Paper Women escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 11
As Paredes


Notas iniciais do capítulo

quero agradecer a um comentário da lena que me ajudou a escrever esse capítulo e acho que no final você vai perceber o motivo. Então... obrigada (-: e obrigada a todo mundo pelo apoio/leitura/arranjarem tempo pra ler e etc. Sério mesmo. *distribui coraçãozinhos de papel*



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—Olá, Ford. É um prazer revê-lo. Veronica, gostaria de apresentar minha filha, Diana. Diana, essa é Veronica. Cabeça do nosso projeto na área urbana de Los Angeles a partir do segundo semestre desse ano. —Minha mãe sorri calorosamente para mim, mas não me deixa enganar. É tudo falsidade.

O pior é que é algo que ela não consegue controlar. É natural, faz parte do DNA dela tornar-se a melhor versão possível de si mesma para as outras pessoas, assegurando-se que não hajam falhas na fortaleza que ela construiu ao redor da nossa família. Não há nada de errado conosco em dias como esse. Nós somos perfeitos indivíduos, a perfeita família, um pouco mais sujos por trás das nossas roupas chiques.

—Muito prazer, Diana. —Veronica, com seu vestido preto apertado e batom vermelho, sorri para mim e aperta minha mão. — Se eu me recordo, você tem outra filha, não tem?

—Ela está na Europa, de férias.

Ela está na Europa de férias há três anos, na cabeça da minha mãe.

—Qual é seu nome?

—É Gwen. —Eu respondo, porque sei que minha mãe não vai falar nada. Seu sorriso permanece impecável, mas consigo ver quebras e falhas. Por Gwen ou pela inconveniência? Meu pai conversa com Ford, sério. Provavelmente ameaçando-o. Ford passa a mão pela barba, sem abrir a boca e sem encarar meu pai.

—Você tem uma família adorável. —Veronica diz. O cheiro de perfume é forte e está em todo lugar, então me seguro para não espirrar repetidamente. Intoxicante.

—Obrigada. Conversamos depois sobre os nossos assuntos pendentes. —minha mãe diz, me guiando para outro grupo. Meu pai se junta a nós, colocando a mão no ombro da minha mãe e apertando levemente para chamar sua atenção.

—Ford vai se retirar. —mamãe não sorri. Continua olhando para frente, como se recusasse se rebaixar ao nível de se incomodar com assuntos desse tipo.

—Já estava na hora. E teve a audácia de trazer aquela mulher dele junto. Você sabe o que ela faz? Ela demite pessoas, ela cuida da carreira das pessoas e está conversando com metade dos nossos funcionários. Aqueles dois vão para o inferno.

—Diana, lembre-se do que eu lhe falei. —meu pai vê alguém vindo em nossa direção.

—Recebi as cartas das faculdades semana passada.

—Ótimo, aqui vem o Sr. Pendell, ele é nosso patrocinador desde o começo, então mostre respeito.

Na nossa direção vem um homem, na faixa dos sessenta anos, com óculos minúsculos e um sorriso amigável. Ele é o único raio de sol no mar de lampadas. Natural. Ele anda como se não houvesse segredos e estivesse de bem com a vida de todas as formas —talvez pela idade. Eu gosto dele imediatamente, apesar de trabalhar com meus pais.

—Bill. Joanna, é um prazer revê-los. —Sua voz estremece. Ele estende a mão e aperta cada uma das nossas.

—Essa é nossa filha, Diana.

—Olá, Diana. Albert Pendell.

—É um prazer.

—Você trabalhará conosco no próximo semestre?

A temporada de construção imobiliária é dividida em semestres. Primeiro eles compram os terrenos e vendem para quem quer que compre —primeiro semestre—, depois contratam a Companhia Stein (dona da festa, que trabalha para meu pai) para construir casas —segundo semestre—, então eles entregam as casas e uma nova temporada de propaganda e marketing começa até o ano seguinte. É um processo longo, mas o dinheiro que meus pais ganham de tudo isso compensa todas as noites que eles passam trabalhando. Tudo que temos, todo nosso dinheiro sai do trabalho de todas essas pessoas que estão aqui.

