Lembre-me! escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 24
Capítulo 23




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Era pequena, não compreendia quase nada da vida, mas eu soube o que fazer. Lá estava o garotinho chorando pela mãe perdida. Eu não sabia que estava em um enterro, não sabia onde estava, nem quem era o garotinho de cabelos acobreados que chorava copiosamente.

Eu me ajoelhei diante dele e o abracei. O garotinho de cabelos acobreados parou de chorar e dormiu, exausto, em meus braços.

Foi desta forma que conheci Edward.

-HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ! Eu ganhei! Na sua cara! Na sua cara! –Brandia enquanto saltitava pelo meu quarto. Jacob bufou jogando o controle do videogame no chão, exasperado. Ele odiava perder. Continuei com minha dancinha da vitoria sacudindo os braços como um boneco inflável de oficina.

-Sorte, pura sorte. –Murmurou. Eu estaquei.

-Sorte uma ova! Joguei com o jogador mais fraco do jogo e você usou o mais forte. Admita que eu venci! –Disse convencida jogando-me no sofá ao lado dele. Jacob me olhou matreiro. –Não ouse! –Sussurrei já sabendo o que ele faria. Jacob deitou-me no sofá e começou a me fazer cócegas.

-Diz que eu sou o maior, diz! –Jacob disse enquanto me provocava cócegas. Eu gargalhava enquanto tentava empurrá-lo de cima de mim.

-PARA! HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ! PARA JAKE! –Gritei enquanto tentava me conter, mas Jacob era forte demais. Tive que desistir. –OK! VOCÊ É O MELHOR!

-Melhor assim. –Jacob disse presunçoso, mas não se afastou de mim. Ele estava tão perto! Quase deitado sobre mim. O clima mudou. Havia um brilho diferente nos olhos negros de Jacob. Ele se aproximou como se não estivesse pensando em seu ato, nossas respirações mesclando-se...

-BELLA! –Minha mãe. O empurrei e sentei-me melhor no sofá. Jacob fez o mesmo, sua expressão facial indecifrável. –BELLA! –Mamãe rompeu o quarto pela porta. Olhou-me horrorizada. –EU NÃO ACREDITO! COMO PODE ESTAR VESTIDA DESSE JEITO?

Olhei para mim mesma. Eu usava roupas simples, já que estava em casa: calça jeans e camisa.

-O que tem minhas roupas?

-Por um acaso se esqueceu que temos um evento na casa dos Cullen para ir? Vá logo se arrumar! Vou ligar para o meu cabeleireiro para ver se ele a arruma antes de anoitecer. –Mamãe disse nervosa remexendo em seu celular, deixou meu quarto. Suspirei.

-Odeio esses eventos que sou obrigada a ir.

-Isso é que dá ser de uma família abastada! Ainda bem que o meu pai apenas trabalha para o seu pai. –Jake disse levantando-se. Vê-lo fazendo menção de ir embora me deixou angustiada.

-Ah Jake não vai! Fica aqui!

-Bells, você vai sair. Eu não tenho o que fazer aqui. Além disso, vou sair com o Quil. Conseguimos ingressos para uma corrida de motos.

-Droga! Queria ir com você! –Disse zangada recostando-me na porta. Jacob aproximou-se tocando meu rosto.

-Levo você da próxima vez. –Beijou-me na bochecha. –Tchau Bells.

-Jake, por que você não vem comigo? Me faz companhia? –Implorei. Jacob sacudiu a cabeça.

-Lamento Bells. Não vai dar. Fica pra uma próxima.

-Eu não quero ficar sozinha. –Murmurei carrancuda.

-Não vai ficar sozinha. O Edward vai estar lá. Fará companhia pra você. –Jake saiu e me senti um pouco mais reconfortada. Meu amigo Edward estaria lá, seria melhor do que nada. Jake virou-se antes de sumir pelas escadas, seu olhar era estranho, tentava me passar algo, mas partiu antes que eu descobrisse.

