Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 10
Karaokê




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—Oi, Diana. É a Gwen. Eu não sei porquê você deixou cair na caixa de mensagem mas eu só queria que você soubesse que eu ouvi sua mensagem. Me perdoe por não ter atendido naquela hora, é só que eu estava ocupada e nem vi a ligação. Me liga assim que receber isso. Eu sei que tem sido difícil, mas eu ainda estou torcendo por você, sempre. Diana? Se você está ouvindo isso, me ligue. Por favor. Entendo que você está chateada com tudo que está acontecendo, mas não pode fugir disso, sabe? Nem sempre as coisas vão acontecer da maneira que você quer aconteçam, e isso pode parecer frustrante no começo, mas é melhor dessa maneira. Não se preocupe, você vai achar uma solução para a escola e para Vivian. O que eu estou dizendo é que é a escola. Não é uma coisa que dura pra sempre então não dê tanta importância, mas se esforce. Converse com aquele professor. Refaça todos os trabalhos e estude, só não COMECE A ENLOUQUECER. E quanto ao resto, respire. Você é jovem e extraordinária e perfeitamente normal. Não é errado chorar ou ficar extremamente triste, desde que você não fique assim por muito tempo. Vai estar jogando sua vida fora. As coisas vão mudar, eu prometo. Nessas horas eu gostaria de estar aí, mas você sabe que sempre vai poder contar comigo. Só não se desespere. —Ouço ela rir fraquinho. —Claire acordou. Eu só tive uma hora de trabalho hoje então tenho que fazer ela dormir pra poder voltar ao trabalho. Me ligue.

Enquanto repito pela terceira vez a mensagem no meu celular, fecho os olhos com força. Através do meu sexto sentido, sinto Becker, no banco do motorista, casualmente me encarando, esperando uma explicação que traga sentido ao meu silêncio mortal e minha atitude deprimida. Eu não tenho uma explicação. Ou eu não tenho uma que não pareça idiota. A verdadeira razão disso tudo é que estamos indo para o Pizza Fun Karaokê e eu ainda não consegui controlar minhas emoções —mesmo após três dias. Meus olhos ardem sem minha permissão porque a situação é ridícula e não vejo como posso encontrar respostas —não sei nem quais são minhas perguntas a ser respondidas— em um karaokê, nem estou no clima para me divertir.

Vai ser divertido, Becker disse, mais cedo. Eric, Ian eu e você, cantando músicas velhas.

Não duvido que isso seja divertido, mas não agora. Sinto como se estivesse indo para o matadouro, ou quando algo ruim está prestes a acontecer e eu serei parte disso. Reprimir o que eu estou sentindo só torna pior e inevitável.

—Diana? —indaga Becker. —O que foi? —balanço a cabeça. Eu não quero contar. Eu não quero que ela se preocupe comigo. Não quero mostrar que o drama ainda não acabou. Becker sabe como eu me sinto porque se sentiu assim também quando Vivian morreu, mas ela superou. Eventualmente, as pessoas seguem em frente. Só eu fico paralisada no mesmo lugar, com a mesma dor, na mesma incompreensão. E a última coisa que eu desejo é trazer esses sentimentos a tona para ela, que não precisa ficar lidando com isso. —Você não quer ir?

—Não, eu quero. Eu sei que vai ser legal.

—Então o que é? É o professor Fawkes? Não se preocupe...

—Não. Eu sei que eu vou dar um jeito com o professor Fawkes. —a interrompo. —Está tudo bem. —olho para frente. Seguimos em silêncio por um estrada por onde nunca passei e de repente ela para. Mas não é na frente do karaokê —é no meio do nada. —Por que você parou?

Becker sai do carro e faz um sinal para que eu a siga. Enquanto eu observo desconfiada, ela caminha até a grama no lado da estrada, indo cada vez mais fundo.

—Vem logo! —grita para mim. Curiosa, eu a sigo, até pararmos no meio do gramado. —Tudo bem, eu quero que você GRITE.

Estou confusa.

—O quê?

—Grite. Bote isso para fora, Diana. Vamos. Agora.

