"Andar até um portão perdido, ele disse... Falar com os deuses, ele disse... Eu mal consigo conversar com uma garota.
Meu dia está cada vez melhor. O pior de tudo, é que não sei nem por onde começar a procurar."

Perpeu pensava repetidamente a mesma coisa, enquanto era arranhado por galhos secos e mordido por insetos, em sua tortuosa corrida contra o tempo. Sua mente estava vagando, ainda sem rumo, procurando por entre os vestígios de luz, alguma sombra de seu antigo deus.

"Eu não devia ter sido o último do último semideus. Ninguém me contou esses detalhes como: " Filho, você é um semideus amaldiçoado que irá morrer logo, porque seu ancestral foi um idiota e se perdeu no meio do nada, causando o caos." Claro que não me diriam isso. Se fossem fazer alguma coisa a meu respeito, seria deixar-me embaixo de alguma árvore para ser devorado por pássaros."

Ainda andando, resolveu fechar os olhos para sentir o ar puro tocar sua pele, em busca de alguma voz que lhe mostrasse o caminho.
Por um instante, sentiu um calafrio e o resolveu parar. Como estava de olhos fechados, não percebeu o tronco logo a sua frente, acabando por tropeçar. "Parece que nada poderia dar mais errado", pensou ele.
Mas, quando começava a abrir os olhos, ouviu-se passos vindos de muito longe e se aproximando.
Não pareciam passos humanos, mas eram passos. Talvez fosse um animal... Com aquele barulho, parecia um animal grande.
Perpeu começou a levantar e sentiu o hálito ofegante em suas costas, que ecoava de algum ser do qual ele não conseguia encarar. Ao virar seu corpo para trás, deparou-se um leão e acabou por salvar para trás e proteger seu rosto com os braços.
_Está tudo bem? Parece até que viu um fantasma! - diz Lismet inclinando seu corpo para o dele

_Lismet? Se esconde, há um leão...
_Leão? Você deve ter andando muito no sol. Não há leões por aqui. Na verdade, não há animal algum. - diz a jovem enquanto ajudava-o a levantar _ Viu convencer você a voltar comigo. Vamos, aquele velho tolo não falou sério.
_Ah, Lismet... Se você soubesse...
_Então me conta!
_Vá para casa! Eu preciso continuar minha missão.
_Não, você não pode me deixar. E a escola.. E... E o vilarejo... Seu ritual...
_Nada mais importa. Você não entende? Eu estou morrendo...
Perpeu começou a correr pela mata a dentro, enquanto Lismet deixava lágrimas correrem sobre seu rosto ao gritar seu nome.

"Um leão? Leões nesse lugar? Será mesmo possível? Mas aquele leão me pareceu familiar... O que ele é?"