Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 9
Felicidade Impossível


Notas iniciais do capítulo

oie espero que gostem



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Ian dirige no caminho de volta. No começo, só há silêncio —e até é um pouco pacífico, pra falar a verdade —mas ele rapidamente começa a falar.

—Como ela veio parar em um lugar desse sem que ninguém soubesse?

—Talvez ela tenha contado pra alguém. Talvez o número de telefone nos ajude. —continuo olhando pra frente, tentando me adaptar ao contraste da natureza e da civilização.

—É.

Mais silêncio. Não sei se é por eu estar cansada, ou com uma nuvem de perguntas acima da minha cabeça, mas não estou pensando em nada para falar. Não é que eu não queira conversar, só não vou puxar assunto. Falar parece tão insuficiente agora que eu não consigo colocar minhas ideias no lugar. Perguntas importantes. Por quê. Como. Quando. Por que ela escondeu isso de nós. Por que ela se matou. Como ela planejou toda essa caça aos livros. Como ela conseguiu esconder isso —a depressão —de nós. Quando ela planejou. Quando ela teve essa ideia. Quando ela decidiu se matar. E o quando mais importante: por que no meu aniversário.

Milhares de pontos de interrogação.

Milhares de perguntas procurando significado embaixo da terra. Em um corpo vazio.

Há coisas que eu sei sobre Vivian. Eu sabia que ela tinha um filho, e agora sei quem ele é. Sei que ela se divorciou quando ele nasceu —dezoito anos atrás— e que o pai ficava com o filho e ela o via no final de semana. Sei que ela foi para Oxford estudar literatura inglesa, quando queria mesmo fazer poesia contemporânea, mas não gerava nenhum lucro na época. Sei que ela gostava de usar sapatilhas parecidas com aquelas de balé para vir para a escola, mas depois de uns vinte minutos de aula, ela colocava chinelos. Sei que lia muito, e gastava mais tempo do que deveria se concentrando nos trabalhos dos seus alunos, garantindo que todos tomassem o rumo certo. Ela tinha o cabelo da Sylvia Plath. Talvez quisesse se tornar a mesma, não sei. Sei que ela ficou em uma orientação para pessoas problemáticas. Eu conhecia suas ações, mas não os seus motivos.

Tem um último ponto de interrogação faltando.

Quem.

Quem era ela?

—Em que você está pensando? —indaga Ian, puxando-me para o presente.

—Nada interessante. —Minto. De alguma forma, parece que vou perturbá-lo contando o verdadeiro caminho dos meus pensamentos.

—É a minha mãe?

—Mais ou menos.

—Você sabe mesmo ser evasiva quando quer.

—Eu só... —só o quê?—não tenho certeza se você quer saber mesmo ou só está no modo pergunta-reflexiva. —ele desvia os olhos da estrada por um segundo para olhar para mim, com as sobrancelhas próximas umas das outras, claramente em confusão.

—O que isso significa?

—Pergunta reflexiva?

—É.

—É aquilo que você está tão acostumado a perguntar que perde o significado. Como quando você conhece alguém e diz "oi, tudo bem?" você não quer saber a resposta, nem a pessoa vai responder sinceramente, mas você nem percebe essas coisas. Só pergunta porque é automático. E na maioria das vezes as pessoas só perguntam pra poderem falar delas mesmas depois. Tipo perguntar sobre o que eu estou pensando pra poder falar sobre o que você está pensando. —Ian faz um meio biquinho, meio sorriso e balança a cabeça.

—Se eu quisesse que você soubesse o que eu estou pensando, eu diria, "sabe o que eu estou pensando?" ou eu diria de uma vez.

—Então você é direto. Bom saber. —ele balança a cabeça mais vagamente, mas não responde de imediato.

—Não respondeu minha pergunta.

—Eu respondi a sua pergunta. Você perguntou o que significa pergunta reflexiva.

—Pra alguém que não sabe conversar, é uma conversadora bem sinuosa. —ele me acusa. —Você sabe do que eu estou falando.

