O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 6
Mais que amigos


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores amados da minha vida! Desculpe mesmo pelo "hiatus", é que a vida real ficou no caminho, sabe... Faculdade, trabalhos de escola e pela manhã, falta de inspiração por um tempo *facepalm*
Para compensar a demora, esse capítulo ficou o maior de todos! Pensei com muito carinho como havia dito antes. É uma grande honra poder concluir essa história e já sinto falta dela!



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Em menos de 24 horas Sherlock Holmes havia aceitado um caso, mais como uma cura para seu tédio. Ainda cedo, chegou bem perto da pista errada e quase pôs tudo a perder. Seus sentidos se voltaram para um suspeito: William Overton. E quem lhe mostrou estar equivocado lhe apontou indiretamente para um garoto que passou despercebido, não ligado emocionalmente a Nicholas Staunton, o garoto ruivo, de olhos verdes. Em seu primeiro contato com o detetive, este último “leu” nele: inteligente, heterossexual, problemas com a família, mentiroso. Mentiroso.

Mas ignorou esta informação como uma série de eventos mais tarde. Sherlock subestimou a capacidade de atuação e frieza do real culpado. Sem saber ao menos seu sobrenome: realmente ele se chama Jack?

―Está tarde e acho que já vimos o bastante para incriminá-lo. Eu não só entendo porque ele fez isso. –John fez beicinho.

―Não quebre as regras do jogo. Pelos meus cálculos teremos companhia logo mais. Você não está com sono? –Sherlock mantinha uma fachada calma.

Os dois ficaram escondidos nas sombras, vigiando em total alerta. Meia hora depois o alerta já não era tão total assim. John pendia sua cabeça, para afastar o sono balançava-a e alternava com pequenos tapas no rosto. O médico lutava. Conforme o tempo passava, Sherlock sentiu algo encostar-se a si, sem mais resistência, uma cabeça loira pousava no ombro do detetive.

―Lugar estranho para dormir, suas bichas! –uma voz desconhecida zombou. Com ele formavam um trio de homens encapuzados, que sem explicação chegaram em uma hora perigosa.

Sherlock que era o mais desperto de os dois, já esperava por isso, mas não os conhecia.

John ainda na terra dos sonhos acreditava que estes eram os aliados sem-teto com novas informações.

―O que há de novo, companheiros? –perguntou em um tom amigável.

O moreno ficou com uma pontada de culpa por não contar direito ao doutor o que se passava e deixá-lo nessa situação embaraçosa.

―Não temos nada que interesse a vocês, vão embora! – Sherlock cortou. Essa ordem não ajudou em nada acalmar os ânimos, pelo contrário, só fomentou o ataque, mas era uma forma de o moreno deixar claro para o loiro de que lado estes eram.

―O que vocês vão fazer? –um deles provocou. Os três foram cada vez mais se aproximando e fechando o cerco. Sherlock não se intimidando levantou acenando para o outro fazer o mesmo. Sua postura era desafiadora, avaliou a condição em que se encontravam: aparentemente os arruaceiros não portavam armas de fogo, logo não era um perigo. Inesperadamente John sacou seu revólver apontando em direção ao homem do meio.

―Isto. –lançou seu olhar mais ameaçador- Dê um passo à frente e arrebento seus miolos! –rosnou.

O líder do trio ergueu uma mão tentando apaziguar, mas isso era na verdade uma tática para distrair John. Enquanto os homens nas extremidades, munidos de apenas uma faca e uma barra de ferro, se aproximariam de Sherlock para fazê-lo de refém, porém este percebeu antes mesmo de eles tentarem alguma coisa.

Vatican cameos! –o detetive gritou.

Ao ouvir o alarme/código o loiro deu dois tiros para o alto, pois não queria machucar ninguém a menos que fosse extremamente necessário. Lançou-se na frente de Sherlock protegendo-o, mas por ser mais baixo, ainda ficava exposto meio metro.

―Isso são balas de festim? –o portador da faca zombou não se intimidando.

―Quer comprovar? –John em seu melhor estilo de militar cuspiu. Sherlock como “donzela em perigo” virou geleia com essa atitude apesar de estar preparado para aplicar seus golpes de baritsu nos dois e desarmá-los.

O medo estampado nas faces dos homens era inegável, e John não vacilou em seu objetivo de proteger o amigo acima de qualquer coisa.