Isabella Marie Swan tinha 14 anos. Seu melhor amigo chamava-se Edward Cullen e seu amigo, e grande amor, era Jacob Black.

Eu pertencia à família Swan, conhecida pela sua produção de calçados masculinos e femininos. Éramos ricos graças ao império de calçados construído pelo meu pai. Admiro Charlie por isso, ele começou um negócio no fundo do seu quintal de calçados e hoje é o empresário mais bem sucedido do ramo.

Sou grata por ser parecida com ele, mesmo tendo crescido na riqueza eu nunca me deixei corromper; Sou uma pessoa simples sem frescura alguma. Minha mãe, ao contrário de mim, deixou o luxo e pompa ofuscar a antiga Renée, mulher simples, por uma pessoa totalmente consumista. Eu não reclamava, porém. Sem dúvida alguma ela amava meu pai.

-Agora temos de nos socializar. Espero que se comporte mocinha. –Minha mãe cochichou para mim enquanto entravamos na mansão opulenta dos Cullen. Dei de ombros. Ela não precisava me alertar sobre como se comportar em lugares assim, eu já estava habituada a assumir uma fachada de filhinha perfeita e classuda quando ia a algum lugar com eles.

Aquele local, a mansão dos Cullen, era familiar para mim. Meu pai era amigo de Carlisle, outro empresário do ramo de calçados – o segundo melhor do país no ramo. Desde a morte de Esme, esposa de Carlisle, nossa família se aproximou de tal modo da família Cullen que minha infância foi praticamente no interior desse amplo espaço.

-Ah Charlie! Renée! E também a pequena Bella! Que bom que vieram! –Carlisle nos cumprimentou assim que nos viu passar pelas portas duplas.

-Boa noite Carlisle. Uma linda festa. –Mamãe disse olhando para a rica decoração do salão de festas.

-Obrigado Renée. Fico feliz por terem vindo.

-Boa noite senhor Cullen. –Disse fazendo um gesto com a cabeça.

-Olá Bella. Como está linda! Edward ficará muito feliz em vê-la, estava ansioso pela sua chegada. Por que não vai até ele? Tenho certeza que Edward está em seu quarto.

-Ah, claro! Eu irei até ele. –Disse seguindo para o já conhecido trajeto até o quarto de Edward. De tantas vezes que fui aquela casa já a conhecia como a palma de minha mão. Meus pais ficaram no salão com Carlisle, provavelmente falando de negócios.

...

Bati uma única vez na porta. Ouvi um “já vai!” e logo Edward estava abrindo a porta para mim, um sorriso gigantesco no rosto.

-Bella! –Abraçou-me apertado.

-Hei garoto, calma ai! Desse jeito vai desarrumar minha roupa! –Falei numa voz falsamente anasalada, imitando aquelas garotas superficiais que costumava me cercar. Edward riu disso, ele sabia que se tratava de pura encenação.

-Senti sua falta. Pensei que não viria hoje. –Disse pegando minha mão e me conduzindo ao seu quarto. O quarto de Edward era como o meu quarto: grande, lindamente decorado e com tudo o que alguém precisa em um quarto. Fui para uma poltrona e lá me sentei próximo a parede de vidro. Edward puxou uma poltrona e sentou-se bem próximo de mim.

-Eu nem me lembrava desse evento. Foi mamãe que me lembrou. Sinceramente não queria vir, não gosto de eventos assim. A única coisa que me motivou foi que você estaria aqui. –Disse. Edward pareceu encantado com minhas palavras. Aliás, ele sempre ficava encantado quando eu dizia o quanto gostava dele.

-E então? O que vamos fazer? –Edward perguntou empolgado. Eu pensei um pouco e por fim decidi.

-Vamos para o labirinto verde. Matar o tempo até a festa acabar. O que acha?

-Vai ser um prazer. –Edward disse pegando minha mão. Seguimos juntos para fora do quarto em direção ao jardim.