—Eu estou pensando sobre os motivos dela. Pra tudo. E procurando por... evidências. Pistas de quando ela ainda estava viva. Procurando um caminho. —Ian assente.

—Qual foi a última coisa que ela disse pra você?

—Não me lembro.

—Está mentindo.

Estou mesmo, só não esperava que ele me pegasse. Eu minto bem na maior parte do tempo.

—Como você sabe? —ele sorri, olhando para frente. Não estou sorrindo.

—Eu não sabia, estava blefando. Mas então você confirmou perguntando como eu sabia.

—Não se preocupe, foi uma pergunta-reflexiva. —quando mais tento desviar do assunto, mais aberto se torna o sorriso dele. Me sinto em uma rua sem saída. Me sinto como uma rua sem saída.

—Você mente com muita frequência?

Me limito a revirar os olhos, sabendo que ele não está olhando para mim e não pode saber o que eu acabei de fazer. Relembro a última conversa que tive com Vivian, ponderando se é seguro ou não compartilhar a memória com o filho dela.

Por ser o filho dela, chego a conclusão que é.

—Nós estávamos falando sobre... coisas felizes. Meu aniversário estava chegando. —Eu não menciono que era no dia seguinte. —E estávamos conversando sobre uma história que eu estava escrevendo. Eu não lembro muitos detalhes, mas o protagonista era um filósofo. Tipo Nietzsche só que menos comunista. Se bem que ele não era comunista, só teve cuidados de pessoas comunistas depois que ele pirou de vez, mas enfim. Ela disse que na maior parte do tempo, meu personagem era triste demais, e a única qualidade dele era a crença na felicidade impossível.

—O quê isso quer dizer?

—Felicidade impossível é a ideia que as pessoas tem de que vão conseguir alcançar a felicidade, e para isso elas tem que seguir um certo padrão de vida, seja imposto por eles mesmos ou o padrão da sociedade. E conforme eles vão se aproximando do ideal desses padrões, começam a sentir o sentimento de vitória. Sucesso. E isso causa a felicidade, que acaba no segundo que as pessoas vão querendo mais. Então no final das contas, elas não estão procurando a felicidade, que é impossível, elas estão procurando... sucesso. E são motivados pelo desejo. —olho para ele, a procura de sua reação. Ian balança a cabeça, em aprovação.

—Inteligente. Continue.

—Ela gostou da ideia. Era muito... apropriada para um filósofo, mas ela... ela queria saber... se eu mesma pensava daquele jeito.

Então, não consigo continuar. Porque a saída para esse labirinto é no ponto mais frágil do meu coração, e eu não sei mais as palavras certas para usar. Pessoal demais. Ele olha para mim em um sinaleiro, confuso ou curioso.

—E...?

—Eu disse não.

—Só isso?

Você está feliz, Diana?

Sim, eu acho.

Você acha?

Às vezes parece impossível ficar feliz. Às vezes me sinto meio doente.

Isso é natural. No geral?

Eu estou feliz.

É só isso que importa.

—É. —Silêncio. Não consigo suportar. As últimas palavras significativas que ela me disse foram "esqueça toda essa merda e todos aqueles filhos da puta e seja feliz". Suas últimas palavras realmente foram você deveria comprar aquele sanduíche na lanchonete, mas palavras sobre felicidade são mais úteis. Acho que Ian tenta sorrir. —Por que você nunca fala sobre ela?

—As últimas palavras dela para mim foram "se cuide, filho". —seu sorriso se foi.

É tudo que ele responde. Olho para baixo, como se não fosse a hora certa de olhar para ele.

—Eu não sei o que falar, então...

—Está tudo bem.

Nós ficamos quietos pelo resto da viagem, o que facilita quando eu pego no sono e só acordo quando estamos estacionados na casa dele. Ele me estende a chave, e sai do carro e eu passo para o lugar do motorista enquanto Ian apoia o cotovelo na janela.

—Você quer o número?

—Pode ligar. Odeio falar no telefone.

—Você odeia falar de todas as formas então?

—Basicamente. —Ele assente e tira o celular do bolso.