—Infelizmente, estarei indo para a faculdade.

Se eu passar em Inglês.

Mas mesmo assim, eu nunca sujaria minhas mãos com o sangue da empresa dos meus pais. Nunca me envolveria com nada relacionado a isso, e recusaria todo o dinheiro que me dão se eu não fosse obrigada a guardar. É aparência, não vontade própria. Não é um negócio de família —é só um negócio. Ele sorri, triste.

—É uma pena. Você parece bastante inteligente.

—Ela é. —comenta meu pai. Algo na sua voz faz a postura do senhor Pendell mudar, e ele fica sério.

—Agora, se me dão licença...

Ele ficou assustado. Pelo canto de olho, observo meu pai alisando o terno, como se nada tivesse acontecido. Por manter minha distância, a única imagem que eu tinha do meu pai era alguém que trabalhava bastante e jogava golfe nos finais de semana. Esse tipo de gente —superficial. Mas levando em consideração o comportamento do senhor Pendell e de Ford mais cedo, percebo que há mais para saber. Há uma profundidade no meu pai —uma feia, e amedrontadora profundidade. Me pergunto quantas pessoas tem medo dele e quantas ele já demitiu por algo idiota. Me pergunto como minha mãe aguenta tudo isso, mas eu já sei a resposta. Ela é tão obscura quanto ele. Pensar que posso me tornar como eles se não tomar cuidado me deixa arrepiada.

Eles me levam para outro grupo. É evidente que esses são trabalhadores —as roupas mais simples, tentando impressionar —e por isso, meus pais parecem amigáveis demais. Isso é importante e eu já os vi fazendo isso milhares de vezes: trate bem os que trabalham pra você... e eles vão continuar trabalhando para você. Faça eles pensarem que você gosta deles, e nunca vão se demitir.

—Maria, como você está? —mamãe pergunta.

Como se ela se importasse. A mulher, espanhola e bonita, sorri ao ver minha mãe.

—Sra. Novak! Estou ótima. É tão bom revê-la.

—O prazer é nosso, Maria. Onde está seu marido?

—Henri! —chama Maria. Um homem, com seus trinta anos vem se apresentar. Suas feições são angulares, e ele parece um ator. Muito bonito, assim como Maria. Não parece tão feliz quanto ela.

—Senhor, senhora.

—Henri. —meu pai diz. Eles olham para mim, como se eu fosse um projeto bem sucedido.

—Essa é nossa filha, Diana.

—Olá. —estendo minha mão. Eles apertam. Subitamente, Henri fica tenso.

—Senhor, falando nisso... Maria está grávida de novo.

Mamãe arfa de surpresa.

—Incrível! Parabéns. —ela abraça Maria, e meu pai dá tapinhas no ombro de Henri. Novamente, ele não parece feliz.

—Obrigado. Mas o problema é que a quantidade de horas que eu trabalho e o dinheiro que Maria ganha... esse ano fica meio complicado. —meu pai se aproxima, ouvindo com curiosidade. —O senhor sabe que eu trabalho arduamente. Todos os dias, eu estou lá e nunca reclamei.

—Podemos conversar sobre isso mais tarde. —diz meu pai, evitando o assunto.

—Senhor, nós precisamos de mais dinheiro. O senhor sabe que eu tenho talento. Não estamos pedindo muito.

—Podemos falar sobre isso no escritório...

—Talvez você deva se demitir. —comento, vendo o desespero nos olhos de Henri, que provavelmente tem crianças esperando por ele em casa. Só posso imaginar a realidade dele, mesmo que tenha uma vida boa, razoável. Tenho certeza que ele ganha bem, no entanto é tudo relativo em questão de perspectiva. Se tem mais filhos, e sua mulher trabalha demais, o dinheiro pode não ser o suficiente. E se Ford está montando uma empresa, ele pode ir muito bem trabalhar para outro.

