Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 22
Lua de May


Notas iniciais do capítulo

oie, esses dias eu tava stalkeando celebridades no instagram e eu descobri que existe uma pessoa chamada Ariel Winter. Não sei quem ela é mas só queria avisar que existe alguém com esse nome no mundo k bye



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/458320/chapter/22

Os dias que se passam são uma nuvem cinzenta ou um daqueles sonhos esquisitos que você tem e não sabe se são de verdade ou apenas sonhos. Por causa da briga com meu pai, eu não tenho falado com ele nem com a minha mãe. Tudo bem. Isso não é novidade, o que mudou é que toda vez que entro em casa parece que estou fazendo algo errado, como invadir o lugar ou quebrando alguma regra. Meus pais não comentam quando me veem em casa, mas é ainda pior do que todos os outros anos. Eu mesma me expulsando de casa. E embora esse tópico caminhe pela minha mente algumas horas do dia —junto com meu celular roubado que não foi recuperado (os babacas não quiseram devolver e sumiram do mapa quando Yasha foi procurá-los outra vez), esse não é o principal motivo pela minha tontura rotineira. Vem da viagem à St. Mara. Ela ajudou, de certa forma, mas não foi como a primeira vez. Duas coisas muito importantes acontecem. A primeira é que quando aparecemos, havia um casal lá, visitando o lugar —não o lugar mesmo, mas a senhora Kowki e todos os outros. A senhora Kowki ficou muito surpresa em nos ver, mas não teve tempo de ser acolhedora, porque pessoas novas chegariam em alguns dias e ela tinha muito o que arrumar. Chris —o guru —estava colocando novas fechaduras nas gavetas da cozinha e ela lavava roupas como se o mundo fosse acabar e ela nunca mais pudesse fazer isso. Acabamos ficando com o casal, cujos nomes eu meio que esqueci. Tudo que eu sei é que eles gostavam poesia, e foi uma grande coincidência. Eles contaram que já haviam ficado na Orientação e negaram conhecer Vivian, mas ainda assim, meu coração deu pulinhos, principalmente quando o garoto começou a me explicar a vida e personalidade e tudo relacionado à Sylvia Plath, Anne Sexton e Mary Oliver. Ele falava com tanta paixão que acabou inspirando Becker, e ela voltou para casa com um monte de livros —os livros de Vivian —de poesia. Junto com meu selo de aprovação. Durante a explicação, eu comecei a conectar cada poetisa com a pessoa a quem elas me levaram, mas não achei um padrão certo. O único insight que tirei disso é que todas elas pareciam partes de Vivian, e Mary Oliver me lembra a felicidade e sabedoria de Ariel, Anne Sexton lembra Victoria (menos a parte de ter relações malucas com homens e mulheres) e Sylvia Plath me lembra a morte de Vivian —mas não ela em si, portanto não há relação nisso, já que não foi nenhuma delas que me levou à Victoria, então não seria algo planejado. Então talvez, eu esteja complicando na minha cabeça.

Essa não foi a parte mais importante. Digo, eu amo ouvir sobre poetisas e a vida delas e o garoto parecia saber mesmo sobre tudo aquilo, mas quando eu perguntei sobre Alice Goldman ele disse que nunca havia ouvido falar dela, o que me fez ir até o quarto onde os livros estavam (e ele me relevou que era o antigo quarto dele) e eu mostrei para ele e a namorada. Soon, Maybe, é o título. Como eles ainda me encaravam confusos, eu abri o livro e mostrei para eles o meu poema preferido, sobre uma pessoa chamada Vis que se sentava com Alice Goldman e dizia que queria aprender seu nome em todas as línguas.

Nesse segundo, o nome pulou da página, vindo em minha direção.

Vis.

Visia.

O pior é que, isso realmente parece algo que ela diria.

Mas é meio impossível, então deixei pra lá.

Apenas por um momento.