...

-Não sei como você consegue entrar e sair daqui com tanta facilidade. –Edward murmurou. Estávamos deitados sobre uma manta no centro do labirinto verde, um labirinto feito de cerca viva que ficava no fim da propriedade dos Cullen.

-É segredo. –Disse divertida. Aprendi a como chegar ao centro com um método muito simples ao estilo João e Maria: coloquei um fio dourado, imperceptível, na entrada que liga o inicio ao centro. Ninguém até hoje percebeu esse fio e olha que o coloquei lá há um ano. Por algum tempo ficamos deitados ao lado do outro apenas olhando o céu, apreciando a forte ventania que chegada até nós pelos corredores que nos cercavam.

-Então seus 15 anos será daqui a dois meses. O que vai querer de presente? –Edward perguntou. Virei-me para ficar de frente para ele, apoiava minha cabeça em uma das mãos. Ele fez o mesmo.

-Não tenho o que pedir. Uma sessão de cinema talvez. O que você acha? –Edward fez uma careta com minhas palavras.

-Não quer nada? Um computador, um celular, alguma coisa do tipo?

-Não tenho nada para pedir. O que você me der está bom, mesmo que seja uma moeda de um centavo, ou um dólar. –Sorri. Edward fixou seu olhar em mim de um jeito constrangedor, não era a primeira vez que ele me olhava daquele jeito e de algum modo o olhar que ele me lançada lembrava-me do olhar que recebi de Jacob quando quase nos beijamos, mas minha reação aquele olhar não era a mesma quando recebia tal olhar de Jacob. E a grande diferença era que eu amava Jacob, não como amigo, mas como homem. Eu não via Edward da mesma forma.

-Então acho que já estamos aqui há algum tempo. É melhor nós voltarmos. –Disse levantando-me. Tentei desamassar o vestido lilás que usava sem muito sucesso. Minha mãe teria uma sincope quando me visse descabelada. Edward levantou-se dobrando a manta vermelha em que nos deitamos e guardando-a embaixo da fonte, em um local onde a chuva não iria molhá-la.

...

Eu sabia que Edward nutria algo por mim, só um burro não enxergaria, o próprio Jacob disse certa vez e, inexplicavelmente, desde que Jacob percebeu os sentimentos de Edward, ele parou de freqüentar a casa dos Cullen.

Eu, Edward e Jacob nos conhecíamos deste pequenos. Conheci Edward quando sua mãe Esme morreu. Jacob eu já conhecia há mais tempo, praticamente crescemos juntos. E mesmo assim eu acho que nunca vi Jacob como amigo. Eu sempre senti algo por ele, algo que só recentemente pude nomear. Eu amava Jacob e queria que tudo fosse com ele, meu primeiro beijo, meu primeiro namorado... Eu sentia que Jacob sentia o mesmo, mas nenhum de nós, até agora, havia se manifestado. Tinha esperanças de que mais dia ou menos dia ele se declarasse.

E os meses se passaram... A festa de 15 anos chegou e com ela muitas expectativas

Elogios por toda a parte. Eu estava alheia a tudo, mesmo eu sendo o centro das atenções. Isso tudo por que, ontem, ao entardecer, Jacob disse que tinha algo muito especial para me dar de presente. Não sei, mas o modo como Jake me olhou e disse essas palavras me fez acreditar que talvez hoje fosse o dia em que ele diria algo sobre nós, acabando com essa chatice de fingirmos sermos apenas bons amigos quando algo muito mais intenso por detrás de tudo.

A festa preparada por minha mãe era pomposa, felizmente ela aderiu ao meu pedido de usar azul na decoração. Meu pai estava ao meu lado, olhava-me com emoção. Eu devia estar emocionada com aquele rito de passagem, mas estava tensa demais com o próximo passo de Jacob para pensar em outra coisa.

