Eu não sabia pra onde estava indo, eu só queria sair dali. Queria estar longe de tudo que me lembrasse daquele homem. Eu não estou chorando e nem pretendo. Chorar por alguém que nunca se interessou por mim ou pela minha vida, alguém que nunca estava presente, não vale a pena. Eu estaria chorando por um desconhecido. Saio andando, aparentemente, sem rumo e, quando dou por mim, estou na praça. Corro até a parte cheia de árvores. Meu lugar favorito, apesar de me dar um pouco de medo. Mas, no momento, estou com tanta raiva que não tem lugar pro medo dentro de mim. Ouço passos vindo logo atrás de mim. Paro imediatamente. Fico um pouco tensa. Olho em volta, mas não vejo nada. Eu devo estar ficando paranoica.

– Não é seguro uma donzela indefesa e frágil sair por aí sozinha. – Disse uma voz atrás de mim. Levei um susto.

– Você tem quem parar com isso. Vai acabar me matando do coração qualquer dia desses. – Disse para Tyler que se aproximava. – O que você quer?

– Vim ver se você tá bem. – Soltei um riso fraco.

– Já disse que não to bem. – Ele deu os dois passos que nos separavam e me abraçou.

– Eu sei que isso deve ser muito difícil pra você. Acredite, eu sei. Já passei por algo parecido. Mas você tem que ser forte. Não pode deixar que isso estrague a sua vida. Eu sei, ele é seu pai e, mesmo ele não estando presente em quase nenhum momento da sua vida, você o ama. Bom, eu não disse que seria fácil. Mas eu estou aqui pro que precisar, tá bem? – Assenti. Ele não ousou me soltar nem por um segundo. – Que tal tirarmos algumas fotos por aqui? – Disse me soltando gentilmente.

– Tyler, eu não...

– Resposta errada. – Me interrompeu. – Vamos tentar de novo. – Revirei os olhos. – Que tal tirarmos algumas fotos por aqui? – Ele fez um sinal como se dissesse “Essa é a sua deixa.”

– Claro. É uma ótima ideia. – Respondi com um pouquinho de ironia na voz, a qual Tyler pareceu não notar ou ignorar. Ele estava sorrindo.

– Ótimo! Me passa a câmera. – Ela estava pendurada no meu pescoço. Eu tinha me esquecido dela.

– Você não sabe tirar fotos. – Afirmo tentando parecer superior. Ele bufou.

– Tirar fotos é a coisa mais fácil do mundo! – Exclamou. – É só mirar em qualquer lugar e apertar um botão. – Completou desdenhoso.

– Você está me ofendendo! – Disse começando a ficar com raiva. Como ele pode falar assim da arte de fotografar? – Fotografar requer concentração, respiração controlada, equilíbrio, visão artística...

– Bobagem! – Me interrompeu pela segunda vez. Olhei para ele incrédula. É sério que ele quer arrumar briga comigo AGORA?

– Bobagem? Você tá chamando a coisa mais importante da minha vida de bobagem? Você só pode estar de brincadeira!

– Não, não estou. E digo mais: eu tiro foto melhor do que você! – Ah, ele não disse isso.

– Isso é um desafio? – Deu de ombros.

– Talvez.

– E quem vai julgar? Gustavo, alguns amigos meus, alguns amigos seus, talvez? – Sugeri.

– Não. Eles te escolheriam, porque você é mulher.

– Seu machista! – Falei rindo.

– Só estou falando a verdade.

– Não tá não. Você tá com medo. – Ri mais ainda. – Sabe que vai perder.

– O que? Sem essa! – Disse indignado. – Beleza, você escolhe os jurados.

Eu sabia que Tyler estava fazendo isso tudo pra me animar. Normalmente, eu o cortaria na hora, mas acho que seria bom ser mimada um pouquinho. Só por agora. Acho que esse lance todo me deixou um pouco carente.

Passamos um bom tempo tirando fotos por aqui. Depois fomos fotografar a parte frequentada da praça. Estávamos revezando a câmera. Estava sendo bem divertido, na verdade. Tyler tirava algumas fotos horríveis, mas outras, devo confessar, ficaram boas, mas, modéstia parte, as minhas ficaram melhores, porém, eu não disse nada.

No fim da tarde voltamos para casa. Gustavo estava dormindo. Assisti um filme na sala com Tyler. Comemos pipoca, olhamos as fotos que tiramos, conversamos um pouco. Ele foi embora tarde da noite. Quando terminei de subir as escadas, Gustavo saiu de seu quarto. Provavelmente, estava acordando agora. Ele me abraçou no corredor e perguntou se eu estava bem. Respondi que sim e entrei no quarto. Antes de tudo, preparo minha mochila para aula de amanhã. Peguei o livro que Will havia deixado na mesinha, deitei e li um pouco antes de cair no sono.