Eu grito. É isso que eu faço —o que me pedem. E Becker é minha amiga, então eu vou sempre confiar nela para me pedir coisas que eu possa ou me sinta confortável em fazer. Mesmo que pareça insanidade. Não sei se eu grito da maneira certa, porque nunca fiz isso antes. Como saber? Eu fecho meus olhos, abro a boca e falo alto o suficiente para que uma grande quantidade de pessoas na área consigam ouvir, o que equaliza gritar.

—Você consegue fazer melhor que isso. —exclama ela. A potência do meu grito aumenta, mais forte, mais alto, mais alto...

O grito acaba, mas minha voz continua. Ela ricocheteia meu coração, capturando meu medo, minha impossibilidade e jogando-os para fora com a minha voz, de forma que eu não sinta como se estivesse gritando, porque isso é bem... diferente. Vem do meu coração, não dos meus pulmões e cordas vocais. Com os olhos fechados, eu lembro dos lobos uivando na montanha. Quero ser pacífica e uivar como eles —como se não houvesse nada de errado no mundo, e tudo fosse uma grande escuridão que se tornasse bonita com os sons que eles fazem. Quero que a emoção na minha voz seja a junção do violino e dos lobos. Quero ser algo melhor. No entanto, minha voz é desesperada, pois tudo em mim é assim: chega no ápice do desespero, depois se esvai lentamente, até sobrar silêncio.

Becker me encara, esperando por alguma coisa. Está escuro, e só consigo ver seu rosto através da luz da lua.

—Obrigada. —digo, sem fôlego, ainda um pouquinho chocada.

—Minha terapeuta disse que isso faz bem.

—Inteligente. —fecho os olhos, inspirando fundo. Becker pega minha mão.

—Agora vamos sair daqui antes que achem que alguém morreu. Ou pior, que matamos alguém.

Como se meu coração decidisse mudar meu humor —ou talvez sejam os hormônios?—, eu começo a rir incontrolavelmente enquanto corremos para o carro novamente, sentindo como se meus pés fossem ar e minha cabeça fosse uma nuvem —leve e pesada, ao mesmo tempo.

Chegamos um pouco atrasadas —7:15 P.M. —o que não faz muita diferença.

Pizza Fun Karaokê.

Um combo: você canta e come pizza ao mesmo tempo. Acho que é por isso que o estacionamento está cheio e parece um lugar bem chique, com luzes de neon iluminando todas as letras e com ar profissional. Vou ter que perguntar para Ian quanto ele pagou, para poder recompensá-lo. Lembro-me repetidamente que não há motivos para ficar nervosa ou desconfortável, são só pessoas, só garotos, e tenho que me certificar que não vou ficar com raiva, nem deixar minhas emoções me dominarem. É só um karaokê. Só vou escutar gente cantando e pronto. Seja qual for o motivo pelo qual Vivian nos trouxe aqui, por mais inútil e frustrante que seja, eu vou ignorar isso e agir como se não fosse algo relacionado a ela. Vou tentar aproveitar.

Estou usando botas de neve —mesmo que não exista neve nenhuma, eu só uso porque são bonitas —, minha saia e uma regata prateada (que Becker brinca ser um sinalizador). Meu cabelo está preso em uma trança, e não estou usando nenhuma maquiagem —o fator que revela que não espero seduzir ninguém nem nada hoje, e é muito importante para manter a maioria dos garotos a distância. Becker não está muito diferente, com sua calça cáqui e suéter. Com estampa de ovelhinhas. Bem hipster. Bem bonita.

Esqueça as coisas ruins.

O moço do balcão parece ter saído de um filme, com uma gravata borboleta e chiclete, parecendo animado demais e gay demais.

—Bem vindas, moças!

—Oi —Becker sorri —estamos procurando...? —ela olha para mim, a procura de luz.

—Ian Winter. —respondo, na mesma hora que escutamos um "ei!" vindo do lado. Uns poucos metros ao lado do balcão, em uma mesa de frente para um palco, Ian e Eric estão sentados em uma mesa. O balconista sorri e nos deixa entrar. No caminho, vou colocando minha jaqueta por causa do frio do ar condicionado, detalhe que não faz o menor sentido agora que o inverno acabou, mas ainda deixa rastros. Quando chegamos na mesa, vemos uma pizza e meu estômago ronca.