―Agora eu vou contar até três e vocês vão sair correndo. –o loiro ordenou- OUVIRAM? –apenas assentiram sem desviarem a vista da arma.

–X-

Hotel *** madrugada de sábado para domingo

Will não havia comido nada o dia inteiro, seus olhos estavam fundos e agora ele não conseguia dormir. Quando os fechava, a imagem que vinha era de Nick sorrindo e depois ele chegando ao quarto e não o encontrando. Seu companheiro de quarto fingia dormir e ria internamente ao perceber seu estado.

―Hey, ainda acordado? –o ruivo perguntou com fingida preocupação.

―Nem consegui pregar o olho –respondeu olhando para o teto.

―Eu nem sei se vale a pena continuarmos aqui ou se vamos ao concurso, ele está arruinado, o grande dia será amanhã, digo, hoje.

―O senhor Holmes não me contatou. Espero que ele esteja próximo de descobrir a verdade. –Will virou-se para o lado, sem esperanças de descansar.

–X-

Tudo que aconteceu foi um grande susto. A adrenalina da luta foi um agente natural para despertar Watson. Ele e Sherlock estavam ofegantes.

―Admita você sentiu falta disso! –Sherlock disse um fantasma brincando em seus lábios.

―Eles não queriam nosso dinheiro, só vieram nos importunar, podem estar a serviço de alguém.

―Começo a crer que Jack é inteligente, sabia que aguardávamos, mordemos a isca e ele manda seus sujeitos para nos amedrontarem. Estou a um passo de desmascará-lo.

―Eles talvez saibam onde está Nick e escaparam!

―Até eu correria depois de um soldado me ameaçar e eu estivesse desarmado!

―Engraçadinho, apenas preciso de um pouco de descanso. Só quero a minha cama. Vamos agora ou esperar pelo trem? –John interrogou com uma careta séria e de braços cruzados. Resolveremos pela manhã.

[...]

John não se importou com mais nada, capotou em cima do colchão sem desamarrar os sapatos ou cobrir-se com um lençol, pois tamanho era seu enfado. Entrementes Sherlock andava de um lado para o outro, com a ameaça invisível sondando-lhe, ameaça que mal tinha vinte anos de idade e nenhum escrúpulo. Entretanto o jovem não sabia com quem lidava: o famoso detetive, o indestrutível, sobrevivente à queda, ao tiro, que para se mostrar a seu único amigo, enfiava os pés pelas mãos.

Após exatos 7:30 da manhã de domingo, Watson aparentemente desmaiado, não se movia deitado de bruços, roncando suavemente.

O moreno, ansioso demais para despertá-lo, sem ser rude, para em seguida saírem à caça e resolver isso de uma vez por todas. De cinco em cinco minutos ele sorrateiramente ia espreitar e nada, começou a pisar mais firme a cada passo, indo em direção à janela abri-la como se estivesse no próprio quarto. A claridade não afetou o loiro adormecido.

John abriu os olhos e se deparou com íris azuis o fitando. Sabendo o que isso significava, gemeu em protesto surdo.

―Que bom que já acordou. Espero que tenha descansado o suficiente. O tempo que passou dormindo me permitiu colocar umas coisas em ordem.

―Quatro horas no máximo! –disse após verificar o relógio- Me permite ir tomar banho e obter um pouco de café? –esfregou os olhos sentando-se na cama.

―Contando que não demore... – Sherlock avançava uma barreira do espaço pessoal do outro. Assistia John tirar os sapatos e esperava feito uma estátua no quarto.

[...]

―Jack lançou seu veneno e plantou pistas falsas, está manipulando seu colega. É lamentável a ingenuidade deste em não perceber. –Sherlock conversava com John enquanto ele estava no banho. Com o pequeno detalhe de permanecer em seu quarto.

O loiro saiu de roupão e teve de passar pelo quarto do moreno, mesmo havendo a possibilidade de sair pela porta do corredor. Sherlock o esperava bloqueando a passagem.

―Ao invés de usar um daqueles cardigans, eu reservei algo para você. –foi até o seu guarda-roupa e retirou de lá um colete cinza, metido à chique e bastante teen.

―Hum, pra quê? Preciso ficar bonito para interrogar um criminoso?

―Não seja bobo, eu gosto de seus cardigans. –deu de ombros com expressão sonhadora- Mas antes iremos passar em outro lugar.

John inexplicavelmente começou a crer que eles teriam algo como um... encontro? Que plano o detetive lhe reservava?