...

Acordei no dia seguinte com o mesmo barulho irritante do despertador. Não sei como ele ainda está inteiro de tanto que eu bati nele e o joguei no chão. Me levanto nada disposta, pego meu uniforme e vou direto pro banheiro. Ouço barulhos vindos da cozinha. Deve ser Gustavo preparando o café. Tomo um banho um pouco demorado e me visto rapidamente. Deixo o cabelo solto e faço minha maquiagem de sempre. Tinha pouco tempo para comer devido ao tempo que gastei no banho, então, peguei uma maça e saí depois de dar “bom-dia” a Gustavo. Em pouco tempo estou na porta da escola. Encontro com Mary, Will e Holly. Cumprimento a todos e começamos a conversar. Depois de um tempo falando de séries de TV, Mary pergunta a Holly:

– Quando vamos ver seu namorado de novo? Você quase não fala dele e nós nunca mais o vimos. – Eu até me esqueci que Holly namorava..

– Não. É que... E-Ele prefere... Não aparecer muito, sabe? Meus pais não sabem ainda. –Ela pareceu nervosa e desconfortável em falar disso e logo mudou de assunto. – Então, Mary, soube que o amigo do seu primo se mudou pra cá.

– Ah, é verdade. Acho que vai morar na sua rua, Jennifer. Ele se muda hoje. Nós vamos na casa dele hoje pra “festinha” de boas-vindas. Se você quiser ir, a gente passa lá na sua casa.

– Por mim tudo bem. Vou ver com o Gustavo se posso.

– Se quiser pode chamar ele também. – Ela disse. Ela não disfarça muito bem. Eu sorri.

– Ok. – Disse apenas.

Logo o sinal tocou e tivemos que entrar. Me sentei ao lado de Will dessa vez. Contei as “novidades” sobre meu pai (“Sinto muito.” Ele disse.) e sobre o suposto interesse de Gustavo em Mary. Ele não pareceu incomodado com a ideia dos dois ficarem juntos. Achei legal da parte dele. As duas primeiras aulas passaram lentamente, mas não fiquei entediada nem nada, afinal, estava com Will. O intervalo durou o que pareceram horas. Não sei de onde tiramos tanto assunto pra conversar. A última aula era de história. O professor tinha aquela voz de lesma morta que deixava qualquer um com sono, mas as provas estavam se aproximando, então, me obriguei a prestar atenção na explicação e fazer os exercícios.

Will me acompanhou até em casa. Entrei em casa e, automaticamente, olhei para o sofá onde, geralmente, Gustavo fica, mas ele não estava lá. Tyler não tinha dado sinal de vida até agora. Supus que eles tivessem saído pra sei lá onde. Fiz almoço pra mim e comi vendo TV. Depois de assistir a 2 filmes, fui para o meu quarto fazer os deveres de casa que estavam atrasados e estudei um pouco. Olhei a hora: 17h. Nem sinal de Tyler e Gustavo. Sei que eles são bem grandinhos pra cuidarem de si mesmo, mas estou ficando preocupada. Mandei mensagem para dois perguntando onde estavam. Tyler respondeu quase que imediatamente: “Saindo com os amigos. Já está com saudades? De noite to ai.”. Já Gustavo demorou quase 30 minutos: “Me divertindo. Não enche. Vou chegar tarde em casa.”. Doce como um limão. Decidi ler um pouco. Uns 20 minutos depois, Mary me manda uma mensagem: “Festa 19h. 18:30h to ai pra te ajudar a terminar de se arrumar. Xoxo”. E é nesse momento em que a gente entra em desespero. Mary ajudar a me arrumar? Vai dar treta. É que, não se vocês perceberam, mas nosso gosto é totalmente diferente. Meu celular treme de novo. É Mary: “Holly vai também.”. Menos mal. Me sinto mais segura com Holly por perto. Só ela consegue domar Marienne Davis. Continuei lendo até 18:10h e fui ver alguma roupa pra usar enquanto as meninas não chegam. Peguei uma bermuda jeans e uma blusa branca molinha lisa. Tomei um banho, lavei o cabelo e depois passei uns cremes no corpo. Não me maquiei, não arrumei o cabelo nem nada, porque sabia que se o fizesse, aquelas duas iriam me obrigar a tirar e fazer de novo. Eu sei que se eu não quiser, eu não preciso me vestir ou me maquiar do jeito que elas querem, mas, como eu já disse, é bom ser mimada um pouco. E com a Holly aqui, eu não preciso ter tanto medo. Com o tempo, eu percebi que ela não é tão, digamos, exagerada quanto a Mary. Desço e fico no sofá até que a campainha toca. As meninas nem pedem permissão, saem entrando e vão direto pro meu quarto. Eu as sigo. Entramos no quarto e elas começam a espalhar um bando de coisas pela cama e pela mesinha. Ok, agora eu to com medo.