Mais tarde, eu continuei a pensar nisso, diversas vezes, mesmo não ousando comentar com ninguém. Lá, porém, eu tinha outras coisas para me ocupar. A garota —acho que seu nome era Emma ou algo assim —me contou como era morar ali e houve partes em que eu fiquei com inveja —os dois se conheceram ali, acamparam na clareira, e conhecem esse lugar como se fosse uma segunda casa. Eles nos levaram para um lugar que eu não fui a última vez que estava aqui. É depois da praia e precisamos andar mais um pouco (eu acabo rindo de Becker quando ela cai na grama e suja toda a roupa de lama, por causa do cansaço, porque sou uma amiga terrível) antes de chegar em um barco enorme de madeira, tombado para o lado. Assustador e surreal, tanto que Becker esqueceu do incidente da lama. Não fiz perguntas, porque gostei do mistério que envolvia aquilo e porque estava ali, e eles nos ajudaram a entrar pela lateral, acolhidos pela escuridão da parte de dentro. Eu esperava ver algas ou sinais do tempo, mas quando Emma —ou algo assim —acendeu luzinhas e iluminou o lugar, acabei achando milhares de fotos, documentos, folhas de papel. Fotos de jovens, bebês, velhos e famílias. Cartas, certidões, selos. Tudo de papel que possa existir. Enquanto eu vasculhava o lugar com Becker, os dois estavam concentrados em um painel do lado oposto, então não prestei atenção, para não invadir o espaço deles. Apenas quando um deles soltou um risinho eu os observei, enquanto ele abaixava a cabeça e beijava ela com fervor, segurando seu rosto, fazendo os dois rirem outra vez e murmurarem alguma coisa. A cena me fez sorrir, porque me lembrou Visia e Asif e às vezes Robbie e Becker, talvez porque eles pareciam ter a nossa idade. E eles eram fofinhos.

Logo em seguida, Becker me chamou e isso foi rapidamente esquecido quando ela apontou para uma foto de Vivian —com um Ian bebê —amassada e um pouco velha. Perguntando-me porque estava ali, olhei mais de perto.

Tudo que eu conseguia pensar era que algum dia, alguém ia passar por ali e ver aquilo e se perguntar quem era aquela mulher e aquele bebê e o que aconteceu com eles e eu espero que nunca descubra que ela se matou e que ele é secreta e profundamente triste, por consequência disso. Mas eu espero que quando chegue a ver isso, a vida de Ian não esteja do jeito que é agora. A outra coisa que eu pensei foi que daqui a duzentos anos, essa vai ser uma prova de que eles existiam.

Depois que voltamos, Becker se propôs a fazer pizza e eu ajudei ela enquanto se aventurava para fazer a massa e todos os outros assistiam um filme na sala. Acabamos rindo bastante e todo o drama do começo da manhã foi esquecido. E eu voltei para casa com uma pergunta pairando no ar, sobre Vis.

Esse é um nome esquisito. A única vez que ela menciona seu nome é nesse poema, O ladrão de ninhos, e em mais nenhum lugar. Eu acabo relendo o livro nos dias seguintes, dissecando cada frase e cada palavra familiar, mas é comum demais.

Enquanto isso.

Na escola, as coisas vão um pouco melhores. Como todo mundo está preocupado com os SATs e faculdade e as provas finais os professores —especificamente o Sr. Fawkes —não passam mais trabalhos, para não nos desconcentrar. Por causa da sensação ruim de estar em casa e meu desabafo com meu pai, eu fico bastante na biblioteca com Becker e Gordon e estudo até meu cérebro virar gelatina, e começarmos a rir como dementes, psicologicamente exaustos e meio bêbados (de conhecimento?) mas é ótimo, principalmente quando os resultados das provas acabam sendo bons. Por causa das horas de estudo, Gordon tem ficado mais com a gente, e acho que ele tem uma quedinha pela Becker, porque toda vez que ela explica alguma coisa para ele, ele enrubesce. Ninguém consegue resistir ao charme dela, aparentemente. Mas ela parece ignorar ou não perceber e ele não diz nada porque Becker e Robbie estão em um Relacionamento Sério, com letras maiúsculas. Às vezes, ele vem junto quando não tem treino do time de futebol e uma vez ou outra acaba em uma briga com Gordon, porque Gordon é meio cabeça dura às vezes e puxa briga por coisas idiotas, mas eu gosto dele. Toda vez que o vejo, lembro do "espírito livre cujo espírito está livre" que ele falou e que foi inteligente, por isso tento dar um pouco mais de confiança para ele. No fundo, ele é bem inseguro por causa do peso, mas é positivo, na maior parte do tempo ("Pelo menos você não é tão babaca a ponto de zoar da minha cara", ele disse para o Robbie depois de eles se desculparem por uma briga.). E ele está certo. Robbie poderia ser muito pior, visto que ele é o conceito de popular nessa escola. Becker tem isso a seu favor. Todos os caras que gostam dela são gente boa, talvez por ela ser tão legal.