―Se não se importa tenho que subir para trocar de roupa. –o loiro não tinha mais nada a dizer quando se deu conta de sua aparência, a conversa nonsense e permanecer ali.

O moreno deixou a mão estendida com a peça pairando no ar.

–X-

O que John chamava de “café” não seria somente café preto como imaginou Sherlock. No caminho teve que de se servir de um sanduíche.

―Você não está com nenhuma roupa nova. –o mais velho observou.

―Desnecessário.

―E pra mim, por quê?

―Ficou bom em você. –essa explicação vaga do mais novo fazia disso uma conversa de dois adolescentes flertando.

―Eu gosto do seu sobretudo. –John normalmente acharia a própria observação idiota, mas não naquele momento. Deixou seu lanche semi-mordido esquecido, quando voltou à realidade notou estar mais comido do que deveria. Viu Sherlock discretamente mastigando.

―Liguei para Overton e perguntei sobre os outros dois garotos. Dei a notícia que abandonei o caso, alegando ser muito difícil e acredito que Staunton fugiu por que quis.

John ficou chocado, depois decepcionado, mas isso só poderia ser um truque.

―O que ele disse? –perguntou de boca cheia.

―Pude sentir seu desespero, esse garoto sentimental. Falou palavras dissonantes que por fim traduzi como “até mais”. O fato é que fiz minha jogada. Imediatamente ele anunciou a Jack, que agora deve estar confiante que me enganou e não quero dar continuidade à investigação ou na pior das hipóteses que eu suspeito de William. De qualquer modo é o que quero, então vamos encontra-los daqui há pouco. Espere um minuto!

Pegou o celular do bolso e discou para a Scotland Yard.

―Sim, sou eu. Urgente. Preciso falar com Lestrade. Gavin. –revirou os olhos com desprezo- Tanto faz. Como Hopkins? Hum, se não há outro... Covent Garden, Hotel Strand Continental Hostel. Rápido!

―Estão a caminho. Teremos uma manhã divertida! –o detetive esfregava as mãos.

–X-

O moreno desfilava com as mãos enfiadas no bolso da jaqueta de couro antecipando sua parte favorita: confirmar sua teoria. Errado! Fazer justiça. Não precisamente. Mostrar para John o quanto ele ainda é genial e impressioná-lo como da vez em que se conheceram. Bingo!

Para sua decepção a retórica que planejava fazer seguida de um interrogatório falhou completamente, uma vez que antes mesmo de adentrarem, recebeu a notícia que os jovens foram se preparar para dali a pouco participarem do concurso.

―Droga! Eu avisei que viria!

―Mas você mesmo que decidiu vir mais cedo! Se não fosse tão impaciente... e disse que largou o caso.

―John, não está ajudando. Ontem avisaram que não iriam, pois Jack não se sentia bem... Caramba! Como sou estúpido! –bateu no próprio rosto.

―Sugiro irmos ao concurso! –John fez aquela expressão peculiar de “seu smart arse”.

―Sem dúvida. Se esse garoto quer um escândalo com prazer assim o será!

―Espere! Não estaremos expondo muitas pessoas indo até lá? Dependendo de como ele reagir...

―Ele está acuado, não tem muita noção com quem se meteu. Estamos lidando com mais um amador, seria um bom aprendiz de Moriarty, mas ainda é uma pedra bruta. Suas últimas ações não saíram como planejado e talvez já tema o pior. Não se preocupe! Possuo experiência de interrogar desde psicopatas a ladrões de galinha, utilizando técnicas muito eficazes, psicologia reversa, por exemplo. Até penso fazer uma monografia a respeito.

―Quer dizer que é capaz de fazer qualquer pessoa revelar seus segredos mais profundos? Ou sentimentos?

―Existe um em especial que estou no caminho de descobrir. –deu uma piscadela travessa. John preferiu crer que ele se referia a Jack.

Sem esperar mais partiram em direção ao concurso que ficava um tanto longe.

Enquanto pegavam o táxi para ser mais rápido, Holmes contatava novamente os Yarders que pensavam ceder aos caprichos do consultor.

As primeiras pessoas, entre elas adolescentes em sua maioria meninas, começavam a chegar para apreciar o show. Havia bastantes bandas amadoras que traziam suas pequenas caravanas e alguns “fãs locais”. Outras iam por diversão e ver os “gatinhos”.

