Não demorou muito tempo até que a sala comunal começasse a esvaziar. Uma das vantagens do primeiro dia do ano letivo, todos estavam cansados e já haviam posto as primeiras notícias em dia. Finalmente a sós, pensou Tiago. Não sabia bem se realmente devia prosseguir com o que vinha pensando durante o fim de cada dia desde que voltara para casa para as tão esperadas férias de verão. Só sabia que as chances estavam se esvaindo e ele precisava de uma resposta ou a dúvida o corroeria.

Era estranho observá-la dormindo em uma poltrona de uma forma tão tranquila quando há algum tempo tudo o que ele queria dela era distância. Era não estranho engraçado como as coisas mudaram. Ele sabia o que sentia. Sabia que era forte. Bem mais forte do que com as outras garotas com que ficara. De alguma forma, que ele não sabia explicar, mas entendia bem, queria ela ali, junto dele, enlaçada em seus braços, corpo sobre corpo, uma única alma. E ele, Tiago Potter, um dos maiores pegadores que Hogwarts já viu não sabia o que fazer.

– Lily...? - Murmurou balançado seu ombro levemente. - Lily...? Vamos subir já está tarde.

– Hm... Potter? - Acordou assustada ao ver que estava sozinha com ele na sala e se ergueu rapidamente e ambos ficaram um de frente para o outro. E, Tiago pensou como era incrível o poder que aqueles olhos verdes faziam com ele - O que...? O que raios pensa que está fazendo?

– Como?

– Não seja cético. Esperou que a sala se esvaziasse. Por quê?

– Não está pensando que eu vim aqui para armar alguma para você, está?

– De você eu não espero nada, Potter- respondeu ela em tom rígido. - Se não foi para isso para que foi então? Logicamente não foi só porque ambos dormimos e ficamos sozinhos aqui.

– Não... Eu só queria te perguntar uma coisa sem que todos estivessem aqui bisbilhotando.

– Pensei que você gostasse da sua vidinha tão... Pública.

– Não, espera Lily, está me distraindo do que quero dizer!

– Então diga. Perdi muito do meu tempo esperando que...- ela não teve tempo nem de terminar o que estava dizendo e foi agarrada pela cintura pelo garoto. Ele a enlaçou em seus braços e a beijou, sabia bem o que poderia acontecer a seguir, mas não ligava. Sentia que todo o mundo ao redor sumira e só havia um chão sob seus pés. E tudo o que importava era não soltá-la, mas ela resistia. E então a soltou e foi como uma explosão em câmera lenta. Lily começou a ficar vermelha e pronta para gritar. Mas, interpelando-a novamente ele simplesmente perguntou sobre seu próximo passo.

– Lily, você quer ir a Hogsmeade comigo?

– O quê?! Você realmente acha que eu sairia com você depois de tudo o que me aprontou e depois de ver como você trata todas as garotas com que sai? Você acha que só por que todas as garotas neste lugar gostam de você não pode haver uma exceção? Não. Não aceito. Prefiro sair com pessoas menos arrogantes e que não sentem o impulso de azarar quem querem nos corredores! Não vou ser mais um troféu para você exibir em toda a escola! - Ao terminar de cada frase ela parecia conseguir altear a voz mais. E Tiago não sabia como responder a tudo aquilo, mas sabia que era previsível. Se aquele fosse o único jeito dela dar atenção a ele e saber se ela sentia algo por ele assim seria. Não era como ela dissera. Ela não era mais um troféu. Era mais do que isso, e ele ia fazer com que ela entendesse isso.

– Bom, como diz aquele ditado trouxa “nunca diga nunca”. Um dia você vai ver que não é só um troféu para mim, ou uma garota qualquer, vai entender. Porque eu havia te dito hoje mais cedo “Acho que no fundo você saiba, talvez não entenda por que não crê, mas sabe que é real”. Tenha uma boa noite, Lily. - E a deixou na sala com o rosto vermelho de raiva, mas com ar de perplexidade.

