Olhei-me no espelho de corpo inteiro sem realmente ver, tentando absorver tudo o que acontecia ao meu redor. Uma parte de mim insistia que tudo não passava de um sonho, que Jasper ainda estava lá fora guerreando e que eu acordaria a qualquer instante para me descobrir noiva de um fazendeiro qualquer. Segurei firmemente a plaquinha de metal pendurada em meu pescoço. Major Jasper Whitlock, Houston, Texas. As letras gravadas cumpriram o papel de trazer meu sorriso, ele havia me emprestado para a ocasião.

Uma batida na porta dispersou meus pensamentos. “Você está pronta, querida?” Minha mãe sorriu tristemente para mim, eu sabia o que ela estava pensando.

Em alguns dias Jasper voltaria para seus homens e eu ficaria em casa esperando ansiosamente por ele, com medo de abrir cartas que poderiam tanto me destruir quanto me dar forças para continuar. O que ela não entendia é que já passamos por isso há dois anos e nenhum de nós poderia viver mais um dia sequer com ele lá fora, sem saber ao certo se nos veríamos novamente, sem ternos nos entregado completamente um ao outro e ao nosso amor. Por isso aproveitamos um cessar fogo de duas semanas para nos casar ao invés de esperar o fim de uma guerra que poderia durar para sempre. Nossas famílias sempre foram amigas e estamos noivos desde que éramos crianças, crescemos na companhia um do outro e fazíamos tudo juntos. Ele sempre foi meu melhor amigo, meu primeiro beijo e meu único amor. E eu o dele.

“A, Bella, você está deslumbrante.” Pela primeira vez me vi realmente e preciso dizer que uma parte de mim concordou com ela. Usava o vestido de noiva da família, branco, ou pelo menos fora um dia, hoje está mais para creme. O corpete acentuava minha cintura e se estendia até meu quadril, onde uma saia de cetim se abria graciosamente fazendo um arco até o chão. As mangas haviam há muito sido rasgadas, mas minha mãe fizera um trabalho maravilhoso em tecido transparente bordado com renda e que era abotoado em minhas costas.

Ela me abraçou pela cintura e nos olhamos no espelho, pude ver que ela estava chorando. Teria dito alguma coisa se a mãe de Jasper não tivesse escolhido esse momento para anunciar sua presença.

“Sra. Whitlock.” Ela sorriu calorosamente antes de me abraçar.

“Por favor, Bella, já passou da hora de você me chamar por meu primeiro nome, senhora faz com que eu me sinta velha.”

“Marry.” Eu sorri e ela pareceu satisfeita.

“Trouxe um presente.” Ela revelou um caixinha de jóias que continha prendedores de cabelo cravejados com pequenas pedrinhas. “Você já tem o vestido velho, o anel de noivado de safira, a identificação de Jasper como soldado, mas falta algo novo.”

Ela prendeu delicadamente minha franja na lateral do coque. “Mandei fazer especialmente para você.”

Meus olhos se encheram de lágrimas. “Obrigada.”

Ela apertou minhas mãos. “Bobagem, obrigada a você. Hoje nossas famílias se juntam oficialmente e eu não poderia estar mais feliz. Venha, Renée, Charlie estará aqui em um instante para acompanhar a noiva.”

Aproveitei para observar pela janela a multidão de convidados que só crescia no jardim da fazenda Whitlock. Um tablado de madeira fora montado para acomodar os bancos divididos em duas fileiras por um tapete vermelho que levava direto ao altar onde o pastor já estava acomodado. Um dos motivos que trouxeram o casamento para o exterior foram as flores que Marry tanto amava e passara a vida plantando, aos fundos uma floresta de pinheiros completava o visual.

“Está pronta?” Ouvi a voz de meu pai na porta e dei uma última olhada nervosa ao espelho antes de encontrá-lo do lado de fora do quarto. “Você está linda.” Ele disse simplesmente, pude perceber que qualquer coisa a mais se desmancharia em lágrimas.

“Não me deixe cair, papai.” Ele apertou minha mão ao chegarmos à porta. As duas irmãs de Jasper, Helena e Allison, já chegavam ao final da passarela, acompanhadas por dois soldados que eram seus melhores amigos.

Os convidados se viraram lentamente para me olhar, quase todo o batalhão da infantaria estava presente e os homens uniformizados sorriam para mim como se compartilhassem de uma piada interna.

Foi ai que eu o vi. Jasper, meu Jasper. Ele estava de tirar o fôlego com seu uniforme cinza e amarelo e medalhas de honra. Seu cabelo loiro mel descia rebeldemente até seu queixo e seus olhos marrons brilhavam de emoção, quando ele sorriu para mim somente o braço forte de meu pai me impediu de correr direto para seus braços.

