I Wish You Love escrita por hatsuyukisan


Capítulo 19
Capítulo XIX


Notas iniciais do capítulo

Nããããão me matem Ç_Ç



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“A neve canta na noite

Enquanto eu lembro de você

Congelado dentro deste quarto

As memórias que esvaecem são quase deslumbrantes

E eu sou devastado em solidão”

Os inconfundíveis cabelos escuros espalhados no chão, a pele branca. Pavor. Tomou nos braços o corpo gélido e correu o mais rápido que pôde.

Ela sentiu o chão girar um pouco, calor e não mais frio, um perfume, algo lhe prendia pelos ombros. Não, não prender. Yuki entreabriu os olhos que notou que eram braços que a envolviam. Ela recobrou a consciência aos poucos, tentando descobrir onde estava. Não se moveu. Aspirou a fragrância agradável que a pessoa que lhe abraçava exalava. Nostalgia. Imediata, instantânea. Só uma pessoa tinha esse cheiro. A morena sentiu uma onda de calor invadir seu peito. Era a última pessoa que ela esperava que estivesse ali, mas ele estava. Ela voltou a fechar os olhos e aconchegou-se ao peito dele. Era quase surreal. Era exatamente o tipo de proteção que precisava naquele momento. Velha, enferrujada, mas sincera. Lembranças boas invadiram os sonhos da vocalista, aquecendo ainda mais o seu corpo naquela cama conhecida.

Ele se mexeu de leve, despertando aos poucos do sono que o envolvia. Abriu os olhos e viu-a se remexer um pouco, com os longos cabelos escuros caindo sobre o rosto. Passou a mão sobre as mechas castanhas, afastando-as dos olhos dela. Ela suspirou e abriu os olhos. Seus olhares se encontraram. Ele hesitou por alguns instantes, mergulhando no fundo os orbes brilhantes dela, esperando uma reação. Um sorriso frágil se esboçou nos lábios dela. Ele não a soltava. Sorriu também.

-Tá tudo bem? – ele perguntou baixinho.

-Uhum. – ela balançou a cabeça. – Tá.

-Quase me matou do coração, menina.

-É. – ela sorriu. Era bom ouvir aquela voz – Como foi que você me achou?

-Eu fui até a conveniência comprar suco e aí passei por lá. Você é doida, sabia? Podia ter morrido.

-Eu sei. – ela sorriu tristemente.

-Não vou te perguntar por que você estava lá. Não se preocupe.

-Não quero falar sobre isso. – ela voltou a esconder a cabeça no peito dele.

-Eu sei. – ele acariciou-lhe os cabelos. A campainha soou ao longe.

-Vou ver quem é. – ele disse.

Ela suspirou decepcionada ao sentir os braços dele saírem de sua volta. Ele saiu do quarto a passos lentos e ela ficou ali. Revirou-se na cama. Agora tinha plena consciência de onde estava. E Deus como era bom estar ali. Yuki ignorou as vozes vindas da sala. Levantou da cama e viu-se usando um moletom cinza e confortável, dele, com certeza. Seus pés descalços tocaram o chão. O frio do tatami não pareceu lhe incomodar. Ela olhou em volta, respirou cada lembrança que tinha daquele lugar. Andou em volta do quarto pequeno passando os dedos pelas paredes como se pudesse sentir as memórias incrustadas nelas. Parou diante da mesa encostada na parede. A superfície coberta de papéis rabiscados, aquela grafia conhecida. Yuki sorriu sozinha. Percebeu uma foto debaixo dos papéis. Puxou a fotografia pela pontinha que sobressaía debaixo do monte de folhas. Olhou pro retrato e lá estavam os dois: ela beijava a bochecha dele e ele sorria, ambos abraçados, vestidos com casacos grossos de neve, no backstage de um show em uma cidade qualquer, felizes. Ela, Yuki, e ele, Hizumi.

Yuki recordou tudo o que passara com ele. Cada instante, cada beijo, cada sorriso, cada lágrima, cada discussão, tudo. Lembrou das noites em claro, chorando, sem notícias dele, sentindo falta do homem que amava. Sim, porque se chorava era porque o amava. Lembrou daquela manhã cinzenta em Berlim, dos olhos marejados dele enquanto dizia que sentia sua falta. Lembrou do sol batendo nos cabelos dele enquanto ele ia embora naquela manhã em Kamakura.

- A gente não sabe se algo deve durar pra sempre até que dure, Hizumi. – ela disse, levantando – Eu preciso ir.

