Por algum motivo misterioso o miasma desaparecera por completo durante um breve período de tempo, o que deu a chance para que Inuyasha chegasse a borda da primeira barreira. Seu corpo estava em um estado deplorável, teria que descansar antes de enfrentar o próximo obstáculo. Sentado, a respiração pesada e os cabelos emaranhados e chamuscados, o meio youkai era apenas a sombra do que fora ontem. As feridas por todo o corpo demorariam para cicatrizar, mesmo não sendo humano, levaria vinte dias, talvez um mês e ele com certeza não dispunha desse tempo.

Kagome estava de olho aberto enquanto Hayato a beijava e conseguiu ver um enfraquecimento nas barreiras durante aqueles instantes.

Talvez houvesse uma luz no fim do túnel, uma esperança para que ela voltasse para os braços certos, ou pelo menos, poderia manter Inuyasha vivo. Ela era a fraqueza de Hayato e ela usaria a si própria pra fazer com que as barreiras fraquejassem o máximo possível. Hayato soltou-a e a olhou nos olhos. Kagome conteve sua vontade de limpar a boca e lhe dar um tapa e ao invés disso, mostrou um lindo e receptivo sorriso. Ele ergueu uma sombrancelha desconfiado.

_ Você... gostou do beijo? Achei que fosse espernear ou me bater.

_ Parece que não será tão ruim ser a sua esposa afinal. – ela sorriu e o abraçou pela cintura.

Hayato retribuiu o abraço, apertando-a contra seu corpo másculo.

_ Me sinto protegida com você... Ai aquele Inuyasha nunca me protegeu direito.

Kagome o soltou ainda sorrindo.

_ Querido, estou com fome, será que pode me trazer algumas frutas e peixe. Isso, traga muitos peixes e também alguns vegetais, eu vou fazer o jantar para nós dois como uma boa esposa.

Hayato concordou sem hesitar, seu coração nunca tinha se sentido tão aquecido. Ele estava feliz, pela primeira vez em sua vida, estava sinceramente feliz e isso apenas porque a mulher que desejava o queria também.

Assim que Hayato saiu para buscar os alimentos, Kagome desabou. Fora mais brava naquele momento do que em toda a sua vida. Enfrentara tantos perigos naquela era, tantos youkais e quase morrera tantas vezes que já havia perdido a conta. Mas nada, nunca a machucara tanto, quanto beijar um homem que não amava. Sentia-se suja, tinha asco de si mesma, fora uma atitude muito baixa e além de tudo, começava a sentir remorso, porque parecia que no fundo, tudo o que Hayato queria era ser amado também. E por Deus, ela não podia dar isso a ele, e mesmo assim estava fingindo dar o que ele tanto necessitava. Kagome não podia chorar, não dessa vez, ele perceberia, os olhos inchados, a voz rouca, ele estaria atento a cada detalhe que desrespeitasse a ela. E justamente por não poder chorar parecia que estava sufocando, morrendo aos poucos, como se tivesse um bolo enorme preso na garganta. Seu estômago doía e latejava, como se estivessem a golpeando de dentro pra fora. Tudo o que pode fazer foi voltar para a borda do penhasco e ficar olhando para a dança colorida e mortal das luzes das barreiras. Elas haviam voltado a brilhar com a mesma intensidade de antes. Estava presa dentro e Inuyasha preso fora da grande armadilha.

O crepúsculo finalmente vinha colorindo o céu de um laranja avermelhado, quando o sol se punha por cima das grandes formações rochosas a frente. Inuyasha obrigou-se a levantar, apoiando-se na Tesaiga. As pernas estavam bambas e doloridas, por sorte, não havia fraturado nenhum osso. Andou, cerca de uns dez metros e encarou de frente a primeira das terríveis dez barreiras e aquela, fazia o mar de miasma ácido parecer apenas brincadeira de criança. Raios de mais de um milhão de volts dançavam e chicoteavam o chão. Pareciam cobras de luz sibilando para cima e para baixo. A coisa estava feia, não sabia se o manto de rato de fogo iria aguentar aquela tempestade elétrica.