O cantor desaparecido escrita por Sophie Claire


Capítulo 1
O cantor desaparecido


Notas iniciais do capítulo

Olá! Quanta emoção em um só dia! Finalmente chegou o dia de postar minha primeira fic justo no dia do aniversário do detetive mais famoso do mundo! E com todos os feelings da terceira temporada. Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/458613/chapter/1

No interior do apartamento 221B situado na Baker Street pairava um silêncio tumular. A brisa fria da primeira semana de dezembro fazia ecoar pela sala a quietude estranha que ao invés de remeter à paz era como se fosse o prelúdio de um caos.

Sherlock Holmes nesses dias de inatividade alimentava-se fora de hora, mal dormia e ficava com um humor ácido. Deitado de costas para o sofá encarava o teto com um olhar sonhador. Usava seu robe de seda azul aberto que revelava sua calça folgada e camiseta branca.

O relógio marcava mais de nove da manhã e ele não havia pregado o olho, diferentemente do Dr. Watson que dormia confortavelmente, descansando em seu dia de folga.

Passado alguns minutos, John havia se levantado e ia preparar o chá e ao atravessar a sala não deixou de notar seu amigo naquela miséria que durava dias.

—Bom dia! –o médico cumprimentou alegremente.

—Hmm –a resposta não passou de um grunhido rouco e desanimado.

Com um cérebro genial, uma mente brilhante, energia semelhante à de uma criança hiperativa, essa situação não poderia ser mais deprimente.

—Lestrade não ligou? –Watson puxou papo.

—Ora John, você bem sabe que não! –o detetive respondeu com um bufo.

—Vou preparar chá, aceita?

Sherlock apenas assentiu com a cabeça, mantendo os olhos fechados.

Enquanto a chaleira estava no fogo John refletia sobre os últimos dias, ou melhor, as últimas semanas não havia casos, nenhum que despertasse o interesse do Detetive Consultor.

*Semanas atrás*

—Boring! –Sherlock disse revirando os olhos.

—O que houve? –Lestrade perguntou já sabendo da resposta.

—Tudo isso é óbvio demais!

—Não para nós...

—Disso eu sei –persistiu com aquele ar de superioridade– Está claro que não se trata de homicídio nem tampouco suicídio –sentenciou gesticulando as mãos.

No chão do prédio do colégio havia um corpo de bruços de um homem de meia idade. A Scotland Yard foi chamada, pois quando chegaram os primeiros funcionários notaram um corpo no depósito que aparentava ser do faxineiro fora de seu horário de trabalho, provavelmente faleceu na madrugada, sem explicação alguma por ele estar lá e não apresentava sintomas de luta, golpes, não havia sangue visível no local. A equipe forense cogitava a ideia de intoxicação ou envenenamento.

—Poderia nos esclarecer?–O Inspetor detetive já estava ficando impaciente.

—Em termos genéricos trata-se de morte súbita, se observarmos que a vítima trabalhava normalmente, no entanto seus botões de cima estão abertos indicando impaciência e que algo o incomodava poucos minutos antes de morrer.–o detetive se agachou perto do corpo– pois percebe-se que não há sinais de agressão ou sangue. Muito menos asfixia, e espere... –ficou com brilho no olhar– Eu só preciso de uma confirmação...

—Ah, claro: Anderson! Lestrade gritou chamando o legista.

—Não, por favor –disse suspirando– me refiro a John. Pode nos dizer qual a causa da morte?

Após uns minutos analisando o estado da vítima, John parecia estar convencido.

—Este homem sofria de isquemia...

—Isquemia miocárdica –Sherlock murmurou para si mesmo batendo o pé.

—Não senhor! Isquemia cerebral, o que levou a um AVCI, muito rápido e devastador. Um de seus olhos está turvo, os sintomas sugerem.

—Oh claro, eu não sou médico, mas pude notar que ele era também fumante, ansioso, não tinha noção da doença e traía sua esposa! –Sherlock parecia surpreso e irritado– Claramente pelos dedos, seu hálito cheira a cigarro, suas unhas roídas, não usa aliança, mas a marca no dedo indica que a tirava com frequência –enfiou a mão nos bolsos dele– Voilà! Um anel barato que pretendia dar para quem? Sua mulher? Não, mas para sua amante, possivelmente foi descoberto e como já tinha uma pré-disposição para infarto... –John olhou para ele– digo “derrame cerebral” este pobre infeliz já estava muito encrencado.