A caçada à Vivian dá uma parada por umas duas semanas. Para falar a verdade, só penso nisso algum tempo depois de voltarmos de St. Mara, quando eu penso no padre Jonah e me pergunto se ela deixou alguma coisa para ele. Talvez Ariel soubesse de alguma coisa, mas quando perguntei na quinta feira —O dia do karaokê que fomos apenas eu, Becker e Eric porque Ian estava visitando o seu pai em outra cidade, e Ariel nos fez usar uma peruca e vestido no estilo Whitney Houston e cantar I Will Always Love You — ela balançou a cabeça e respondeu, jogando o cabelo azul para trás e tentando passar lápis de olho, deixando seus olhos orientais cada vez menores:

—Eu é que não vou contar. Você não pode sentar e esperar que as pessoas deem todas as respostas para você.

Então percebi que teria que falar com o padre Jonah de novo, não que isso fosse um sacrifício. Não falei com ele depois daquele dia e eu já sabia que era hora de contatá-lo outra vez. Mas até então, a única razão era porque queria conversar ele e não para buscar informações. Isso me deixou um pouco mais ansiosa, mas eu esperei. Eu sabia que a missa era domingo então eu avisei Becker, Robbie e Gordon, e Becker avisou Eric, pois os dois desenvolveram uma estranha amizade. Disse para eles que, se possível, era pra trazer o maior número de jovens possíveis, primos e amigos.

—Vai ser meio difícil, visto que é uma igreja no domingo. —Gordon comentou, mas eu sabia de uma coisa que eles não sabiam, e eu já tinha visto como a missa do padre Jonah é. Becker falou com Ian, também, e ele respondeu que tentaria chegar a tempo. Então com tudo pronto, tudo que me restava era esperar até domingo.Quando o dia chega, vamos em grupos. Gordon vai com os quatro primos que trouxe —e vou com Becker e os seus irmãos. Para ser honesta, eu até pensei em ligar para Gwen mas não acho que ela viria a tempo. Eric diz que vai nos encontrar lá e está levando a irmã mau humorada dele, para ver se "deus consegue amolecer um pouco o coração da garota." Por fim, Becker passa na casa de Robbie e todos nós vamos para a igreja de Santa Filomena. Eu olho para a casa de Vivian quando chegamos, instintivamente. Todas as janelas estão fechadas e as luzes apagadas, sem sinal de Ian.

—Você veio! —Becker exclama quando avista Eric.

—Eba! —brinca Robbie, revirando os olhos. Ao nosso redor, três cabeças ruivas correm em círculos enquanto todos ignoram. Os irmãos de Becker —trigêmeos de sete anos —foram criados no estilo de As Meninas Super Poderosas, sob o efeito de puro energético, é o que a família dela gosta de dizer. Todos nós nos cumprimentamos, apresentamos as pessoas para quem não conhece depois entramos na igreja. Ela está cheia outra vez, então sentamos no fundo. Um dos irmãos de Becker —acho que é Rolly —senta-se no meu colo, e ocupados o último banco inteiro. Algumas pessoas olham torto para nós, sem acreditar, mas permanecemos ali.

—Quando é que essa merda começa? —me pergunta Gordon. Um dos primos dele sussurra um "shhhh" e manda ele ficar quieto. É difícil convencer os trigêmeos a calarem a boca, mas quando o padre Jonah aparece todos estamos em silêncio.

Ele começa a falar, até seus olhos pararem no último banco.

Ele pausa.

Olha para mim, depois para os outros e eu posso ver seu rosto se iluminar como uma estrela, mesmo que continue sério.

—E quero acolher os jovens que atenderam o chamado de Deus para comparecer aqui esta noite.

Eu sorrio.

O resto da missa é bem normal, até a hora que o padre Jonah faz o discurso demorado de sempre, mas dessa vez, sobre Robocop.

—...e mesmo que todas as partes de nós estejam queimadas e separadas do nosso corpo, devemos permanecer nós mesmos! Deus nos quer inteiramente para ele. Não podemos nos apegar em coisas materiais, para os Seus grandes planos. Devemos aprender a nos libertar das coisas mundanas e permanecermos as pessoas que Ele quer que sejamos, boas e puras!