Todo mundo olha para mim, mas só presto atenção na expressão enfurecida da minha mãe. Horror viaja pelo meu corpo, quando percebo que não é algo bom para se dizer. Por sorte, meu pai finge uma risada e dá outro tapinha em Henri.

—Vamos falar sobre isso. Com licença. —sorrimos, e meus pais me empurram alguns passos para o lado. Me olham, crucificando-me com o olhar frio.

—Diana. —minha mãe me repreende.

—Diana, você. Não. Fala. Para nossos funcionários. Se. Demitirem. Entendeu? —meu pai manda, frio. Sei que ele não vai me bater, mas um frio percorre minha espinha, arrepiando-me. Ele está furioso. —No que você estava pensando? Que isso nunca se repita.

—Desculpe, eu...

—Você nada. Entendeu?

Esse não é meu pai. É só um homem que eu conheço.

—Sim.

—Você é idiota? Essas coisas ficam na cabeça dessas pessoas e depois quem sai perdendo somos nós. Nunca mais faça isso.

—Isso é sério. —Minha mãe adiciona, fazendo com que eu me sinta pior ainda. Nem mesmo meu ódio por eles cancela o sentimento de culpa por ter feito uma coisa errada. Sou ingênua demais.

—Me desculpem. Mesmo. —meu pai bufa silenciosamente. Minha mãe pressiona os lábios, insatisfeita e irritada, sem dizer nada.

—Vá falar com as pessoas. Vou contornar a situação com Maria. —ela acena na direção dos convidados. Eu pego uma taça de champanhe de um dos garçons e procuro algum lugar para me enturmar. Não me sinto repelida, ou tímida. É até engraçado: quando você finge ser outra pessoa, ou uma versão melhor de si mesma, falar fica fácil. Você fica confiante e não se preocupa com coisas que normalmente se preocuparia caso estivesse falando como você mesma, não essa versão chique e superior que estou vestindo como se fosse um vestido. Eu sei o que vão me perguntar, e sei como responder, e acharão que estou prestando atenção em tudo, quando na verdade, a pessoa que está falando com eles não existe. É só fachada. Conversando com um fantasma. A verdade Diana está escondida com suas falhas e medos, em um canto do meu coração, doendo por estar presa, mas segura. É por isso que espiões são tão bons no que fazem: eles tem confiança, pois tem uma fachada. E confiança conquista praticamente qualquer coisa.

Escolho uma senhora de idade, com o marido, conversando entre si e bebericando álcool. Ela é chique —provavelmente uma cliente ou sócia —com seu vestido vinho longo e o cabelo loiro, com leves traços brancos, indo até seu ombro. Ela ri de alguma coisa, e eu me aproximo, já me recuperando da conversa com meus pais.

—Olá. —começo, sorrindo educadamente. —Aproveitando a festa? —posso ver em seus olhos que ela ainda não sabe quem eu sou.

—Sim, sim, é claro. Doutora Linard, muito prazer. Esse é meu marido, Hal.

—Diana Novak, muito prazer. —ela me reconhece.

—Você é filha dos Novak?

—Sim. —Infelizmente. —Então, você é uma doutora? Posso perguntar... do quê?

—Obstetriz.

—Você cuida da gravidez. —explico para mim mesma e tento justificar porque a notícia me deixa meio abalada. Não consigo.

—Na verdade, não. Eu faço aborções.

Eu congelo. Internamente, pelo menos. Externamente, meu sorriso continua intacto e eu continuo respirando. O resto do mundo continua como se nada tivesse acontecido.

—Sério? Interessante. —Tudo que consigo pensar é em Gwen. —Como você conhece meus pais?

—Bem, eles estão construindo uma clínica para mim, bem aqui. É um ramo tranquilo, sem muita agitação, então é bom para alguém da minha idade. —ela ri docemente, mas eu não acho graça nenhuma. Só continuo sorrindo.

—Você comprou terreno deles?

—Não, docinho, eles estão patrocinando a construção. Não sou cliente deles. Nós somos... amigos.

—Eles estão pagando por vontade própria. —adiciono, entorpecida.

