1 de Setembro de 2016

A plataforma 9 ¾ parecia ter parado no tempo. Por momentos vi-me a mim própria dezoito anos antes, a contemplar, pela primeira vez na minha vida, o comboio que me levaria a um local onde, durante um ano, eu tive o privilégio, de puder chamar de casa. Naquele momento, desejei puder regressar atrás no tempo e, por uma vez na vida, ter feito a escolha acertada, ter obedecido àquele pensamento que, por frações de segundo, se tornou tão real na minha cabeça: viver simplesmente um ano normal em Hogwarts, sem vinganças, sem ódios; simplesmente seguir em frente e viver uma vida normal.

Mas de que valia estar a lamentar-me agora, dezoito anos depois? Eu não estava ali para me lamentar, nem para recordar os tempos negros da minha vida. Naquele momento, eu apenas queria vê-los. Encostei-me a um canto, endireitando o capuz do meu manto azul-noite, de modo a cobrir ao máximo, os meus cabelos negros asa-de-corvo. Então, perscrutei atentamente a multidão, em busca de algum sinal do meu irmão ou do meu melhor amigo. Não sabia ao certo, se conseguiria reconhecê-los dezoito anos depois. Mas, eu tinha que tentar vê-los uma última vez. Perscrutei novamente a plataforma, quando, a minha visão se fixou numa família de quatro elementos que acabava de atravessar a barreira da plataforma. Reconheci, de imediato, Harry.

Não tinha mudado nada. Estava um pouco mais velho, é claro. Mas os seus traços característicos permaneciam inalteráveis. Os seus cabelos negros extremamente despenteados, em tudo semelhantes aos meus, caíam-lhe sobre a testa, ocultando parcialmente a sua cicatriz em forma de raio. E, os seus olhos, aqueles olhos verdes bondosos, que, tal como eu, os havia herdado de Lily. Ao seu lado, vinha um rapazinho que tinha todo o ar de estar prestes a iniciar o seu primeiro ano em Hogwarts. Parecia assustado e não largava o pai. Foi então que reparei que o rapaz era uma cópia fiel de Harry, os cabelos negros, os olhos verdes, o nariz, os lábios... inacreditavelmente, eles conseguiam ser ainda mais semelhantes do que Harry e o nosso pai, James.

Ginny também ali estava. Tal como eu pensara, eles tinham casado. Ginny continuava linda, com os seus cabelos ruivos que lhe caiam sobre os ombros e o seu porte atlético de jogadora de Quidditch. Ao seu lado, caminhava uma menina com cerca de nove anos. Os seus cabelos eram tão ruivos como os de Ginny e tinha uns lindos olhos castanhos cor-de-chocolate.

A família Potter abriu caminho por entre a multidão até à última carruagem, onde avistei mais rostos conhecidos.