Niffie estava sentada no centro de uma sala vazia, antigamente esse lugar costumava estar cheio de vestidos não acabados, cheio de desenhos que eram apenas rascunhos que se tornariam algo muito bonito quando estivessem finalizados. Mas agora, esse salão estava tão vazio quanto o vácuo.

Em uma briga com Meridius, seu marido havia destruído tudo aquilo que ela havia construído e depois disso, Niffie nunca mais teve vontade de continuar o que fazia. No entanto, culpar o arcanjo do paraíso pelo ocorrido era algo que não conseguia fazer. Meridius havia perdido o controle dos seus poderes com a raiva que sentiu quando Niffie o acusou de traição e então, tudo o que ela se lembrava, eram de chamas por todos os lugares.

A angelical não sabia ao certo se ele realmente havia se descontrolado ou não, mas Niffie confiava em Meridius. Por mais que ele fosse um cretino sem coração, como todos diziam, ela não conseguia deixar de confiar nele mesmo que fosse tão mal humorado e frio. Niffie conseguiu manter esses pensamentos sobre ele devido ao fato de estar sempre na mente do seu marido, mas agora não restava mais nada. A ligação deles havia sido quebrada e isso a assustava demais quando sabia que não saberia mais o que Meridius estava pensando e sentindo.

Niffie suspirou o aroma de flores das velas que ela havia acendido para que esses pensamentos fossem embora da sua mente. Ela já havia passado por muito e pensar sobre esses assuntos não ajudaria em nada.

A imperatriz do paraíso focou sua atenção em uma vela que estava em sua frente, sua chama dançava de um lado para o outro, como todas as outras chamas presentes no local e isso a deixava calma.

Depois de um tempo, Niffie decidiu que esse comodo tinha que se tornar algo útil desde que não desejava mais fazer vestidos e a única opção que surgiu em sua mente foi a de encontrar candelabros de diversos tamanhos para enfeitar o lugar com velas. E ela simplesmente não conseguia negar de que isso foi uma ótima ideia. Afinal, quando a noite chegava e as velas eram acesas, o comodo se tornava incrivelmente bonito, como o céu dos humanos com as diversas estrelas que iluminavam a noite com uma luz fraca.

Niffie podia parecer miserável por estar sentada no chão e com esses pensamentos em sua mente depois de tudo o que aconteceu, mas ela não estava mais assustada. Ser uma imperatriz incluía esse tipo de sofrimento também e Meridius deixou isso claro antes deles se casarem.

Era obvio que Niffie quase morreu pelo medo que se cravou nela enquanto estava sozinha naquela cela sendo torturada, mas no momento em que encontrou seu marido, todo o pavor que existia em sua alma sumiu. Ela se sentia protegida perto de Meridius e por esse motivo, nada a deixaria ficar chorando por tudo o que aconteceu.

Esse sequestro estava no passado agora.

A única coisa que Niffie não conseguia parar de se lamentar, era por seu cabelo. A pessoa que a torturou usou uma adaga para cortá-los depois que os puxou com força o suficiente para machucá-la e apenas de lembrar esse ocorrido, ela tinha vontade de chorar.

Seus cabelos que eram bonitos e longos, agora estavam um pouco acima dos seus ombros. Eles levariam uma eternidade para crescer novamente e isso a deixava muito triste, principalmente quando Meridius já deixou claro diversas vezes que gostava deles longos.

Niffie sentiu uma leve brisa se debater em suas costas quando a porta do local foi aberta, com esse simples movimento, diversas velas foram apagadas e antes que ela tivesse a chance de fuzilar quem tinha feito isso, as chamas dos pavios voltaram tão rápido quanto se foram.

Meridius.

O arcanjo do paraíso entrou no cômodo de maneira silenciosa, seus movimentos tão suaves e calmos quanto ele. Meridius caminhou até estar próximo de Niffie e abriu suas asas o suficiente para que pudesse sentar ao lado dela com suas pernas esticadas. Quando as penas da sua asa tocaram suas costas, Niffie suspirou devido ao fato de ter sentido falta dessa suavidade contra ela.

Meridius cruzou seus tornozelos a sua frente e a olhou com aqueles olhos escuros com uma pergunta silenciosa neles. Havia se passado apenas um dia desde que ela havia voltado para casa e seu marido não parava de rodeá-la para perguntar se tudo estava bem.

