O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 5
Imaginação


Notas iniciais do capítulo

Hello! Mais um capítulo fresquinho, YAY! Pensei que seria o último, mas... iria ficar muito grande e demoraria ainda mais pra postar. Enjoy!



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*Sábado, 10:14 a.m.*

Dois jovens caminhavam à esmo, sem pressa, pois não tinham destino. Sentaram-se no banco do parque observando o horizonte com uma dor de cabeça latejante resultante de sono e preocupação.

Ambos não se encaravam, mantinham uma distância considerável entre si. Um cantarolava uma música muito conhecida deles o que foi interrompida por uma voz embargada.

―Seria melhor termos ido com Will. ­–Lewis suspirou com a voz sumida.

―Ele precisa pensar –Jack dizia olhando fixamente em seu celular- ficar sozinho, talvez.

―Se não me engano o vi chorando, ele está sofrendo em silêncio. Isso só pode ser um pesadelo! O senhor Holmes deve já estar no hotel, poderíamos ir até lá!

―Não acho uma boa ideia, já contamos tudo o que sabemos. A pessoa mais próxima de Nick é Will, tipo bromance –riu pesaroso sem levantar o olhar – O que torna a atitude de Nick mais sangrenta egoísta, esse concurso significa tanto para nós e ele simplesmente nos abandona.

Baker Street, madrugada de sábado para domingo

John escondia o rosto entre as mãos inspirando fundo e sentiu outras retirando as suas.

―Não se sinta envergonhado! –Sherlock sorria a centímetros de seu rosto oscilando entre o belo e o assustador- Eu pensava em alguém que atrapalhou meu raciocínio.

―Em quem? –a pergunta saiu um pouco mais urgente do que o planejado.

―William. –“Não é ele!” a voz de Molly ecoou em sua mente e o detetive gesticulou como quem espanta um mosquito.

―Está tudo bem?

―Não...digo, sim.

―Quando eu conversava com Any antes de você me levar, soube de algo importante: ela nunca chamou o ex pelo sobrenome! O que significa que há um equívoco do porteiro. De acordo com ele uma moça perguntava por um Staunton.

―Eu vejo. Na universidade em meio a conversas eu observava o espaço e posso afirmar que Jack é filho de mãe solteira, Lewis já usou drogas e Overton...

Watson pensou em várias justificativas para a desconfiança do detetive, como por exemplo: gangster, traficante de drogas, estelionatário ou identidade falsa.

―É um bom aluno, dedicado à banda, nunca foi visto com uma namorada e segundo os informantes, ele era o “sidekick” de Staunton. –narrou em voz monótona.

―Então, meu caro, não há com que se preocupar – John disse dando um caloroso aperto em sua mão direita. A nível de curiosidade eles permaneciam de mãos dadas, mesmo sem haver necessidade prática para tal.

―Isso é justamente o ponto. Todos escondem segredos, no entanto ele é o mais decente, acima de qualquer suspeita, como uma máscara.

―O que suas deduções te dizem?

―Elas não ajudaram muito.

―Portanto significa que está dando muita atenção para o caminho errado, novamente. Tente se concentrar no que você encontrou na universidade, eu posso ajudá-lo. Conte-me os detalhes, assim você repensa.

―É exatamente por isso que não conto de imediato o que descubro. Sou induzido a partilhar conhecimentos duvidosos que funcionam de uma maneira diferente para cada um. As teorias têm de se ajustar aos fatos e não o oposto!

John ouvia a explicação atentamente, deixou escapar um suspiro junto com uma risada abafada quando o celular vibrou.

“Olá John, como está meu querido irmão? Tenho um caso interessantíssimo para ele. –MH”

―Parece que alguém reapareceu.

―Estão te ameaçando outra vez? Espere... por sua expressão e pelo jeito que você me olhou antes de acabar de ler a mensagem, só pode ser uma pessoa: Mycroft! –disse a última palavra com nojo.

―Ele ofereceu um caso.

―Para quê eu precisaria agora? Já estou ocupado em um, normalmente eu daria para esse um cinco, mas na situação em que me encontrava se revelou o grande negócio. Diga à rainha da Inglaterra que não preciso de sua piedade.

―Não sou seu menino de recados, porque Mycroft não se comunica diretamente com você?

―Ele acha mais fácil pedir a você, talvez isso me convença, na cabeça dele. Mas essa mensagem de texto desnecessária só veio atrapalhar.

