O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 2
Trecho de música


Notas iniciais do capítulo

Yay! Demorei? Só estava esperando fazer uma coisa decente e como não tenho beta, se tiver algum erro, perdoe-me!
Enjoy!



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Minutos mais tarde lá estavam eles no hotel onde Staunton foi visto pela última vez. Avistaram o porteiro que testemunhou o acontecido e começou a interrogação:

—Creio que o senhor sabe sobre o desaparecimento do jovem de Cambridge, sou Detetive Consultor e necessito de informações precisas.

—Sim, senhor.

—Primeiramente deve me relatar o que sabe: a que horas o viu pela última vez?

—Bom, o vi ao anoitecer, ele voltava com seus amigos da rua e entraram no quarto, cerca de uma hora depois apareceu uma moça bonita, ela parecia um tanto nervosa e perguntou por um tal de Staunton , eu não poderia deixá-la entrar, sem antes interfonar.

—Pode me descrever essa moça?

—Sim, me lembro que tinha traços hispânicos, cabelo na altura dos ombros, tinha mais ou menos um metro e setenta de altura.

—Ela deve ter informado um nome, certo?

—Disse que se chamava Any e segundo ela, Staunton sabia de quem se tratava, dando em seguida uma piscadela para mim. O seu companheiro de quarto, Lewis, atendeu e negou conhecê-la. Passado pouco tempo Staunton desceu, mas a moça já havia ido, acho que ela se chateou. Nicholas pediu para eu descrevê-la e quando o fiz ele ficou pálido.

—Então ele o conhecia?! –Sherlock pensava em voz alta– Diga-me, os companheiros também a conhecem?

—Não tenho certeza, pois Lewis não sabia quem era. Quando disse ao amigo, este veio logo. Os outros rapazes naquela hora não foram informados, por estarem em outro quarto.

—O que mais aconteceu?

— O rapaz não me disse mais nada e subiu. Não demorou mais de meia hora ele retornou sozinho com uma expressão abatida e há alguns metros à frente pude vê-lo conversando com um rapaz corpulento e saíram juntos.

A expressão facial de Sherlock ia ficando mais obscura conforme a descrição prosseguia. Sem mais pistas com o porteiro, o médico e o detetive foram ao quarto ver o que poderiam encontrar.

Por minutos Sherlock parecia divagar olhando ao seu redor quando Will chegou.

—Que bom que está aqui, senhor Holmes! Já falou com o porteiro?

— Acabo de fazer isso. Por que não nos contou a respeito da jovem que veio procurar por seu amigo?

—Pensei que não fosse relevante, já que ela nem o viu, eu só soube disso depois de Nick desaparecer. Mas o que essa garota tem a ver?

—Any –John lembrou do nome.

—O quê? –Will estava surpreso.

—John não disse que ela era uma qualquer¹, seu nome ou apelido é A-N-Y –o moreno parecia uma professora de jardim-de-infância.

—Eu sei disso, mas esse nome não me é estranho... Oh céus! A ex-namorada de Nick se chamava Any! –disse quase gritando.

—Isso pode estar correlacionado ao desaparecimento? –Watson cochichou.

—Eles terminaram há quanto tempo? –Sherlock interrogou.

—Há quase um ano, antes de iniciarmos a banda. Não sei o que a levaria sair de Cambridge para ver o ex.

—Amanhã seria a apresentação, não? Então ela poderia estar com saudades e ir prestigiá-lo... –John supôs, pois estava sem ideias.

—Obrigado, senhor Overton, isso já foi muito útil. Sherlock disse empurrando delicadamente o jovem até a porta e em seguida fechando-a.

Watson sentou-se na cama do rapaz e massageava as têmporas. Quando abriu os olhos, deu de cara com o moreno revirando as gavetas da cômoda. Sacudia freneticamente e o loiro não deixou de notar que as mesmas estavam vazias.

—Sherl... –apontava achando seu amigo louco.

—Sh... Pistas! Não me distraia! –disse sem olhar para trás.

—Mas não há nada nas gavetas! –exclamou exasperado.

—Estou apenas absorvendo os fatos e preciso descontar minha energia.