Ah, olha quem veio! –Minha mãe exclamou e virei-me ansiosa para a entrada. Não era Jacob. Edward e seu pai Carlisle passavam pela entrada. Ainda sim sorri, era bom ver Edward. Ele me olhou parecendo maravilhado.

-Ah Bella! Está linda! –Disse abraçando-me num ímpeto. Eu correspondi ao seu abraço.

-Você também está lindo com esse smoke. –Falei olhando-o de cima a baixo. Edward corou. Afaguei sua bochecha.

-Está linda Bella. Meus parabéns. –Carlisle disse cumprimentando-me, respondi ao cumprimento com um aperto de mão.

-Obrigada. Fico feliz por estarem aqui. –Olhei de esguelha e vi o meu fotografo balançando os braços freneticamente a fim de chamar minha atenção. Suspirei. –Fique a vontade. Já volto.

Segui até o local onde estava o meu fotografo... E não consegui parar no lugar.

 Tantas filmagens, fotos, receber convidados, guardar os presentes... Sabia que ao final do dia eu iria desabar! Felizmente Jacob e seu pai vieram, mas a confusão de coisas a fazer foi tamanha que nem pude falar com ele. Eu sabia que só havia um momento em que nós iríamos nos falar sem a intervenção de meu fotografo, de minha mãe ou o que quer que viesse: a valsa.

...

-Você está linda! –Edward disse enquanto valsávamos. Eu olhava ao redor procurando por Jacob. –Bella?

-Ah, oi!

-Está tão distraída! O que houve? –Edward perguntou com brandura. As câmeras tiravam fotos e mais fotos nossas quase me cegando.

-To procurando o Jake. Não falei direito com ele. –Quando olhei para Edward, ele tinha um olhar sombrio. –O que foi? –Toquei seu rosto. Ele suspirou. Colocou sua mão sobre a minha e naquele momento paramos de valsar.

-Talvez esse não seja o melhor momento, mas eu tenho algo para lhe falar. Bella, eu q...

-Ah Bells! Minha vez de valsar! –Jacob disse e se aproximou. Edward o fulminou com o olhar quando ele foi logo colocando um braço em meus ombros, puxando-me para ele.

-Licença Ed. Devolvo Bella após a valsa. –Jacob disse com sarcasmo. Edward afastou-se me olhando com tristeza. Sorri para quem sabe animá-lo.

-Não precisava expulsa-lo Jake. –Disse em tom de reprimenda. Jacob sorriu.

-Não fiz nada! Juro!

-Sei.

Jake não sabia dançar, mas estava valsando muito bem, o que me surpreendeu.

-Nossa, fez algum curso para dançar bem? –Perguntei.

-Algo assim. –Jacob deu de ombros. Naquele momento eu fiquei ciente de Jacob ali comigo e tudo ao meu redor desapareceu. Eu me encostei-me a ele todo e fechei os olhos apreciando aquele momento abraçadinho a ele, ao grande amor de minha vida. Jacob abraçou-me e passamos a dar um passo para lá e outro para cá.

-Hei, ainda não dei o meu presente, sabia?

-Eu recebi o embrulho do Billy. Como assim não me deu presente? –Murmurei ainda de olhos fechados abraçadinha a ele. Jacob parou de dançar. Um homem fez menção de se aproximar e dançar comigo, mas Jacob fez um gesto com a mão para que esperasse. Eu o olhei sem entender o que fazia, o vi retirar um colar do bolso.

-Seu presente. Posso colocá-lo? –Perguntou. Assenti sentindo seus dedos roçarem em meu pescoço enquanto colocava um lindo colar de prata com um pingente de cristal em formato de coração.

-Que lindo! –Disse maravilhada. Nunca fui muito fã de jóias, mas aquela era especial por que Jake havia me dado. –Obrigada. –Disse olhando-o com amor. Ah, como eu queria que houvesse mais nesse aniversário!