—Eu estou MORRENDO DE FOME. —anuncia Becker, sentando-se. Não demora muito para eu pegar uma fatia e começar a devorar.

—Então, —começa Eric —quando a gente vai começar?

—Começar o quê? —questiono, confusa, a pizza derretendo qualquer outro pensamento. Eric me lança um olhar que diz que estou deixando algo muito importante passar.

—O karaokê, duh. Quero humilhar cada um de vocês.

—Como você tem tanta confiança?

—Participei do American Idol.

—Ai meu Deus, você foi para Hollywood? —eu costumava assistir American Idol com a minha irmã. Agora eu nem mesmo assisto TV.

—Não. —ficamos em silêncio sem saber o que falar, porque a situação é meio esquisita. Eric dá de ombros como se não fosse nada demais, enquanto Becker ri descontroladamente, como fez quando corríamos para o carro depois de gritarmos no gramado.

—Eu vou, eu vou. —ela diz, jogando o cabelo ruivo para trás.

—Tudo bem. Eu escolho uma música, você canta e vice-versa.

—Mas eu quero jogar com a Diana. —Becker faz um biquinho. Ela sabe que vai ganhar se eu cantar com ela.

—Não, não, não. Eu não vou cantar.

—Mas...

—Vou pensar no assunto. —emendo, observando as outras mesas e outros palcos, onde bêbados desafinam e os que estão sentados riem. Fico com vergonha apenas por estar encarando. Eric e Becker vão para a caixa de som escolher uma música, e eu me viro para Ian. Sorrio amigável. —...oi. —pego outro pedaço de pizza.

—E ai. Melhor? —continuo encarando-o, vazia, sem entender o que ele quer dizer. —Quando eu te liguei você estava... estranha.

Você está bem.

Você está bem.

Você já chorou o bastante.

Não deixe nada te impedir de se divertir hoje, Diana.

Minha alma tropeça e demora para se recuperar, forçando um sorriso.

—Eu estou melhor. E como você está? —ele sorri e ergue uma sobrancelha, como se soubesse que eu estou escondendo alguma coisa.

—Bem.

—...o que foi?

—Sua mão. —diz ele, simplesmente. —Seus dedos ficam... —ele mexe seus dedos freneticamente, espelhando os meus. Estava fazendo isso e nem percebi. Paro imediatamente e escutamos a voz de Eric no microfone.

—Cambio, cambio... alô. —não posso deixar de sorrir com a cena. Becker fica em pé no lado do palco, parecendo frustrada, revirando os olhos a cada cinco segundos. —Uh, tudo bem. —Eric tem que se abaixar para falar no microfone. A jaqueta deixa ele maior do que realmente é, como se fosse durão quando na verdade é só... o Eric. A música começa. Katy Perry. —There's a stranger in my bed... la la la glitter all over the room, pink flamingos in the... pool! —ele exclama, quando lembra da palavra certa.

Eu nunca fui em um karaokê antes.

Mas mesmo assim...

isso é horrível. Tento não fazer caretas, nem nenhuma expressão que fale mais alto que o meu silêncio —ao contrário de Ian, que está rindo do amigo a ponto de ficar sem fôlego. Não consigo achar graça em alguém fazendo papel de palhaço —deliberadamente. Sou muito boa e muito chata para isso. Becker no entanto, vaia e mostra sua reprovação. Para a sorte de Eric, ninguém além de nós está prestando atenção. Eric continua, fechando os olhos e fazendo movimentos com a mão para trazer mais emoção a música.

LAST FRIDAY NIGHT, YEAH WE DANCED ON TABLETOPS AND WE TOOK TO MANY SHOTS... SO WE HIT THE BOULEVARD!

—VOCÊ ERROU! —Becker grita. Eu como pizza. Do meu lado, Ian tenta tomar fôlego.

—Você está bem? —ele está respirando muito forte, deixando-me sem outra opção a não ser me preocupar.

—Cara... —mais gargalhadas —eu imaginei como seria isso umas mil vezes mas isso é MIL VEZES PIOR.