Na manhã seguinte tudo o que Tiago queria era dormir mais um pouco, mas parecia que um Sirius acordado demais estava com ânimo para acordar a torre inteira o que era estranha já que em geral ele que era o pior de ser acordado.

– ACORDA PONTAS! - Gritou o maroto jogando um travesseiro no amigo.

– Sabia que estamos mais do que adiantados para o café da manhã? Entendo que sua fome é algo que não se deva provocar, mas as palavras “eu-não-me-importo” te dizem alguma coisa? - Resmungou Tiago.

– Na verdade... Não!

– Ah vai arranjar o que fazer Almofadinhas.

– Tá todo mundo acordado menos você, e você sabe as regras o último a acordar é o que deve sofrer uma consequência.

– E quem disse isso posso saber?

– Eu. Simplesmente pelo fato de que sempre que eu, e somente eu, acordava por último vocês se sentiam na autoridade de jogar um balde d’água em mim ou soltar explosivos nos meus pés... Vingança!

–... Nunca é plena mata a alma e envenena! Lembre-se disso. - Disse erguendo-se da cama e procurando a varinha e os óculos caso o amigo tentasse alguma coisa.

– Mas, como o titio Sirius está bonzinho você só vai ter que me contar o que aconteceu ontem. Porque os gritos eu ouvi. - Disse com um ar risonho na cara.

– Não aconteceu nada demais.

– Mas para a Lily gritar “nada demais” foi muita coisa e vindo de você... As coisas devem ter complicado - disse Remo no que Sirius riu e Tiago jogou lhe um travesseiro. - Perdeu a mira também Pontas?

– Sono. Me deixe sair dessa cama para verem o que é bom para a tosse!

– Vai Pontas desembucha!

*dormitório feminino

– Eu não tenho culpa se gritei. A sala estava vazia só eu e ele. E ele me vem e... Arrg!

– Me desculpe Lily, mas eu ainda não aprendi a traduzir arrg’s- comentou risonhamente Kate no que as outras riram e Lily olhou feio para ela. - Tá bem, tá bem. Parei.

– Ele se achou na autoridade de me beijar! Arrogante, prepotente!

– Ele te beijou?! - Quase que gritaram as outras três juntas.

– Isso! Falem mais alto, talvez o resto da torre ainda não saiba!

– Só isso? O motivo da sua ira e das injúrias que jogou para cima dele foi porque ele te beijou? Vem cá Lily, a Petúnia andou te dando alguma coisa que não devia ou você bateu a cabeça?

– Nem vem Kate! Mas não, não foi só isso. Como senão bastasse ter me beijado a força ele ainda teve a cara de pau de me convidar para sair!

– Lily! Você não entende? - Questionou Anne.

– Entendo que ele está fazendo outra brincadeirinha de mau gosto comigo, isso tá mais do que na cara.

– Não! Lily segue a linha de pensamento. Em um dia o Potter te tratava como se fossem duas crianças que não se davam bem e não venha dizer o contrário porque é o que é. Um vivia azarando o outro, ele para se divertir e você por vingança. E agora ele te convida para sair e tem o beijo. Se ele esperou para que a sala se esvaziasse era porque queria que o beijo fosse algo íntimo e importante para ele.

–Ou então tem vergonha de te beijar na frente dos outros... - Comentou Kate vagamente.

– Kate! Não está ajudando, sabe?! - Resmungou Anne que entre todas era a mais calma até mesmo nos piores momentos e Kate havia conseguido tirar isso dela em dois tempos.

– Quer saber vamos tomar o café. Quero ver qual vai ser meu horário. - Disse uma Lily já entediada.

– Bom dia meninas! - Saudou-as um animado Sirius na mesa da Grifinória. E olhou de esguelha de Lily para Tiago e notou que a garota se sentou o mais longe possível de Tiago. O que o garoto estranhou e decidiu não ligar, haveria um ano pela frente ainda. McGonagall entregou os pergaminhos com os horários escolares de cada um e se surpreendeu quando Lily decidiu fazer quase todas as matérias menos Adivinhação.