—Sim, querida. —responde ela, como se estivesse cansada de explicar. Estou cansada de ouvir. Aborto. Eu sei que é legal nesse país, mas... é aborto. E tudo que consigo imaginar é Gwen e Claire, e Gwen brigando com meus pais. Eu conheço eles o suficiente para saber que é esse o exato motivo de tudo isso e me sinto enjoada. O champanhe queima meus órgãos.

—Você... atende todos que vierem?

—Exato. Até um tempo atrás, eu atendia apenas as vítimas de estupro, pelo governo. Mas com a oferta dos Novak, vou poder atender todos que vierem até mim. E o escritório será limpo e posso garantir que não terão casos de infecção ou morte, como acontecia antigamente. As visões estão mudando. —ela me consola, provavelmente depois de ver minha expressão desolada. Estou nauseada, mas não pelos motivos que ela está pensando. Estou nauseada de saber que meus pais chegaram a esse ponto, porque Gwen se recusou a abortar o bebê. A imagem de Claire —mesmo que ainda não parecesse como a Claire quando era um feto —morta me dá arrepios.

—Você pode me dar licença por um segundo?

—É claro. —responde ela, confusa. Saio em direção ao banheiro, e lá dentro, eu jogo todo o álcool do meu sistema para fora. Não tomei muito, mas é a única coisa no meu estômago quando acabo vomitando. Minha cabeça está pesada, e o suor se forma na minha testa, frio e assustador. Me apoio na parede do banheiro, respirando fundo, com medo de minhas pernas falharem e eu cair. Me sinto fraca, mais porque vomitar deixa meu corpo meio abalado do que pela notícia que causou tais reações; entretanto, é uma bola de neve, acumulando tudo.

Eu não quero voltar lá. Eu não quero, eu não quero, eu não quero. Cada célula, músculo, órgão do meu corpo implora para que eu fique para sempre parada exatamente como estou, até todo o pesadelo acontecendo lá fora passe.

Eventualmente, me obrigo a sair e me arrumo no espelho. Minha maquiagem está ajustada, meu cabelo cai em ondas artificiais, meu vestido dourado sem nenhuma mancha.

Me sinto feia.

Feia em todos os sentidos.

Quando saio do banheiro, vou direto até minha mãe.

—Eu não me sinto muito bem. O canapé que comi mais cedo não estava muito bom. —explico, porque se não der nenhuma explicação sobre meu enjoo, ela vai achar que estou grávida. De verdade.

—Você está mesmo meio pálida. —ela concorda.

—Vou pedir um táxi, e vou para casa. Se estiver tudo bem para você. —ela vasculha meu rosto a procura de algo que não sei o que é, depois cede.

—Tudo bem. Tome cuidado. —em seguida, vira-se para falar com alguém. Eu saio correndo pela porta, acolhendo o ar frio, nervosa. Chamaria um táxi, mas estou sem muito dinheiro. Ligo para Becker, mas ela diz que está com os pais na casa dos avós e não pode vir ao meu socorro, então encosto na parede, pensando no que fazer agora. Posso me jogar na frente de um carro ou morrer congelada. Todas as opções são bem vindas agora.

Ian me liga.

—Becker disse que você precisa de uma carona.

—A Becker te ligou? —Eu amo minha amiga e a odeio pela inconveniência.

—É. Você precisa de uma carona?

—Preciso, mas... eu dou um jeito. Eu não pretendia te ligar. —de jeito nenhum, nem em um milhão de anos.

—Eu estou andando por aí com o Eric sem nada pra fazer, eu não ligo.

—É sério.

—Eu sei. —rebate. Por fim, dou o endereço para ele.

—Avise na portaria que você é companhia da Diana Novak, e eles te deixam entrar.