– Anh... Meninas, pra que tudo isso? – Perguntei meio apavorada.

– São só algumas coisinhas que a gente precisa pra se arrumar. – Mary disse dando de ombros. Ela parou de mexer nas coisas e se virou pra mim. – O Gustavo vai? – Disse quase num sussurro.

– Ah... Não. Ele saiu com uns amigos. Mas eu disse que ia chamar vocês pra dormir aqui em casa hoje. Ai vocês que sabem.

– Eu topo. – Ele respondeu.

– E você, Holly? – Percebi que estava meio calada hoje. A Holly nunca fica calada. Ou ela está doente ou aconteceu alguma coisa. – Tá tudo bem, Holly? Você tá passando mal? Quer alguma coisa?

– Não, não. – Ela diz apressadamente. – Eu to bem. Não precisa. Obrigada. Anh... Dormir aqui? Pode ser. Vai ser legal! – Ela disse com nenhum entusiasmo na voz. É, aconteceu alguma coisa.

– Tudo bem, então. Vamos ao trabalho. Temos muita coisa pra fazer! – Exclamou Mary.

Elas reviraram o meu guarda-roupa. Procurando alguma coisa decente pra eu usar. Acabaram achando um vestido tomara que caia rodado preto de renda. Eu quase não o uso, só em ocasiões MUITO especiais, mas Mary insistiu tanto, que eu acabei cedendo. Depois, me sentaram em uma cadeira e, enquanto Mary fazia meu cabelo, Holly fazia a maquiagem. Era uma situação estranha. Nunca tive tanta atenção assim (Não, eu não tive festa de 15 anos.). Eu tenho medo dessas garotas estarem exagerando e eu ficar parecendo uma palhaça no final. Holly passava muito pó na minha cara e Mary puxava o meu cabelo e depois passava um treco quente, que eu acho que era chapinha. Eu não estava em frente ao espelho, logo, não podia ver o que elas estavam fazendo. Depois de passar o batom em mim, Holly disse:

– Pronto!

– Quase acabando aqui. Só preciso de... Me passa essa óleo ai Holly. – Ela passou. Mary passou o óleo com tanta vontade no meu cabelo que eu fiquei com um pouco de dor de cabeça, mas resolvi não dizer nada. A senti prender meu cabelo em alguns pontos. Passou a mão por ele mais um pouco. – Você já pode se olhar no espelho.

Me levantei apreensiva e andei lentamente até o espelho com medo do que eu iria ver. Parei em frente ao espelho de olhos fechados, respirei fundo e os abri. E, cara... Eu estou linda! Minha maquiagem estava incrível! Meus olhos estavam contornados com lápis de olho preto e delineador, máscara nos cílios e sombra preta. O batom que Holly havia passado era cor de boca. Meu cabelo estava preso apenas nas laterais deixando o resto solto, inclusive minha franja. Fui me vestir já que faltavam 5 minutos para às 19h. As meninas já estavam com o cabelo arrumado e trouxeram a roupa pra se vestirem aqui. Terminei de me arrumar e elas já estavam prontas. Holly vestia um vestido branco de alcinha e Mary um vermelho também de renda com manga comprida. Mandei uma mensagem para Gustavo e Tyler avisando que eu ia sair com as meninas.

– E Will? Ele não vai? – Perguntei enquanto descíamos as escadas.

– Vai sim. – Respondeu Holly. Já estávamos passando pela porta. – Ele vai nos encontrar lá. Quer dizer, ali. – Disse apontando pra casa em frente à minha.

– O que? – Perguntei.

– Esse foi o endereço que nos deram. – Disse Mary. – Acho que você vai ter um novo vizinho de frente, Jennifer.

– Ah, legal. – Disse apenas e atravessamos a rua.

A porta já estava aberta, mas não tinha sinal de nenhuma grande festa por aqui. Encontramos algumas poucas pessoas no caminho. As meninas cumprimentaram algumas e eu fiquei calada apenas seguindo-as. Até que...

– Meninas! Que bom que vieram! – Disse... Silas?