Ele fala, fala, fala, mas não é cansativo. Eu realmente gosto do padre Jonah, e depois de suas palavras, é como se eu acreditasse um pouquinho mais em Deus, e isso me enche de algo indefinível, mas faz-me sentir completa. Percebo então que posso ser como Vivian. Eu posso criar minha própria crença. Eu posso acreditar em Buda e Deus ao mesmo tempo, desde que acredite verdadeiramente. Religião é uma coisa tão pessoal que não há como generalizar. No final do discurso, Eric, alheio ao comportamento correto em uma igreja, começa a aplaudir. Até eu olho para ele incrédula, mas ele continua. Depois assobia e continua até alguém se juntar à ele. Estranhamente, é Robbie. Depois Becker, Gordon, eu e o resto. Algumas pessoas mais velhas não aplaudem, mas não nos impedem.

O padre fica um pouco vermelho e tosse para espantar o constrangimento.

—Obrigado, obrigado. E eu gostaria de convidá-los, todos vocês —mas ele está olhando para mim, diretamente —para a festa da Igreja Santa Filomena, que acontecerá dentro de alguns minutos, aqui atrás da igreja. A Irmã Frances pode mostrar o caminho caso não saibam. —E ele volta a falar. No final da missa, eu espero pelo padre, mas ele acena com a cabeça, indicando para irmos junto com os outros que ele fala comigo depois. Ian não chegou ainda, mas não tenho tempo de pensar nisso por um longo tempo, já que o cheiro de comida e a pequena multidão na área livre atrás da igreja causa uma distração. Fios de luz iluminam o lugar e várias mesas com comida estão espalhadas, fazendo meu estômago roncar. Salgadinhos e uma variação imensa de bolos, todos os tamanhos e gostos. Há uma freira atrás de cada mesa, servindo as pessoas e uma banda no canto, cantando músicas normais —que não são de igreja —mas nada com palavrões ou sexo implícito. Um programa de família, quase. Como as mesas estão colocadas nos cantos, no meio fica uma grande pista de dança e não demora até os irmãos na Becker me puxarem outra vez e começarem a me rodear. Eu brinco com eles. Até Gordon entra na brincadeira e ficamos zanzando com os três até ficarmos tontos, depois dançamos com eles. No canto, Becker e Robbie estão conversando e se beijando e Eric está conversando com um dos primos de Gordon, acho que sobre futebol. A irmã dele fala com outro primo, não parecendo muito interessada. Sinto falta da minha irmã.

Algumas freiras vem conversar conosco, agradecendo pela nossa presença e tentam convencer a gente a voltar na semana que vem.

—Não há necessidade. Vou estar aqui. —falo por mim mesma, porque Gordon e Eric foram honestos o bastante pra falar que não voltariam tão cedo.

Estou saboreando um dos cinco tipos de bolo diferente no meu prato com Becker quando todos nós vemos Ian chegar. Ele olha confuso, como se não entendesse o que está acontecendo, então Becker e Eric gritam o nome dele, fazendo-o olhar em nossa direção. Ele parece cansado da viagem, com os ombros caídos e um olhar sonolento, mas feliz em estar aqui. Ele tira a jaqueta e dá um abraço em Becker, depois Eric e todos os outros, mas quando chega em mim, um dos irmãos de Becker me puxa novamente e demora meia hora até que eu consiga fugir deles para ir falar com Ian.

—Ei! Como foi no seu pai? —Trocamos um abraço esquisito.

—O mesmo de sempre. —temos que falar um pouco mais alto por causa da música. Estou recobrando o fôlego e observamos os trigêmeos convencerem Robbie a dançar com eles. —Conversamos, ele me levou pra conhecer algumas universidades e tentou me fazer gostar da mulher dele.

—Semana agitada.

—Com certeza.

—Tem certeza que quer ficar por aqui? Você parece meio cansado.

—Valeu.

Lanço um olhar torto e ele ri.

—Está tudo bem. —saindo da porta dos fundos da igreja, o padre Jonah finalmente aparece. Ele olha para mim e para Ian com uma expressão neutra, mas é perceptível que alguma engrenagem está funcionando e ele está relacionando alguma coisa. Sei que Ian segue meu olhar e puxo-o pelo braço. Sinto ele tenso, e acredito que sabe para onde eu estou o levando, mesmo que não faça perguntas. Quando o padre para na nossa frente e olha para Ian, vejo uma emoção se formar no seu rosto e meu coração aperta. É como encontrar um amigo perdido.

—Ian Winter, senhor... padre.

—Me chame de Jonah. —eles apertam as mãos. O padre encara Ian por mais alguns segundos, com uma certa profundidade antes de se virar para mim.

—E você...