—Tudo bem. —cantarola ele. Quando desligo, ligo para a portaria para avisar sobre eles, e ando de um lado para cá tentando fazer uma lista de tudo que estou sentindo. Apesar de estar magoada e me sentindo traída, ou como uma estranha em um lugar completamente diferente do meu habitat, estou com raiva. Isso acima de tudo. Minhas mãos estão fazendo aquela coisa novamente, de ficarem se mexendo sem que eu perceba ou controle, e começo a sentir o gosto de sangue na boca de tanto que aperto meu lábio com os dentes. Sete minutos miseráveis e de pura auto-tortura mental se passam quando a minha mãe liga para meu celular, sem saber que estou no mesmo lugar que ela ainda. Eu minto, dizendo que estou em casa. Ela não percebe nada de errado com a minha voz, mesmo que eu esteja reprimindo choro. Três minutos depois, o carro de Ian aparece dentro do estacionamento. Quando me aproximo, distinguindo os rostos de Ian e Eric, consigo me acalmar um pouco. Isso é normal e simples. Eles.

—Uau. —diz Eric. Ian só olha para mim. Entendo o que querem dizer, e me sinto um pouco constrangida. Meu vestido tem um decote, eu estou de salto alto e maquiagem. Eu sei que não sou feia, nem tão bonita assim, porém maquiagem tem sua mágica às vezes (aquela sensação de estar me sentindo feia sumiu depois que sai de lá) e sei como estou parecendo agora.

Abro a porta de trás e entro sem dizer uma única palavra.

—Você foi conhecer a Rainha da Inglaterra ou o quê? —pergunta Eric, lembrando-me da minha inquietação.

—Quem me dera.

—Tudo certo? —questiona Ian, fazendo o contorno com o carro e saindo do estacionamento. Aquiesço, cansada e nesse momento, meus olhos caem em uma garrafinha no colo de Eric.

—O que é isso?

—É uísque.

—Me dá? —suplico, desesperada para fazer alguma coisa. Surpreso, ele me dá a garrafinha e eu tomo até o último gole, fechando os olhos e rezando para que a sensação ruim (do álcool e no meu coração) passem logo.

—Puta merda! —ele exclama.

—Você toma um desses todo dia por acaso? —Ian pergunta, igualmente chocado. —Nem eu tomo tudo de uma só vez.

—E olha que o Dorianzinho aqui entra em coma alcoólico toda vez que decide ficar bêbado. E ele já ficou bêbado. Bastante. —encosto a cabeça na janela, depois abro para pegar um vento. Minha garganta parece fogo e minha língua é tão amarga quanto limão. Mas a sensação ruim ajuda a tirar a outra sensação ruim, a pior.

—Vou te dar uma garrafona no seu aniversário. —Não deixo de pensar que, por ser o dia que é, seria muito bem vindo. Não sei porque não fiz isso antes.

—Por favor.

—Quando é?

—Doze de fevereiro.

Só um segundo depois percebo o estrago que minhas palavras causaram. É por isso que eu odeio elas: podem destruir um momento sem ter a menor consciência, e nunca ficam com a responsabilidade. Só quem as falou.

O silêncio se instala e eu abro os olhos.

—Tá falando sério? —por mais que seja Eric o autor da pergunta, eu só consigo olhar para Ian. Ele olha para mim pelo retrovisor, e virando a cabeça. Seu olhar me lembra os dos meus pais quando estavam irritados, mas tem surpresa e cautela neles também. E uma grande porção de raiva.

—S-sim. —murmuro, nervosa. Eric não fala nada por um tempo, nem Ian.

—Bem, —comenta Eric, finalmente. —pensando bem, vou dar duas garrafonas pra você.

E assunto encerrado. Olhando pela janela, percebo que estamos longe da minha rua e só entendo que estamos deixando Eric em casa quando paramos na frente de uma casinha, e uma menina —quinze anos?—vem correndo para a porta e começa a gritar.

—ERIC! SEU OTÁRIO! Você esqueceu de ir me buscar! —ele suspira, tirando o cinto de segurança.