DO IT ALL AGAIN... LAST FRIDAY NIGHT... DO IT ALL AGAIN. T.G.I.F.T.G.I.F.T.G.I.F! —Eric olha para nós, e sorri, apontando em nossa direção. —DO IT ALL AGAIN.

—Você é meu ídolo! —Ian grita.

—Obrigado, fã. Eu autografo a sua testa mais tarde.Ou talvez sua bunda, se você me pagar. —Eric grita em retorno.

—Você é horrível. Meu Deus, esses foram os piores três minutos da minha vida. —reclama Becker.

—Você não vai para Hollywood. —É tudo que eu falo, e Ian começa a rir mais forte. É até engraçado o jeito que todo o rosto dele se retrai com os movimentos, e a testa se franze, enquanto seus olhos quase se fecham. É uma risada jovial. Eric joga o microfone para Becker e senta na mesa, dando um tapa em Ian e aponta um dedo para mim.

—Isso não vai ficar assim.

—Eu não falei nada demais. —rebato.

—O tamanho do me... —Ian interrompe.

—Sem besteira. —Eric levanta as mãos, em rendição.

—Eu só ia dizer que o tamanho do meu ego é grande demais para ser ferido por vocês, perdedores. —rapidamente, ele se vira na cadeira para encarar Becker. Acho que ele gosta dela —e isso é triste e esquisito porque ela tem um namorado. Becker é bem mais profissional que Eric. Ela respira fundo, deixa todo o talento entrar pelo ar nos seus pulmões e a música começa.

You're so gay and you don't even like boys... NO YOU DON'T EVEN LIKE, NO YOU DON'T EVEN LIKE BOYS! OH-OH-OH. —Bato palmas e uivo, torcendo por ela enquanto faz seu show. Eric vaia, mas duvido que esteja achando ruim —é mil vezes melhor que a música dele.

Na segunda parte da música, porém, minha atenção vai em direção ao balcão, onde um casal reclama com o balconista —ele não parece tão contente. O que me atrai a atenção não é eles estarem reclamando, mas a aparência. A mulher —nos seus quarenta anos ou menos com cachos enormes —azuis— e olhos que declaram suas descendências orientais, sem contar a altura baixa. Tem sobrancelhas definidas e um vestido longo florido, mostrando uma tatuagem de uma fada no seu braço. O homem, com um braço no seu ombro, é no mínimo trinta centímetros mais alto, alemão —pálido e vermelho, loiro com olhos azuis —com uma barba e piercing na sobrancelha, da mesma idade da mulher. Ela olha em nossa direção, irritada e eu me concentro para ouvir o que está dizendo, curiosa.

—...é o nosso horário. —O balconista tenta acalmá-la, explicando algo sobre mudança de gerenciamento.

—É a merda do meu horário. Eu venho aqui todas as quintas-feiras por QUATRO ANOS, Jackson. —Sua voz é dura. Firme.

—V-você devia ter marcado um horário. —o balconista (Jackson?) explica novamente. —É assim que funciona agora.

—AQUELA É A MINHA MESA. —A mulher grita. Jackson já não sabe mais o que fazer, mas eu tenho uma ideia. Embora não esteja entendo nada, eu digo alto o suficiente para que a mulher do cabelo azul escute:

—Você pode ficar conosco se quiser.

Pronto. O sangue percorre mais rápido nas minhas veias enquanto eu espero uma resposta de uma oferta que acabei de fazer para alguém que nunca vi na vida. Olho para Ian, procurando permissão e ele se vira para encarar o casal. Becker e Eric ainda brigam e cantam no palco do karaokê.

Ela olha para mim —direto nos meus olhos —fazendo-me desviar o olhar, constrangida.

—Sim! Eu vou ficar com vocês, obrigada. —Quando olho para cima novamente, qualquer traço de irritação sumiu do seu rosto, e ela me acolhe com um sorriso caloroso. É meio confuso e meio intimidante. Eles sentam-se na mesa, e o homem aperta nossas mãos.

—Bobby. —apresenta-se.

—Sou o Ian. Aqueles são Eric e Becker, eles vieram com a gente.

