O Desastre - repostagem escrita por pat


Capítulo 2
Capítulo 2 - Relembrando o passado - pt 2


Notas iniciais do capítulo

agradeço pelos comentários



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“Fiz coisas erradas no passado, e infelizmente não posso concertá-lo. A única coisa que me resta é seguir em frente, olhando sempre pra frente.” – Yasmin

Depois de tudo o que aconteceu, só eu e meu pai ainda estamos juntos. A família está completamente dividida, e tudo por minha culpa. Ainda me lembro do que eles me falaram da última vez em que os vi:

“- você matou nossa mãe! Foi tudo culpa sua! Se ela estivesse viva, ainda estaríamos juntos! E claro, se você não tivesse nascido nada disso teria acontecido!”, essas vozes ainda ficam na minha cabeça. Já faz um mês que a minha mãe morreu, e eu ainda continuo me culpando por tudo o que aconteceu.

Se eu não tivesse caído; se eu não tivesse voltado para casa; se eu fosse mais organizada; se eu não tivesse feito isso ou aquilo; se eu tivesse obedecido; se eu ...A minha cabeça estava cheia de dúvida, não sabia mais o que fazer. Gostaria de voltar no tempo e fazer tudo de novo; gostaria de mudar aquela história.

Se eu pudesse fazer isso mudaria tudo o que aconteceu, mas como todos sabem não se pode mais se mudar o que aconteceu. Então só podemos ir tocando a vida em frente sem olhar para o passado, tentar apagar as lembranças ruins e só se lembrar das lembranças boas.

Era um momento em que eu e meu pai precisávamos de muito apoio, pois era difícil agüentar isso tudo que estava acontecendo. Eu só queria ficar sozinha, longe de tudo e de todos, para que não acontecesse algo de ruim com as pessoas que ficavam perto mim.

Algumas até sabiam o que tinha acontecido e ficavam me encarando, pareciam que iriam me matar com os olhos. Eu não agüentava mais aquilo, era muito ruim sair na rua e se deparar com alguém te encarando, ficar sozinha todos os dias só porque as pessoas te acusam.

Meu pai estava se envolvendo com algumas pessoas que eram bem legais, ou pelo menos era o que eu achava. Alguns daqueles caras eram bastante estranhos e mexiam com coisas que não podiam comprar porque era muito caro e então eles roubavam. E o meu pai estava junto com eles. Quando isso aconteceu pela primeira vez, eu perguntei para um deles e ele falou que só estavam pegando emprestado, então eu perguntei por que que não pediram de dia enquanto o dono estava ali, ele falou que o dono era amigo dele e deixava ele pegar “emprestado” o que eles quisessem.

Mas mesmo assim eu estava achando aquilo muito estranho. Lembrava-me que a minha mãe sempre falava que se pegava algo de noite e não pedia, era porque estava roubando. Eu estava achando que eles estavam me enrolando e então falei para o meu pai sobre isso e ele falou que precisaríamos disso depois. Na última vez que fui junto, eu perguntei uma coisa e o cara mais bravo disse pro meu pai porque ele me levava junto, assim não ia dar mais para eu ir porque eu não calava a boca, e a partir daquele dia eu ficava escondida bem longe deles para não morrer.

Mas aquilo já estava saindo fora do controle! Eles estavam começando a matar pessoas com aquelas coisas em vez de ajudá-las, pedi para papai ir embora daquele grupo mas eles escutaram, pediram que eu saísse para a rua e falaram para papai que se ele saísse, eles me matariam e falou para que ele me explicasse, mas ele se recusou porque sabia que eu não aceitaria aquela resposta.

Aquele cara bravo foi até a minha direção e me disse que quando alguém entrava não podia mais sair e que meu pai teria que ficar até o fim. Estava com muito medo, porque sabia que eles estavam fazendo a coisa errada e que machucariam ainda mais pessoas inocentes.

Certo dia,tivemos que sair correndo porque estavam vindo soldados para a guerra.que estava bem perto dali. Ficamos escondidos para não sermos mortos e quando os soldados estavam dormindo eles foram até o acampamento roubar armas e munições.

No outro dia, a guerra começou e os soldados estavam sem nenhuma arma ou munição então todos eles morreram. Isso foi muito ruim porque depois que isto aconteceu, os soldados inimigos conquistaram nosso território e tivemos que nos render. Mas os homens não quiseram se render e então foram mortos. Meu pai para não morrer se juntou com mais um homem para fugirem, o que funcionou e não fomos pegos pelos soldados.

