A Tormenta escrita por Carol


Capítulo 3
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Hey! Se tem algum ser que lê isso, não me mate, por favor. Eu sei que devia, mas a criatividade me abandonou T.T
Além da escola. Escola mata, fica o aviso. Enfim, quando o capítulo ficou pronto, eu sentia que ainda tinha algo estranho. Algo ainda precisava de um toque final. Hoje eu (finalmente) criei vergonha na cara e fui acabar. Reviews são bem-vindas e lembrem-se: mesmo com toda a raiva pela a minha demora, morta eu não escrevo. Me matem quando eu acabar, okay?
Boa leitura :)



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Três longos meses tinham se passado desde aquela noite em que Luce decidira fugir. Alguns dos piores meses de sua vida e os melhores nos últimos tempos. Não dormiu em casa uma única vez e já conhecia todos os bosques da região.

Quando chegava em casa para se arrumar para ir à escola, sempre havia uma quantia considerável de dinheiro em cima de sua escrivaninha, com um papel preso com um elástico ao dinheiro. No papel se lia “Para Luce.” sempre numa caligrafia muito bonita e caprichada que a garota reconhecia como sendo de seu pai. Isso a fazia pensar até que ponto eles realmente não se importavam, mas ela fazia questão de não se importar com isso.

Na escola, continuava sentando no chão, agora por escolha. James a intrigava cada vez mais e a cada dia ela sentava mais perto dele, que por vez, sempre se encontrava encostado no armário do canto da sala. Sempre que estava presente, pelo menos.

Um dia, pouco mais de dois meses atrás, na aula chatíssima de biologia, Luce resolveu fazer um teste. Levantou-se, se sentou ao lado de James e encostou a cabeça no ombro dele, como se fosse um travesseiro, só para ver a reação. James deu um sorrisinho, mas reprimiu logo em seguida.

— Olá. — Luce tentou alguma comunicação, mas a resposta foi um aceno com a cabeça.

James deixou-a ficar encostada por cerca de cinco minutos e depois começou a reprimir caretas de dor, mas ela percebeu.

— Minha cabeça é pesada, certo? Dói, eu sei. Acho que vou voltar para onde eu estava — Sussurrou.

— Fique! Não é nada. — Essas foram as primeiras palavras trocadas entre os dois. O garoto sussurrava-lhe o pedido com a voz embargada.

— Claro que é! Eu vi... espera! Por que estais chorando? — O tom de voz de Luce mudou de calmo para um tom de preocupação contida. Desde o início nutrira uma estranha simpatia pelo garoto que a fitava, prestes a chorar.

— Só... fique. Há muito tempo que não estou acostumado com qualquer tipo de carinho. — Ela, um pouco espantada com a resposta e a reação do garoto, encostou-se novamente, devagar, dessa vez deitando no peito do rapaz, com medo de machucar o ombro.

— Por q...

— Sem mais perguntas. — James cortou Luce e os dois ficaram em silêncio pelo resto do dia, parados no mesmo lugar, ignorando o sinal do almoço ou da educação física.

Em certo momento acabara dormindo, acordando horas depois, sozinha na sala. O relógio da parede marcava seis horas da tarde, há muito tempo o sinal batera, indicando o fim da aula e ela ficara dormindo.

Enquanto voltava para casa, não estava brava nem nada do gênero. E só podia pensar em uma coisa: Foram as melhores horas de sono em muito tempo.

Depois daquele dia, todo dia quando Luce chegava James já estava lá, esperando por ela. Cada dia ela tinha que achar um lugar diferente para se encostar, porque cada dia uma parte diferente do corpo de James doía. Esse era o grande mistério e era negado a ela a resposta de suas perguntas. Todos os dias ela tentava fazer alguma pergunta, mas a resposta nunca vinha e quase sempre era interrompida e mandada ficar quieta.