―Por falar em mensagem, aquela que eu recebi em Cambridge pode ser de alguém que esteja envolvido com o desaparecimento. O número não era de telefone público ou restrito, então poderia rastreá-lo, não?

―Eu já pensei nisso, mas devo desapontá-lo, foi de um telefone descartável, o patife queria pregar uma peça e nos deixar confusos.

―Sempre que eu tenho uma boa ideia você joga um balde de água fria. –resmungou cruzando os braços e se encolhendo na poltrona.

―Espero uma visita que nos esclarecerá alguma coisa. Meus olhos e ouvidos nos becos escuros, multidões, metrôs...

―A rede sem-teto!

―Precisamente. Há também outra pessoa que consultei, mas também espero resposta.

―Oh, deixe-me adivinhar: Molly!

―Sim.

―Eu já vi esse filme antes, Molly e vários mendigos sabem o que eu não sei.

―Porém estamos em pé de igualdade atualmente.

Sherlock pôs-se de pé esticando os longos braços, espreguiçando-se como um gato, naquela noite ele vestia uma camisa azul turquesa e um jeans. Foi até a janela e observou a rua abrindo uma brecha na cortina.

―Aí está um informante! –disse em seguida descendo as escadas de encontro com um estranho de roupas sujas e touca escura que trazia consigo um saco. Conversaram brevemente, John observava de seu esconderijo atrás da porta e acreditou ter ouvido algo semelhante à “Billy”. Quando os cochichos cessaram e após Sherlock entregar uma cédula o loiro fingiu ter acabado de descer.

―Não tinha necessidade de ficar espreitando escondido.

John sentou-se em um dos primeiros degraus da escada, apoiando a testa nos joelhos. Era quase impossível mentir para o consultor, mas ele não iria dar o braço a torcer. Se bem que não havia razão para o ex-militar ter agido daquela forma infantil.

[...]

―Pegue meu celular, John! –Sherlock ordenou com os olhos fechados.

―Está no seu quarto?

―Em meu bolso. –o moreno não se cansava dessa mania idiota.

Quem ele pensa que é? Só porque segura uns papéis, não quer dizer que seja incapaz de pegar o próprio celular. Ora bolas! Sherlock sabe ser uma dor na bunda quando quer.

―John começou tatear o bolso da calça cuidadosamente em busca do aparelho e o detetive com uma expressão confusa perguntou:

―O que você está fazendo? O celular está no bolso do sobretudo –curiosamente este se encontrava pendurado.

Overton enviara um sms: “Sr. Holmes não estamos em condições de irmos amanhã, concurso, Jack não se sente bem - Will”.

―A gramática desse rapaz é perturbadoramente discrepante. Eles não podem simplesmente cancelar a apresentação, e esse outro garoto, Oh! –Sherlock interrompeu a si mesmo- Não, sim... siiiiiim, John! –arregalou os olhos cinzentos- Estava tão desesperado por qualquer indício, por menor que fosse que não hesitei em pedir a Molly para fazer o teste. –Ele falava e andava em círculos- Se amanhã obtiver a confirmação!

O moreno era a incoerência personificada, pelo conhecimento do loiro este havia juntado as peças soltas de seu quebra-cabeça.

―Irmãos! Você acredita nisso? Há! –o monólogo prosseguia com uma mão na cintura e a outra coçando a cabeça.

―Pensei que você havia descoberto a mente maligna por trás disso. –John murmurou mesmo não tendo certeza se foi ouvido.

Nesse instante a euforia de Sherlock se dissipou, por meros dois segundos seu rosto se transformou de choque para reflexivo e por fim vitorioso.

―Mas é claro! Esse é o ponto! –chegou mais perto de John com as mãos segurando suas bochechas deu um breve beijo em sua testa- Obrigado, como eu não enxerguei isso antes? Você é brilhante! –seus olhos faiscavam de uma maneira contagiante.

―O que eu fiz para merecer esse beijo? –este tentou manter a voz firme, mas falhou miseravelmente.

―Me colocou nos trilhos, agora só precisei de um motivo.

―Não seria melhor esperamos chegar a manhã ou depois do concurso?

―De maneira nenhuma! Quanto antes melhor. Já que está de madrugada... Eu e você... o que acha de irmos ao necrotério? –perguntou ansioso.

―Necrotério, que romântico! –Watson brincou.

―Não irei cortejar a senhorita Hooper, nem ver cadáveres. Acontece que não aguento esperar nesse apartamento! Vamos! –chamou puxando-o pela jaqueta.