—Eu vou ligar, depois eu te mando uma mensagem com as informações que eu conseguir e preciso do seu número.

Depois de gravar o meu número no celular dele, Ian entra em casa e estou livre para ir para a minha. No caminho inteiro eu tento aprimorar minhas técnicas de atuação, para fingir que nada aconteceu. A mudança de ambiente é um pouco súbita demais para que eu fale com os meus pais como se eu tivesse mesmo ido só até a casa de Becker. Isso parece tão normal agora, comparado a subir uma montanha para ouvir lobos uivando ao som de um violino. É um contraste tão grande, saber que algo mágico dessa magnitude pode acontecer no mesmo mundo que ir a casa de outra pessoa. Não estou falando que Becker é ordinária —claro que não—só é comum eu ir na casa dela, enquanto St. Mara foi uma experiência única. Minhas reações em relação a essas duas coisas são diferentes, portanto é difícil chegar em casa e agir normalmente, como se nada tivesse acontecido, quando eu queria mesmo era cuspir, gritar para fora —para os meus pais —que eu tive uma aventura incrível.

Não quero reprimir a animação momentânea. Eu quero senti-la.

Meus pais não olham para cima quando eu entro na cozinha.

—Diana. —meu pai diz, voltando a digitar em seguida. Estão em lados opostos da mesa, com documentos em ambos os seus lados e os laptops abertos.

No café da manhã.

—Oi, pai. Mãe. —Cumprimento-os. Ainda não olham para mim.

—Está com fome? Tome um café.

Não estou com fome —o café da manhã da senhora Kowki é tão bom quanto o almoço. E jantar. —mas eu sento de qualquer forma, incapaz de negar. Preparo o café e tomo goles pequenos, esperando que alguém fale alguma coisa.

Alguns segundos que parecem horas se passam até que minha mãe abre a boca para falar.

—Ford está abrindo uma empresa.

Não sei quem é Ford.

—Hmmm, temos que falar com nosso advogado sobre isso.

Isso o quê?

—Soube que ele comprou terrenos em Manhattan por causa disso. Preciso nos assegurar que ele não pegue nossos clientes.

Eles estão me ignorando.

—Hmmmm. Vou falar com ele segunda-feira. Dar um aviso amigável.

Em outras palavras, ameaçar.

Olho para baixo, como se não estivesse ouvindo nada.

—Diana, não se esqueça da festa da Companhia Stein no próximo final de semana.

Eu tinha esquecido completamente, mas a verdade é que não há muito para lembrar: é uma festa chique, de uma empresa chique que eu não faço a menor ideia do que ela faz, mas que eu posso beber champanhe e tenho que sorrir e agir como filha única. É sempre assim.

—Não esqueci.

—Já viu algum vestido?

—Já. —Minto. —Mas ainda não decidi.

Minha mãe não olha para mim.

—Como anda a escola? —meu pai pergunta com os olhos no laptop.

—Nada de diferente.

—Já recebeu resposta de alguma faculdade?

—Não é hora de mandar aplicações ainda, pai.

Olhe para mim.

—Bem, então diga que recebeu quando formos para a festa.

—O.k. —Estou agitada. Um aperto se forma no meu coração, e eu tomo o resto do café rápido, para poder ir para o meu quarto antes que o que eu estou começando a sentir fique insuportável na frente dos meus pais.

—Você acha que Ford está fazendo algo ilegal? —minha mãe remenda a conversa e eu levanto e saio dali, sem mais nenhuma palavra. Faço minhas próprias coisas. Eu ligo para Becker. Conto a ela sobre a viagem. Eu faço meu trabalho e eu leio o livro que eu peguei na casa de Bridgette Kowki, aquele da Alice Goldman. É poesia e é uma das melhores coisas que eu já li, o que me faz sentir aquele burburinho na alma, a mesma sussurrando para mim o que foi essa coisa maravilhosa que você acabou de ler?

Na segunda feira de manhã, terminei de ler o livro inteiro, mas eu o levo para a escola para relê-lo, porque ele é bom desse jeito.