“Eu te amo.” Ele disse simplesmente ao beijar minha bochecha “Cuide bem de minha garotinha.”

“Com minha própria vida.” Ao segurar sua mão me senti em casa. A cerimônia passou como um borrão, estava muito ocupada olhando em seus olhos para prestar atenção.

“Isabella.” Ele disse. “Quando nos apaixonamos? Quando tínhamos dezoito anos? Dezesseis? Talvez dez? Eu não sei, pois na verdade, eu não consigo lembrar de um tempo em que eu não a amasse. Sempre soube era a única que me olharia nos olhos e poderia ver minha alma. No campo, somente suas cartas me mantiveram são, foi por você que me levantei todos os dias e lutei cada batalha, foi pensando em seus braços que esperei ansiosamente cada cessar fogo. Não existe uma memória da qual você não faça parte. E, ao pensar no futuro, não consigo imaginá-lo sem sua presença. Quando imagino minha casa, a vejo tropeçando pela porta da frente, quando imagino meus filhos, eles são uma mistura perfeita de nos dois. Bella, você não é somente uma parte constante de minha vida, você é parte de mim. Sei que jamais irei merecê-la, mas prometo que passarei todos os dias tentando.”

“Jas- Jasper.” Minha voz falhou e ele sorriu para mim. “Eu olho para você e vejo meu melhor amigo. Sua energia e paixão me inspiram de formas que eu nunca imaginei possíveis. Sua beleza interior é tão forte que eu não tenho mais medo de ser eu mesma. Eu não temo nada, não enquanto souber que você está ao meu lado. Você sempre foi minha alma gêmea. Você me dá propósito quando eu sinto não ter. Sem você, minha alma estaria vazia, meu coração estaria quebrado, meu ser, incompleto. Agradeço a Deus todos os dias por ter te colocado em minha vida e agradeço a você por me amar. Sei que sempre encontraremos o caminho de volta um para o outro.”

“Jasper Whitlock.” O pastor limpou a garganta e percebi que, como ele, todos os convidados tinham lágrimas nos olhos. “Você promete, perante estas testemunhas, receber Isabella como sua legítima esposa? Promete amá-la, honrá-la, respeitá-la, ajudá-la e cuidar dela na enfermidade ou na saúde, na prosperidade ou na adversidade, e manter-se fiel a ela enquanto os dois viverem?"

“Eu prometo.”

“Isabella Swan, você promete, perante estas testemunhas, receber Jasper como seu legítimo esposo? Promete amá-lo, honrá-lo, respeitá-lo, ajudá-lo e cuidar dele na enfermidade ou na saúde, na prosperidade ou na adversidade, e manter-se fiel a ele enquanto os dois viverem?"

“Eu prometo.”

“Eu os declaro marido e mulher.” Jasper sorriu para mim de maneira travessa. “Jasper, você já pode...” Mas antes de o pastor terminar ele já estava me beijando. “É, acho que vocês entenderam.” Os convidados riram e nos sorrimos um contra o outro.

“Major!” Um dos soldados de Jasper veio nos cumprimentar.

“Brandon.” Eles bateram continência e se abraçaram. “É muito bom vê-lo.”

“Fico feliz por estar aqui e conhecer a fabulosa Bella.” Ele sorriu para mim. “O major não parou de falar você pelos últimos dois anos. A Bella é a mulher mais bonita do mundo. A Bella é perfeita. Eu amo a Bella. Sinto saudades da Bella.”

“É o suficiente, Brandon.” Jasper o cortou, mas ele não estava realmente bravo, seu sorriso o entregava. “Está na hora de dançar com a senhora Whitlock.”

“Eu gosto de como soa.” Eu disse enquanto girávamos na pista. “Senhora Whitlock.” Ele sorriu para mim e me beijou.

O resto da noite passou muito depressa, a próxima coisa que realmente notei foi que Jasper me carregava para dentro de nossa casa, alguns minutos à cavalo da casa de seus pais.

Entramos em nosso novo quarto e ele começou a me beijar apaixonadamente, retirando habilmente o casaco de renda com as mangas incorporadas enquanto meus dedos se atrapalhavam com sua farda.

Quando chegamos à cama e seus dedos passaram para meu vestido, eu travei, velhos medos e inseguranças voltando para mim.

“Bella.” Olhei para baixo. “Bella.” Ele repetiu suavemente. “Olhe para mim.” Segurando meu queixo, ele me obrigou a olhá-lo quando não obedeci. “Nós não temos que fazer nada que você não queira ou não se sinta confortável.”

Uma onda de amor me invadiu ao ouvir suas palavras. “Eu te amo, confio em você.”

“Tem certeza?” Pude ver em seus olhos que, por mais decepcionado que ficaria, ele não questionaria.

Simplesmente o beijei.