175 dias. escrita por Malloù Vicchenzo


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Bom, leitores (tudo bem, não há leitor algum), preparados pra entrar pela porta do inferno?



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Eu tinha apenas quinze anos. Mas se quisera agir feito adulta quando estava com Joe dentro daquele carro, deixando toda minha responsabilidade de lado, eu agiria como adulta agora, cuidando da consquencia de meus atos.

Eu teria que sobreviver com aquilo. Uma hora, tudo iria passar. E valeria à pena.

Tinha que valer a pena.

Levantei-me da cama, colocando um vestido qualquer. O dia lá fora estava razoavelmente quente, o que sugeria que a tempestade de ontem à noite tornaria a cair hoje.

O relógio em meu pescoço era o único som no silencio das minhas lagrimas. O tique-taque parecia infinito, indicando que minutos e segundos e talvez horas, anos, meses haviam se passado quando ouvi o som de batidas na porta. Desci correndo, tentando evitar meus pais – que descobri não estarem em casa.

O simples ato de abrir a porta pareceu complicado e pesado naquele momento, e enquanto eu me prepava emocionalmente para aquele momento, meu físico implorava por estar nos braços de Joe o mais rápido o possível.

Ao ver ele alí, parado logo à minha frente, com as mãos nos cabelos e o rosto preocupado, abracei-o o mais forte que consegui. Não importava mais nada. Eu estava alí, junto à ele. Ele viera. Eu tinha certeza de que tudo ficaria bem. Eu confiava nele. Como nunca confiara em ninguém mais antes.

Senti suas mãos acariciando meus cabelos, envolvendo-me.

– Shh... – ele pediu – Vai ficar tudo bem, eu prometo. Tudo vai ficar bem.

Tentei dizer o mesmo para mim, em busca de me convencer dessa mentira tola. Mas eu sabia que não seria assim. Não seria tão fácil. Nem tudo ficaria bem. Minha vida estava de pernas pro alto, como voltar ao normal sem deixar nenhuma sequela?

Eu não gostava de mudanças. Não era adepta à nenhuma delas.

– Não, não vai. – meu corpo tremeu em outro soluço, o milhonésimo. – Eu nem sei como te falar... Não sei como dar essa notícia pra você. – mordi meus lábios. Toda a segurança que eu sentira ao vê-lo alí e abraça-lo se esvaía com minhas lágrimas. Mas ele era o Joe. Não me decepcionaria.

Joseph me segurou pelos braços, olhando dentro dos meus olhos. Tinha certeza de que conseguia ver tudo o que eu estava sentindo, desde o fundo da minha alma até as lagrimas mais superficiais que caiam.

– O que foi que aconteceu?

Desviei meus olhos para minhas mãos, mordendo mais forte ainda meus lábios que a qualquer segundo poderiam estar sangrando. O que aconteceu? Ele perguntou. Oras. Era bem simples.

Nada. Não aconteceu nada. É uma coisa bem simples para dizer a verdade. Você vai ser pai, não precisa se preocupar. Só isso. Não é como se você tivesse dezessete anos e eu quinze. Não aconteceu nada. Eu sonhei que estava grávida. Não foi absolutamente nada demais. Eu apenas... Descobri que meus pais estão se separando. Separando? Porque? Porque a filhinha deles engravidou com quinze anos.

Tantas opções, tantos argumentos, tantas coisas se passavam em minha mente naquele momento. E tudo o que eu consegui dizer, depois de reunir todas as minhas forças, fora:

– Eu estou grávida.

Esperei por seu abraço. Por seu sorriso fraco, seu consolo, suas palavras. Esperei inutilmente por um: Está tudo bem. Eu estou aqui.

Era para ser assim, não era? Era para ele ter me apoiado.

Mas ele apenas deixou seus braços cairem ao lado de seu corpo conforme seu olhar se apagava. Tudo o que vivemos parecia distante agora.

Por Deus, eu precisava dele. Precisava dele agora, para sempre, ao meu lado.

– Não pode... Não pode ser. – seus olhos lacrimejaram e ele os arregalou, lutando contra aquilo que viera me assombrando – Eu não posso ter tanto azar assim.

Encarei-o, incrédula. Azar? Ele achava que tinha azar? O filho da puta estava dizendo que tinha azar! Desviei os olhos de novo, completamente surpreendida com a sua reação. Como ele ousava dizer que tinha azar? Ele provocara aquilo, não somente eu!

– Como acha que estou me sentindo? – disse, tentando me controlar para não ir para cima dele. Diga logo que vai ficar ao meu lado, Joseph! Por favor!

– Não posso assumir esse filho. – ele disse, simplesmente.

E aquilo soou como um grito de desespero de alguém que morria sufocado. Eu queria ajudar, mas era tarde. Não havia nada a ser feito. Nada a fazer para mantê-lo aqui.

Arregalei os olhos, sentindo meu peito se apertar tanto que até o ar parecia rarefeito.