O médico ia perguntar o que foi descoberto, porque ir até lá, blá, blá, blá, mas deixou-se levar, no fundo de sua mente isso era divertido, se fosse com Sherlock, enquanto este último ignorava o fato de seu amigo estar na casa dos quarenta e saber andar sozinho.

–X-

Eles chegaram ao hospital Saint Bart’s e passaram direto para a sala que continha corpos em que estava a patologista. A familiaridade que o detetive tinha naquele ambiente mórbido, chegando sem avisar e dando de cara com uma jovem debruçada sobre uma vasilha contendo olhos humanos.

―Olá Sherlock, John! –ela cumprimentou.

―Está pronto? –o moreno perguntou sem rodeios.

―Ah, bem... isso demora um pouco e tive outras coisas para fazer. Desculpe.

―Não precisa se desculpar, nós que estamos te atrapalhando –o loiro interveio se incluindo mesmo sem saber ao certo o que faziam ali.

―Quando estiver pronto eu te aviso, se você só veio por causa disso. –ela acrescentou meio sem-graça.

Sherlock deu um suspiro frustrado. Ele não queria ser grosso com uma pessoa tão leal quanto ela que já o ajudou tanto. Mas não conseguia deixar de pensar no caso e a dúvida o colocou entre duas pessoas, dois homens.

―Obrigado, Molly Hooper enquanto isso vou ficar lá fora com John. –Saiu sem olhar para trás.

Conforme o tempo passava Sherlock acreditava chegar perto da verdade, seu faro não mentia, mas o destino brincava com ele atrasando-o. Nas ruas madrugada afora os dois homens caminhavam lado a lado, Sherlock perdido em pensamentos e John chateado.

―Por que você não me conta o que procurava com Molly? Digo algo no flat, você surta, me arrasta até aqui e desde cedo não me conta nada –exigiu. O outro parou.

―O problema é não te contar ou o seu ciúme? –o moreno inverteu a situação.

―Apenas me diga ou eu vou embora – o loiro manteve-se firme. Ele nem me pediu para tomar notas do caso ou algo do tipo.

Calmamente Sherlock se virou para John:

―Em quantas línguas você quer que eu explique meus métodos? Não quero adiantar as coisas e parecer um idiota como algumas horas atrás.

John piscou tentando entender: então seu amigo não tinha provas suficientes e esperava confirmações burocráticas? Ele havia se sentido envergonhado na frente dele?

―Eu te conheço. Seu orgulho é maior do que você, eu falei sobre Overton e algo mudou. Eu só me sinto perdido, só quero ajudar, não precisa esconder nada de mim.

―Você já me ajudou tanto John. –Por um momento o loiro pode ter visto os olhos claros abandonarem a frieza típica dando lugar a um brilho quase que inocente. John pensou estar delirando- dessa vez não há um triplo homicídio, nem estamos investigando a Black Lotus, muito menos apareceu um corpo. Parece um tanto sem graça, mas você me apontou um caminho, eu tinha as ferramentas e as usei de maneira errada. Mas você, Watson, me manteve bem.

―Certo –o médico ficou desnorteado- então pode me dizer o que já sabe do caso?

―Tem certeza que essa é a primeira pergunta que quer fazer?

―Sim, é claro –afirmou não tendo muita certeza, enquanto sua mente traiçoeira buscava qualquer ambiguidade na pergunta anterior.

―Se assim você deseja, fugi de crimes passionais e tolos, não gosto de trabalhar com isso, no entanto descobri que estou envolvido em um.

―O quê Sherlock? – o loiro surtou- Eu peço para me dizer o que sabe sobre o desaparecimento e você volta a falar sobre nós dois de maneira enigmática. –colocou a mão no rosto.

―Estou exatamente falando do desaparecimento, a motivação é estritamente assunto de família e interesse pessoal. O que você quis dizer? –o moreno fingia não entender a tensão ali presente que poderia ser cortada com uma faca.

―Oh, certo... Pare! –John se deu conta da gafe que acabara de cometer- isso está parecendo conversa de dois malucos. Explique! –os dois certamente não falavam sobre a mesma coisa.