—Você já me conhece, padre. —eu brinco, mas ele não ri.

Me puxa para um abraço.

Isso me desarma um pouco, e eu saio do abraço me sentindo exposta.

—Obrigado.

—Só queria ajudar. —respondo envergonhada, olhando para meus pés. —Vou deixar vocês conversarem agora.

E eles conversam, por um tempão. E nós ficamos lá, por um tempão. Às vezes, enquanto estou brincando com alguém ou conversando com outras pessoas, eu me viro e vejo Ian com o padre Jonah e o rosto dele tão sério enquanto o padre lhe conta sobre alguma coisa, e eu imagino o que estaria acontecendo se Vivian estivesse viva. Se ela estivesse aqui. A cena que minha mente forma é algo que eu nunca desejei tanto que fosse realidade —todos estarmos aqui, ela dando suas risadas no volume mais alto enquanto ouve o padre Jonah contar ao seu filho sobre as experiências deles juntos.

Mas,

a cena de verdade é quase tão bonita quanto, talvez até mais por ela não estar aqui. As coisas só seriam mais felizes se estivesse.

Vejo Ian assentir de algo que o padre Jonah diz, então os dois apertam as mãos novamente, o padre rindo como um pai orgulhoso, me fazendo sorrir. Ele vem em minha direção.

—Aproveitando a festa?

Parece tão feliz.

—Sim, padre. Mas tenho algo a perguntar. —Sua expressão assombra-se. —Ela te deixou com alguma coisa quando morreu? Tipo... um poema?

—Oh, você já não sabia? Pensei que Ariel ia contar alguma coisa. —faço que não. —Ela deixou sim. Mas...

—Mas o quê?

—Não sei se é uma boa ideia.

—Por quê?! —o que poderia ser tão preocupante? De súbito, ele parece nervoso. Tenta recuar mas eu o pressiono. Por fim, suspira vencido.

—Tudo bem, tudo bem. Não vou lhe entregar nada. Vou levar vocês lá. É melhor assim.

—Lá... aonde?

—Não posso explicar à você agora. Não sei o quanto você sabe. Deus que me perdoe por isso.

Agora ele soa como a Ariel.

Mas não há como insistir e eu combino com Becker, Ian e Eric de nos encontrarmos na igreja na próxima sexta —ordens do padre —e ele nos levaria. Me sentindo um pouco melhor, decido que é hora de ir para casa (não decido, para falar a verdade. Apenas canso de segurar um irmão da Becker adormecido a cada cinco segundos) e peço para Ian me levar para casa. Becker poderia me levar, mas eu quero entregar algo à ele e não quero esperar até sexta.

Então ele me leva para casa. Quando pergunto o que o padre contou, ele apenas balança a cabeça. Reviro os olhos e ele sorri mas continua em silêncio. Estaciona na frente da minha casa.

—Fique aqui por um segundinho, O.K?

Ele assente, curioso.

Entro em casa, acolhida pela escuridão e silêncio e faço meu caminho até meu quarto as pressas. Quando eu volto, estendo à ele seu presente de aniversário.

—Tome, feliz aniversário... bem atrasado.

—Você está falando sério?

—É claro. Eu encontrei isso quando eu estava "procurando por Santa Filomena". —ele tira a lua de May do pacote. —A mulher que vendeu para mim chama essa lua de Haru, que significa primavera. É para lembrar de sempre ter esperança que as coisas vão melhorar.

A expressão dele derrete. Não sei explicar como, mas essa é a perfeita definição. É morna.

—Diana... obrigado. —ouço seu coração na sua voz.

—De nada. —respondo, contente.

—De verdade.

—Eu sei, Ian. —Sei como coisas como essa podem fazer a diferença. Ele merece. —Boa noite.

Demora um segundo para responder, ainda encarando a lua.

—Boa... noite.

Faço meu caminho de volta para casa. A sensação de estar invadindo o espaço de outra pessoa ainda é presente, mas estou leve demais para sustentar o peso desse tipo de sentimento. Caio na cama. Pego o Livro-da-Vis (que é como eu tenho o chamado ultimamente) e começo a revirar as páginas, pensando nisso. Bastante. Vou para a primeira página, leio o título, o nome da autora. Vou para a página das informações, como editora, etc.

É um daqueles momentos que mudam tudo, que respondem perguntas, e me pergunto porque nunca fiz isso antes.

No lado de revisora editorial, um nome.

Ariel Fieldman.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!