-Hei, quem disse que é só isso que eu tenho para lhe dar? –Ouvi Jacob dizer. Ergui a cabeça para olhá-lo e não pude mais pensar. Os lábios dele, carnudos, tocaram os meus. Eu me perdi no sabor daqueles lábios sentindo a felicidade me preencher. Ele me amava! Me amava!

...

A passagem do tempo é algo estranho: momentos em que queremos que o tempo corra lentamente, ele corre rapidamente; momentos em que queremos que ele corra rapidamente, ele corre lentamente.

Os lábios que eu amava beijavam meu pescoço, descendo, sempre descendo. Suas mãos infiltravam-se em minha camisa. Arfei.

-Jake... –Murmurei embriagada pela doçura do momento. Com 19 anos e boa parte desses anos sendo namorada de Jake, mesmo tendo perdido a virgindade com ele, eu ainda me deliciava com tudo que vinha dele, como se fosse à primeira vez.

-Filha, você está aqui? –A voz masculina soou no corredor.

-Merda. –Murmurei empurrando Jacob de cima de mim. Jake bufou. Levantou-se e foi se sentar na cadeira de minha escrivaninha. Fiquei sentada na cama, arrumei minhas roupas.

-Filha? –Meu pai entrou. Quando notou Jacob no quarto fechou logo a cara. Meu pai não aceitava a intimidade que nós tínhamos, mas, ao contrário de minha mãe, não se opunha ao nosso relacionamento.

-Oi Charlie. –Jake cumprimentou fingindo ler um livro. Claro que Charlie não iria cair nessa.

-Oi Jake. –Ele cumprimentou rapidamente. –Bella, jantar na casa dos Cullen. Arrume-se. –Charlie disse e saiu do quarto. Eu sabia que ele ficaria de um lado para outro no corredor se certificando que não faríamos nada demais. Sorrimos para o outro. Estávamos tão ligados que pensávamos igual.

-Então vai a mais um evento na casa do Edward. –Jake disse emburrado. Ele e Edward não se bicavam há algum tempo. Jake sabia o sentimento que Edward nutria por mim.

-Pois é. Mas não se preocupe, gosto de Edward como amigo. Espero não ter que ficar repetindo isso Jake. –Disse azeda. Jacob deu de ombros.

-Tudo bem. Não vou brigar por causa do cara até por que ele não fez nada.

-E mesmo que ele faça Jake, ele não me interessa. –Disse seriamente. Jacob virou-se para me olhar. –Agora me dá um beijo antes de eu chutar sua bunda daqui para me arrumar. –Sorri. Jacob veio até mim, jogou-se sobre mim e beijou-me.

...

As coisas estavam diferentes. Desde meus 15 anos, Edward mantinha certa distância de mim. Nossa amizade se dissipou. Eu sabia o porquê disso. Edward sentia algo por mim e ficou extremamente magoado por eu ter ficado com Jacob, por ter aceitado seu pedido de namoro feito enquanto cantavam meus parabéns.

Eu não pude fazer nada. Eu amava Jacob, eu queria ficar com ele. Eu o fiz mesmo sabendo que isso poderia magoá-lo. Agora Edward criara uma parede intransponível. Mas eu sabia que ele estava bem, isso tinha acontecido há anos e pelo que eu sabia Edward ficava com muitas mulheres.

A festa era para comemorar a filial da empresa de Carlisle em Dubai. Agora sua empresa de calçados disputava ferozmente com as empresas de meu pai, mas isto em nada abalou a amizade dos dois.

Minha mãe foi logo se enturmando com as endinheiradas do lugar, meu pai beijou-me na testa e foi cumprimentar Carlisle e um grupo de empresários que o rodeavam. Eu me vi sozinha no salão. Já deveria ter me acostumado com isso, mas não me acostumava.

Suspirei e segui para o labirinto verde, ficaria lá até o final da festa.

...

Estava eu na entrada do labirinto, com meu inseparável Mp4 nas mãos quando ouvi a voz.

-Ora, você veio.