– Tem certeza, Evans? Nesse caso podemos anular alguma matéria durante o ano letivo se não der conta, mas saiba que uma vez fora destas não poderá voltar.

– Sim, senhora Professora McGonagall, tenho certeza.

– Pois bem então.

– O que temos agora? -Perguntou Sirius.

– Dois tempos de poções- anunciou Pedro.

–Sirius você tem um igualzinho porque não pega e lê? - Indagou Kate.

– Está em algum lugar na mochila.

– Vai me dizer que já perdeu? - Perguntou a garota pensando na capacidade dele.

– Se você fosse minha não te perderia...

– Não. Até por que não se pode perder o que nunca se teve, não é mesmo?

– Ui! Essa doeu até em mim caro Almofadinhas. - Comentou Tiago risonho.

– Nem vem Pontas, você não está muito melhor do que eu, não? - Retrucou maldosamente.

– É, tenho que admitir a ruivinha ter sentado quase que do outro lado do salão foi uma grande surpresa para mim.

– E você ainda acha que vai dar certo, não?

– Se ela fez isso foi porque sente. O que eu não sei.

– Posso te dar uma dica começa com "ó" e termina com "dio".

– Do ódio para o amor há apenas um sentimento.

– Um sentimento bem bipolar, porque mexeu com você. Pontas, hey Pontas, amigo você ainda está ai? - Brincou Sirius segurando Tiago pelos ombros e falando com uma falsa preocupação. - Eu vivi o dia em que Tiago Potter se apaixonaria quem diria.

– E eu o dia em que uma garota rejeitaria Sirius Black, o príncipe das ficadas em Hogwarts.

– Príncipe? Eu sou o rei caro Pontas, você perdeu esse trono quando passou os últimos cinco meses apaixonado por ela e insistia que não.

– Atrapalho alguma coisa Sr. Black e Sr. Potter? Talvez já saibam do conteúdo da aula de hoje? - Perguntou o Professor Flitwick com sua vozinha esganiçada e recebeu silêncio de ambos em resposta. - Ao trabalho.

O dia pareceu passar lentamente nos corredores de Hogwarts. Com o passar das aulas um se separava do grupo por fazer ou não tal disciplina. Mas em um tempo vago em comum, o que Sirius e Tiago acharam algo bem útil, em que todos, até mesmo Lílian e Remo, estavam nos jardins.

– Remo não acha que deveríamos monitorar os corredores?

– Não sei McGonagall não alterou nada desde a reunião do ano passado quando disse que devíamos.

– Parem com isso! Têm tempo livre e querem ficar rondando corredores?! Vocês têm problemas. Aproveitem. A McGonagall e as regras dela que se explodam.- murmurou Kate indignada, no que todos a olharam assustado, mas Sirius, a grande exceção, a olhou quase que surpreso.

– Você sabe que tenho que fazer isso Kate, me desculpe. - E subiu os gramados em direção à escola com Remo ao seu lado.

– Eles têm que aprender a relaxar, sabe. - Comentou Pedro.

– Mas sabe o que eu quero saber Sr. Potter...?- Anne parecia decidida com aquela pergunta.

– O que você quer saber Srta. Souturn?

– Simplesmente o que você sente pela ruivinha, seu pedaço de pôr do sol- zombou Kate.

– Vocês sabem o que quero. E também sabem que não vou desistir tão fácil.

– Tiago é sério? Com isso quero saber se é verdadeiro - e com aqueles olhos azuis Anne pareceu ter lido a mente dele ao constatar o que queria e sorriu, sorriu de uma forma doce com que ele sabia que só ela sabia fazer. Sirius e Kate se sentiram perdidos naquela conversa tão quieta.

– Lembrem que hoje temos astronomia de noite pessoas que se comunicam pelos olhos. - Anunciou Kate.

– Daqui a pouco você vai ficar como a Lily- comentou Sirius no que a garota fez uma garota e todos riram.