Por mais incrível que pareça, ela não se incomodava. Antes de fazer a pergunta já sabia que não iria ter respostas, mas a vontade de saber era maior que qualquer outra coisa. Um dia, se encostou no ombro de James e logo depois o mesmo começou a fazer carinho no braço dela, por cima do moletom. Quase chegou perto do pulso, mas imediatamente a garota “escondeu” a mão no bolso.

Outro dia, quando Luce chegou, James não estava. Naquele dia seu travesseiro foi o armário e ela só podia dizer que não era nem um terço de quanto o misterioso garoto era confortável.

No dia seguinte, James estava lá quando Luce chegou, cedo demais para qualquer outro aluno. Como sempre, ela se sentou, mas quando encostou a cabeça no ombro dele, ouviu um grito de pura dor e se afastou imediatamente. Olhando nos olhos dele, viu um olhar sofrido. Tentou se encostar no peito, mas o grito foi mais alto. Quando ela olhou para ele novamente, haviam lágrimas nos olhos do garoto. Luce entendeu que ela não acharia onde se encostar. Tudo doía. Com calma, ela pegou a mão do rapaz e o fez levantar. Sentou-se no lugar dele e, com o dedo, indicou a almofada ao lado.

James sentou. Depois de algum tempo, ela se virou de lado, deixando as costas inteiramente apoiadas no armário e o trouxe mais para perto, deitando-o e o abraçando por trás, com cuidado. O roxo substituía a palidez fantasmagórica de sua pele, inclusive no rosto. Luce teve uma enorme vontade de chorar, tinha criado algum carinho por ele e não podia vê-lo assim. Era extremamente doloroso.

— Qual seu segredo? Por que você se machuca tanto? Eu não consigo te ver assim, você não entende? Você agora é importante pra mim... eu estou tão cansada de perder todo mundo que é importante! — Ela sussurrava para James, enquanto acariciava com todo cuidado e calma do mundo as mãos dele.

James começou a chorar baixinho, como se fosse algo que ele não conseguisse segurar. Luce chorando junto começou a cantar, lembrando que isso costumava acalmar uma pessoa que era extremamente importante para ela antes "daquilo".

And I give up forever to touch you

Cause I know that you feel me somehow

You're the closest to heaven that I'll ever be

And I don't want to go home right now

And all I can taste is this moment

And all I can breathe is your life

Cause sooner or later it's over

I just don't want to miss you tonight

And I don't want the world to see me

Cause I don't think that they'd understand

When everything's made to be broken

I just want you to know who I am... — Ela cantava com o coração. Quem ouvisse (e no caso só James, porque ela praticamente lhe sussurava) perceberia que aquela música era extremamente importante para ela. As palavras não eram somente palavras vazias. Elas continham dor, felicidade, sofrimento... e James tinha certeza que ela estava se lembrando de algo.

Luce abriu os olhos que nem tinha percebido fechar e viu James olhando para ela com muitas lágrimas no rosto e um olhar de admiração de não via desde... aquilo. Ela deu um beijo na testa dele, enxugou as lágrimas de ambos e sussurrou pertinho do ouvido de James: "Eu não sei o que aconteceu, não sei por que você é assim ou por que choras, mas acredite em mim quando digo que tudo ainda vai ficar bem."

James não respondeu. Todo mundo chegou logo depois e em poucos minutos o sinal de inicio da aula tocou. As pessoas tinham aprendido a ignorar ambos mas hoje estavam especialmente focadas nele. Depois de umas boas três aulas, todos já estavam com os olhos no quadro e não em James, para a alegria de Luce. Em pouco tempo, percebeu que ele estava quase dormindo e em um sussurro que Luce teve certeza que não era para ela ouvir, ele falou: "O problema é que eu não consigo acreditar em mais ninguém."


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Ficou bom? Opiniões e reviews são duas coisas que sempre vão ser bem-vindas. Kkkkk
Obs: A música é Íris - Goo Goo Dolls (http://letras.mus.br/goo-goo-dolls/16494/)