Virei-me e me deparei com Edward em pé, encostado no tronco de uma árvore. Olhava-me com indiferença. Suspirei. Eu odiava a indiferença com que era tratada.

-Por que não viria?

-Por que você quase não vem aos eventos que minha família prepara. –Eu podia sentir o ressentimento na voz de Edward. De fato me afastei, o clima entre nós era tão incomodo que não me sentia a vontade em participar de festas promovidas pelos Cullen.

-Eu tenho andado ocupada com a escola e agora com meu ingresso para a universidade.

-Sei. –Disse num tom debochado. Fiz uma careta. Depois de todo o tempo que se passou desde que comecei meu namoro com Jacob, ainda era possível Edward guardar rancor? Caminhei em sua direção, um ato que pareceu surpreender Edward, e toquei sua face antes indiferente, agora surpresa.

-Edward, eu... –Comecei, mas as palavras, as desculpas, ficaram presas na garganta ao sentir a aproximação de alguém.

-Edward! Ai está você! –Uma voz feminina soou. Virei-me e me deparei com uma loira deslumbrante. Eu sabia quem era, Tânia Denali, cantora. –Espero não ter me atrasado. Vamos?

Edward afastou-se de mim, lançou-me um olhar tão intenso que estremeci. Seguiu para perto de Tânia e saiu de minha vista mais rápido do que poderia imaginar.

“Ah, que se dane!” –Pensei seguindo para o interior do labirinto verde, eu refugio até o final da festa.

...

-Não sei por que você não se socializa nos eventos como antes, e por que não fala direito com o Edward? Aquele sim é partido para você e...

Desliguei minha mente do corpo. Odiava a mesma ladainha de minha mãe e sua exposição sobre sua preferência quanto a Edward. Não via a hora de sair de casa, tocar minha vida sem ouvir seus argumentos preconceituosos. Fiquei brincando com a comida no meu prato. Meu pai puxou assunto com minha mãe livrando-me de ouvir coisas chatas.

Fui até a porta, ansiosa, e lá estava Jacob, de pé, e seu pai ao seu lado.

-Oi! Que bom que vieram para o jantar!Entrem! –Disse recebendo um gostoso beijo de Jacob ao passar pela porta.

-Ah, que bom que vieram! Billy, o jogo vai começar daqui a pouco. Vamos comer rápido. –Charlie disse conduzindo Billy e Jacob até a mesa. Minha mãe os cumprimentou friamente com um aceno de cabeça e se retirou. Suspirei. Eu odiava o fato dela não aceita-lo, não aceitar ao meu Jacob. Pelo menos nenhum dos dois, Jacob e Billy, pareciam se importar.

...

Beijos eram depositados em minhas face, suas mãos percorriam com suavidade meu corpo, dos pés aos cabelos. Eu adorava ser tocada por Jacob em todas as partes do corpo. Uma pena que momentos quentes como esse raramente ocorriam. Mas quando ocorriam, geralmente as escondidas de meus pais, aproveitávamos intensamente.

Suas mãos grandes e quentes se infiltraram em minhas roupas. Arfei sabendo que aquelas carícias iriam nos levar ao frenesi e então...

-Bella? Filha? Está no quarto? –Meu pai bateu a porta. Eu e Jacob paramos. Jacob murmurou para que eu falasse algo assim meu pai não abriria a porta. Ele não sabia que Jake ficou após a partida de Billy.

-Oi pai. –Disse alto o suficiente para ele ouvir. –Eu estou me vestindo. O que foi?

-Bem... Não é nada demais. Só queria dizer boa noite. –Ele disse.

-Boa noite pai! –Falei alto. E ouvi os passos do meu pai se afastando.

-Jake, vai embora! –O empurrei tirando-o de cima de mim. –Se te pegam aqui estamos fritos.

Jake se afastou irado. Ele odiava quando tínhamos de interromper momentos como estes.

-Estou cansado de termos de nos esconder.

