Já faz alguns dias que não vejo Laura perambulando de uma sala de aula para outra, talvez ela tenha se tocado que ela estava enchendo o saco, ou apenas esteja deixando a poeira baixar...Espero que seja a primeira e ela pare de visitar a droga da sala de aula, infelizmente, como por um acaso do destino, ou uma conspiração do universo, quando termino meu pensamento a garota dos folhetos aparece na sala de aula, dessa vez com um cartaz... Espero realmente que ela esteja apenas de sacanagem, por eu realmente estou ficando puto com essa ladainha, menos de cinco minutos para acabar a aula e irmos para casa, e ela me vem com essa, eu tenho que ir trabalhar e não vou agüentar ter que aturar a lábia daquela garota, ela diz que será breve e que não irá demorar, e começa a falar sobre a passeata que as pessoas estão fazendo para arrecadar dinheiro para alguma instituição alheia que não tem nada haver com a escola.Começo a olhar de segundo em segundo o relógio de pulso. Finalmente toca o maldito sinal, indicando que as aulas acabaram, entretanto ela continua falando. Não tenho nada a perder, ela já esta ciente do que acho dessa baboseira, por isso simplesmente pego a mochila, me levanto e saio pela porta, algumas pessoas me seguem, como se estivessem esperando o sinal verde para fugir dali, eu fui apenas o impulsionador.

Ninguém comenta nada sobre o acontecido, ouço passos largos e profundos no chão se aproximando cada vez mais, sinto meu braço sendo puxado e me viro, a primeira coisa que vejo são olhos azuis safira, uma franja castanho clara e uma testa franzida e furiosa, olho mais para baixo e vejo Laura com uma cara furiosa.

— Aquilo foi falta de educação. —Ela comenta sobre o acontecimento na sala de aula

— E você é sem noção. —Digo afastando meu braço de sua mão pequena e leve. —Esqueceu que eu odeio isso o que você faz sua idiota? Eu não vou ficar aturando isso, pelo menos não por três anos! —Digo me virando e indo para casa

***

De repente, surge aquela vontade imensa de faltar a aula para não ter que aturar a garota dos folhetos novamente, dito e feito, apenas me viro de lado e adormeço, penso que pelo menos uma sexta-feira irei me livrar de olhar para aquela franja dela, estava errado...

Minha mãe bate na porta e entra deixando alguns poucos raios de sol adentrarem meu quarto, ela diz que uma garota está aqui para me ver, no mesmo momento me levanto, nunca que isso aconteceria...Fiquei curioso para saber quem era a coitada.Me arrumei rapidamente, roupa simples, bermuda até os joelhos, tênis e a camiseta limpa mais bonita que eu tinha disponível no momento.Desci até a sala de estar, minha mãe havia me informado que a garota estava no sofá me aguardando, chegando lá, me deparo com a senhorita dos folhetos, e meu ânimo desaparece como num passe de mágica.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto friamente

— Eu vou na casa de todos que faltam a aula para entregar os folhetos...— Ela diz timidamente

— Por que você se dá o trabalho de entregá-los todos os dias?

— Por que se eu não fizer, ninguém fará....

Certo, essa foi a resposta mais inesperada que já recebi na vida, sentei-me do seu lado e peguei o folheto, pela primeira vez eu li algum dos que ela me entregou, nele dizia sobre ajudar os mais necessitados, para ir num encontrão para cozinhar para eles.

Ela apenas me observa, atenta, como se estivesse pensando no que responder quando eu a ofende-se.

— Desculpa, sou péssimo cozinhando, a ultima coisa que cozinhei era para ser uma lasanha...Mas não tinha nem cara, nem gosto e nem cheiro de tal. —Respondo sinceramente, pela primeira vez na vida respondo de uma forma menos hostil. Ela dá uma leve risada que tenho que admitir foi muito fofa.

— Pelo menos você leu...Obrigada...—Ela diz, timidamente.

— Não tem de que, apenas não venha mais as 10:30 da manhã de uma sexta-feira na minha casa de novo ok?

— Ok...Na verdade não vim só pelo folheto....

— Não? E pelo o que veio?

— Queria te ver...

— Pensei que você me odiasse. —Respondo.

— Eu odeio...—Ela disse e por incrível que pareça não me surpreendeu — Mas senti saudades...—Agora sim, fiquei totalmente chocado com essa frase, ela parecia em conflito, não sabia no que pensar.... Ela me odeia, mas senti saudades, isso é contraditório.

— Você sente saudades de quem odeia? — Perguntei surpreso.

— E também não sei...Eu apenas queria te ver....

–Certo...

Depois de algum tempo conversamos mais um pouco, descobrimos coisas um do outro, ela até que não é tão ruim quanto eu pensei, olhei no relógio e vi que marcava 11:30, ela não tinha aparência de quem pretendia ir embora tão cedo, perguntei se ela queria ficar para almoçar, ela aceitou de primeira, acho que ela já tinha essa intenção desde o início.

Levei-a para casa após o almoço...

— Obrigada por tudo...Er...Qual o seu nome mesmo? — Ela perguntou curiosa.

— Vinicius... — Respondo — E não se engane garota, eu ainda te odeio — Digo logo após dando uma piscadela e indo para casa