Ainda era cedo, porém os rapazes do Straight Idea chegaram para afinarem os instrumentos, se prepararem, mesmo sem seu vocalista. Lewis cantava também, não com tanta frequência, mas nesse dia se fazia necessário.

Will só estava lá de corpo presente. Não via sentido de participarem, quando uma parte importantíssima poderia definitivamente não voltar. O que seria do grupo? Seu amigo era insubstituível. “O que será de mim?” pensou. Agora seu último fio de esperança se foi desde quando o melhor detetive desistiu do caso.

Sherlock e John se aproximavam da casa de show, um prédio de esquina, conservando arquitetura de séculos atrás. E o loiro teve que detê-lo de seu estado de êxtase.

―Andei pensando sobre seus métodos. Er... já o teria resolvido mais depressa se nos dividíssemos nas viagens e evitaria vir aqui em cima do horário do show. Enquanto você viajava eu faria o restante aqui. Talvez já encontrássemos o garoto.

Watson como sempre alheio ao porquê de ser arrastado para vários lugares, mesmo sem entender no que estava se metendo.

―E onde estaria a graça? Eu estaria perdido sem meu blogger. Acalme-se, nós vamos encontrá-lo! Molly já me informou do teste de DNA que solicitei e estou certo! Procurar e encontrar aqueles fios de cabelos nos quartos foi por demais útil.

―Sabendo quem é o responsável por tudo isso, eu ainda não entendo muitas coisas. Como por exemplo, a minha presença quando eu não posso fazer nada.

―Lembra-se quando eu retornei do exílio e você não morava mais em Baker Street? Não pude suportar olhar a poltrona vazia, tive que movê-la, mas saiba que ela nunca abandonou o apartamento. Não havia me acostumado a ficar sozinho, de novo, precisava e preciso de você! –o final da frase foi dito tão baixo que John só ouviu por estar muito perto.

Demorou tanto tempo para isso ser dito, mas aquele momento impróprio veio a calhar, Sherlock pode ver os olhos de John úmidos e o ouvir murmurar algo como um “eu sabia...”. Não se contendo por mais tempo, e esperar por oportunidades especiais como no dia de seu casamento para abraçá-lo ou quando o convidou para ser seu padrinho e emendar que o amava sem ficar um clima estranho.

Este momento não era especial, mas eles poderiam torná-lo. Olhavam-se intensamente, quando o loiro tomou a atitude de estender os braços e enlaçar-se ao tronco do moreno, fechando os olhos e aspirando por cima de sua jaqueta. Sherlock pensou consigo: eu ganho abraços quando digo coisas agradáveis e sinceras. E então começou a acariciar os cabelos finos de seu amigo, uma vontade reprimida há séculos, enquanto John agarrava com força o tecido em suas costas. O moreno apoiou o queixo no topo da cabeça do mais baixo, sua mão deslizou até sua nuca e este se arrepiou com o toque. No entanto, Sherlock o afastou do abraço lentamente, até conseguir se conectar a tarefa que pretendiam concluir ali, que se referia a resolver o caso de desaparecimento, diga-se de passagem.

―Esse é o momento de nos dividirmos. Você procura-os pelos arredores e eu vou aos bastidores. Quem achar primeiro avisa. –seus dedos ainda nos ombros de John.

O coração de ambos pulsava mais forte, deram poucos passos em direções opostas, John virou-se para mirar o outro sem ser visto e na mesma hora esse se virou também. Foi tão embaraçoso para ele quanto para Sherlock deixar de seguir em frente apenas para admirar um ao outro e serem pegos em flagrante simultaneamente.

―Uh... tem mais alguma coisa para me dizer? É... instrução ou algo assim? –o loiro tentou contornar.

―Não... eu acho. Você tem?

Após uns segundos sem quebrar o contato visual, John se aproximou de Sherlock e direcionando a atenção para seu pescoço, disse:

― Se esqueceu de erguer a gola do casaco. –afirmou engolindo em seco.

―Ah! Mas eu não estou com o casaco! –a voz rouca aveludada saiu um pouco trêmula e ele respirava pesadamente.

Eles sabiam que não poderiam continuar naquele jogo, onde só havia dois jogadores, sempre. Ninguém ganhava. Onde John achava ver e imaginar coisas, Sherlock dizia palavras pela metade, no entanto o caso do elefante na sala era contínuo e perturbador. John não soube dizer por quanto tempo exatamente ficaram imersos na presença um do outro.