—Ah, certo. –o DI estava sem palavras e impressionado pela inteligência e desdém do homem a sua frente.

—Isso é tudo! Vamos John, não há mais o que fazer aqui.

Disse por cima do ombro e o médico saiu em seu encalço com aquele olhar de desculpas correndo para alcançá-lo.

*Momento presente*

John riu com a lembrança da mais recente consultoria e de como ele ficou: ora irritadiço ora melancólico. Aquilo o preocupava, pois seu amigo sociopata era um perigo para sua própria sanidade.

—JOHN! –a voz de barítono ecoou à suas costas.

—Que susto, Sherlock! –o loiro deu um salto como se estivesse sido pego em flagrante fazendo algo errado– Oh God sake, pare com isso!

—Parar com o quê? –seu tom era neutro.

—De chegar sem anunciar. Aqui está o seu... seu...–Watson havia ficado com a estranha mania de esquecer o nome das coisas quando nervoso.

—Chá?

—Oh, sim.

—Estive pensando em algo para fazermos quando você estivesse de folga– disse em um tom mais baixo e mantendo seus olhos fixos no mais baixo.

John quase engasgou com o chá que mal tinha começado a tomar. —O que você quis dizer?– perguntou mudando rapidamente de entonação, ficando imediatamente rubro.

—Uma distração para a minha mente. Os dias tem sido chatos, você vai trabalhar e eu fico mofando aqui. Sozinho... –sua voz era melosa como se convencesse o médico a sentir pena dele.

John não dizia nada, apenas mordia uma torrada e desviava o olhar.

—Sabe que Moriarty de uma forma estranha me faz falta? Pelo menos ele me entretia e me afastava do tédio...

O loiro voltou a si e replicou:

—Tá maluco, Sherlock? Aquele psicopata quis te matar, me fez crer que você tinha se suicidado e você ainda sente saudades dele? –seu tom era incrédulo e saiu um pouco mais alto.

—Não foi isso que eu disse –Sherlock saiu caminhando em direção à sala– O que aconteceu com estes criminosos? Toda a imaginação resumida a crimes passionais, estúpidos que até a Scotland Yard conseguiria solucionar sem mim –o mais novo fez uma pausa– se aproximou de John e o agarrou pelos ombros :—Estou entediado!

—Eu tento te entender... Mas o que você quer que eu faça? –a pergunta foi retórica, sem pensar direito sobre o que havia dito ele se lembrou sobre a proposta anterior e suas bochechas ficaram vermelhas.

—Ah! Estive pensando em nós aliviarmos meu tédio... Deu um sorriso de canto que perturbou o doutor –Cluedo! –gritou triunfante.

—Cluedo? –agora soava decepcionado. Ao perceber isso John quis socar a si mesmo.

—Você tem uma ideia melhor?

John que agora olhava para os próprios pés avaliou o que seria mais prudente dizer, respirou fundo e disse:

—Não sei o que é pior: aguentar você dias sem falar ou ter que jogar esse jogo estúpido! –seu tom era amuado.

O moreno franziu o cenho tentando captar algo na voz do loiro que não entendeu. Um silêncio constrangedor pairou e ele parecia muito concentrado ponderando as palavras de John.

John ameaçou se levantar da poltrona, mais rápido foi Sherlock que o segurou pelos pulsos.

—Você não vai a lugar algum, Watson! –soou como uma ordem possessiva.

—Você não estava no seu Palácio Mental? –disse engolindo em seco. Ao olhar para cima percebeu que o detetive o encarava de maneira interrogativa com uma sobrancelha arqueada.

Enquanto isso a senhora Hudson já foi entrando muito contente: —Ioo-hoo, meninos, desculpe incomodá-los tão ced... Ela nem terminou a frase e arregalou os olhos ao ver a cena e em seguida deu um sorrisinho maternal. John tentava se soltar agora muito envergonhado.

—O que foi Mrs. Hudson?–Sherlock perguntou irritado.

