Jack e Elsa se encararam por muito tempo em silêncio, ignorando os olhares estranhos dos outros. Só desviaram o olhar quando Soluço disse:

– O que aconteceu aqui?

O silêncio tinha sido quebrado, os dois tinham voltado ao "normal".

Elsa, mesmo alternando o olhar entre Anna e Jack, tinha ficado pálida e recuado.

– D-Depois de todo esse tempo? - indagou Elsa olhando para Jack, apenas um pouco menos assustada.

– Sempre - respondeu Jack, sem pensar. Ele estava, simplesmente, maravilhado com o que a garotinha de vestido azul havia se tornado.

Jack foi se aproximando da escada, e Rapunzel foi correndo interromper, mas foi detida pela Merida. Ela com certeza estava adorando isso, nunca vira o Jack tão confuso.

Anna foi logo segurando a irmã pelos ombros, ela estava prestes a cair.

– Anna, eu estou bem, estou bem...

Uma rainha não pode se mostrar abalada, mas tudo veio de uma só vez.

Elsa tinha conhecido Jack Frost na infância, entretanto, cresceu e deixou de achar que o menino de cabelos brancos a ajudaria.

– Elsa, você precisa de alguma coisa? Estou preocupada!

– E eu mais ainda! Acabo de conhecer minha prima, e ela quase desmaia por ver o chato do Frost! - disse Rapunzel, culpando Jack.

– Isso magoou - disse Jack tristemente. O que, de certa forma, aliviou tensão do lugar ainda mais. Ele se dirigiu ao topo da escada, até Elsa, Anna e Kristoff.

Rapunzel correu, e, dessa vez, ninguém a impediu, eles foram junto.

– Olha, já que ninguém fala nada, eu falo: Vocês estão estranhos, muito. Digam, ou melhor, expliquem o que é tudo isso. - Merida disse tão rápido que todos olharam assustados.

– B-Bem é uma longa história. - Jack foi o primeiro a declarar.

– Er... Eu preciso conversar com vocês, - falou Elsa, apontando para os quatro - mas antes, para tudo ser resolvido, preciso ter uma conversa com ele - Elsa apontou para Jack.

Todos ficaram um pouco chocados, e Anna ficou animada também. Será que Elsa falaria como Rainha ou como amiga?

– Kristoff, você acha que Elsa gosta dele? - murmurou Anna para Kristoff.

– Vai com calma, Anna - murmurou de volta.

Soluço estava quase se juntando a Merida nas risadas, Jack tinha feito a cara mais engraçada que já tinham visto quando ouviu o que Elsa dissera. Mas Rapunzel foi direto para os pontos negativos.

– Olha lá que o Frost não é um anjo! Ele é má influência!

– Vamos Rapunzel - disse Merida tirando ela da frente de Elsa.

– Melhor irmos para o salão de baile - sugeriu Anna. Rapunzel estava sendo empurrada para fora da vista de Jack e Elsa.

– Você não mude minha prima, Frost! Sabe que é um idiota!

– Boa conversa! - disse Anna, se pode ver um pouco de animação em sua voz. Eles saíram da sala, e logo se ouviu a porta bater, um grande estrondo.

Silêncio. Tudo o que fizeram foi se olhar, e, timidamente, sorrir.

Elsa foi a primeira a fazer algum movimento. Levantou sua mão e a levou até o rosto de Jack, ele nem mexeu, quando tocava sua pele não sentia, nem uma breve, diferença de temperatura. Isso era muito raro. Ela queria abraçá-lo, mas como rainha, não podia fazer isso.

– Então, Elsa... Você cresceu... - disse Jack sem jeito.

– Isso é uma coisa boa? - perguntou Elsa

– S-Sim, você será uma grande rainha.

Elsa riu e o abraçou, ele retribuiu o abraço. Ficaram assim até perceberem que talvez fosse tempo demais para um abraço normal.

– Espera, como vão os guardiões? - indagou Elsa

– Vão bem, virei um deles agora sabia? - Jack sorriu

– Você cuida das crianças? Que fofo, Jack!

– Não sou uma babá, sou um guardião!

Eles começaram a rir e conversar sobre o castelo, os bailes que Anna adorava, como Elsa usa seus poderes...

Era uma conversa boa, cheia de risos, até Jack perguntar o que aconteceu depois que Elsa parou de acreditar nele. Os risos acabaram, Elsa desviou o olhar para longe.