John estava tão próximo a Sherlock que podia sentir seu cheiro. Ele ficou à espera de um comentário sarcástico, do tipo que o chamasse de volta à realidade, mas tudo que vislumbrou foi insegurança.

Eles eram velhos amigos, conviviam com os piores defeitos e qualidades únicas e ainda assim John não deixava de sentir atraído pelo seu intelecto, a priori. Isso não soa como o amor? O homem não deixava de lhe surpreender. Não se abraçavam com frequência e tampouco demonstravam afeto em público. Mas a sua relação era mais profunda do que qualquer relacionamento amoroso que já teve, nenhuma mulher podia competir com isso. A interdependência, mais evidente a cada dificuldade que passavam.

A contragosto se distanciaram sem mencionarem o que havia ocorrido há poucos minutos.

Se não seguisse a carreira de detetive consultor, uma alternativa seria a de atuação. Holmes, conhecido por utilizar artifícios em seus casos quando necessário, desde disfarces para se esconder de curiosos como também para ter acesso a lugares restritos, colocando um chapéu ou se fantasiando por completo.

Nesse em especial, usava suas roupas habituais, entretanto sem o cachecol ou o casaco que davam lugar a uma jaqueta preta por cima da camisa roxa pra não dar tanto na vista. O fator mais importante era agir naturalmente como se fosse convidado, sorrindo eventualmente em sua busca.

John caminhava e acenava para as pessoas, quando teve a brilhante ideia de subir no palco recém-organizado. O ambiente até então somente se ouvia o burburinho e sons indistintos. O sonoplasta ao observar o loiro um pouco deslocado assumiu ele estar nervoso devido à apresentação. Por detrás das cortinas, Watson buscava algo na plateia.

Sherlock viu alguém muito parecido com Lewis nas proximidades, andou mais rápido para alcançá-lo, entretanto sua memória seletiva não se recordava de seu nome. O abordou de uma forma tão estranha, como se fosse um policial e o jovem portasse crack, este ao vê-lo sua boca fez um perfeito O.

―Onde estão seus companheiros?- o detetive perguntou tentando soar casual.

―O que você faz aqui? Veio ver a apresentação?

―Sim, de certa forma. Leve-me até eles! –pediu sem parecer rude.

―Venha comigo por aqui.

O baixista o conduzia em direção ao corredor, mas Sherlock antes correu para avisar conforme o combinado, encontrando John de costas observando. Tocou-lhe o ombro, fazendo uma pressão um pouco mais forte do que o normal.

―Chegou a hora! –alertou agarrando sua mão. Nesse mesmo instante a cortina se ergueu e ambos juntamente com Lewis olharam para a plateia repleta de garotas histéricas. Seguindo-se gritos, assovios e uivos. Eles tinham ciência da fama do “Hat-man e Robin”, mas aquilo não parecia ser o caso.

―Hormônios! –o moreno exclamou secamente enquanto o loiro ajeitava o cabelo como se posasse para uma foto.

O mal entendido não durou por muito tempo, para não ter seus planos arruinados, Sherlock saiu de cena rapidamente.

Jack conversava animadamente imitando um de seus professores de faculdade, somente distinguia-se sua voz, apesar de Will estar ao seu lado. Sherlock deixou Lewis ir à frente, ouvindo os passos o jovem tagarela virou-se sorridente, mas ao ver os outros dois seu sorriso morreu. Como bom observador, o detetive percebeu a ira escondida em seu rosto sob uma fina camada de expressão amigável.

―Senhor Holmes. –o jovem murmurou entre a decepção de encontrá-lo e o desprezo.

Diferente de Overton que ao vê-lo, saltou da cadeira. Uma fagulha de esperança reacendeu dentro de si.

―Tem notícias de Nick? Eu sabia que não nos decepcionaria!

―Não sou eu quem deve dizer onde Nicholas está. –a voz de Sherlock era fria e ameaçadora, quase fulminando o ruivo.

Will apertava nervosamente as mãos, sem compreender o que se passava.

―Gostaria de poupá-lo, - prosseguiu - mas decidiram virem até aqui, então não me resta alternativa...

―Tem certeza? –John o interrompeu, cochichando. Jack interveio.

―Temos que nos apresentar daqui a pouco e se não tem nada a fazer, precisamos de privacidade.

―Onde está seu irmão? –Sherlock lhe perguntou sem rodeios.

―Sou filho único, caso não saiba.