—Diana.

—Ariel Fieldman.

Boom.

Ariel?

De alguma forma, o nome é familiar.

—Seu nome é Ariel? Tipo... —vamos fazer uma tentativa. —a sereia? —Ariel ri.

—Ah não, querida, como a personagem de Shakespeare.

Click.

Ou o livro de Sylvia Plath. —ela me encara, encantada.

—Uma garota que lê. Isso é muito importante.

—Não, não, não. Não vamos falar sobre livros hoje. —Bobby diz, em um sotaque sulista. Eu não consigo parar de encarar Ariel, com seu cabelo e seu mistério. Ela e Bobby começam a conversar sobre músicas para o karaokê e eu me aproximo de Ian, do seu lado.

—Você acha que ela sabe alguma coisa sobre sua mãe? —sussurro.

—Eu não sei. Ela não faz o tipo de gente com quem minha mãe fazia amizades. —sussurra de volta. Trocamos um olhar —aqueles que dizem eu não sei de nada, mas vale a pena tentar —então nos viramos para eles novamente.

—Vocês vão cantar? —pergunta Bobby. Eu e Ian balançamos a cabeça, negando. Ariel está nos observando.

—Namorados?

Balançamos a cabeça outra vez, e eu coro um pouco.

—Ambos jovens e bonitos. —ela ri um pouco, jogando a cabeça para trás. —Jovens sempre tem namoradas.

Eu —honestamente— não sei o que responder, então só sorrio.

—Não no momento. —Ian responde por nós dois, mas Ariel ainda me encara.

—Você tem certeza que não tem namorado?

—Nem um que não saiba que você existe? —emenda Bobby. Todo mundo está olhando para mim.

—Eu tenho um namorado. —Até Becker olha em minha direção.

—Qual é o nome dele? —Ariel diz, antes de chamar um garçom.

—Mr. Darcy. —Bobby, que estava pegando um pedaço da nossa pizza, engasga e todo mundo desata em risos. Eu olho para baixo, constrangida.

—Eu não gosto de piadas, mas eu vou deixar passar porque foi engraçada. —Ariel aponta para mim, sua unha rosa. Ouvimos Eric e Becker soltarem um gritinho quando veem o resultado, e cabelos ruivos voam pelo ar quando Becker gira, animada por ter vencido —o que era meio óbvio.

—Eu costumava pensar que você era legal porque é ruiva mas agora eu te odeio. —comenta Eric.

—Eu vou pegar meu certificado de vencedora e chorar ali no canto. —Becker rebate, depois estende a mão para Bobby e Ariel. —Oi. Meu nome é Becker. Cabelo legal.

—Eric.

—É um prazer conhecer todos vocês. Eu sou Bobby, essa é a Ariel. —Eric e Becker sentam-se em torno da mesa.

—Vocês vem aqui com frequência? —Ian pergunta, começando nosso interrogatório.

—Sim, há quatro anos começamos a vir e não paramos mais. Toda quinta-feira.

Coincidência? Becker pergunta com o olhar.

Nunca existem coincidências, Vivian responde, na minha mente. Meu coração acelera razoavelmente com a perspectiva de encontrar alguma coisa nessas pessoas na nossa frente. Melhor ainda se uma delas tem cabelo azul. E se chama Ariel. Bobby é interessante também.

—O que aconteceu no balcão? —Ariel revira os olhos.

—A uns três meses eles mudaram o gerente, agora que o lugar está crescendo. Não podemos mais aparecer e pegar nossa mesa, temos que marcar horário e lugar, e eu sempre me esqueço disso. Essa é nossa mesa.

—Deveríamos nos desculpar? —indaga Eric.

—Não é preciso, vocês parecem bons garotos. Estudam juntos?

—Elas estudam. Eu estou dando um tempo de escola por enquanto.

—Vou começar na faculdade. —diz Ian.

—Então como vocês se conheceram?

Como responder a isso?

Becker e Eric olham para Ian e eu, porque fomos os responsáveis por tudo isso. Olho para ele, sem saber como explicar todas as séries de acontecimentos e fatos e encontros inesperados que nos levaram a nos conhecermos.