Então no outro dia tudo voltou a ser como era antes: começaram a roubar em vez de trabalhar e fomos obrigados a fugir para outro país, senão seríamos pegos e mortos.

Eu procurava sempre, sempre ficar longe dele para não me meter em confusão, mas enquanto eu caminhava pelas ruas acabava me chocando com uns garotos que gostavam de brigar então sempre levava uma surra deles. Quando chegava onde meu pai estava ele me dava uma bronca e me botava de castigo e ia roubar de novo.

Quando perguntava por que ele não parava de roubar, e ele dizia: ‘ se parar de roubar não vai ter o que comer ou como nos proteger’, isso me incomodava muito. Quando ficava de castigo adorava ficar embaixo de uma grande e velha árvore, as raízes dela eram confortáveis, produzia uma grande sombra, embaixo dela, sempre havia uma brisa fresca e suave, a relva era totalmente confortável, absolutamente nada poderia me incomodar.

Mas eu sempre dizia comigo mesma: se um lugar está muito calmo, é porque tem algo de errado. E desta vez eu tinha razão: os garotos da vila descobriram onde eu ficava para fugir deles e eles queriam ter uma ‘conversinha’ comigo porque eu tinha zoado da cara deles uma semana antes. Eles começaram a me cercar, e eu estava morrendo de medo, mas fui salva pelo congo: um garotinho da mesma idade que eu foi até o garoto maior e disse: vai bater em alguém do seu tamanho! E apenas com um taco de beisebol ele bateu em todos os garotos e falou para nunca mais me seguirem. Tornamos-nos amigos a partir daquele dia, grandes amigos.

Contava meus segredos para ele, tudo o que eu temia o que eu gostava e o que não gostava e ele também; comíamos junto, dormíamos junto. Foi o nerd que me ensinou a ler, que me contou as histórias de heróis, de bravos guerreiros que morreram pelo seu país. Até brincávamos que éramos os guerreiros.

Chegou um dia que ele chegou meio triste e me falou que sua mãe havia morrido e que alguns homens viriam pegá-lo. Foi então que eu bolei uma idéia: fazer uma casa embaixo das raízes da árvore. Não era um lugar muito confortável mas já era o suficiente para mantê-lo longe do alcance daqueles homens. Assim que terminamos já era a hora de eu voltar para onde meu pai havia marcado senão ele descobriria onde eu me escondia dele.

No outro dia, aqueles homens bateram na porta de casa para saber se não sabíamos onde estava o garoto da vizinha já que não o encontravam. Assim que eles se foram eu saí pelos fundos e fui até o meu esconderijo para avisar ao nerd, mas no meio do caminho acabei tropeçando e caí em cima dos garotos da vila e me meti numa tremenda enrascada! Agora eles me fariam pagar pelo o que o nerd fez com eles. Ah mas foi muito engraçado ver quase 10 garotos de 14 anos apanharem de um menino de uns 6 anos. Eu teria que ser muito esperta para não levar uma surra e me atrasar para chegar no meu esconderijo.

A primeira coisa que eu fiz foi pensar como o nerd: o que ele faria? Bom foi naquele exato momento que eu vi uma lata de lixo que tinha uma tábua que era erguida por um saco de batatas até o portão. Não pensei duas vezes: arrisquei-me e fiz aquilo correndo. Só foi eu atravessar o portão que a tábua caiu. Eu consegui chegar a tempo no meu esconderijo.

Ao chegar vi o nerd me esperando do lado de fora da casa, cheguei até ele e puxei-o e saímos dali correndo. Então ele me perguntou: - pra que tanta pressa?

Então respondi:- aqueles caras apareceram lá em casa e perguntaram onde você poderia estar, e ele falou para eles verem no terreno onde estávamos.

Só foi nós sairmos do terreno que aqueles caras chegaram e viram que não havia nada ali, exceto por uma casa dentro das raízes da árvore. Um cara foi ver o que tinha dentro e viu que tudo era muito organizado para não haver ninguém ali. Foi então que eles armaram um plano: fizeram um buraco em frente a casa e se esconderam. Um deles foi até a casa do meu pai para ver onde eu estava, meu pai disse que eu estava no quarto, e então ele levou o cara até lá para confirmar.

Ainda bem que eu tinha colocado a minha cama na porta, o que dificultava um pouco que a porta fosse aberta. Tinha desconfiado disso então escondi o nerd e entrei correndo pela janela do meu quarto a tempo deles abrirem a porta. Quando conseguiram abrir a porta viram que eu estava no chão pintando algo e que a cama estava bloqueando a entrada deles.