– O que? – olhei para ele. Ele não faria aquilo realmente, faria? Não podia. Eu teria quedarum jeito, convencê-lo... Ele era mais velho. Era responsabilidade dele também! - Como... Eu não vou abortar. Eu vou arcar com as conseqüências. Como uma adulta faria. E acho que você deveria fazer o mesmo. – gaguejei, argumentando para salvar minha própria vida.

– Não. Eu não sou adulto, Terry. Você sabe disso, e você também sabe que esse bebê vai ser o maior erro da sua vida! Ninguém saberá se abortarmos,Tar, pense nisso... – o interrompi

– NÃO VOU ABORTAR ESSE BEBÊ! – gritei, sentindo meu estômago revirar mais uma vez. Eu não me importaria de vomitar ali mesmo.

O bebê estava feito. Qualquer coisa contra isso era agir em contramão à natureza. Não era natural. Não era bonito. Seria apenas mais um erro. E eu não queria errar mais na minha vida.

– Então arque com as consequencias sozinhas. - Joe murmurou, virando-se para ir embora.

Senti meus joelhos enfraquecerem e minha visão ficou turva. Eu estava em pânico ao vê-lo indo embora.

Não podia ser verdade, eu deveria estar sonhando.

– Diz que me ama? – ele pediu, enquanto eu encarava aqueles olhos com as íris mais lindas que eu já vira em toda a face da terra. Sorri timidamente, sentindo minhas bochechas se esquentarem. Porque ele insistia em me deixar com vergonha?

– Eu te amo. – disse com toda a sinceridade do mundo.

– O sol é lindo, não?- perguntei, olhando fixamente para o ponto alaranjado no meio de um cobertor de cores. Como algo que estava a milhares de quilometros de distacia conseguia esquentar tanto um mundinho como o nosso?

– É... - respondeu, embora seu olhar estivesse direcionado para mim quando o olhei de canto de olho.

– Mas você nem o olhando está! –dei a língua, afagando seus cabelos vagarosamente. Olhei para cada detalhe nele... Seus olhos, sua pele, seu cabelo, o modo como ela falava, o modo como ela sorria... O modo como ele sentia sono quando eu o acordava antes mesmo que o dia clareasse, e o modo como eu amava isso. Tudo contribuia para que eu me apaixonasse cada vez mais por ele.-

– Estava falando de você. – ele sussurrou.

– Em que está pensando? – sussurrei, acostando-me em seu ombro.

– Em você. Você é tudo o que penso.

Suspirei, deixando que um sorriso brincasse com meus lábios.

– Então acho que nós temos os pensamentos sincronizados, Jonas. Penso em você a todo instante também.

– É assim que será então? – minhas lágrimas se intensificaram – Você vai mesmo quebrar tudo o que já me prometeu?

Joseph apenas me encarou. Seus olhos expressavam nada mais do que raiva. Talvez, a mesma raiva que eu sentia. Ou ainda uma outra raiva, que não estava envolvida com decepção alguma. Então, virou-se e saiu andando. Me deixando para trás, sozinha. Desolada. Apenas com lembranças antigas, promessas quebradas e talvez uma vida que nunca mais seria a mesma.

E agora eu vinha em minhas mãos duas opções, cujas práticas para mim pareciam igualmente absurdas. Eu sabia no fundo do meu peito qual era a certa. E estava decidida que assim seria.

Dei meia volta, fechando a porta atrás de mim. Demorou menos que cinco minutos para que aquela chuva de verão começasse a cair. E foi ficando mais forte até que virasse uma tempestade.

Não demorou para que o carro dos meus pais estacionasse na garagem, completamente sujo de lama e carregado com gotas de chuva. Apressados, eles desceram correndo, mal se preocupando em tirar as galochas ao entrarem em casa.

Tentei sorrir, dando meu melhor para que eu mantivesse meu disfarce o máximo que eu conseguisse. Gravidez? Não. Estava apenas gripada.

– Melhor, filha? – meu pai perguntou, tirando os óculos da ponta do nariz para secá-los em sua blusa que não estava em uma situação muito melhor.

– Melhor? Melhor de quê? – indagou, tão curiosa quanto surpresa, minha mãe – Não me disse que estava mal, filha.

– É apenas uma gripe boba, estou melhor... – sorri o mais verdadeiramente quanto pude, torcendo para que os vestígios de lágrimas em meu rosto fossem confundidos com a coriza gripal. O que, a julgar pela atitude de meus pais, dera completamente certo.

– Querida, tenho que terminar de escrever aquela matéria, ajusta a luminosidade para mim? Me sinto inspirado na chuva... – começou meu pai, dirigindo-se à minha mãe. Sabendo que o discurso a seguir seria completamente desinteressante, voltei para meu quarto, fechando a porta o mais silenciosamente quanto pude e jogando-me em minha cama. De fato... Eu sabia que nada do que minha mente me faria pensar naquele momento seria aproveitável. Mas imaginar que eu seguia as instruções insanas de meu pobre cérebro e me livravade uma série de problemas com soluções simples e práticas, devido as circunstâncias, traziam a mim a sensação de sonho. E sonhar não faz mal a ninguém.


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Notas finais do capítulo

Errr..... É isso. Leitores, cadê vocês? rsrs



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