—Nós conhecemos uma pessoa em comum...? —ele olha para mim, procurando aprovação e me lança um sorriso cúmplice.

—É. E eles acabaram viram junto. —aponto para nossos amigos. Ariel sorri. Decido que é hora que começar a pesquisa.

—Então, no que vocês trabalham?

É uma pergunta normal, não é?

—Ah, nós trabalhamos na indústria editorial.

—Tipo... livros?

—É.

Ai meu Deus.

Eu trabalho com os autores. Revisões, etc.

—E eu sou um agente literário. —Bobby termina.

Eu estou sem palavras. Tudo —exceto a aparência —indica que eles podem muito ser ter conhecido Vivian, sido amigos dela, e conhecido a sua vida adulta. Eu estou... chocada. E me sentindo curiosa, com o coração doendo por estar tão perto da verdade.

—Você conhece Vivian Winter? —as palavras correm para fora da minha boca sem que eu tenha chance de pegá-las de volta. —Ariel para no meio de uma frase que ia dizer, e me olha, diferente. Bobby não fala nada.

—Depende. —esperamos por uma resposta. —Depende do quanto você conhece sobre ela. Você... conhece ela?

Eu costumava pensar que sim.

—Estamos tentando conhecer.

—Bem, eu conheço ela. —confirma com certo cuidado, medindo suas palavras. Quero chorar. Quero chorar por todos os motivos do mundo.

Porém...

e agora?

O que eu estou procurando?

—Como você conheceu ela?

—Eu não tenho certeza de que eu posso responder isso. —Isso é como um tapa em meu rosto. Por quê? —Como vocês conhecem ela?

—Eu sou filho dela.

—Eu era aluna dela.

Ariel está chocada. Tão chocada quanto eu, e não tenta esconder isso. No entanto, acho que ela está mais surpresa por causa de Ian do que por minha causa. Ela não sabia que Vivian tinha um filho?

—Isso é interessante. Vocês aqui, nós aqui.

—Ela nos mandou.

Ariel ergue uma das sobrancelhas.

—Ela morreu.

—Ela nos mandou através de um livro.

—Qual? —diz ela, como se não estivesse surpresa.

—Anne Sexton. —Sua sobrancelha se ergue mais ainda.

—Podemos por favor não falar sobre livros? Eu só quero cantar.

—Tudo bem, é claro, querido. Alguém quer se juntar a nós?

—Eu quero. —Becker concorda.

—Eu... já volto. —aviso.

Lá fora, o ar frio ajuda a clarear minha mente, sumir com a nuvem de fumaça preta ao redor dos meus pensamentos.

Tudo que consigo pensar é quanto sobre uma pessoa você saber conhecendo apenas ela? Quanta informação é verdadeira? Quanto você pode confiar? Deve confiar? Por experiência própria, há muita coisa que eu guardo apenas para mim, e outras informações eu sou seletiva em compartilhar. Detalhe aqui, detalhe ali, mas nunca revelando completamente para alguém —tudo bem, nem para Vivian. Então não posso ficar brava por ela ter escondido tantas coisas de mim. Mas então, por que me sinto como um nada na vida dela? Não posso deixar de pensar no meu próprio envolvimento na vida dela, o quanto a marquei. Se as pistas fossem para outras pessoas, se a aventura não fosse para mim, eu apareceria na sua rota de viagem? Eu seria importante como Ariel Fieldman ou Bridgette Kowki? Ambas são mulheres marcantes assim como as autoras dos livros que trouxeram até elas —poderia eu, Diana Novak, ser uma parte da equação?

Ela realmente se importava comigo? Todas as lembranças parecem embaçadas agora, distorcidas com as minhas dúvidas.

Saindo um pouco do meu nível de pensamento, percebo que atrás do karaokê tem um estacionamento enorme, e atrás disso, vagalumes. Parecem lanternas, pisca-piscas e eu me concentro neles para não chorar. A montanha russa volta para me assombrar, aquela sensação de estar sem esperança, a música do The Vaccines. Todas as coisas ruins do mundo, todas elas apontando para mim, e eu sou fraca demais para lutar contra tudo. Sou só uma. Sou só uma pessoa que não consegue.