-O que quer que eu faça? Que peça para meu pai para você dormir aqui para podermos fazer sexo? Jake, meu pai gosta de você, mas não tanto assim. –Disse com sarcasmo levantando-me da cama. –Vem, vou guiar você para a saída. Que ninguém perceba que você está aqui. –O empurrei em direção à porta. Consegui levá-lo até a saída sem problemas.

-Melhor você ir logo. –Disse empurrando-o para fora. Jacob hesitou.

-Espere. Tenho algo pra perguntar. –Disse e parei de empurrá-lo.

-Seja rápido então antes que alguém o veja. –Disse olhando para a ampla sala, temendo que alguém aparecesse, mas já era noite, todos deviam estar dormindo.

-Você gosta que nos interrompam o tempo todo? Gostaria que tivéssemos mais liberdade?

Com essa eu tive que olhá-lo.

-Claro que quero Jake, mas como vamos conseguir algo assim? –Vi Jake sorrir, inclinou-se me beijando.

-Até mais meu amor. –Disse. Senti um arrepio com o seu sorriso. Jake estava aprontando algo, eu podia sentir.

Segui para meu quarto sorrindo como uma boba. Eu sempre ficava assim após um encontro com Jake. Enquanto seguia para o quarto, notei que a luz do escritório de meu pai estava acessa. Caminhei para lá, não falei direito com meu pai devido ao fato de que Jake estava no quarto.

“Vou dar boa noite para ele.” –Pensei caminhando para o escritório. Porta aberta. Eu a abri ansiosa para vê-lo e o vi. Estava deitado no chão, um copo de uísque de qualquer jeito próximo a ele. Desacordado.

-PAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!

...

Minha mãe dopada em um dos quartos de hospital, meu pai no CTI. Eu estava um caco. Encontrei meu pai no chão vitima de infarto, minha mãe desmaio ao ouvir meus gritos e vê-lo nos meus braços. Liguei para a ambulância e agora estávamos todos ali. Meu celular nas mãos. Eu tinha que ligar para Jacob e dizer o que estava acontecendo, mas não tinha força nas mãos para digitar o número. Os repórteres já deveriam saber o que houve e já estariam noticiando o fato, Jake logo viria até mim.

Eu estava sentada em uma cadeira de acolchoada na sala de espera. Encolhi-me na mesma e deitei minha cabeça nos meus joelhos. Eu já havia chorado muito desde que encontrei meu pai desacordado, mas ainda me restavam lágrimas. Chorei pesadamente sem me importar de ficar em silencio naquele lugar. Sei que devia estar recebendo olhares tortos pelo barulho, mas não liguei.

Senti uma mão no meu ombro. Ergui rapidamente o rosto acreditando ser Jacob, mas o rosto que encontrei não foi o seu. Arquejei.

-Oi Bella. –A voz masculina soou. Fiquei paralisada vendo-o sentar ao meu lado em uma cadeira.

-Olá... Edward. –Disse num fio de voz. Edward olhava para mim com pena. Não gostava que me olhassem com pena, mas nada pude sentir diante daquele olhar. Ele estava preocupado comigo e veio até ali. Ergueu a mão branca tocando meu rosto, secando as lágrimas. Não me contive. Esquecendo toda a estranheza que nos envolvia até pouco tempo, eu me atirei em seus braços. Edward abraçou-me protetor e relaxei com aquele abraço. Lembrei-me de quando Edward era pequeno, havia acabado de perder a mãe, e eu o abracei daquele mesmo jeito protetor. Estranhamente minhas preocupações desapareceram enquanto sentia seu calor e então eu me lembrei, num turbilhão de pensamentos, por que Edward era importante para mim, por que eu não poderia desistir da amizade que tínhamos tido.

-Bella. –Uma voz diferente soou a alguns metros. Reconheci a voz de Jacob. Edward afastou-se com certa relutância. Podia sentir a hostilidade entre eles, mas como tinha preocupações maiores a ignorei. Edward levantou-se do banco em que estava sentado.