No final da aula, o professor Fawkes me para.

—Senhorita Novak.

Ele está com o tom raivoso de sempre, mas eu sempre fico com medo não importa a frequência que eu ouça essa voz.

—Algum problema?

—Preciso falar com você sobre os seus trabalhos. Sua nota final.

O frio na barriga se instala assim que ele termina de falar, já sabendo que é algo ruim.

—O quê?

—Você vai reprovar em Inglês. —Meu coração pega fogo e meus joelhos falham.

—Mas como isso é possível? Eu fiz tudo que você pediu no semestre. E eu tentei mesmo fazer do jeito certo.

Mas eu sei. No fundo eu sei que não dá pra contornar uma situação desse tipo. Ele não é Vivian.

—Gostaria de ajudar, mas não posso fazer nada. Sua única esperança são as provas finais, então é melhor começar a estudar. Mas não sei se o resultado vai ajudar muito.

O mundo parece tão mau e com um senso de humor destorcido agora, e as lágrimas queimam meus olhos —de desespero, de raiva, da sensação da montanha russa novamente.

—Não tem nada que eu possa fazer?

Reprovar em Inglês é incabível para alguém como eu. É quase uma piada. O professor Fawkes encolhe os ombros, ainda rígido.

—Não consigo pensar em nada. Só se concentre nas provas.

E então ele vai embora. Não diz "boa sorte" ou "sinto muito" porque não é Vivian, nem age como ela, no entanto ainda é um balde de água fria, quebrando toda a fortaleza que eu preparei. Em busca de ar, saio para o estacionamento a todo vapor, respirando fundo. A vontade de chorar sobe pela minha garganta e afoga meu coração. Paro na parede, encostando nela a procura de apoio.

Um soluço escapa. Me forço a controlá-lo, porque Becker vai me encontrar e Gordon vai vir junto, Robbie também e não quero fazer uma cena na frente de ninguém.

E ninguém entenderá os meus motivos. Chorar por causa de algo como a escola parece um motivo idiota, se não significasse mais do que isso. Me lembra que Vivian está morta e tudo mudou e não sou forte o suficiente pra nada disso. Nem para sobreviver depois que ela se foi.

Meu celular vibra. Não é um toque de mensagem —é uma ligação.

—Alô? —faço uma careta ao ouvir minha voz horrível.

—Diana?

—Ian? Oi. —tento normalizar a voz, mas parece que estou a beira das lágrimas de novo. Estou desconfortável por estar falando pelo telefone, mas contente por ele não estar vendo minha reação. Isso seria constrangedor.

—Uh, oi. Então, eu liguei para o número...

Meu coração acelera um pouco. As possibilidades cegam os últimos acontecimentos.

—É...é... é um karaokê. —Pausa. Pausa no tempo.

O quê?

POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE, POR QUE—

—É um karaokê. —Ian repete, parecendo tão incrédulo quanto eu, mas não se mostra tão... furioso quanto eu estou nesse momento. E estou furiosa. Furiosa e dilacerada.

—Um karaokê? Só isso? Mas... por quê? —Todas essas perguntas impossíveis me deixam com dor de cabeça. Eu quero desaparecer e gritar ao mesmo tempo.

—Eu fiquei irritado pra cacete também.

—Isso é... ridículo.

Não é ridículo. Ridículo é ser uma pessoa falsa ou fazer algo idiota de propósito, mas isso é tortura. Nos fazer acreditar que isso tudo vale a pena, quando no final são só anotações em livros que eu nem tenho certeza se são para mim, ou se devo segui-las. Às vezes essas perguntas que eu tento encontrar a resposta não são nem feitas para serem respondidas, e tudo me leva mais fundo em um labirinto que preciso sair antes de ficar presa demais. Me libertar antes que isso entre em mim e faça mudanças que eu não consiga me adaptar.

Vou chorar. Sinto em cada molécula do meu corpo e odeio isso.

—Eu sei. Mas...

—O quê?