―Ah, é mesmo? Quando perguntei aos senhores se teriam alguma informação relevante para compartilhar, omitiram o fato de Nicholas ser seu irmão mais velho!

―Do que está falando? –Jack perguntou com voz controlada.

―Você poderia ter contribuído antes, porque deixar-me descobrir depois? –Sherlock permanecia sério, como um advogado perante o júri, mas por dentro se divertia como não fazia há tempos.

―Pensei ter largado o caso, agora vem aqui inventar histórias! –o jovem jogou as mãos ao ar, excessivamente dramático, em seu papel de acusado injustamente. Deu as costas aos homens na sala e lançou um olhar suplicante a Will que estava perplexo.

―Senhor Holmes, explique o que quer dizer, por favor! –Overton implorou.

Sherlock poderia fazer a abordagem de diversas maneiras: sutilmente e fazendo o culpado sentir-se à vontade e confessar; inquiridor direto (nos casos mais práticos); teatralmente insinuando coisas, deixando-o desconfortável, levando-o aos prantos ou mais comumente a querer lhe matar. Ele sabia que a confissão não seria obtida tão facilmente.

―Ah, os galeses... Tão passionais e imprudentes, tsc tsc. Você disfarça muito bem, seu sotaque é contido. –em meio à situação crítica o detetive não deixava de ser o “rei do sass”. Sabendo que Jack odiava ser ridicularizado por suas origens que seus colegas desconheciam. ― Se te conhecesse, o que seu pai diria a respeito?

Sherlock previa que o rapaz o mandasse parar com essa pressão psicológica, o que só fez para demonstrar o quanto sabia sobre sua vida e seus atos. No entanto Jack permanecia mirando um ponto vago e cerrando os punhos. Os demais presentes só assistiam a cena, aturdidos.

―Há alguns detalhes que faltam, não para a conclusão do caso, é claro, mas para um admirador da mente criminosa poder compreender melhor. Como por exemplo, Anita lhe conhece, certo?

―Claro que não. –o jovem disse impaciente, pois esperava uma pergunta mais inteligente. ―Nunca nos vemos, apesar de Nicholas algumas vezes se referir a ela e Will ficar de cara feia. –sorriu sinistramente com a recordação.

―Oh, eu vejo. Óbvio, somente assim você contrataria uma moça de características semelhantes e diria a ela se passar por Any, saindo antes que Staunton ou Overton pudesse vê-la e estragar seu plano.

―Sabia que era uma fraude, mas agora vejo que está completamente louco!

Overton ficou dividido: seus ouvidos não acreditavam que seu colega seria capaz de planejar o desparecimento de seu melhor amigo, em contrapartida se fosse verdade, começava a sentir-se traído e horrorizado.

―Diga-me mais uma coisa: o que lhe interessa é somente a herança ou você odeia Nicholas tanto assim? Um plano um tanto estúpido, pelo fato de não ter coragem de matá-lo e de qualquer modo não colocaria as mãos no dinheiro, pois está completamente destinado no testamento, uma pequena parte para Staunton, seu único herdeiro legítimo e não um bastardo, e quase tudo para a caridade. –o detetive deu sua jogada de mestre.

―Está mal informado! O senhor Mount-James não deixou nada para a caridade, pensei que fosse um grande detetive e conhecesse as leis.

Jack não suportava mais as informações erradas que lhe eram passadas e soltou a língua, meio que se entregando sem perceber.

―Então você admite ter pesquisado a respeito da fortuna em questão! Acho que temos algum avanço aqui –Sherlock dialogava com segurança, acostumado a lidar com esse tipo de gente- Ouça, há mais: não acha uma ideia muito tola enviar seus comparsas para tentarem intimidar John e eu essa madrugada? Enquanto pensava que em Cambridge meus sentidos estavam concentrados em Anita e Will eu fui à universidade e descobri tantas coisas.

―Vai ser assim? Você somente me acusando sem argumentos coerentes e jorrando hipóteses absurdas? Inicialmente você desconfiou de Will e estava certo disso! Aí vem seu namoradinho e lhe faz uma lavagem cerebral. A ideia de agressão partiu deles! –Jack falou em um só fôlego.

Como ele sabia de tudo aquilo sem ninguém ter lhe contado? Para isso seria necessário que ele estivesse vigiando-os.