—Permita-me informá-lo que há uns rapazes esquisitos lá embaixo que querem vê-lo.

—Um caso! –Sherlock falou mais para si e revelou um largo sorriso– Ah, John, vamos deixar aquele negócio para depois, agora tenho um mistério à minha frente!

Senhora Hudson trocou um olhar cúmplice com Watson.

—O que devo dizer a eles? –acrescentou.

—Que entrem!– o sociopata praticamente dançava de felicidade.

John que estava sem graça com a situação, quando se deu conta de seus trajes que constituíam de uma camisa velha e uma calça surrada de dormir, saiu correndo em direção ao seu quarto para ficar mais apresentável.

Sherlock nem se deu ao trabalho de sair do sofá quando se ouviram vozes se aproximando e um rapaz de aproximadamente 25 anos, branco de cabelos escuros e com um penteado exótico bateu de leve na porta entreaberta.

—Sr. Holmes?– perguntou de maneira tímida.

Mais dois jovens estavam atrás dele e hesitavam em entrar.

— Podem entrar –o detetive se levantou e com um aceno indicou seus assentos.

—Prazer em conhecê-lo, sou William Overton, mas pode me chamar de Will. Esses são Jack e Lewis.

—Além de ser uma boyband pop, tiveram uma noite de sono difícil, não sei o que está acontecendo –de repente Sherlock todo teatral perguntou: Cambridge ou Oxford?

—Como o senhor... sabe disso? O inspetor já te ligou?

—Ah John pensei que já estivesse saído, queira juntar-se a nós e ouvir essa interessante história. –Os garotos que permaneciam boquiabertos mal notaram o doutor chegar.

—Deixe apresentar este é o Dr. Watson, meu assistente– John o olhou com a expressão “eu sei falar por mim mesmo e pare de se mostrar” – Mas prossiga com a narrativa.

O jovem parecia curioso para saber como Sherlock sabia daquilo.

—O senhor poderia antes responder às minhas perguntas?

—Sim, elementar. A começar pela faixa etária de vocês, são estudantes de nível universitário, a boyband nota-se pelas roupas e estilo de cabelo, tão chichê! E por virem juntos se bem que poderia apenas um me descrever o caso, não estão habituados a Londres. Suas olheiras parecem ser recentes e seu amigo ficou alongando o pescoço o que indica uma noite mal dormida e por ser relativamente cedo, tentam manterem-se acordados com... –inspirou o ar perto do rapaz– Café! Desses servidos na lanchonete aqui perto, então vieram depressa para não perder tempo. Algo urgente os afetou nessa madrugada, suponho que estejam hospedados em um hotel desde ontem, o que me diz que vieram de uma cidade universitária: Cambridge ou Oxford?

—Sim, é verdade, viemos de Cambridge e temos a infelicidade de perder nosso amigo, sem falar que é o vocalista e guitarrista de nosso grupo. –ele estava também nervoso e preocupado, pois tamborilava os dedos na coxa e olhava para vários lados sem encarar os homens.

—Conte-me o que se passou desde o início.

—Saímos de nossa cidade ontem pela tarde muito entusiasmados, porque passamos a manhã inteira ensaiando para o festival de música aqui de Londres. Somos amadores e decidimos inscrever nossa banda para ter reconhecimento e quem sabe fechar um contrato com uma gravadora. O senhor já ouviu falar desse concurso?

—Não é minha área.

Will fez uma cara que parecia dizer: “em que planeta esse cara vive?”. – Chegamos ao hotel de tardezinha e decidimos deixar nossos pertences e dar uma volta, discutíamos sobre a apresentação. Na volta ainda cedo precisámos dormir, o grande dia será amanhã. Era cerca de onze da noite quando fui ao quarto de Nicholas Staunton para ver se estava tudo bem, me considero o responsável por eles, já que sou o mais velho do grupo e simplesmente ele não estava mais lá!

—Como se certificou que ele havia desaparecido? –Sherlock interrompeu.

—Bem, por estarmos todos juntos e nos comunicarmos toda hora, foi combinado de irmos dormir antes das onze. A cama não estava desfeita o chamei e ninguém respondeu, liguei para seu celular e estava fora de área. Comecei a ficar preocupado, quando o porteiro me disse que uma hora antes ele havia saído por conta própria com outro homem. E veja só, até hoje de manhã ele não retorna! Fui à polícia ao amanhecer e me disseram que deveria consultar o senhor.