—Eu fiz uma reserva. Quinta-feira. —pelo modo como ele fala, consigo entender que está esperando minha reação, como se eu fosse explodir e começar a gritar. Seu tom de voz é quieto, de certa forma.

Não sei por quanto tempo eu fico quieta antes de responder calmamente.

—Tudo bem. Obrigada.

—Tem algo acontecendo?

—Isso não faz sentido.

É a vez dele de ficar em silêncio. Por um longo tempo, o que me dá tempo de voltar a respirar normalmente, longas inspirações.

—Vamos não tentar achar o sentido dessa vez. Ou em nenhuma das vezes. Nada nunca fez sentido quando se trata da minha mãe.

Continue curiosa, Vivian complementa.

Às vezes, eu te odeio, retruco.

Minha garganta queima. Uma das conversas que tive com Vivian me vem a cabeça.

Nós só odiamos o que não entendemos, ela disse. Mas se quiser saber, Diana, não entender muitas coisas te deixa mais sã e menos neurótica e odiar coisas garante fofoca para o resto da vida. E se tem algo que te deixa sã, é fofocar.

Tudo bem. —Respondo.

Quando desligo, fico alguns minutos no mesmo lugar, para me recuperar. Decido ignorar todos os meus pensamentos e as coisas que aconteceram e vou em direção dos meus amigos. Gordon, Becker e Robbie estão conversando. Robbie está com um braço na cintura de Becker e ela mexe as mãos freneticamente. Eles olham para mim quando me aproximo, e Becker me lança um olhar significativo, porque percebe as marcas que o choro deixa no meu rosto. Dou um sorriso triste, e nenhuma de nós fala nada.

Gordon está falando sobre um projeto de ciências ou algo assim.

—Cara, isso é idiota. —Robbie comenta.

—Não é idiota! É física.

—É idiota você ficar animado com física.

—É idiota VOCÊ ficar animado com esportes.

—Tudo bem, tudo bem, —Becker intervém —deixem disso. Vamos. —ela segura a mão do namorado. Ele não parece com raiva, mas é melhor prevenir antes que algo pior aconteça. Ela me manda um pedido de socorro com o olhar, e eu puxo Gordon para o lado. Acho que os anos em que os meninos zombavam do peso dele o tornaram um pouco violento quando precisa se defender de alguma coisa, então não demoraria para se meter em uma briga. Ele se acostumou tanto com as coisas maldosas que confunde comentários mal intencionados com opiniões diferentes às vezes.

—Quer carona? —pergunto, fazendo ele olhar para mim.

—É óbvio. —ele revira os olhos, e então a possível briga foi evitada. Levar Gordon para casa é uma distração —ficamos conversando sobre comida o caminho todo —mas não serve quando ele me deixa sozinha, e o meu sorriso de adeus desaparece do meu rosto sem minha permissão. De repente estou sozinha e triste e levemente desesperada, com um nó na garganta e um nó igualmente apertado no coração. Olhando para o nada, e sentindo tudo.

Parece que nada está dando certo. Nunca dá certo mas hoje está pior do que nos outros dias. Então me dou ao luxo de chorar. Eu espero até estar em uma estrada por onde ninguém que eu conheço passa para voltar para casa, e levanto todas as janelas. Meu rosto está no volante, e eu aperto-o com as mãos até doer; eu choro até não restar mais nada de mim mesma, mas nem mesmo assim parece suficiente. É como se uma parte de mim se aliviasse —concertasse —apenas para dar espaço e visão o suficiente para eu perceber toda a fila de pedaços do meu corpo e da minha alma que precisam de reparo. Reparo que nunca vão receber enquanto eu não descobrir como. É impossível.

Eu menti para você Vivian, me desculpe. Chamo-a em meus pensamentos. Sua voz aparece um pouco depois, fruto da minha imaginação.

Por quê? Corrijo minha mente. Estou cansada de porquês. A voz dela tenta outra vez. O que você não me contou?

Talvez isso signifique algo ruim, mas...

...eu acredito. Em felicidade impossível. Me desculpe. Pode ir agora.

Assim, ela vai.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?