– Eu parei de acreditar que podia me ajudar, Jack. Fiquei cada vez mais isolada, com apenas o conforto dos meus pais. Tinha machucado minha irmã, em uma simples brincadeira. Quase todo dia, Anna batia em minha porta, perguntando se eu queria brincar - Elsa sorriu levemente ao lembrar de sua irma quando era menor - Muitas vezes eu quis ir lá fora, mas... Não podia arriscar machucar alguém, não de novo. Amadureci mais rápido, para proteger minha irmã. Ela também tinha o amor dos meus pais, o que foi ótimo, só que... Meu pai e minha mãe morreram em um acidente de barco, quando eu tinha 18 e Anna, apenas 15.

Elsa fez uma pausa, podia-se ver seus olhos com lágrimas. Jack quis reconforta-la, mas apenas pegou sua mão. Elsa o olhou um pouco constrangida, porém continuou história.

– Três anos depois, eu iria oficialmente assumir o trono. Foi um dos piores dias da minha vida. - Elsa começou, mas foi interrompida por Jack.

– Tão ruim assim?

– Tão ruim assim...

Jack sempre foi uma pessoa otimista, tentava deixar tudo divertido, mas há vezes que não existe saída.

– Praticamente tudo estava dando errado. Anna estava noiva, eu congelei tudo, eu era um monstro...

– Eu sei que você não era um monstro!

– Pelo menos, eu era vista como um. - retrucou Elsa.
O silêncio, mesmo curto, era um incômodo enorme para os dois. Elsa deu um logo suspiro e continuou.

– Eu, então, decidi que tinha que me afastar de todos. Fugi, e construi um castelo para eu morar. Mas quando fiz isso, joguei uma maldição no reino. Ele foi todo congelado... - Elsa foi interrompida por Jack. Ele estava claramente confuso.

– Você congelou um reino _inteiro_? Tem noção de como isso é incrível?

Elsa o olhou com reprovação. Ela estava contando seu sofrimento, e Jack pensando em como os poderes dela eram incríveis. Tudo bem, em parte isso era bom, mas não para Elsa.

– Todos com frio e destinados a morrerem congelados? Isso é incrível? Ficar fora de controle, aponto de quase machucar os que ama? Apesar de saber de seus comportamentos, Frost, tenho certeza que você não gostaria de um destino desses para ninguém! - afirmou Elsa. Ela o chamara de Frost, o que não era coisa boa.

Jack ficou parado, analisando a situação. Tinha que escolher as palavras certas.

– Me desculpe, pelo que eu falei, eu apenas quis dizer que você é poderosa aponto de conseguir gelar um reino inteiro.

– Poderosa o bastante para matar pessoas, também... - murmurou Elsa. Não ia continuar a discussão, tinha que acabar a história.

– Efim, depois que congelei o reino, Anna, com ajuda de Kristoff, foi me procurar para tirar o inverno eterno que tinha jogado em Arendelle. Eu não sabia o que tinha acontecido, só fui saber sobre Arendelle, quando ela me achou e me contou. Ela também queria que voltasse, ficasse lá com ela, mas não dava, era perigoso. Discutindo com ela, a tempestade dentro de mim só ficava mais forte e... E eu acertei Anna, de novo, mas não sabia disso. Ainda atormentada por tudo, criei um monstro de gelo, e eu... Expulsei Anna, Kristoff e Olaf.

– Quem é Olaf? - perguntou Jack.

– Ah... Um boneco de neve. - respondeu Elsa.

– Mas... Como ele saiu do seu castelo?

– Andando? Ele falava e abraçava também. - Elsa fez uma pausa - Eu fiz ele.

– Você - Jack apontou para Elsa - Fez um boneco de neve falante? Realmente incrível.

Elsa deixou escapar um leve sorriso. Jack via beleza e diversão em tudo que ela fazia. Mas não a conhecia tão bem assim. Ela tinha crescido.

– Posso continuar a história?

– Claro, Princesa do Gelo! - Jack sorriu.

– Rainha da Neve pra você, Jack! - provocou Elsa, sorrindo. -Continuando, eu fiquei em meu castelo tentando me controlar, porém, um tempo depois chegaram alguns guardas de Arendelle e Hans, noivo de Anna - Jack abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido por Elsa - Sim, noivo, sem mais detalhes. Eles atacaram meu castelo, tudo que fiz foi me defender. Chegou a um ponto que eu estava... Sendo impulsiva. Eu vou ser sincera Jack, eu quase matei uma pessoa.

Jack ficou boquiaberto, entretanto, deixou Elsa prosseguir.

