Intermináveis e tortuosos desfiladeiros de pedras pontudas, um caminho sinuoso como uma serpente, talvez por isso fosse chamada de Montanha Hibi. Inuyasha ainda tinha os movimentos comprometidos pelos ferimentos mais graves, que estavam justamente em seus pés e pernas, devido a explosão que lhe atingira. Não podia dizer como raios fora parar dentro daquele maldito buraco de fuinha, mas isso lhe salvara a vida. Se fosse um ser humano comum, já estaria morto desde o paredão de miasma.

A lua já estava alta no céu quando Inuyasha adentrou uma pequena caverna para descansar, suas feridas estavam se fechando finalmente e com um bom descanso, pela manhã recuperaria ao menos metade de sua velocidade de youkai. Mais algumas milhas, na manhã seguinte estaria lá, naquele castelo. Traria sua Kagome de volta. Era tudo o que aquele meio-youkai imaginava, deitado no chão frio da caverna.

_ E o que te faz ter tanta certeza de que ela voltará com você meu doce hanyou? – disse uma voz trêmula vinda do interior da caverna.

Inuyasha levantou em um único e brusco movimento. Tessaiga em punho, cada veia de seu corpo bombeando adrenalina, estava pronto para a batalha. Como seu faro não a havia detectado? Estava realmente debilitado a este ponto?

_ Abaixe a espada Inuyasha – disse a velha saindo do fundo da caverna com uma tocha na mão. Era pequena e tinha o queixo comprido, o nariz afilado lembrava o focinho de um roedor, seus cabeos alaranjados com fiapos brancos estavam soltos e desgrenhados. A velha senhora vestia uma pele de raposa por cima de um quimono branco, sujo e rasgado na bainha.

_ Quem é você comigo? – perguntou o youkai ainda empunhando a espada ferozmente.

_ Quem é você e o que quer comigo? – perguntou o youkai ainda empunhando a espada ferozmente.

_ Você é arisco rapaz! – disse a idoso com um sorriso torto no rosto. _ Foi por isso que eu o salvei da ira de Hayato.

Ela se aproximou e ele deu dois passos para trás. Algo naquela mulher o incomodava profundamente.

_ Disse que me salvou?

_ Criança tola! – a mulher tocou-lhe os cabelos prateados com seus dedos enrugados e desformes como galhos de uma árvore no inverno, e de imediato Inuyasha parou de se mover. _ Acha mesmo que sozinho se salvaria da fúria do Grande Rei Youkai Hayato?! Quanta petulância e egocentrismo correm nessas suas veias imundas de mestiço!

_ Vo... Você me carregou para dentro do buraco! – gaguejou surpreso.

_ Claro, se não fosse por mim, teria virado pó. Hayato domina os trovões e as tempestades, grandes youkais dragões o servem e guardam o castelo. Os raios dançam em suas mãos e qualquer fera se curva perante seus penetrantes olhos de serpente. Seus miasma é tão forte e poderoso, que mata instantaneamente tudo o que alcança. Me surpreende muito um ser como você ter saído vivo daquele paredão de miasma sozinho. – A velha descrevia seu rei com certo fascínio que causava calafrios na espinha de Inuyasha.

_ Qual é a sua ligação com Hayato?

_ Eu o criei e o conheço como a palma da minha mão. – sorriu melancólica. – Pelo menos até aquela mulher aparecer... – a face enrugada tornou-se uma máscara dura, indecifrável.

Ela é perigosa – pensou o meio-youkai.

_ Kagome... Como ela está? Ela sofre muito? – perguntou num fio de voz.

_ Ela não se lembra de você. – sussurrou diabolicamente ao pé do ouvido dele.

Ele trancou os dentes, seu sangue de demônio começava a borbulhar. A mistura de ódio, solidão e desespero estavam em ebulição dentro dele, quase chegando a superfície. O demônio que só ELA conseguia reprimir dentro dele estava prestes a sair e Ela não estava ali para ajuda-lo. Kagome estava neste exato momento nos braços de outro homem, ele nunca a tocara, nunca demonstrara o quanto a amava, o quanto a desejava e agora, ela pertencia a outro.Um urro grotesco saiu da garganta de Inuyasha, os olhos vermelhos como sangue, as presas sobressaindo visivelmente entre seus lábios. Suas garras estavam longas e afiadas, prontas para rasgar qualquer coisa que entrasse em sua frente.

A velha bruxa gargalhava do animal enjaulado que ele havia se tornado. Afinal, o ponto fraco dos homens também existia nos youkais, o ciúme.

_ Ele destrói tudo, não é? – sussurrou – O ciúme. O amor nada mais é do que um sentimento de posse afinal.

Inuyasha grunhia e rosnava descontrolado, cada terminação nervosa enviava ordens de ataque para seu cérebro tomado pela raiva e vontade de matar. Ele não era nada além de um animal selvagem naquele momento.

Ela o tocou novamente, mãos gentis, cálidas e sem rugas. Cabelos negros emoldurando a face branca, o quimono tinha sido substituído por um familiar uniforme escolar. Um sorriso doce brincava em seus lábios de menina despreocupada. Só então, tomando a aparência de Kagome a velha bruxa trouxe-o de volta das sombras com um beijo.