O amigo normal estava estranhamente contente por essa mudança no humor do outro, aquele era seu habitat natural e se sentia um tanto idiota por não poder ajudar.

—Será que ele não fugiu com a moça?

—John, devo sugerir que você deva parar de ler romances e ver novelas... Além de ela ser sua ex, justo às vésperas da apresentação mais importante de sua banda? Sejamos racionais! –disse entortando a boca– O fato intrigante é: esse rapaz cuja identidade não foi revelada surge do nada e Staunton sai deliberadamente com ele. Onde se encaixa? É relacionado com essa moça?

Depois de verificar cada centímetro da mochila de Nicholas e não encontrar nada de importante Sherlock suspirou frustrado, quando seus olhos, que sob aquela luz estavam esverdeados, avistou uma capa de guitarra. Abriu-a com cautela.

—O que é isto? –perguntou a si mesmo.

—Instrumento musical chamado guitarra. –John debochou.

—No seu interior! –tirou um bilhete de lá– Pode ser um aviso, um pedido de socorro.

—Quem iria colocar um pedido de socorro dentro de uma capa de guitarra? Seria mais fácil em um lugar mais visível.

—Olhe a caligrafia! Está trêmula e inclinada para a direita, sem pontuação indica pressa e instabilidade emocional –cheirou o papel– Veja, as linhas estão borradas em um ponto: lágrimas!

No bilhete estava escrito o seguinte:

An unexpected fact

In the darkness of night

Sorry to disappoint her

But I feel

Sem dizer uma palavra Sherlock enfiou no bolso de seu casaco. Passou as mãos nos cachos escuros, bagunçando-os enquanto pensava a respeito do que acabara de encontrar. John estava perdido em pensamentos, com essa visão, de repente era como se tudo tivesse escurecido e o detetive estivesse sob a luz de um holofote, fazendo esse gesto em câmera lenta. Se o motivo era a confusão do caso ou... havia outra coisa?

—John! John! –o moreno chamava.

—Hein? –o loiro parecia ter despertado de seu devaneio.

—Precisamos fazer as ligações! –seu olhar era maníaco.

—Quais ligações?

—O desaparecimento, é claro. Estou perdendo alguma coisa –Sherlock mantinha um dedo sob os lábios– A apresentação será amanhã, e em todo caso Overton e seus amigos terão de se apresentar sem Staunton. –admitiu.

—Você acha que não o encontrará a tempo?

—É uma possibilidade. “Ou de não encontrá-lo vivo...” –a última frase foi dita em pensamento.

—E então?

—Então o quê? –Sherlock estreitou os olhos.

—Sem mais pistas?

—Temo que... –os olhos verdes azulados cintilavam um brilho felino– ainda não –completou. Vamos John, Baker Street nos espera. Disse enquanto levantava a gola do casaco.

John pensava se o sociopata alto funcional estava lhe escondendo alguma descoberta e caminhava olhando para baixo. Quando trombou com Sherlock que estava à sua frente e parou.

—Pare com isso, homem!

Sherlock deu meia volta e retornou aos quartos apressadamente. John confuso com as atitudes estranhas de seu parceiro o seguiu resmungando.

Encontrando com Overton, perguntou tentando disfarçar seu entusiasmo:

—Possivelmente Jake e você dividem o mesmo quarto?

—Jack! Sim, por quê?

—Podemos ir até lá? –perguntou polidamente.

—Sim, mas é claro –sua voz falhou um pouco.

Sua visita lá fora curta, cinco minutos depois Sherlock voltava com um sorriso no rosto.

—O que foi? –Watson estranhou a alegria repentina.

—Progredimos, meu caro Watson.

–X–

No táxi John estava com muitas dúvidas dos avanços das investigações, olhava o homem e o mesmo observava através da janela do automóvel e movimentava os lábios sem emitir som algum.

—Vamos, pergunte! –Sherlock abruptamente quebrou o silêncio.

—Hã?

—Sobre o caso, poso ver um ponto de interrogação na sua cara.

—Qualquer coisa que tenha encontrado não quis compartilhar comigo ainda!