―Obrigado pela informação! Está certo, foi meu John que me alertou sobre sua desprezível pessoa e todo seu joguinho para incriminar Overton. Assim seria mais fácil, para todos pensarem isso e William apodrecer na cadeia. Devo boa parte do crédito da resolução a ele! Juntou o útil ao agradável: sendo filho de mãe solteira e recentemente descobriu quem era seu pai, infelizmente você é fruto de uma relação extraconjugal e ele está morto. O bom disso é que o irmão dele é um dos homens mais ricos de nosso país e sem filhos. Mas o único problema era seu outro filho, o seu meio irmão órfão, dois anos mais velho. Então você pensou consigo, vou mudar de faculdade, em Cambridge, ficar amigo dele e tomarei seu lugar, se infiltrando na banda não revelando seu parentesco. Pois tinha e ainda tem esperanças de ficar com a herança só para si, considerando o velho não estar tão bem de saúde... Apressou-se em reivindicar seus direitos e dar um jeito de se livrar de Nicholas... –Sherlock foi interrompido por um gancho em seu queixo. Jack ficou fora de si com a verdade que ouvia, fazendo-o soar como um oportunista psicopata.

―Você por acaso tem provas, hein? Acha que faria uma bobagem de lhe contatar se eu fosse culpado? A polícia está fora do caso, você ao menos tem um mandado? –Jack latiu em autodefesa desesperada para justificar sua atitude agressiva em “legítima defesa”.

―Acredito que concordou em contatar-me para não ficar óbvio que você tinha motivos para querer que não encontrassem Nicholas e subestimou minhas capacidades. Quanto à pergunta anterior, devo desapontá-lo! –disse abrindo a porta.

Havia um pequeno grupo de policiais armados e bancando os durões, preparados para agir, entre eles destacava-se o inspetor Stanley Hopkins,a essa altura desapontado, pois esperava um bandido da pior espécie e se deparou com um menino magro tendo um ataque de nervos.

Antes de o levarem até a sala de interrogatório apropriada, Sherlock aproximou-se do moço e segredou-lhe:

―Apesar de esperto, há uma falha grave: compensaria mais sequestrá-lo e deixar sua máscara cair, recebendo uma boa quantia ao invés de logo depois do desaparecimento definitivo se revelar ser o sobrinho e exigir sua parte como parente mais próximo. Isso não seria no mínimo suspeito? De qualquer modo não seria perfeito e se não fosse eu certamente seriam esses bonachões a lhe levarem para a prisão. –o moreno contraiu o canto dos lábios com a própria observação.

Jack não teve outra opção, a não ser se entregar e revelar qual o estado de Nicholas, pois esse era o principal motivo da preocupação de todos. Entregou o endereço do cativeiro onde ele estava sendo mantido, mesmo negando, seu plano era mandar matá-lo, e também seus cúmplices com esperanças de redução de pena. Ele não teria como negar diante das provas que o detetive mostrou para a polícia, além do exame de DNA revelando seus laços sanguíneos com a vítima e se não era um caso de sequestro, logo dada à singularidade do assunto, ele não queria manter o rapaz vivo. O porteiro mais tarde depôs e comprovou-se que o rapaz que aparecia na foto com o acusado era de fato o cara que saiu em companhia do cantor.

―Eu não estou mentindo! Não tenho ideia de como Nicholas conseguiu despistar Joe! Fui informado que ele escapou!–o moço que tanto mentiu tentava não parecer mentiroso quando falava a verdade.

Jack em nenhum momento se mostrou arrependido ou pensando no que fez. Seu plano inicial não era matar o colega de grupo, não sujaria as mãos além de passar quase um ano inteiro planejando o crime, estudando a relação de Will e Nick, daí encontrou uma oportunidade, quando descobriu os sentimentos do primeiro para com o segundo. Segue-se um trecho da confissão amarga:

“Vocês me veem como um marginal perigoso, tão puros em seus julgamentos! Do que me vale agora manter a educação? Eu não odiava Nicholas, não sentia nada, depois passei a sentir repulsa por toda aquela situação em que me encontrava, deixei minha mãe em Gales para saber quem seria meu pai, foi o primeiro amo dela e para ele foi apenas uma aventura .

Passei a vida inteira enganado. Foi um grande choque nunca o ter encontrado! Recebi a notícia que ele havia morrido junto com a esposa em um acidente de carro há anos.