-Olá Jacob. Disse com indiferença.

-Oi. –Jake disse olhando para mim, sentou-se no mesmo lugar em que Edward ocupava anteriormente.

-Bella, como está meu amor? –Jake perguntou puxando-me para seus braços. Voltei a relaxar sentindo algo mais do que senti com o abraço de Edward.

-Nada bem. –Murmurei com a voz rouca. Fechei os olhos.  

-Deve está cansada. Por que você não vai pra casa e descansa lá? Eu fico aqui. Billy também veio, está conversando com o médico.

-Não quero sair daqui Jake. –Olhei em seus olhos de forma suplicante. Eu não queria me ausentar. Só sairia dali quando meu pai saísse comigo.

-Eu posso providenciar um local para você e sua mão aqui no hospital Bella. Posso falar com o responsável. Assim você não precisará se ausentar para comer ou descansar. –Edward disse, não tinha percebido que ainda estava próximo. Virei-me para ele e murmurei um “por favor”. Edward sorriu levemente, ergueu a mão e tocou minha bochecha. Jacob enrijeceu ao meu lado, mas nada disse. Assim que Edward desapareceu pelos corredores, Jake me puxou para mais perto.

-Vai ficar tudo bem. Charlie é forte. Vai sair dessa. –Jacob disse para me confortar e de fato comecei a ficar confortada. Mas o conforto não durou por muito tempo, a realidade chocou-se um pouco antes do esperado.

Charlie, meu pai, meu amigo, morreu vitima de parada cardiorrespiratória.

...

Eu não sentia os abraços em mim nem ouvia os pêsames que me eram dados. Eu estava entorpecida, talvez fossem os remédios que eu fui obrigada a tomar. Minha mãe chorava copiosamente, mas eu mal percebia sua presença.

Eu estava sentada em uma poltrona em frente ao caixão de meu pai, o rosto inchado de tanto chorar. Agora não havia mais lágrimas, apenas um torpor estranho que me deixava parada como estatua. Jake estava sentado ao meu lado, preocupado, segurando minha mão. Billy cumprimentava os recém chegados, tentava se manter forte sem muito sucesso.

E havia rostos conhecidos por toda a parte: minha amiga Jessica, funcionários da empresa, empresários, imprensa, etc.

Levantei-me. Jacob me olhou sobressaltado.

-Bella? –Ele me chamou. Eu apenas me retirei daquele lugar. Eu precisava fugir daquilo. Jacob levantou-se agarrando meu braço.

-Bella, aonde vai? –Perguntou frenético.

-Quero ficar só. –Murmurei saindo do local onde ocorria o velório e seguindo sem rumo pelo imenso jardim. Eu precisava ficar só, deixar a dor de perder aquele que amava me estragar sem causar preocupação a quem me cercava.

Encontrei uma arvore bem afastada do tumulto e sentei-me na grama encostando minhas costas lá. As lágrimas vieram com o poder de um soco e senti que o ar me escapava. Eu estava à beira da loucura e não sabia como remediar a situação. Sabia que precisava me controlar, mas não conseguia achar forças dentro de mim.

Mãos pousaram em meu ombro e só então eu o notei ajoelhado a minha frente. Sua expressão era de uma preocupação muito mais intensa do que a de qualquer um dentro do velório. Enxugou minhas lágrimas com uma das mãos, bem suavemente. Puxou-me para o circulo dos seus braços onde repousei, exausta.

Lembrei-me naquele momento, enquanto repousava nos braços de Edward, que foi assim que nós nos conhecemos. Em um momento de perda para Edward, quando era criança, eu o consolei. Ele agora me devolvia a mesma gentileza e me senti grata por isso.

Eu dormi sem nem perceber aninhada nos braços de Edward, daquele que certamente me compreendia mais do que os demais.

 

 


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Notas finais do capítulo

Então o cap está completo agora. quem tiver twitter me siga, ok?

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beijos.