—Você se incomoda?

—Nããão... nem um pouco! Venho com você, te vejo agir como um lunático, sem entender nada do que está acontecendo e você fica calado, definitivamente não me importo! –ironizou fechando a cara.

—Mas você que quis vir comigo! – o moreno agia como uma criança de cinco anos.

—Oh, você não entende, não é mesmo?– John balançava a cabeça, incrédulo.

—Isso te diz algo? –tirou de dentro do casaco um caderno.

—Você roubou de Overton?

—Peguei emprestado para analisar. É o caderno de composições. Sei que será útil.

–X–

Desceram do táxi e ao entrar no flat Watson se jogou na poltrona. Sherlock pegou uns pedaços de papel escreveu o nome da garota suspeita.

—E então, pode me dizer o que encontrou?

—Informações, desconexas a princípio. Lembra-se que Overton nos disse que Stauton levou consigo o celular? Observei que seu carregador ainda estava entre seus pertences, no quarto. O que podemos deduzir?

—Que o celular ainda estava com a bateria carregada e ele...

—Não! Ele não levou porque não pretendia ficar fora por muito tempo, essa não era sua intenção. Esses jovens viciados em aparelhos eletrônicos carregam mais de uma vez ao dia. Vamos reconstituir a cena: Staunton encontra-se em seu quarto com Lewis, pois dividem o espaço e quando essa tal de Any aparece Lewis informa que não a conhece. Nicholas estava no banho e não ouviu. Minutos depois ao saber que era, desceu para ter certeza se era de fato sua ex-namorada. A descrição confere. Volta ao quarto sem saber o que ela fazia ali. Ou ele sabia? Estava sendo ameaçado? Meia hora depois ele desce sem ser chamado pelo porteiro e sai com um rapaz desconhecido. Como ele soube exatamente que o outro o esperava?

Silêncio.

—Estou esperando sua opinião John, você não respondeu à minha última pergunta.

—Era para eu responder?–Sherlock o olhou com a expressão “óbvio que sim”– Hum, deve ter sido avisado pelo telefone.

—Exatamente.

John conhecia bem seu “flatmate” e sabia que ele apenas esclarecia o que ambos já sabiam.

—Você já tem algum suspeito em mente?

—Três, na verdade. –Sherlock respondeu sem retirar os olhos da tela do notebook–Tem alguma coisa para fazer hoje à tarde, caro Watson?

—Além de almoçar, nada! –enfatizou a palavra almoçar.

—Então pode me ajudar começando a pesquisar sobre a boy band e suas frivolidades. Basta digitar no site de busca, qual o nome mesmo?

—Não seria Baker Street Boys? John riu da própria piada. Imediatamente parou quando viu a cara de paisagem do detetive que não havia entendido a referência à outra banda famosa no passado. Er... –o loiro limpou a garganta– Straight Idea.

— Ótimo, mais tarde vou sair.

—E se foi coincidência? Não chegaram a vê-la, exceto o porteiro, poderia ser outra garota!

—Não acredito em coincidências, ela tem algum propósito.

Enquanto John fazia a busca sentiu um hálito em sua nuca, que o desconcentrou um pouco.

—Não é hora de atualizar seu blog, John! –o moreno sussurrou em seu ouvido. Nem terminou a frase quando o loiro virou a cabeça por puro reflexo, por ser mais baixo e Sherlock estar inclinado, sua testa foi de encontro à boca do mais alto.

Sherlock levou a mão aos lábios, só que desta vez ele não estava em seu Palácio Mental e sim porque foi atingido inesperadamente. Enquanto isso John passava a mão pela testa sentindo-se patético.

—Com reflexos tão ruins, soldado, você poderia ter levado um tiro e estar morto há esta hora! –a voz era profunda, mas levemente divertida. O doutor não podendo sentir-se mais ridículo, suspirou caindo na risada. Os dois riram alto por um tempo, John sentia seu coração ter acelerado devido ao susto e à situação.

—Nem venha me dizer que se assustou com minha presença, pois antes de falar, você sentiu a minha respiração! –ele explicava como se lesse os pensamentos e argumentos do blogger.