– Hans me alertou para não ser um monstro que eles achavam que eu era. - o ciúmes era claramente visível em Jack - Eu vi um guarda apontando para mim, e parei de usar meus poderes, mas ele atirou, Hans desviou a flecha que acertou em uma decoração do castelo. Eu teria morrido, se não tivesse desviado. - contou Elsa.

Após contar isso, Elsa olhou pela primeira vez nos olhos de Jack, desde ele veio com Merida, Soluço e Rapunzel. Jack, por impulso, abraçou Elsa. E eles ficaram assim por algum tempo, até Jack a "soltar". Eles se olharam, olharam, só pararam de se olhar e sorrir quando Jack falou.

– Eu nem pude te proteger.

– Não foi sua culpa. - consolou Elsa.

Jack segurou a mão de Elsa e a mandou continuar a história.

– Depois de quase morrer, eu nem sei o que aconteceu - falou Elsa com indiferença - Acordei presa, sem poder usar meus poderes, Hans e os outros tinham feito isso. Eu olhei pela janela e vi o estrago que tinha feito, barcos e navios, cobertos de gelo e neve. Era tudo branco lá fora, eu fiquei muito assustada. Um pouco mais tarde, Hans chegou e me pediu para acabar com o inverno eterno, mas eu não podia. - falou Elsa, com pesar na voz.

– Você sempre ficava com medo de machucar sua irmã, e até um tempo atrás você estava com medo de machucar um reino inteiro - falou Jack um pouco triste.

– Você sempre me abraçava, falando que nunca faria mal a ninguém. - disse Elsa com um leve sorriso. - Isso fez um pouco de falta.

Ficaram vermelhos. Era tão natural para Jack abraçar Elsa, quando era pequena. Porém, aquela garotinha tinha crescido, agora era uma mulher. Mas isso não era de todo ruim.

– Eu congelei as algemas que me prendiam, as quebrei e fugi. Só piorei as coisas, Jack. Fiquei descontrolada, aquela dor que sempre me seguiu, desde que feri minha irmã, nunca saiu de mim. Eu estava perdida na minha própria nevasca, não via praticamente nada, apenas Hans com uma espada na mão. - Jack olhou para Elsa com a cara fechada - Ele me contou... Q-Que... - Elsa não conseguiu terminar, olhou para Jack com lágrimas escorrendo pela sua face.

– Contou o que? - perguntou Jack contendo a raiva. Ninguém magoava seus amigos, principalmente se fosse Elsa.

– Ele me contou que Anna estava morta.
Elsa era muito forte, muito controlada... Afinal, tinha se fechado durante anos, tentando nunca demonstrar suas emoções. Mas, às vezes, ninguém consegue se conter.

Elsa chorou um pouco, e Jack ficou triste. Ela deu as costas a Jack, para ele não a vê-la chorar, mas ele rapidamente se colocou na frente dela denovo e fez surgir um lindo floco de neve.

O floco dançou em volta de Jack, depois em volta de Elsa, ela riu. Foi exatamente como à 13 anos atrás. Quando Jack encontrou pela primeira vez Elsa.

– Você nunca muda, não é? - disse Elsa, sorrindo e enxugando as lágrimas.

– Eu preciso mudar? - disse Jack, em um tom arrogante. Nesse momento, Elsa avançou na direção de Jack e o beijou na bochecha. Os dois coraram.

Se olharam envergonhados e Jack a pediu pra seguir.

– Bem... Eu estava devastada, caí de joelhos no chão, e em questão de segundos, eu escutei o som de uma espada quebrando e alguem caindo. Anna estava congelada, se sacrificara por mim. Eu logo a abracei. Após um tempo muito longo para mim, Anna voltou, e eu a abracei mais forte ainda. Ela precisava de um ato de amor verdadeiro para curar um coração congelado. No final, era o que eu precisava também, eu consegui, finalmente, retirar a maldição do reino de Arendelle. Hans foi mandado para seu reino, para receber lá, sua punição adequada. O verão voltou à Arendelle. Eu aprendi que, o que me impedia de controlar meus poderes, era meu medo. Eu passei a ficar mais tempo com a Anna, e... Ah! Ela comprou um trenó novo para o Kristoff e eles viraram namorados, mas isso é outro história. - disse Elsa com um sorriso enorme no rosto. Jack também sorriu.

Jack tirou a mecha de cabelo que tinha sobre o rosto de Elsa e ela perguntou o que tinha acontecido nesse tempo sem eles se verem. Ele mudou de assunto na mesma hora, e perguntou se não era melhor chamar os outros. Foi o que fizeram.

|Take Me Along|Shadows of my Heart|