Aquilo foi por pouco! Quase que fui pega, mas como o nerd disse: tem que ser mais esperta do que as outras pessoas para não ser enganada. Até que era legal ficar aprendendo com ele, exceto quando ele ficava falando várias coisas sem noção. Fora isso, o tempo passava tão rápido que não nos dávamos conta e eu já tinha que voltar para casa.

Uma vez em que eu fiquei um dia inteiro até de noite, meu pai não descansou até me encontrar e quando me encontrou me colocou de castigo por uma semana sem sair de casa, o que é óbvio me deixou muito zangada. Então tive que prometer que nunca mais chegaria depois das seis em casa, o que encurtou muito as minhas aventuras.

Depois que conheci o nerd tudo havia mudado, até me tornei um pouco mais educada (bem pouquinho), já que todos me chamavam de praga. Agora que eu já tinha mudado um pouco não queria mais me meter em confusão, já que o nerd que sempre me tirava de todas elas também estava sendo caçado como uma presa. Tudo havia mudado menos o meu pai que continuava a fazer bobagens. Não queria que ele fizesse isso porque quem rouba tem que ir preso, mas ele não podia ir preso senão eu era levada para um orfanato já que não tinha mãe, por isso sempre tentava ficar fora de casa o máximo que eu podia para não ver o que meu pai fazia de errado.

Certa manhã, me acordei dentro da casa embaixo da árvore, e estranhei porque estava tudo muito quito, acordei o nerd, e eu tinha que sair logo dali antes que meu pai descobrisse que dormi fora de casa. Quando saí do terreno, estranhei porque tudo estava estranhamente silencioso, o céu estava nublado e suavemente começou a cair uma chuva fininha anunciando a chegada do inverno. Avisei o nerd para não sair dali que eu voltaria em breve. Quando cheguei em casa meu pai estava com uma mulher e disse para mim que eles iriam se casar. Mas não sabia ele que ela era a mulher que estava atrás do nerd, claro não era ele que estava escondendo o nerd, mas aquela mulher sabia que era eu.

Então certo dia ela me seguiu e viu que eu falei com alguém de dentro da casa. Então ela aguardou com muita paciência para ter a certeza de que era o garoto de quem estava atrás. Assim que ele foi para a rua, ela atirou nele um sonífero, o que o fez cair bem em cima daquela armadilha.

Então ela chamou o meu pai e me entregou na frente de todos os vizinhos, o que me deixou com muita vergonha, mas eu fiquei muito triste só em saber que eu nunca mais veria aquele nerd, que me ensinou tantas coisas e que eu nem sabia o nome dele. Fiquei vários dias sem falar com alguém ou até mesmo comer. Até que anunciaram o dia do casamento: seria na próxima semana.

A casa estava em silêncio àquela manhã então aproveitei para fugir pelo terreno vazio. Mal conseguia correr naquele frio que estava, e eu sem calçado, nem sequer um casaco, corri em direção a casa embaixo da árvore. Ao chegar entrei pela janela e me deparei com os pertences do nerd, não queria que aquilo fosse realmente verdade, não queria que aquilo tivesse realmente acontecido.

Fiquei dois dias ali, no frio intenso até que decidi voltar para casa já que meu pai nem se lembrava mais de mim. Ao chegar em casa não tinha ninguém a porta estava trancada então me dirigi à igreja. Ao chegar lá meu pai já tinha se casado e estava indo viajar. Eu os segui, corria o mais rápido que podia até perder eles de vista, até que eu cheguei em uma pousada.

Ao entrar vi a tempo o meu pai olhar para mim meio assustado, e então aquela mulher apontou uma arma na minha direção. Pensei que aquele seria o meu fim, mas de repente, o meu pai pulou na frente. Então aquela mulher disse: é esse o fim para os que fazem coisas erradas. Desesperei-me ao ver que o dono da pousada também estava morto então comecei a gritar desesperadamente até não ter mais forças para gritar. Foi aí que chegou umas pessoas e viram o que tinha acontecido.

Recolheram os corpos e de repente chegou os mesmos caras que levaram o nerd um mês antes e me pegaram. Eu não tinha mais forças para lutar, não mais. Tudo o que me restava se foi e eu fiquei só num mundo cruel. Como eu queria ter morrido junto com ele naquele dia.


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Notas finais do capítulo

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