Nós não conseguimos salvar todo mundo, lembro da fala do guru de St. Mara, sobre aqueles que cometiam suicídio.

Tem um problema.

Eu não consigo salvar nem eu mesma.

Volte para lá, Diana. Pergunte coisas. Descubras coisas, Vivian pede.

Sinto alguém me observando, então Ian aparece do meu lado, sem olhar para mim —encarando o horizonte, os vagalumes a distância.

—Ariel e Bobby convenceram Eric e Becker a montarem uma coreografia.

Imagino a cena. Depois tento tirá-la da minha cabeça.

—Que trauma.

—Nem me fale. Eu que estava lá pra testemunhar tudo. —dou um sorriso triste. —Como você está se sentindo?

Fecho meus olhos com força, obrigando meu corpo a não desmoronar, não seguir a voz, é tudo a minha imaginação, pois Ian às vezes é a réplica de Vivian —principalmente nessas frases tão comuns mas que possuíam um significado diferente com ela.

—Me sinto traída. —respondo, casualmente. —Quanto podemos saber sobre uma pessoa apenas pelo que ela está disposta a nos contar?

—Minha mãe costumava dizer que conhecer uma pessoa é igual atirar uma flecha com um arco. Quanto mais para trás você puxa o braço, mais longe a flecha vai.

—Como... conhecer o passado? —ele apoia os braços na proteção do deck, assentindo. —É uma ideia legal.

—Por que você se importa tanto com ela?

—Ela me salvou. —as sobrancelhas dele se juntam, não entendendo e não vão entender, porque não vou explicar. —Ela me ouvia. Ninguém fez isso na época que precisei.

Devido a quantidade de informação pessoal que eu acabei de compartilhar, não tenho coragem de encará-lo, então olho para o chão. E talvez seja pelo ar de desesperança, de não ter nada a perder —quão ruim pode ficar? —eu continuo. Tiro uma caneta da minha bolsa.

—Me dê sua mão. Por favor. —Ele estende a mão, e eu tento não estremecer enquanto eu a seguro e desenho um pequeno ~ e um S. —Na maioria do tempo, eu me sinto como o S. Em um montanha russa com voltas para cima e para baixo, em puro terror.

—Hmmm, tá. —eles ainda não entendeu.

—Quando ela me escutava falar sobre os meus problemas, eu me sentia como o "~", como... como se eu flutuasse. Essas são as ondinhas. —aponto para o desenho, e ele ri. Me sinto mal e envergonhada. —Isso é meio idiota. Muito idiota.

—Não, isso é legal. Meio triste, sim, mas legal. Não se preocupe. —Ele sorri para mim e eu sorrio de volta. Ele me dá um empurrãozinho com o braço. —Você está vermelha.

—Essa é minha maquiagem. —Minto, e ele não acredita.

—Certo. —ele pisca, e olha para frente.

—Precisamos de vocês lá dentro! —Becker aparece na porta da saída. —Eles vão se apresentar. —o seu cabelo está desarrumado e as bochechas vermelhas da agitação. Ela parece radiante. No caminho, Ian sussurra para mim:

—Eu posso cobrir seus olhos se você quiser.

Chegamos na mesa rindo. Sento do lado de Ariel, enquanto Eric e Bobby preparam a apresentação deles. Eu tenho uma ideia, e externalizo-a em voz alta para Ariel, hesitante.

—Por acaso... Vivian te deixou um livro? —Ela sorri, como se soubesse de algo que eu não sei —o que provavelmente é verdade —mas responde que não, deixando-me confusa. Acho que ela fica com pena de mim, porque recomeça a fala.

—Ela não me deixou um livro, querida, mas isso não quer dizer que ela não me deixou nada. Eu gostei dos seus amigos, venham na próxima semana também e eu trago o que você quer. Podemos fazer outra rodada de apresentações. —Então ela se inclina para falar com Becker. —Eu vou começar a trazer figurinos. Vai ser épico.


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Notas finais do capítulo

vamos todos parar um momento para analisar essa fic e responder se tem alguma coisa errada, ou alguma observação que vocês gostariam de fazer obrigada ily always bye