A imperatriz do paraíso não se importava com esse tipo de proteção quase sufocante desde que era exatamente isso que precisava depois de tudo o que aconteceu. Principalmente quando Niffie não tinha mais ideia do que se passava na cabeça de Meridius.

— Sua alma ainda está desaparecida.— Ele a avisou em um tom frio.— Eu imagino que tudo voltará ao normal quando não existir mais nenhum efeito da magia de demônio em seu sistema sanguíneo.—
— Até mesmo nossa ligação?— Niffie não se importava se sua alma continuasse transparente aos olhos de qualquer um, tudo o que ela queria era voltar para a mente de Meridius e se sentir completa novamente ao ouvir seus pensamentos.
— Eu não sei.— Meridius parecia frustrado.— Isso nunca aconteceu antes pra eu saber todas as respostas que você precisa.—

Niffie desviou seus olhos do arcanjo sentado ao seu lado devido ao fato de que ela estava assustada em não poder mais compartilhar uma ligação com seu próprio marido. Anjos tinham a capacidade de se comunicar com outros imortais quando queriam, mas essas pessoas apenas tinham acesso a mente deles para respondê-los e nada mais. E quando eles se casavam, essa ligação que nascia entre as almas do casal, era algo incrivelmente bonito.

A alma dos apaixonados se uniam como uma e como tal, tudo em relação a eles se uniam também. Desde suas mentes até a simples capacidade de saber sobre os sentimentos da outra pessoa. E agora, depois desse sequestro em que usavam seringas para injetar magia do demonio em Niffie, eles haviam se tornado duas pessoas diferentes ao invés de uma e era obvio que o casamento deles não era o maior exemplo sobre o amor para que a imperatriz do paraíso ficasse tranquila sobre isso.

— Niffie,— A imperatriz foi desviada dos seus pensamentos quando a mão de Meridius cobriu a dela, esse simples toque fez com que toda a atenção dela pertencesse a ele naquele momento.— Eu não permitirei que você construa uma muralha entre nós novamente.— Um aviso sério.— Quando todos aqueles boatos sobre traição surgiram, eu permiti que você acreditasse neles e deixei que se afastasse, mas não irei cometer o mesmo erro duas vezes. Não é necessário estar em minha mente para saber o motivo do por que escolhi você para me casar.—
— Por que eu chamei sua atenção, Meridius?— Ela quis saber.— Eu nunca tive nada para oferecer, nem mesmo um herdeiro.—
— Eu costumava achá-la irritante quando eramos mais novos, principalmente quando insistia em seguir eu e meus irmãos achando que deixariamos se juntar nas nossas missões infantis.— Seu marido foi sincero e Niffie não negava isso, até mesmo ela se considerava irritante quando se lembrava do passado.— Mas você conseguiu minha atenção em um dia em que já eramos adultos, depois que eu me tornei um arcanjo.—
— Depois que nossos pais se afastaram por causa do sequestro.— Ela deduziu, desde que ela era muito jovem quando a enterram viva para pertubar a paz do arcanjo do inferno.
— Eu estava na mansão de Dimitrius para tratar sobre alguns assuntos com ele e enquanto o esperava, observava o movimento da rua pela janela.— Ele disse.— Havia um pequeno passarinho na calçada, ele era muito novo pra voar e muito fraco para sobreviver se não voltasse logo para o seu ninho, diversas mulheres imortais passaram por ele e ignoraram sua existencia, mesmo que o passaro fizesse tanto barulho por estar apavorado.—

Niffie sorriu naquele momento, pois ela se lembrava daquele dia e nunca imaginou que Meridius estaria a observando.

— Então, quando você passou por ele e viu o seu desespero, você soltou tudo o que segurava para pegá-lo e colocá-lo de volta ao seu ninho na árvore.— Meridius acariciou a mão dela que ainda segurava, seus dedos longos e quentes eram suaves contra sua pele, como se ele tivesse medo de machucá-la.— Eu vi a sua bondade. Isso pode não parecer nada, mas significa tudo pra mim.—
— Outras angelicais ficariam com inveja se soubessem que era tão fácil conquistá-lo.— Niffie sussurrou, encontrando os olhos escuros do arcanjo.
— Eu ainda não entendo como conseguem me chamar de insensivel.— O tom irônico em sua voz foi algo que não deu para passar despercebido e Niffie não conseguiu segurar o riso que escapou dos seus lábios.