—Eu não estou atualizando meu blog sangrento! –foi a primeira coisa que veio em mente como defesa.

—Ah não? E essa janela? –o cara petulante inclinou-se ainda mais quase colando a maçã do rosto no homem na cadeira e abriu o blog. Um segundo depois John fechou com toda raiva quase prensando os dedos do mais jovem no notebook.

—Sabe de uma coisa? Estava pesquisando a respeito dos garotos, mas o “senhor Esperto” não acredita. E se mantenho várias guias abertas? E daí? –levantou-se irritado um pouco mais do que seria o normal, já não parecia andar e sim marchar com os punhos cerrados.

“Aonde ele vai?” O moreno perguntou em silêncio.

—Não espere por mim, vou almoçar, sei que não faz diferença para você de qualquer maneira! –disse fechando a porta com força.

Será que ele se referia à indiferença do amigo em hábitos alimentares ou à sua presença? Ou ambas as coisas?

Sherlock não entendia a súbita explosão de John e pensou se isso era o efeito retardado do seu experimento do dia anterior. John teria tomado aquele café? Afinal, ele estava entediado... Quando olhou para a porta se deu conta que o loiro baixinho não estava para brincadeiras. “Como se atreve a ir e me deixar?”, pensou. Sua preciosa solidão para pensar e um mistério para ocupar sua mente: não era isso tudo o que ele mais queria nesse momento?

Ele sabia que ficar se lamentando e continuar sendo o mesmo bastardo egoísta não iria adiantar muita coisa. Precisava adiantar aquele caso e não deixar o mau-humor de seu colega o afetar. Mas porque isso de alguma forma o perturbava?

Sem perceber, John retornava com uma expressão mais calma. Sherlock que estava sentado em sua poltrona ficou surpreso pela volta rápida do cara que parecia estar de TPM. Mas não deixou de ficar feliz quando seus olhares se encontraram, não havia mais raiva. John esperava um pedido de desculpas, Sherlock esperava uma explicação. O primeiro dizia “aquela cena foi a coisa mais sem sentido que aconteceu, eu não fiquei com raiva de verdade”.

O segundo dizia “eu sei disso, deixei você ir para você descobrir por si só, vamos voltar ao que interessa”. Isso foi dito sem se ouvir uma palavra.

É verdade. John deveria deixar de assistir novelas.

—Esqueci a carteira e só me dei conta quando entrei no restaurante –sorriu timidamente.

—Por acaso é essa aqui? –Sherlock brincou, segurando a carteira de John.– Só para constar, ela estava em cima da mesa.

Ao invés de explodir novamente ao ver o manipulador o doutor baixou a cabeça sorrindo.

—Sei que você pegou de mim, seu idiota.

—Você não quer voltar e almoçar sozinho? Ou prefere ir junto comigo?

—Mas você terá que comer...

—Assim discutimos o caso. Vamos! –disse batendo no ombro do médico.

John já deveria ter desconfiado!

No caminho que decidiram percorrer a pé, pois o restaurante era perto. Sherlock tagarelava sem parar.

—Corremos contra o relógio, não há tempo para desavenças! –John abriu a boca, mas não disse nada.

— Tenho umas sete teorias diferentes e em cada uma há ramificações, que se eu seguir a errada ou na menos provável me distanciará da verdade e perderemos um precioso tempo. Ainda que fiquemos acordados a noite toda! Trata-se de um caso singular.

Watson pensou ter ouvido mal “Acordados, os dois a noite toda?” ia replicar, mas ao invés disso acabou dizendo:

—Sete teorias?

—Poderia ser seis ou cinco. Veja os dados: a moça, o brutamontes, seu estado emocional, o tio rico...

—O bilhete. –John completou. A propósito ele é relevante?

—Você estragou a surpresa! –disse entrando no estabelecimento.

¹any (adj.): qualquer, em inglês.

Tradução do bilhete:

Um fato inesperado

Na escuridão da noite

Desculpe desapontá-la

Mas eu sinto


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Notas finais do capítulo

Eu achei que não sobreviveria a His Last Vow, mas cá estou! Até a próxima! Hugs!



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