— Ele conhecia esse homem?

—Não sei, mas o porteiro me disse que pareciam se conhecer, mas Nick estava pálido e desconfortável, saíram juntos. Eu não entendo senhor Holmes!– Will passava a mão pelos cabelos– Ele era talvez o mais ansioso para essa apresentação, é o coração da banda e sai sem nos dar satisfação. –apontava para um canto qualquer– ele é nossa esperança, sem ele nunca poderíamos ganhar ou mesmo competir.

—Staunton levava algum pertence consigo?

—O celular, vi que deixou a mochila no quarto. Deve ter sido totalmente inesperado e de máxima importância, não sei se retornará! O senhor acredita ser um sequestro?

—Ora, quem iria sequestrar um garoto de uma banda juvenil desconhecida?–deu um sorriso debochado.

John que até então não havia se manifestado, chutou a canela de seu amigo e lhe lançou um olhar réprobo.

—Entrou em contato com sua família? –o detetive perguntou com a maior cara de pau.

—Sim, nossos conhecidos de Cambridge, mas ninguém o viu. Ele é órfão, perdeu os pais há anos e seu parente mais próximo é um tio muito rico, mas desculpe a palavra, é um avarento.

—Mas isso muda o rumo dos acontecimentos! Falou com ele?

—Só o conheço de nome.

—Staunton é seu herdeiro, interessante!

Sherlock e John trocaram um breve olhar, o último pigarreou e disse:

—Isso é tudo, Sherlock?

—Creio já ter o bastante.

O tempo que Overton despejava informações de maneira desajeitada, seus amigos permaneceram calados. Watson observou isso e acreditou eles estarem muito chocados e nomearem Will seu porta-voz.

—Diga-me rapazes, têm ainda algum pormenor que seu amigo não me informou?

Os garotos se entreolharam e em seguida Jack, o moço ruivo de olhos verdes, parecia indeciso.

—Não, oh espere... –seus olhos ficaram marejados– momentos antes de embarcarmos, Nicholas tinha um olhar sombrio, sua voz hesitou – acho que Nick me disse algo sobre não ter certeza de suas prioridades, mas não sei o que quis dizer.

—Tudo bem, manterei contato com vocês! Vou ver na minha agenda e sigo para o hotel averiguar.

—O que pensa disso Watson? – o moreno já estava de roupa trocada.

—O que foi aquilo de ver se pode investigar? Você está há semanas sem um caso– John balançava a cabeça– Até quis jogar Cluedo– murmurou.

—Qual sua teoria a respeito desse estranho desaparecimento? –Ignorou o comentário anterior.

—É muito confuso, já que o garoto nem é rico ou famoso para ser sequestrado... No entanto Overton falou sobre seu tio ricaço e Nicholas é seu herdeiro. Também há uma competição e deve ser conveniente para alguém seu desaparecimento, já que se trata de um componente importante para a banda.

—Você está brilhante hoje Watson! –Sherlock riu– Essas são umas das minhas hipóteses, entretanto ainda é cedo demais para formular teorias, preciso coletar dados!

Ao dizer isso Sherlock pegou o casaco e se dirigiu à porta. Colocou a mão na maçaneta e olhou para trás:

—Não tenho hora para voltar!

—Decidiu ir sem mim?

—Pensei que não quisesse ir junto, pois está no seu dia de folga e você tem trabalhado bastante. – Sherlock se aproximou e o encarava daquela maneira única.

—Você não sabe o quanto eu esperei por um novo caso que te tirasse desse sofá. Se você quiser que eu vá junto...

—É evidente John! Aonde eu iria sem o meu doutor? –disse jogando a jaqueta em seu colega de apartamento. Se isso foi sarcasmo ou não, Watson não sabia dizer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não prometo essa história ser perfeita, mas foi pensada com muito carinho, please me digam o que vocês pensam a respeito dela! Com um pouco de Johnlock que todos nós gostamos... heheQuem gostou de Jawn e Sherly drunks? O/See ya!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O cantor desaparecido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.