Meridius sorriu para ela e Niffie foi obrigada a parar de rir para admirar aquele sorriso que quase nunca aparecia nos lábios do seu marido. Ver o arcanjo do paraíso sorrir não era uma novidade, mas não deixava de ser uma raridade também. Maximus e Dimitrius sorriam com facilidade como qualquer outra pessoa, mas o irmão mais velhos deles não era assim. Demorou anos para que Meridius sorrisse pra ela pela primeira vez e nada a deixava mais feliz quando era o motivo para ele estar sorrindo.

— Eu senti sua falta, Niffie.— O arcanjo fez o coração dela acelerar com suas palavras.

Ouvir isso fez com que a imperatriz do paraíso ficasse mais tranquila em questão da ligação perdida deles. Ela não precisava estar na mente dele quando Meridius dizia essas palavras em voz alta ao invés de pensar.

Niffie se moveu para ficar sobre os seus joelhos e se aproximar do arcanjo sentado ao seu lado, ela levou seus braços ao redor do pescoço de Meridius para abraçá-lo depois que deixou todo o peso do seu corpo cair em cima do dele.

O arcanjo do paraíso a segurou contra ele para que ela não caísse quando confiou nele pra isso. E quando o cheiro de chocolate com pitadas de canela invadiram o ar que Niffie respirava, nada a fez se sentir mais em casa do que isso.

A imperatriz do paraíso se sentou em seus calcanhares quando Meridius usou suas mãos para afastá-la o suficiente até que os olhos deles se encontrassem novamente. — Eu ordenei que levassem suas coisas para o meu quarto.— Ele falou depois de alguns segundos.

Niffie não pode esconder sua surpresa, principalmente quando seu coração acelerou com essa novidade que não deveria ser tão estranha. Afinal, eles eram casados e já haviam compartilhado a mesma cama diversas vezes.

— Você não precisa me mimar, Meridius, eu não estou assustada e muito menos o culpo pelo o que aconteceu.—
— Nós merecemos um recomeço.— O arcanjo sorriu novamente.— Eu não esconderei mais o que sinto por você, Niffie, tudo o que quero é ser visto como o seu marido ao invés do arcanjo que se casou para ganhar herdeiros.—
— Eu nunca pensei assim.—
— Eu quero ser seu marido em todos os sentidos e significados que essa palavra possuí.— Meridius se movimentou para se aproximar de Niffie, seu rosto tão próximo a torturava de maneiras que ninguém nunca poderia imaginar.— E não permitirei que você se afaste, nem mesmo fisicamente.— Suas últimas palavras foram sussurradas de maneira provocativa.

O arcanjo do paraíso quebrou os últimos centimetros que separavam os rostos deles no segundo seguinte, seus lábios quentes tocaram os dela de maneira suave e de forma tão calma que quase não se parecia com Meridius. Todo o interior de Niffie se agitou com esse contato, seu corpo que antes era gelado se esquentou a ponto de derreter todas as lembranças ruins que aconteceram nos últimos dias.

Gentileza não era algo que combinava com Meridius, mesmo que ele fosse uma pessoa sensata e sempre cumprindo suas regras, o arcanjo não era alguém que gostava de coisas dóceis. Toda a frieza que todos temiam era apenas uma mascara que cobria seus sentimentos e desejos fortes. E por estar ciente disso, Niffie não se surpreendeu quando o anjo a segurou para mantê-la no lugar e aprofundou aquele beijo tão simples.

Seu beijo ao mesmo tempo que era exigente, também era perigoso e havia um aviso claro de que ele esperou muito para que seus lábios tocassem os dela novamente. Sua língua contra a dela fazia com que cada parte da sua pele formigasse com o simples pedido de mais e Meridius pareceu compreender tudo o que o corpo de Niffie desejava desde que ele a beijou e a mimou por horas, fazendo com que a imperatriz do paraíso se lembrasse do quão bom era estar nos braços do único homem que ela amava.