Holmes já deve tê-los inteirado, mas quero esclarecer que tive a melhor das intenções, tudo que fiz se foi errado, foi em nome de minha mãe e eu que sofremos tantos anos e nunca recebi nada do homem que contribuiu apenas com o espermatozoide na minha formação. O dinheiro foi apenas um atrativo.”

O galês foi algemado e levado na viatura, o que causou comoção geral e em escala menor do que a esperada, nem todos sabiam o que estava acontecendo.

[...]

O mundo de Will havia desmoronado na fatídica noite e esse era o pior domingo de sua existência. Seu nível de esperança e fé havia oscilado loucamente em poucas horas. Depois da criatura que ele julgava hedionda revelar que não sabia o paradeiro de seu amigo, como seu depoimento poderia ser verdadeiro? Mas por outro lado, não haveria motivos para este mentir uma vez que não ajudaria a salvar a própria pele.

John ficou muito preocupado com o estado emocional dos garotos e sabia que a Scotland Yard ia perder tempo indo ao esconderijo em busca do desaparecido. Decidiram antes de tomar qualquer atitude impensada irem ao hotel para em seguida traçarem as mais prováveis rotas que um jovem não pertencente à Londres faria em sua condição. Essa ideia já havia passado pela mente de Sherlock, se organizaram em duplas e não descansariam até encontrá-lo e quando chegavam ao hotel os olhos de Will não podiam acreditar na visão que tivera: um jovem cabisbaixo largado na calçada com uma calça extremamente encardida, cabelos claros desengrenados na face, tinha alguns arranhões visíveis, lembrava um morador de rua. Se não fosse pelo fato de ser Nicholas Staunton, que o guitarrista reconheceria entre milhares de pessoas.

―Oh Deus, não pode ser! Nick! Olhe para mim! –o rapaz saiu correndo em disparada ao seu encontro.

Ele passou tanto tempo vagando pelas ruas após conseguiu fugir, afinal ele ainda era atlético e forte o suficiente, tudo que queria era justiça e chegar antes de o concurso, porém não sabia o caminho, justo em tal megalópole. Pegou carona, pois não tinha um centavo, seu celular fora quebrado, mas ele encontrou em si um instinto de sobrevivência somado a vontade de voltar que nunca havia imaginado! Sem contar o quanto andou a pé sem comer nada desde que havia sumido do hotel.

Nick olhou para cima e deu um leve sorriso cansado, quase desvanecido. Tentou ficar de pé, mas estava muito fraco e cambaleou. William segurou-o e Lewis ajudou, quando se estabeleceram novamente no mesmo lugar, Will sentou-se e apoiando sua cabeça em seu colo.

―Isso... era para ser uma surpresa! –tentou brincar apesar de seu estado.

―Não fale! –roçou os dedos em seus lábios machucados- Eu fiquei tão preocupado que você não voltasse mais e depois na possiblidade de aquele miserável mandasse lhe ma... –a frase não foi concluída e desatou a chorar.

Havia muito a ser explicado e conversado entre os três amigos, em especial àqueles dois, que se encontravam em uma mistura de sentimentos e emoções.

O médico gritava internamente que o jovem precisava ser levado ao hospital, mas seu lado humano e amigo ficou comovido com a cena e resolveu dar-lhes uns minutos de privacidade em seu reencontro. Pensar que o detetive ficou na dúvida entre dois extremos, Jack e Overton: os indivíduos que respectivamente mais odiava e amava Staunton.

Sherlock começou a falar sozinho suficientemente alto para John ouvi-lo.

― Isso não é emocionante?

―É verdade, dois amigos tão próximos se veem depois de uma tragédia...

―Não me refiro a esse fim de novela, mas o a sensação de dever cumprido, eu sinto como se tivesse borboletas no meu estômago!

Watson começou a rir a valer.

―Disse algo engraçado? –perguntou fingindo sentir-se ofendido.

―Soa com se estivesse apaixonado pelo seu trabalho, você mesmo disse que era casado com ele!

―Não se esqueça de que você faz parte do meu trabalho! –finalmente Sherlock disse uma frase estudada, quando pensava na conversa que tiveram no Angelo’s. Com o caso concluído eles também eram amigos que tinham muito o que conversarem.

~ THE END~


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Notas finais do capítulo

Obrigada à todos que acompanharam, mesmo os fantasminhas! Tenho quase certeza que ninguém esperava por esse desfecho, podem falar se não gostaram! Alguém notou um novo ship aí? Dica: Nickill hahahaha
Beijos e abraços!



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