.

Estava na hora de voltar a ser quem eu era.

— E então, Arthur? – James indagou.

— Não vou falar do meu encontro com a sua irmã, James. – ele riu, se despindo.

— Ah, conte-me!

Ele gargalhou.

Eu seria expulso se tentasse estrangula-lo?

~~

Eu estava maravilhada.

Sem palavras.

O encontro correra perfeitamente bem, nós conversamos, rimos e comemos. Tudo como deveria de ser, em todos os momentos certos, nada nem um pouco imprevisível... Certo, nesse aspecto, ele me decepcionara. Poderia ter rolado um pouquinho mais de emoção, mas ele certamente compensou com o beijo que me dera quando voltamos a gryffindor.

Aquela boca, o jeito que segurara firmemente minha cintura enquanto sua boca brincava com os meus lábios, eu ainda estava procurando o ar.

— Lethícia?

— Sirius?

— É.

Ele parecia irritado, embora também me parecesse bastante chateado. Indaguei-me o que lhe levara a ficar dessa maneira e logo em seguida verbalizei meus pensamentos. O garoto me encarou profundamente, por questão de apenas segundos, e eu senti um arrepio correr pelo meu corpo. Ele desviou o olhar e não respondeu. Eu também não insisti.

Permaneci ao seu lado por mais um tempo, até o ar da sala se tornar palpável de tão pesado.

— Olhe, eu vou subir, estou cansada. - sussurrei. - Se precisar de algo, me chame.

— Tudo bem. – ele deu de ombros.

Observei seu estado lastimável e o abracei, dando um beijo suave em sua bochecha. Depois, enquanto subia as escadas, refleti minha ação e não a entendi direito.

Eu com certeza estava ficando doida.