―Na parte de manhã eu vi os três garotos afetados pelo desaparecimento, comecei a deduzi-los e uma coisa me intrigou: só Overton falava! Quando vamos ao hotel lá está ele, sozinho. Além de todos os indícios que falei no pub. Pensei estar diante de um profissional e dei corda para ver aonde ele iria, contatei meus agentes sem-teto para o espionarem, mas eu me preveni e coloquei-os no encalço dos outros dois. Ele poderia ter arquitetado a suposta visita de Anita para nos atrasar e de quebra incriminá-la, o fator do ciúme dela para com Staunton ficou interessante. Quando esse fato caiu por terra comecei a repensar os fatos e enxergar além do óbvio. Relembrar cada primeira impressão, cada detalhe. É aí que você entra confrontando minhas certezas e me fazendo mudar o foco. O interessante é que a mesma pessoa que me faz perder o raciocínio lógico é aquela que me redireciona.

John sentia vontade de perguntar quem ou o quê ele descobriu, mas seu cérebro se recusava depois de ter ouvido aquela declaração tão sincera por parte do detetive.

―Posso te contar um segredo? –cochichou para John como se estivesse em uma sala de aula sendo observado pelo professor- Conto quem é o responsável, mas com uma condição­ - Ergueu as sobrancelhas em sinal de alerta- Você irá saber os detalhes juntamente com os outros.

Ao cair da madrugada havia esfriado um pouco, suficiente para um baixinho sentado na calçada ao lado de um homem muito quente em seu sobretudo, se sentir miserável.

―Por quê? –institivamente John cochichou também.

―Porque vimos as mesmas coisas e te surpreenderei mais uma vez –deu um meio sorriso presunçoso. Mostrou uma foto de celular.

Aquilo foi suficiente para fazer John sair de seu juízo perfeito e ficar de pé.

―Que porcaria ainda estamos fazendo aqui? Vamos logo atrás dele! –o homem de ação despertou.

―Era isso que eu temia –Sherlock lamentou da calçada- Não há escolha, temos de esperar, se nos apressarmos para por as mãos nesse sujeito será imprudência de nossa parte. Se bem que podemos adiantar alguma coisa – levantou-se também- Tenho uma lanterna, presumo que você tenha trazido sua arma.

―Mas você está com o costume de me arrastar por aí... É claro que a trouxe!

Era isso que John esperava.

―Reveja a foto que recebi, é estação King’s Cross depois da hora do almoço, ou seja, pouco antes de irmos até lá! –Na imagem apareciam dois moços: um ruivo e um moreno- Foi tirada pelo cara que foi em casa há pouco. Quem é esse outro rapaz corpulento?

―Você não vai dizer que... –John começou a entender.

―Vamos até a estação fazer a reconstituição da cena, usar a imaginação!

―Está falando sério? Há essa hora nem há mais linha.

―Esse não é o John que eu conheço que sem ao menos saber quem eu era correu atrás de um táxi sem questionar – lembrou-o de Study in Pink.

―E não esqueça da parte de atirar no taxista –completou orgulhoso, aquilo poderia ser interpretado como “não precisa me chamar duas vezes, vamos!”

Saíram correndo como dois adolescentes com adrenalina bombeando em suas veias até a estação de trem deserta. Assim que chegaram, Sherlock foi segurando a lanterna procurar os horários que partiam da periferia de Londres, mergulhado em pensamentos.

―O horário mais possível vem de Brixton até aqui, o sujeito pegou o metrô Victoria -pôs a lanterna na boca e anotava em um bloco. John pensou no “Londres de A a Z” seria menos dispendioso do que isso, mas não disse nada.

―Não pode ser um amigo de faculdade, vindo de uma área violenta e suspeita se encontrar na multidão, logo nessas circunstâncias! -Sherlock explicava.

―Me lembra da descrição do porteiro, é esse o raptor?

―Está mais para cúmplice, quem fez o trabalho sujo. Billy também encontrou uma barba postiça no lixo que estranhamente nosso suspeito jogou fora.

―Quando foi?

― A caminho da estação.

―Agora eu recordo de quando estávamos no restaurante, eu vi alguém nos observar com um disfarce. Ele!

A resolução já não estava distante, as peças juntavam-se também na mente de John.

―A imaginação Watson, muitas vezes é preferível a conhecimento duvidoso.


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Notas finais do capítulo

Há palavras/expressões que fazem bem mais sentido em inglês, a "sidekick" significa assistente, amigo próximo (subordinado), tipo Batman e Hobin.
Black Lotus para quem não lembra é a organização criminosa, referência à TBB.
A ação está reservada para o final rsrs
Isso não é queer-baiting (apesar de parecer)
Até mais!
Sophie Clair de la Lune.



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