Se considerasse o tempo que ele passou nos Estados Unidos, o relacionamento deles durara quase seis anos. Ele era o único com quem Yuki baixava a guarda. Lembrou-se do exato dia em que botou seus olhos nele. Naquele mesmo instante, Yuki soube que nunca mais seria a mesma. Ele era um completo canalha mas Yuki não conseguia deixar de sorrir quando ele a abraçava e inventava uma desculpa esfarrapada por ter voltado tão tarde de um ensaio. Ele podia ter mil mulheres, mas Yuki precisava ser uma delas. Yuki não soube dizer quanto tempo ficou ali, com a foto na mão, pensando no quanto ele a fazia se sentir viva. Ela balançou a cabeça e despertou de sua viagem no tempo quando o viu entrando no quarto.

-Yuki... – ele se calou ao vê-la com a fotografia nas mãos.

-Você lembra que cidade era essa? – ela perguntou, quando ele se aproximou.

-Yokohama. – ele respondeu, observando a foto e sorrindo.

-Hizu... – ela olhou nos olhos dele. Não disse mais nada.

Ele a abraçou. Ela sentiu os braços dele se fecharem em volta de si, com carinho e com firmeza. Abraçou-o pelos ombros e sentiu o peito doer. Era todo aquele peso que carregava, implorando para ser vomitado de dentro de sua alma. Ela suspirou aliviada e deixou que toda aquela dor transbordasse na forma de lágrimas. Ela soluçava e ele lhe acariciava as costas como se a ajudasse a se livrar de tudo aquilo que mantivera trancado dentro de seu coração. As lágrimas dela escorriam incessantemente e molhavam a camiseta dele, enquanto o desespero a fazia afundar os dedos nos ombros dele. O choro dela foi acalmando. Ele beijou-lhe os cabelos, fazendo com que as lágrimas finalmente cessassem. Hizumi segurou o rosto de Yuki entre as mãos e enxugou as últimas lágrimas que teimavam em rolar.

-Tá tudo bem... – ele encostou a testa na dela. – Vai ficar tudo bem.

Pronto. Paz. Era disso que Yuki precisava. Precisava de alguém que realmente amasse e que fosse capaz de olhá-la nos olhos e dizer que tudo ia ficar bem. Precisava de alguém que conhecesse todos os seus defeitos e os admirasse justamente por ter os mesmos defeitos, alguém que conhecesse também todas as suas qualidades e soubesse julgá-las e admirá-las da forma mais sincera possível. Precisava de um confidente, de alguém de quem não pudesse esconder nada, de alguém que a fizesse escancarar seus sentimentos mais escondidos. Precisava dele. Precisava de Hizumi.

Precisava de sua alma gêmea. Ninguém, nenhum dos homens que passara pela vida de Yuki, tivessem eles sido de suma importância ou simplesmente casos quaisquer, nenhum deles era como ele. O individualismo exagerado de Yuki, sua prepotência e egocentrismo viviam machucando todos à sua volta, menos ele. Ele era o único com quem Yuki sentia de fato vontade de dividir cada suspiro. Ele era o único cuja presença nunca era dispensável. Olhar pra ele era como olhar para um espelho. Yuki via tanto de si dentro daqueles olhos escuros e tinha certeza que ele também via muito de si nela. Ela o conhecia como a palma de sua mão, conhecia seus medos, seus anseios, seus sonhos, sua voz, seu cheiro, sua vida. E não era diferente pra ele.

E agora Yuki se via sorrindo, com o rosto ainda úmido, refletida nos olhos dele.

- Por que é que eu não consigo não amar você, garota? – ele disse, sorrindo.

- Porque eu não consigo não amar você. – a morena encostou a cabeça no peito dele.

- Argumento válido. – Hizumi riu um pouco e passou os dedos pelos cabelos longos da moça.

- Você não muda nunca. – Yuki riu também.

- E nem você. Graças a Deus. – ele sorriu e beijou-lhe os cabelos.

- Quem era na porta?

- O Karyu, me enchendo o saco pra variar. Ele tá morando do outro lado da rua, vive batendo na minha porta.

- Eu imagino. – ela riu.

Não soube dizer por quanto tempo ficou olhando para ele, relembrando cada traço de seu rosto, pensando no quanto se sentia vazia sem ele em sua vida. Mas agora não mais.


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Notas finais do capítulo

i.i reviews mesmo assim, tá? sei que fui malcriada mas poxa *chora*

Ps: a música do começo é "Kogoeru Yoru ni Saita Hana" do D'espairsRay [http://egohabitat.com/word/lyrics/despa-kogoeru.htm] aqui tem a letra dela em inglês, pra quem quiser ler. Recomendo *-*



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