—Essa é minha irmã. Na perpétua TPM. Até mais, docinhos. Me liga mais tarde—diz para nós, então vai para casa. Vou para o lugar dele, com medo. Não falamos nada, mas sinto a tensão vinda do corpo de Ian, deixando-me em um estado pior do que eu me encontro no momento.Está gritando FRACASSO na minha direção. Espero que ele diga alguma coisa para silenciar a voz imaginária. Sou acolhida com mais silêncio.

—Onde você mora? —pergunta ele, por fim. Sua voz é fria e calculada o bastante para me fazer morrer de frio. Literalmente, morrer. Como uma bala no peito. Dou o endereço.

Não dizemos uma palavra até chegar na frente da minha casa.

—Você está bem? —tenho que perguntar, isso está me matando.

—Não.

—Me desculpe.

—Vá.

—De verdade.

—Você pode só ir? Estou cansado dessa merda. Cansado.

—Por que?! —e por que estou dizendo só coisas erradas hoje?

— Eu nunca tive que aturar tanto drama de ninguém antes, e isso é chato pra cacete. Então você aparece.

—Eu não pedi pra nascer nesse dia, nem pra ela se matar nesse dia. —digo, porque parece que ele está me acusando de alguma coisa.

—Meu Deus, você e ela são um projeto pra foder com a minha vida. —Ele passa a mão pelo rosto, como se doesse. Isso magoa. Mais do que eu gostaria.

—Eu não pedi pra conhecer você. Eu não pedi pra você ter pena de mim e me beijar. Não é minha culpa. —estou jogando defesas, na esperança de que isso funcione e ele pare de me atacar, pois não sou boa com confrontos.

—Você podia ter a audácia de ficar longe e não me meter nessa merda. Minha vida é um inferno e você não está ajudando.

Ian se encolhe, se protegendo. De mim. Eu não sei o que fazer, nem o que estou sentindo.

—Foi uma noite. Cinco minutos. Porra.

—Quer saber? Eu não deixo você falar assim comigo, entendeu? Eu entendo que você está bravo...

—E por que você não me contou sobre essa merda? Meu Deus! Qual é o seu problema, porra?

—Deixe eu falar! —praticamente grito, e ele cala a boca. Estou furiosa, queimando em fúria. —Você acha que eu não sei como isso funciona? Eu sei que você é um cara e sei o que você faz, playboy, sei que pega as garotas pra depois contar pro seu amigo sobre os amassos ou a transa ou sei lá o que você fica fazendo! Eu não sou burra. Eu não apareci na sua casa querendo falar com você. Não sou esse tipo de garota que fura a camisinha pra ficar grávida do garoto que ela gosta sem ele saber ou que dá uma de stalker em algum garoto que beija ela. Desculpe por ter te envolvido nessa "merda", mas VOCÊ que pediu. VOCÊ veio até mim. Pare de falar como se eu fosse uma obcecada maluca. Eu não mereço isso, tá bom? Eu acabei de ter uma noite de merda, então não venha com essa pra cima de mim, porque eu não permito. Pode falar do jeito que você quiser na frente dos seus amigos, mas não para mim, não na minha frente. Não.—sua boca está aberta em choque.— Só se lembre que eu não estou fazendo isso por você. Não estou te seguindo ou indo para karaokês por sua causa. Pare de jogar isso contra mim toda vez que você estiver bravo comigo ou com qualquer outra coisa. Chega. Ou você me escuta ou cai fora. Então é melhor parar de ser babaca comigo ou você vai acabar sozinho nessa. —irritada demais para pedir desculpa, mesmo que eu saiba que foi o máximo que já falei na minha vida de uma vez só, eu abro a porta e bato com força quando saio, sem olhar para trás. O ar está frio, meus saltos tiquetaqueiam conforme faço meu caminho até a porta de casa, meio tonta, meio magoada e furiosa, mas pelo menos parecendo confiante.


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Notas finais do capítulo

*não odeiem o ian*
agora, eu vou ficar fora por uma semana viajando por aí então eu não vou conseguir responder nenhum comentário rapidamente ou MPs ou qualquer coisa, mas vai ter um capítulo saindo na semana por causa do sistema de programação, então não se preocupem com isso. espero que tenham gostado, bye.